Análise Política
Qual é
hoje a situação do presidente da República no teatro de operações? Jair
Bolsonaro e os dele são um grande exército, razoavelmente coeso e muito
disposto a combater, mas cercado.
À esquerda estão acampadas as tropas do PT, que trabalham a favor do
tempo. Têm o candidato que, no momento, aparece melhor na corrida
eleitoral. Para o petismo, o ideal é nada mudar nos próximos meses. Mas
esse tempo na política será mais que uma eternidade.
E a outra tropa que completa o cerco a Bolsonaro sabe que não pode
deixar a inércia prevalecer, o relógio correr solto. Para não ser linha
auxiliar do petismo. O assim chamado centro precisa criar um fato novo.
Pois ambiciona o poder.
Ainda que nos últimos tempos tenha tido mais sucesso em derrubar governos e menos em ganhar eleições.
Daí que esquerda e “centro” percorram estes dias com um olho no peixe e
outro no gato. O peixe é Bolsonaro. O gato, para cada um deles, é o
outro, o parceiro de momento da “ampla frente democrática” e inimigo já
contratado para o futuro.
O adversário eleitoral mais perigoso hoje para Bolsonaro, ou alguém do
grupo dele, é Luiz Inácio Lula da Silva, ou alguém apoiado pelo
ex-presidente. Mas o adversário político mais letal da hora é o amálgama
dos que precisam, a qualquer custo, remover o presidente da corrida
para retomar o projeto de 2015/16.
Das diversas escolhas duvidosas de Jair Bolsonaro, e entre elas figuram
com destaque as más avaliações e decisões sobre a pandemia, talvez a
menos falada e potencialmente mais daninha tenha sido não fugir de
travar a guerra em duas frentes.
Por convicção ou para satisfazer o núcleo mais fiel da sua base, o
presidente buscou apertar cada vez mais o torniquete no pescoço da
esquerda. E talvez não tenha alocado forças suficientes para enfrentar o
inimigo político mais feroz no momento.
E circunstancialmente mais perigoso, pelas conexões no establishment e influência superestrutural. Por exemplo no Judiciário.
A esquerda não pode simplesmente abrir mão de buscar enfraquecer
Bolsonaro, pois sabe que uma eventual reeleição do presidente abrirá
para ela quatro anos ainda mais difíceis na luta pela sobrevivência
contra o inimigo ideológico.
E a direita tradicional, hoje agrupada no chamado centro, precisa, como
dito acima, livrar-se do presidente para melhor visualizar seu objetivo
de poder.
Bolsonaro reúne por enquanto forças para resistir, por ter sólida base
de massas, mas também pela falta de consenso entre os oponentes sobre
como organizar o poder na ausência dele. Não há uma saída “natural”. Se um extraterrestre chegasse na Terra e pedisse para ser levado ao líder do “centro”, ninguém saberia a quem levá-lo.
E agora?
Não se sabe, mas nunca é seguro depender tanto assim da falta de entendimento entre os inimigos. [por sorte Bolsonaro é insubstituível, aceitem, reconheçam e vai doer bem menos.]
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político
Obs: Coluna fechada ontem.ao meio-dia...
Publicado na revista Veja de 15 de setembro de 2021, edição nº 2.755