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sábado, 26 de agosto de 2023

De papo furado a escândalo nacional - Percival Puggina

         A boa notícia da semana infelizmente não serviu de lição a ninguém, porque ninguém pediu desculpas pelo que fez. 
O ministro Alexandre de Moraes, do alto de sua magnanimidade, encerrou o inquérito aberto contra seis dos oito empresários daquele grupo de WhatsApp que entretiveram um diálogo sobre intervenção militar.

Tudo começou com matéria exclusiva do jornalista Guilherme Amado, no Metrópoles, informando que sua coluna, sabe-se lá como, acompanhava [há meses] os diálogos do grupo (sim, sim, dane-se a intimidade alheia!). De todo esse tempo de alcovitagem, ele fisgou seu peixe: um mero papo furado. Como todo pescador, porém, exagerou no tamanho da presa. Escreveu ele, ao anunciar o achado:

 “A possibilidade de ruptura democrática foi o ponto máximo de uma escalada de radicalismo que dá o tom do grupo de WhatsApp Empresários & Política, criado no ano passado e cujas trocas de mensagens vêm sendo acompanhadas há meses pela coluna. A defesa explícita de um golpe, feita por alguns integrantes, se soma a uma postura comum a quase todos: ataques sistemáticos ao Supremo Tribunal Federal (STF), ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a quaisquer pessoas ou instituições que se oponham ao ímpeto autoritário de Jair Bolsonaro”.

A partir daí, o temporal da maledicência da ex-imprensa desabou sobre oito membros do grupo. Na falta de picanha, ela rói os ossos que lhe chegam, mas sempre, claro, em defesa da democracia e da liberdade de opinião. Associações e entidades que fazem parte da Coalização em Defesa do Sistema Eleitoral (existe sim e é formada por meia centena de organismos “progressistas”) correram ao STF pedindo abertura de inquérito prontamente instaurado.

Foi o assunto dos dias subsequentes
Os oito perigosos cidadãos tiveram suas vidas devassadas, foram submetidos a uma operação de busca e apreensão de bens, seus celulares foram recolhidos e suas redes sociais, bloqueadas
Furiosa, a democracia brasileira subiu nas tamancas. 
 
A história rolou um ano inteiro! Os muitos incômodos a que os oito cidadãos foram submetidos se assemelham aos de inúmeros outros ainda jogados no fundo de inquéritos de instalação imediata e conclusão incognoscível. Agora, o ministro encerrou o inquérito de seis investigados, postergando por 60 dias os de outros dois (certamente não pelo peixinho que a coluna do Metrópoles fisgou – que é um nada por conta própria – mas por outras razão de Estado).

Em trecho da decisão, o ministro escancara os excessos:

"Não foram confirmados indícios reais de fatos típicos praticados pelos investigados ou qualquer indicação dos meios que os mesmos teriam empregado em relação às condutas objeto de investigação ou, ainda, o malefício que produziu, os motivos que determinaram, o lugar onde a praticou, o tempo ou qualquer outra informação relevante que justifique a manutenção da investigação".

Sei que para conhecer é preciso investigar, mas há uma demasia escancarada nesse caso. As conversas vazadas são rasas, coloquiais e expressam meros pontos de vista, em ambiente fechado.  
Todo o escarcéu serviu apenas para a tenebrosa autocensura avançar mais um passo – esta sim, adoece à democracia e constrange a liberdade de opinião
A única coisa que aconteceu nesse episódio, como em tantos outros, foi o factoide, tempero da narrativa que a militância midiática serve à sociedade.

Transcrevo trecho do excelente artigo de Alexandre Garcia publicado na Gazeta do Povo:

Neste inquérito, Moraes levou mais de um ano para dizer que é patente a ausência de causa para se ficar mexendo numa coisa dessas. Ainda perguntou: quais os fatos praticados por eles? Nenhum. Que meios eles têm para dar golpe de Estado? Nenhum. Capacidade de fazer acontecer algum dos objetos de comentário deles? Zero. Ou seja: ausência absoluta de materialidade.

