Desenham-se medidas de amparo a vulneráveis; é preciso fazer mais, e rapidamente
A esta altura já parece por demais otimista a projeção recém-apresentada
pelo Banco Central de crescimento zero do Produto Interno Bruto
brasileiro neste ano — antes previa-se uma taxa de 2,2%. A julgar pelos dados que vão sendo conhecidos de outros países, um
cenário bem pior se avizinha, para o qual as autoridades ainda não
apresentaram um plano abrangente, embora algumas providências
importantes e bem-vindas venham sendo tomadas.
Estimativas já apontam para quedas do PIB que podem chegar a inéditos e
devastadores 20% ou 30% no segundo trimestre na maior parte dos países
desenvolvidos. Mesmo com rápida retomada no restante do ano, tais
números seriam compatíveis com uma contração na casa dos 5% em 2020. Diante dessa calamidade, os governos reagem com programas de sustentação
de renda e empregos, além de oferecer garantias por meio de empréstimos
para empresas. Pacotes se aproximam dos 10% do PIB nos EUA e passam
disso, por exemplo, na Alemanha.
Outro necessário complemento vem dos bancos centrais, que intervêm no
mercado para evitar o colapso da intermediação financeira. Compras
generalizadas de papéis, inclusive títulos de empresas, vem sendo
utilizados. O Brasil dificilmente escapará de uma recessão, talvez comparável à
vivida entre 2015 e 2016, mas mais abrupta. Nesse ambiente, o desemprego
pode disparar novamente, com danos sociais irreparáveis.
Ao menos uma medida contundente veio da Câmara dos Deputados, que
aprovou pagamento de R$ 600 mensais por três meses para o amplo
contingente de trabalhadores informais e famílias de baixa renda, com
custo calculado em R$ 44 bilhões. O auxílio ainda depende de votação no
Senado e regulamentação do Executivo. [Aprovação deverá ser pacífica e rápida;
Falta coragem a Alcolumbre para emperrar a votação no Senado e o projeto é do governo Bolsonaro, inclusive o valor de R$ 600, portanto, não será vetado.]
Também auspicioso foi o anúncio, pelo BC, de crédito subsidiado de R$ 40
bilhões para financiar por dois meses o pagamento de salários, até o
limite de dois mínimos, em pequenas e médias empresas (de faturamento
anual entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões), condicionado à preservação de
empregos. É fundamental que tais recursos sejam empregados de forma isonômica
entre os setores econômicos, sem favorecimentos nem pagamento a bancos
intermediários.
Resta amparar ainda microempreendedores de receita abaixo do piso
fixado. Outro desafio será encontrar os informais e as famílias
empobrecidas não registradas no cadastro oficial que serve de referência
para o Bolsa Família e outros programas sociais. Tudo isso precisa ser viabilizado rapidamente, dado que os impactos
sociais e econômicos do combate à pandemia já estão em andamento. Que as
demais forças políticas e a pressão da sociedade levem o governo Jair
Bolsonaro se mover a despeito da inépcia presidencial.
Editorial - Folha de S. Paulo