A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras. (Aristóteles)
Existem
determinadas qualidades humanas que desde a antiguidade temos no
ocidente como virtudes. São atributos que movem a sociedade na busca da
realização do bem, seja a partir do indivíduo ou de grupos. Para
Sócrates, quatro virtudes são fundamentais – sabedoria, ou prudência;
fortaleza, ou coragem; temperança e justiça. Embora sejam essencialmente
qualidades humanas, ele os expandia à cidade. Seu último ato, antes de
ser envenenado foi de coragem.
Resumidamente,
pode-se dizer, a partir do próprio Sócrates e de Platão e Aristóteles,
que Sabedoria, ou prudência, são para fazer boas escolhas, para decidir
corretamente, o que leva à racionalidade, à reflexão. Fortaleza, ou
coragem, para levar a efeito a decisão tomada, para seguir com retidão,
para não sucumbir às dificuldades enfrentadas. Temperança tem a ver com
moderação, com freio aos excessos e às paixões. Justiça é a virtude da
medida certa, da equidade, das coisas em seus devidos lugares e funções.
Lembrei dos
gregos enquanto refletia sobre a prisão recente de Roberto Jefferson,
mas não apenas, posto que antes deles vários outros brasileiros tiveram
sua liberdade cassada por “delitos de opinião”, no bojo do infame
inquérito das “fakenews”, essa monstruosidade criada para perseguir
desafetos e fazer a Justiça pender para um lado, o que propriamente
dissolve a si mesma. Justiça que tem lado não é verdadeira justiça.
Não
pretendo discutir o mérito de nenhuma prisão em si mesma, não tenho, é
certo, condições técnicas para isto. Entretanto, como cidadão, percebo
uma espécie de agigantamento desproporcional de um poder que o torna
assustador. Toda prisão carrega um conteúdo pedagógico, é um exemplo,
uma amostra para a sociedade de que determinado ato é punível pela lei
de modo severo – o que seria mais severo do que a restrição da
liberdade? – então, quando vejo no patamar superior da Justiça
brasileira o vezo em calar vozes e opiniões pela força, sinto que de
algum modo a minha própria liberdade de expressão está ameaçada.
Possivelmente
os áulicos do esquerdismo e o isentismo de cuecas (ou calcinhas)
vermelhas se sentem confortáveis com as prisões facilmente decretadas
contra seus adversários políticos. A mim, porém, incomoda muitíssimo,
porque a pretexto de punir em um ou outro o que filosoficamente se
poderia chamar de vício da falta de temperança, ou de prudência, ou as
duas juntas, o STF está deliberadamente inibindo na sociedade a virtude
da coragem que, segundo Aristóteles, antecede todas as outras. A coragem
para ser livre e livremente se expressar está, por certo, ameaçada,
intimidada por tantos ataques a este direito inalienável do SER humano.
Lembremos o
que disse um dos pais fundadores dos Estados Unidos da América e seu
primeiro presidente entre 1789 e 1797, George Washington. À época,
adiantou ele que “Quando a LIBERDADE de expressão nos é tirada, logo
poderemos ser levados, como ovelhas, mudos e silenciosos, para o abate.”
Agredidos, vilipendiados é como se sentem aqueles que amam a liberdade e
são proibidos de reagir ao monstro togado.
Satisfeitos é como se sentem
aqueles que por covardia ou ignorância abraçam seus futuros algozes.
Estes, deveriam estar aprendendo mandarim.
Como se não
bastasse censurar, prender e, literalmente, arrebentar, como fizeram
com o jornalista Oswaldo Eustáquio (segundo o próprio) através do
famigerado inquérito das fakenews, vem ultimamente a mordaça do TSE
determinar que as bigh techs desmonetizem canais nas mídias sociais que
sejam críticos ao sistema de voto exclusivamente eletrônico, mesmo sendo
ele inseguro, como restou provado.
Não havendo razão ou condições para
prender todos, querem asfixiar financeiramente os canais conservadores.
Enquanto isso, os canais dedicados à propaganda comunista estão à
vontade para toda ação deletéria em relação ao governo e à democracia,
inclusive para se associarem a governos estrangeiros.
Aliás, por que se
alegra aquele embaixador?
Impressiona
que qualquer brasileiro esteja liberado para estupidamente, sem provas,
sem sequer indícios, atribuir crimes e insultar o presidente da
república ou qualquer do governo, porém, esteja proibido de sequer
duvidar, ou questionar a qualidade das urnas utilizadas nas eleições
brasileiras, apesar de o TSE jamais haver provado a sua higidez. Pelo
contrário, por lá, digo, dentro do sistema eleitoral, durante 6 meses um
hacker estagiou impunemente.
Parece que
tomar o poder sem ganhar eleições entrou na moda. De Zé Dirceu ao mais
idiota útil perambulante nas redações, sindicatos ou universidades,
todos vêem a possibilidade de expulsar um governante mediante
expedientes de força, ilegais e infames, como uma opção razoável. Caem
no anti-bolsonarismo histérico sem um tostão de reflexão e, assim,
ajudam a colocar o Brasil calmamente na antessala do domínio vermelho, à
espera de uma venezuelização. Essa gente não mede ou não faz ideia das
consequências de sua vileza.
Por seu
turno, a velha imprensa, órfã das verbas milionárias que lhe sustentava a
ineficiência, cala-se frente à censura e aos desmandos. Os antigos
jornalões e as TV’s agacham-se perante a força togada, chegando ao
cúmulo de atribuir culpa ao silenciado. Vejam só! A imprensa é incapaz
de defender a liberdade de expressão e sedizentes jornalistas a seguem
sem se envergonharem.
Como se
pode ver nos últimos tempos, a liberdade de expressão de uma parcela da
população, a parte conservadora, se transformou alvo do humor de
ministros de qualquer tipo e tribunal.
Querem impor uma narrativa
embusteira, historicamente podre, passando por cima dos mais elementares
princípios do direito. Pior. Fazem isso sob a complacência das nossas
personalidades ditas democratas.
FHC saiu do
buraco onde se esconde para passar pano pró autoritarismo. Sociólogos e
os filósofos de auditório se calaram. Cadê os defensores dos direitos
humanos? Onde se meteram as feministas de sovaco cabeludo? Os
intelectuais, os artistas? Onde? Não precisam responder.
Estão
escondidos, achando que golpeando Bolsonaro, o Brasil dará um giro para
trás de 20 anos e recuperarão seus prestígios e suas sinecuras. Como faz
pra gargalhar numa hora dessas?
Até a velha
Ordem dos Advogados do Brasil - OAB, no passado sóbria e séria, hoje se
transformou num puxadinho da esquerda e é incapaz de emitir sequer uma
nota em defesa da liberdade de expressão. Pensam eles, talvez, que será
suave se transformar em “Ordem dos Advogados Bolivarianos” para não
perder a sigla.
Vivemos um
momento gravíssimo da história brasileira. Talvez a cisão política
levada a cabo pela esquerda odienta, aquela que não se livra do
coletivismo mofado e nos últimos 30 anos vem dividindo o Brasil entre
pobres e ricos, homens e mulheres, pretos e brancos, homossexuais e
heterossexuais, ateus e religiosos, precipite outra ainda maior.
Sinceramente, creio que há tempo ainda para a sabedoria e a temperança,
do contrário, em busca da maior das virtudes - a justiça, precisaremos
muito da primeira - a coragem.
Valterlucio Bessa Campelo escreve opiniões, contos e poemas eventualmente em seu BLOG.