E aí o ministro reconhece que houve um injusto e grave constrangimento. Quebraram sigilos, bloquearam bens e atingiram famílias desses empresários, responsáveis por empresas como Coco Bambu, Multiplan, Barra Shopping, W3, Mormaii, Sierra Móveis.

Só continuam sendo investigados o dono da Tecnisa, Meyer Nigri, e o Luciano Hang, da Havan, que se recusou a fornecer a senha para acessarem os computadores e celulares.

(...)

Mais adiante, conclui Alexandre Garcia:

E aí as pessoas se perguntam sobre os outros 1.390, que estão em situação semelhante e que foram levados para o presídio, viraram réus. Tudo isso é para pensarmos a respeito das liberdades, do devido processo legal e do que está acontecendo no nosso país.

Assim, também eu concluo.

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.


quinta-feira, 4 de maio de 2023

STF quer tomar o lugar do Congresso para impor a censura no Brasil - J. R. Guzzo

Vozes - J.R. Guzzo

O governo Lula e o seu projeto de censura, disfarçado como um virtuoso conjunto de medidas destinadas a “colocar ordem no caos da internet” (e até a “salvar vidas de crianças”, entre outros prodígios nunca vistos antes na história deste país) foram derrotados na Câmara de Deputados. Quiseram, por todos os jeitos, impor a “urgência” da votação para não dar a ninguém a oportunidade de estudar um pouco melhor o que diz o texto. Foi um desastre.

No dia marcado para a votação, o mesmo governo que exigia a “urgência” pediu o adiamento viu que ia perder no Plenário, e fugiu da decisão
O fato concreto é que o governo queria, desesperadamente, a aprovação do projeto – e não conseguiu. 
A opinião pública, para resumir a ópera, não quer a censura, e o governo se viu obrigado a recuar.

    A Constituição proíbe o STF de fazer leis; diz que isso é função exclusiva do Congresso Nacional. Mas e daí?

Numa democracia mais ou menos decente, o episódio não seria nenhum fim do mundo. O governo iria pensar de novo no caso e, a partir daí, desistir da ideia desastrosa que teve – ou, então, reformular o projeto para uma nova apreciação. 
 Mas o Brasil de hoje não é uma democracia. 
Como a Câmara não aprovou a censura, e o Supremo Tribunal Federal exige que ela seja aprovada, os ministros vão resolver o problema fazendo, na prática, a sua própria lei sobre o assunto.
 
A Constituição proíbe o STF de fazer leis; diz que isso é função exclusiva do Congresso Nacional. Mas e daí?  
A Constituição, no mundo das realidades atuais, vale menos que um pedaço de papel usado para embrulhar peixe. É violada de forma sistemática e maciça pelo próprio STF, e agora pelo governo Lula, sempre que algum de seus dispositivos não interessa a um e outro. Estão armando para acontecer de novo: vão aprovar a lei que a Câmara dos Deputados rejeitou.

    A Constituição, no mundo das realidades atuais, vale menos que um pedaço de papel usado para embrulhar peixe.

O truque, mais uma vez, é criar uma “lei” usando a decisão dos ministros em alguma ação ora em julgamento no “plenário virtual” do STF, onde não há debate nenhum, só os votos – prática que começou com a Covid e vai continuar para sempre, pelo jeito, com ou sem epidemia. 
No caso, o tribunal vai julgar se mantém ou elimina uma disposição essencial do Marco Civil da Internet, pela qual as punições só podem ser aplicadas por decisão judicial. O que poderia ser mais justo e razoável do que isso?

A Justiça, no fim das contas, é o único lugar para se resolver coisas desta natureza – propor o contrário é uma aberração. Mas o STF e a esquerda estão do lado da aberraçãoquerem punir, sem apreciação judicial nenhuma, publicações da internet que incentivem “atos antidemocráticos”, sejam consideradas como ofensa ou ameaça “às instituições”, promovam o “discurso do ódio” e mais tudo aquilo que você já está cansado de saber. 

 Esse rosário de delitos tem um traço em comum evidente: criminaliza atos descritos de maneira absolutamente vaga, cuja apreciação depende 100% da opinião pessoal de quem vai decidir a questão.

