Ontem, Dia as Mães, assisti ao vídeo da audiência da Comissão de
Comunicação da Câmara dos Deputados na última quinta-feira (aqui).
Todo brasileiro deveria, no correr desta semana, tratar de assisti-lo.
Isso se tornou imperioso. O vídeo tem pouco mais de três horas que serão
usadas de modo importante para o bem de cada um, de sua família e do
país.
A vida nos colocou neste tempo e neste lugar quando e onde somos
testemunhas de dias e de fatos que marcarão de modo indelével nossa
existência. Não podemos virar às costas e sair da História, como se
fôssemos um Coelho Relojoeiro que jogasse fora seu relógio e se
recolhesse entre os sonhos de Alice sobre um país das maravilhas chamado
Brasil.
O fato de
ser Dia das Mães me aproximou muito do drama e da atitude missionária da
principal depoente do evento, Bárbara Destefani (canal “Te atualizei”).
Nem de longe dedicaria um cumprimento a qualquer de seus algozes, mas
de bom grado viajaria para externar àquela jovem mãe minha profunda
admiração.
Talento e coragem, senso de humor e seriedade fizeram dela
uma figura nacional, sujeita à dupla condição de martírio e assédio.
O silêncio
das feministas é um libelo.
O silêncio dos senadores sobre o descontrole
do STF revira o estômago.
O que fazem com Bárbara (que tomo com símbolo
de tantos) é a maior evidência de que 1) estamos sob censura no Brasil;
2) a censura vem do topo do Poder Judiciário nacional;
3) tudo mais que
se diga sobre o PL 2630 para lhe dar espaço na vitrina das intervenções
do Estado é meramente decorativo, acessório.
O assunto é censura, sim,
num país onde se estabeleceu um poder que não aceita ser contradito. De
contrariado, claro, nem se cogita.
Houve um
tempo, e já vai longe, em que perante certos tratamentos desiguais,
clamava-se contra “dois pesos e duas medidas”. Era o senso popular de
justiça. Do mesmo modo, houve um tempo em que punir Chico cidadão comum,
mané, pé-de-chinelo, implicava o dever de punir, por iguais motivos, o
abonado e influente Francisco, em seus mocassins italianos.
Pois tudo
isso ficou para trás, levado na voragem de uma justiça cujos olhos
servem a uma visão particular de futuro.
Por ser particular, essa visão
perde as condições para ser imposta legitimamente a todos. Quais
condições?
A legitimação dada pelos constituintes à Constituição, pelos
legisladores às leis e pelo povo aos parlamentares que elege para
representá-lo. Aquele futuro que essa justiça vê (sua compreensão sobre o
destino do mundo, da pessoa humana e da sociedade) é apenas um futuro
dentre outros possíveis. Perante tal pluralismo, cabe aos parlamentos
discernir! Não aos juízes. Não aos ministros. Fora disso, o que se tem é
“golpe”, para usar o vocábulo da moda.
Na prática
do tempo presente, o pau que bate em Chico só bate em Chico. E não há
mais dois pesos e duas medidas. Há apenas um peso e uma singular medida.
Ambos servem aos fins de determinada causa, vale dizer, à destruição de
uma corrente política e de pensamento dentro da sociedade, cortando
suas derradeiras possibilidades de comunicação. Esse prato da balança
tem peso zero.
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores
(www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país.
Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia;
Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.