‘Pagamento
impróprio’ da Hitachi é troco no petrolão, o maior escândalo
corporativo-político do mundo
A
multinacional japonesa Hitachi fechou um acordo de leniência com a agência
reguladora do mercado de ações de Nova York, para encerrar uma investigação a respeito de “pagamentos impróprios” feitos ao
Congresso Nacional Africano, o partido no governo da África do Sul.
Ora, é a pergunta imediata, por
que o acordo se fez nos Estados Unidos? Porque a Hitachi tem ações
negociadas em Wall Street e, por isso, se obriga a cumprir as regras
locais de governança e compliance. A investigação também é das autoridades
americanas. Na África do Sul, nada — aliás nem uma palavra sobre o acordo.
A história é a seguinte: a
Hitachi abriu uma subsidiária na África do Sul, para operar no setor elétrico,
e vendeu 25% do capital para uma companhia chamada
Chancellor House. E sabem quem é
o dono dessa firma de investimentos? O Congresso Nacional Africano. Isso
mesmo, o partido do governo tem uma empresa de
negócios.
Feita a
sociedade, pela qual a Chancellor pagou
menos de US$ 200 mil, em 2005, a Hitachi passou a
ganhar concorrências para a construção de usinas de energia elétrica. Como os negócios foram bem-sucedidos — faturamento de US$ 5,6 bilhões —, a Hitachi fez vários pagamentos a seus
sócios locais. O que se pode comprovar: US$ 5 milhões por conta de dividendos; e mais um milhão
como “taxa de sucesso”, uma comissão.
Mas a
investigação da agência americana nota que certamente
ocorreram outros pagamentos a pessoas ligadas ao governo e ao partido. Salienta
ainda a agência que os pagamentos foram disfarçados. Apareceram na contabilidade como pagamento de serviços de consultoria
— serviços, entretanto, cuja prestação não foi
comprovada. [o mesmo
esquema do governador de Minas, o Pimentel e suas consultorias fantasmas;
método também utilizado pelo Ignorantácio Lula da Silva que recebia milhares e milhares de reais,
muitas vezes dólares mesmo, para ficar ‘cuspindo’ em microfones de
multinacionais.]
A
investigação apanhou e-mails de executivos da Hitachi justificando
assim a sociedade com a Chancellor: “levamos
em consideração a influência do Congresso Nacional Africano, o partido
governista, e acreditamos que foi uma escolha correta”. [aqui, o pau mandado do Lula, Gilberto Carvalho, mais conhecido como
ex-seminarista de ‘missa negra’ quer proibir o acesso de investigadores aos
e-mails do Apedeuta.] Claro, todos
já sabem por que estamos tratando desse assunto. As semelhanças com o caso
Petrobras são evidentes até nos detalhes — as tais consultorias milionárias nunca
demonstradas. Lembram-se
dos contratos da JD para
prospecção de negócios por aí? Sem
contar as promíscuas relações entre a estatal, as
empresas privadas contratadas e líderes políticos e seus partidos.
Por outro
lado, o partido governista sul-africano
parece mais sofisticado que o brasileiro. Montar uma empresa de
investimentos facilita os negócios ilegais, que podem ser misturados no bolo de
outras atividades.
A Hitachi não se declarou culpada, nem inocente. Faz parte do acordo de
leniência. Aceitou os termos,
recomprou os 25% da Chancellor House e topou pagar uma multa. Sabem de
quanto?
US$ 19 milhões! US$ 19
milhõezinhos!
Só o Pedro Barusco
ficou de devolver 97 milhões.
O “pagamento impróprio” da Hitachi é
dinheiro de troco no caso petrolão. E aqui vai uma grande diferença: comparando
essas histórias de corrupção pelo mundo afora, não resta dúvida que o caso
Petrobras é o maior escândalo corporativo-político do mundo. As contas aqui são de bilhões. Uma diferença a nosso favor: aqui tem a
Lava-Jato pegando todo mundo, ou quase todo mundo até aqui. Na África do Sul,
nada, nem uma investigação, nem uma palavra.
De todo
modo, parece claro que a Petrobras e seus parceiros vão
chegar na SEC — Security and
Exchange Comission — a agência controladora do
mercado de ações. Se a instituição se ocupou dos trocados da Hitachi...
A Petrobras está sendo processada
num tribunal de Wall Street por investidores locais que perderam muito dinheiro com as ações da estatal.
Agravante para a Petrobras: a empresa admitiu oficialmente, em balanço, que houve
corrupção e má gestão. Má gestão,
em geral, dá acordo de leniência e multa, mais ou menos proporcional ao tamanho
das perdas.
Corrupção dá cadeia. A notar: a
SEC já está se ocupando de outro caso brasileiro, fraudes na gestão do Postalis, fundo de pensão
dos Correios, que, entre outras proezas,
andou comprando papéis dos governos venezuelano e argentino. Neste caso,
está envolvido um banco americano administrador de investimentos, o BNY Mellon,
que afirma ter sido ludibriado e vítima das fraudes.
A apuração desses
escândalos no Brasil ainda vai longe.
Fonte: Carlos Alberto Sardenberg, jornalista – O Globo