É o oposto de qualquer lei racional em vigor no mundono mundo das democracias, é claro. Uma lei, ali, tem de ser clara, mais do que tudo, e não permitir interpretações pessoais. 
O que é um “ato antidemocrático”? 
O que é o “ódio”? 
O que é, no fim de todas as considerações, o “certo” e o “errado”? 
É humanamente impossível decidir sobre qualquer coisa dessas sem a interferência de opiniões pessoais. Desejar por escrito que o ex-presidente Jair Bolsonaro morra, por exemplo, não é considerado uma expressão de ódio pela esquerda – mas dizer que o governo Lula é um desastre é classificado como ódio de primeiro grau. 
Como fica, então? É aí, justamente, que está a essência de toda a questão.

Essa completa falta de clareza não é um equívoco, ou um acidente; é fruto de um propósito deliberado e velhaco. Lula, a esquerda e o STF querem mesmo que as publicações na internet estejam sujeitas, sempre, a critérios vagos, frouxos e pessoais de apreciação. Com isso, tudo que se coloque nas redes sociais, seja lá o que for, torna-se passível de punição – e abrem-se as portas para que o governo e o STF possam reprimir à vontade qualquer manifestação contrária a seus mandamentos e interesses

Eles querem a Justiça longe da internet. Seu negócio é impor a censura ao Brasil.

J.R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


sexta-feira, 28 de abril de 2023

Bolsa Família - Os golpes em programas sociais e a esmola que vicia

 

Foto: Prefeitura de Guarulhos

Vejam só o quanto do nosso dinheiro estava indo para mãos erradas, de gente que, por algum motivo, andou tapeando o Bolsa Família e o programa do gás.  
O governo desconfia que 1,2 milhão de pessoas estão sem receber o Bolsa Família por causa de situações como a de uma família de três pessoas, pai, mãe e filho, em que o pai declara que mora sozinho, que ele é a família, e ganha R$ 600; a mãe declara que mora sozinha e ganha outros R$ 600; e o filho também diz que é sozinho, e leva mais R$ 600. 
No total vão R$ 1,8 mil dos nossos impostos, quando a família toda deveria receber R$ 600
No programa do gás, só têm direito ao R$ 110 do botijão de gás de 13 quilos por mês quem ganha menos de meio salário por mês, mas o governo acha que 267 mil pessoas declararam falsamente que ganham menos que isso, e estão levando dinheiro dos nossos impostos também.[os ladrões de agora, esqueceram que de roubar, de fraudar,  o atual governo entende e muito = o que facilita pegar os fraudadores.]
 
A ministra do Planejamento acha que só aí escorrem R$ 7 bilhões dos nossos impostos não é “dinheiro do governo”, não: o governo não produz riqueza, não produz nada, só gasta, só aplica.  
Pode ser não apenas em custeio, mas também em investimento, e mesmo assim é o nosso dinheiro. Quem cria a riqueza somos nós, é o nosso trabalho, nosso suor, nossas mãos, nosso cérebro; e uns 36% de tudo que que produzimos, pagamos e trabalhamos vai para os governos municipais, estaduais e federal prestarem serviço nos três poderes, Judiciário, Legislativo e Executivo.
 
Continua aquele problema que todos conhecem: é muito melhor ensinar a pescar que dar o peixe. 
Luiz Gonzaga canta isso, que a esmola humilha o cidadão e vicia, o que é pior ainda.  
Precisa haver uma porta de saída, demos um auxílio emergencial para quem precisa, mas é preciso capacitar as pessoas, agitar a cabeça delas para que invistam em si próprias, produzam, contribuam para a riqueza nacional e não para a pobreza nacional.

PL da Censura coloca o Brasil no caminho da China

Vamos ficar parecidos com a China, com essa história de lei para censurar as redes sociais.  
Na quinta-feira fez aniversário o início do movimento na Praça da Paz Celestial, em 1989, pedindo democracia, mas não adiantou nada. 
Aqui estamos fazendo o caminho da China: inventamos nomes bonitinhos para essa lei da censura das redes sociais, e o pior tem sido a atitude de nossos representantes, nossos mandatários. 
 Nós, os mandantes, estamos apavorados, porque elegemos cerca de 70% de deputados de centro e de direita na Câmara, mas na votação da urgência ganhou a tese da esquerda, que adora uma censura
A esquerda ideologicamente é totalitária, exige censura, como vemos na Venezuela, em Cuba, na China, na Nicarágua.
 
O perigo existe não apenas para o nosso futuro, mas para o futuro dos nossos filhos, netos, bisnetos.  
Porque estão passando por cima da Constituição, que é muito clara, “cidadã”, como dizia o Doutor Ulysses; está escrito lá, no parágrafo 2.º do artigo 220, que “é vedado todo e qualquer tipo de censura política, ideológica e artística”. Mas estão fazendo isso na nossa cara. 
É uma vergonha, especialmente para quem se cala diante disso.
 
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

domingo, 22 de maio de 2022

Loucura geral! Diversidade para tudo, exceto para opiniões... - Percival Puggina

É sabido que não crer em Deus exige um ato de fé muito mais difícil do que crer nÊle. Pessoalmente, como trato em meu livro Pombas e Gaviões, a ideia do Grande Nada criador de tudo me resulta tão incompreensível quanto inútil para as interrogações propostas pela existência humana.

Tenho certeza de que a natureza, o cosmo e o microcosmo, o que se vê com o telescópio e com o microscópio, revela incessantemente ao observador a diversidade das coisas e dos seres criados. A diversidade é parte indispensável da primeira aula sobre tudo que nos envolve. Quem pensa que descobriu a diversidade conversando sobre empoderamento e pautas políticas numa mesa de bar está confundindo o peixe com o anzol. A diversidade é criação de Deus!

Um velho e querido amigo, já falecido, costumava definir situações como a “descoberta da diversidade” como ninhos de égua e explicava: “Éguas existem, mas não surgem em ninhos”. No entanto, há partidos políticos que se dedicam a criar ninhos de égua, operando diversidades segundo bem lhes convêm.

Como essa escalada busca o “empoderamento”, as diversidades articuladas em seus mal arranjados ninhos mentais dispara inesgotável pauta de direitos a reivindicar contra algo ou alguém, cria inimigos a derrotar, contas a apresentar, devedores de quem cobrar e prerrogativas a conquistar. Como o objetivo final é a hegemonia da parte sobre o todo, a palavra “luta” é proteína de toda a célula, de todo o discurso e de todas as correspondentes ações no ambiente cultural e político.

Surpresa! Imposta a hegemonia, a primeira vítima é a própria diversidade, exatamente o nome dado à “égua de ninho”. Trancam-se as portas e passam-se os ferrolhos nos catequéticos espaços dos meios culturais. Toda divergência é condenada aos gulags do esquecimento nas bibliografias e bibliotecas, nas salas de aula, nos comitês acadêmicos, no jornalismo, nos tribunais.

Por isso – exatamente por isso! um ministro do STF, em recente pronunciamento, fez o elogio da mesmice uníssona das opiniões na “mídia tradicional” e relegou ao sanatório dos imbecis, aqueles que de algum modo estão a gritar nas praças e redes sociais: Ei, senhores! Povo é uma palavra singular, mas define algo essencialmente plural. É o exemplo maior e mais perfeito da diversidade e está ausente onde ela não se manifesta. Não por acaso, lembrem-se, esse povo é o soberano das democracias. Haverá outubro!

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


sábado, 5 de março de 2022

Demagogia no front - Revista Oeste

Guilherme Fiuza 

Os pacifistas de butique trocaram de roupa para posar contra a guerra. É comovente 

Existem duas Ucrânias: uma é alvo de bombardeios que sacrificam inocentes; a outra é o novo aeroporto dos demagogos, que não são nada inocentes. A segunda Ucrânia é uma mistificação que avilta a primeira (e única).

Joe Biden, presidente dos Estados Unidos | Foto: Shutterstock

A pandemia mostrou que, nos dias de hoje, toda tragédia tem potencial de oportunidade para esse contingente cada vez maior de surfistas da virtude imaginária. O nome do jogo é desenhar vilões horripilantes, jogar as culpas nas costas deles e correr para o abraço da claque. Sendo assim, nem vamos nos deter naqueles que usam a guerra na Ucrânia para botar a culpa “no Bozo”, e pirraças do tipo.

O que se impõe de forma bastante intrigante no cenário do “debate político” (entre muitas aspas) é o uso do ataque russo para uma tentativa patética de reabilitação de Joe Biden, o fenomenal recordista de votos da história dos EUA que mal consegue concluir suas frases. Tudo é muito enevoado em se tratando de Biden e suas circunstâncias.

Mas aí está: aquilo que antigamente se denominava grande imprensa, e que hoje virou um ajuntamento de manchetes parecidas entre veículos supostamente concorrentes — o tal “consórcio” —, resolveu apostar tudo na guerra da Rússia. Como sempre, o peixe que esse consórcio tenta vender é um excelente indicativo, em qualquer circunstância, do que cheira mal. E é claro que o panfleto vendido entre um bombardeio e outro é a volta do mocinho Joe Biden, fiel da resistência ucraniana. Contando ninguém acredita.

Os progressistas de butique estavam com saudade de fingir que Biden é o final feliz após as trevas demoníacas do trumpismo — historinha que eles construíram com tanto esmero e tão mal. Veio aquela eleição imunda, com um festival de indícios de fraudes em votos voadores pelos correios que a Justiça americana decidiu não examinar, e emergiu o magnífico poste de Barack Obama, para êxtase dos demagogos de vida fácil ao redor do mundo. Aí obviamente sobreveio um governo trapalhão, porque demagogia não é solução para nada, e a claque do final feliz ficou aí pelos cantos meio encabulada.

É incrível que esse mesmo Biden ressurja como o estadista fiador do equilíbrio geopolítico contra a tirania

Mas não totalmente, porque o forte dessa gente é justamente a desinibição. Biden comandou uma retirada súbita, atabalhoada e vergonhosa das tropas norte-americanas do Afeganistão, cuja consequência imediata foi a ascensão do Talibã, uma das forças políticas mais violentas e obscuras do mundo. É incrível que esse mesmo Biden ressurja agora nas bocas como o estadista fiador do equilíbrio geopolítico contra a tirania. E o Talibã mandou mensagens de paz e amor para a Ucrânia. Está dando para entender?

Biden segue uma linha de política externa transigente com regimes totalitários como Irã e China (que trabalhou pela sua eleição) em nome de um suposto pragmatismo pacifista — que não resulta em um milímetro de paz na conduta bruta desses “parceiros”. Sua credencial como contraponto ao autoritarismo bélico de Putin é nenhuma. Seu grupo político passou anos acusando Trump de conluio com Rússia e Ucrânia sem conseguir provar nada, sendo o filho do próprio Biden quem tem relações e negócios mal explicados na região. Que mocinho é esse?

É o que aparece hoje nas manchetes do consórcio e na conversa mole do “debate político” como a esperança da paz ao lado de líderes decadentes da Europa, como Macron, ou das Américas, como Trudeau, todos desesperadamente precisados dessa nova demagogia após a farsa totalitária que protagonizaram na pandemia. Após dois anos de cumplicidade com a violência fantasiada de proteção sanitária, apoiando a transformação de cidadãos do mundo inteiro em reféns de ações ditatoriais mentirosas e experimentos anticientíficos graves, os pacifistas de butique trocaram de roupa para posar contra a guerra. É comovente.

Deve ser sintomático que tudo quanto é surfista de pandemia, como João Doria, Sergio Moro e companhia promotora de lockdowns estúpidos e vacinações experimentais compulsórias, reapareça depois de toda sua brutalidade pedindo paz no mundo. A guerra revela coisas terríveis, inclusive que a inocência está em falta na atual conjuntura.

Leia também “Passatempo para o fim do mundo”

Guilherme Fiuza, colunista - Revista Oeste


sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

MORO TESTOU NEGATIVO - Percival Puggina

As últimas semanas aferiram a viabilidade da candidatura de Sérgio Moro. O teste foi negativo.

Poderosos grupos de comunicação fizeram o possível para viabilizá-lo como terceira via. De saída, a ideia seduziu parte dos eleitores que buscavam uma variante às candidaturas de Lula e Bolsonaro. O ex-juiz, o cara que condenou um e rompeu com o outro, parecia servido sob encomenda para cumprir a função.

Posta na vitrine, porém, a novidade do mercado político não agregou interessados. Estacionou no ponto de partida. Pior do que isso, a terceira via dessa aposta mostrou ter pista curta e esburacada. 
Como viabilizar um candidato detestado pelos eleitores de Lula porque ele foi o juiz que o condenou e pelos de Bolsonaro porque ele foi o ministro que o traiu? 
Como transformá-lo em opção por qualquer dos dois lados? 
Como colocar a terceira via no segundo turno desse jeito? 
Não bastasse isso, se o candidato do PODEMOS foi um juiz com a cara da função, como político, é um peixe fora d’água.

Moro pré-candidato exibiu uma fragilidade alarmante. Por seus últimos trabalhos como juiz, ele sabe tudo sobre as organizações criminosas que operaram durante os governos petistas. Em relação a seu oponente Lula, ele leu os inquéritos policiais. Ouviu testemunhas, delatores, procuradores e advogados. Examinou minuciosamente todas as provas, em processos de dezenas de réus. Puxou o fio da meada e não deu ponto sem nó. Por esse trabalho conquistou enorme reconhecimento.

Depois de deixar tudo de lado para participar de um governo com cujas ideias não concordava, saiu dele atirando para, passivamente, assistir ao STF desmantelar o processo de sua vida. Sabe quase tudo de Lula. E nada diz? Jogou pá de cal e coloca pedra em cima do que sabe? Incompreensível e eu agregaria, imperdoável.

Por tudo isso, nos grandes grupos de comunicação, a turma da terceira via começa a espichar os olhos e bater pestana para o brutamontes Ciro Gomes, peixe mais graúdo, que costuma morrer pela boca e tem antiga inimizade com a coerência.  

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Difícil guerra em duas frentes - Alon Feuerwerker

 Análise Política

Qual é hoje a situação do presidente da República no teatro de operações? Jair Bolsonaro e os dele são um grande exército, razoavelmente coeso e muito disposto a combater, mas cercado.  À esquerda estão acampadas as tropas do PT, que trabalham a favor do tempo. Têm o candidato que, no momento, aparece melhor na corrida eleitoral. Para o petismo, o ideal é nada mudar nos próximos meses. Mas esse tempo na política será mais que uma eternidade.

E a outra tropa que completa o cerco a Bolsonaro sabe que não pode deixar a inércia prevalecer, o relógio correr solto. Para não ser linha auxiliar do petismo. O assim chamado centro precisa criar um fato novo. Pois ambiciona o poder.  Ainda que nos últimos tempos tenha tido mais sucesso em derrubar governos e menos em ganhar eleições.

Daí que esquerda e “centro” percorram estes dias com um olho no peixe e outro no gato. O peixe é Bolsonaro. O gato, para cada um deles, é o outro, o parceiro de momento da “ampla frente democrática” e inimigo já contratado para o futuro.   O adversário eleitoral mais perigoso hoje para Bolsonaro, ou alguém do grupo dele, é Luiz Inácio Lula da Silva, ou alguém apoiado pelo ex-presidente. Mas o adversário político mais letal da hora é o amálgama dos que precisam, a qualquer custo, remover o presidente da corrida para retomar o projeto de 2015/16.

Das diversas escolhas duvidosas de Jair Bolsonaro, e entre elas figuram com destaque as más avaliações e decisões sobre a pandemia, talvez a menos falada e potencialmente mais daninha tenha sido não fugir de travar a guerra em duas frentes.  Por convicção ou para satisfazer o núcleo mais fiel da sua base, o presidente buscou apertar cada vez mais o torniquete no pescoço da esquerda. E talvez não tenha alocado forças suficientes para enfrentar o inimigo político mais feroz no momento. E circunstancialmente mais perigoso, pelas conexões no establishment e influência superestrutural. Por exemplo no Judiciário.

A esquerda não pode simplesmente abrir mão de buscar enfraquecer Bolsonaro, pois sabe que uma eventual reeleição do presidente abrirá para ela quatro anos ainda mais difíceis na luta pela sobrevivência contra o inimigo ideológico.
E a direita tradicional, hoje agrupada no chamado centro, precisa, como dito acima, livrar-se do presidente para melhor visualizar seu objetivo de poder.
Bolsonaro reúne por enquanto forças para resistir, por ter sólida base de massas, mas também pela falta de consenso entre os oponentes sobre como organizar o poder na ausência dele. Não há uma saída “natural”. Se um extraterrestre chegasse na Terra e pedisse para ser levado ao líder do “centro”, ninguém saberia a quem levá-lo.

Itamar Franco foi conveniente aos adversários de Fernando Collor porque não podia concorrer à reeleição
Michel Temer acabou consolidando-se como boa opção para PSDB e PMDB (hoje MDB) por apresentar-se antes de tudo como uma ponte para o futuro. Ou pinguela, na fala dos mais sinceros.

E agora?
Não se sabe, mas nunca é seguro depender tanto assim da falta de entendimento entre os inimigos. [por sorte Bolsonaro é insubstituível, aceitem, reconheçam e vai doer bem menos.] 

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político


Obs: Coluna fechada ontem.ao meio-dia...

Publicado na revista Veja de 15 de setembro de 2021, edição nº 2.755

 

domingo, 25 de abril de 2021

O Atleta é mais veloz que a Justiça - Revista Oeste

A promoção de Renan Calheiros a relator da CPI da Pandemia confirma que, no Brasil abastardado pelo Supremo, investigado investiga

 

A linhagem dos grandes inventores de nomes nasceu na entrada dos cinemas e viveu seus momentos mais brilhantes nos anos 50. O show de criatividade era escancarado nos letreiros riscados a giz que identificavam o filme em cartaz. Ninguém conhecia nenhum dos autores daquelas obras de arte, mas eles sabiam perfeitamente com quais plateias lidavam. Sabiam, por exemplo, que quem gostava de faroeste norte-americano não via com entusiasmo títulos reduzidos a uma palavra só. Pouco importava que nos Estados Unidos e em Portugal o clássico estrelado por Alan Ladd fizesse sucesso desde o lançamento, em 1953, com o nome do principal personagem: “Shane”. É pouco para o Brasil, decidiu algum anônimo artista escondido na empresa distribuidora — e Shane foi substituído por um irresistível chamariz em maiúsculas: OS BRUTOS TAMBÉM AMAM

Em Portugal, aliás, a regra era manter o título original ou traduzi-lo literalmente. Filmado em 1969, The Wild Bunch tornou-se nas telas lusitanas Uma Quadrilha Selvagem. Por aqui, foi rebatizado com um achado que induzia o mais pacífico cinéfilo a levar as duas mãos a coldres imaginários já na passagem pela bilheteria: MEU ÓDIO SERÁ TUA HERANÇA. É claro que esses mestres da hipérbole não admitiriam que fosse confinado em míseras cinco letras — Giant — o superfaroeste da safra de 1956 protagonizado por Elizabeth Taylor, Rock Hudson e James Dean. Os portugueses se deram por satisfeitos com um insosso Gigante. Também por isso, merecia figurar nos créditos de abertura, logo abaixo do trio estelar, o reinventor do nome no Brasil: ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE.

A caminho da extinção nos letreiros de cinema, a tribo sobreviveu graças ao surgimento na Polícia Federal, no início deste século, de uma ramificação igualmente inventiva e bem mais prolífica. Por lei, a escolha do nome de uma operação da PF cumpre ao delegado que vai chefiá-la. Com a intensificação das ofensivas, os doutores recorreram a todas as modalidades de cobra, macaco, peixe e outros bichos antes da capitulação: aquilo era coisa para especialistas. E então se sucederam os surtos criativos. 

Em outros países, operações do gênero têm denominações sisudas, que usam terno escuro, falam baixo e jamais sorriem. No Brasil, reina a imaginação sem fronteiras. Há um pouco de tudo na lista de operações: erudição (Satiagraha, Ararath), bom humor (Fatura Exposta), poesia (Rosa dos Ventos), apreço por superlativos (Anel de Gigantes, Ad Infinitum) ou mistério (Ratatouille, Ouvidos Moucos). Há os irônicos: Tergiversação, por exemplo, inspirou-se na palavra que engordara o vocabulário indigente de Dilma Rousseff naquele semestre. E há os inevitáveis, como referências à pandemia no balanço de 2020. A lista anual incluiu, entre outras, as operações Virus Infectio, Placebo, Calvário e Mercadores do Caos.

Foi a mais célebre e bem-sucedida operação da História que revelou a existência de uma maloca habitada por descendentes da tribo que brilhou nos letreiros de cinema e continua a fazer bonito na Polícia Federal. Alojados num setor semiclandestino da construtora Odebrecht que se tornaria conhecido como Departamento de Propinas, os craques em batizado criavam codinomes que mais revelaram do que esconderam a identidade dos políticos que tiveram o caixa dois irrigado por dinheiro da empreiteira e se refugiaram no pântano devassado pela Lava Jato. É o caso da trinca formada por senadores que se aquecem para entrar em ação na CPI da Pandemia.  
Humberto Costa, do PT pernambucano, virou caso de polícia quando era ministro da Saúde de Lula e se envolveu no escândalo dos Sanguessugas, produzido por gente que desviou com voracidade de vampiro verbas destinadas à área da Saúde. Ganhou da Odebrecht o codinome perfeito: Drácula
Tão perfeito quanto o Whisky extraído de uma das mais caras predileções de Jader Barbalho, morubixaba do MDB paraense e pai do atual governador Helder Barbalho (codinome Cavanhaque). 
Mas nenhum é tão irretocável quanto o nome de guerra de Renan Calheiros: Atleta. A folha corrida do senador denuncia um maratonista da delinquência. O prontuário do gerente do MDB alagoano é coisa de matar de inveja até um campeão de bandalheiras promovido a chefão do PCC.

José Renan Vasconcelos Calheiros, natural de Murici, entrou no saloon da baixa política pela última porta do corredor à esquerda de quem chega: nos anos 70, enquanto cursava a Faculdade de Direito em Maceió, matriculou-se no PCdoB e logo se elegeria deputado estadual com o apoio da seita comunista. O rebanho tinha mudado de bússola. Trocara a China pela Albânia, Mao Tsé-tung por Enver Hoxja, o mato pela capoeira. O livro de pensamentos do ditador albanês era tão profundo que as cabras montanhesas daquele grotão europeu poderiam, como a formiguinha de Nelson Rodrigues, atravessá-lo com água pelas canelas. 

Quem serve voluntariamente nas galés de um Enver Hoxja embarca em qualquer canoa, confirma o ziguezague de Renan. Achou boa ideia transformar o prefeito e depois deputado federal Fernando Collor em alvo predileto. “É o príncipe herdeiro da corrupção”, recitou anos a fio. Achou melhor ainda a ideia de aceitar o convite do governador Fernando Collor e assumir a Secretaria da Educação. “Apesar de adversários no passado, sempre fomos amigos”, fantasiou. Nunca seriam amigos. Foram cúmplices quando as circunstâncias recomendavam.

Renan estava no famoso jantar em Pequim durante o qual emergiu a ideia que parecia conversa de fim de noite num botequim de Maceió
que tal transformar o governador na cabeceira da mesa em presidente da República? 
Meses depois, ambos homiziados numa esperteza batizada de Partido da Reconstrução Nacional (PRN), Collor e o líder da bancada do governo na Câmara dos Deputados subiram juntos a rampa do Planalto. O aliado Renan Calheiros defendeu com veemência o conjunto de medidas hediondas que incluiu o confisco da poupança. “Quem não entender que o Brasil mudou perderá o bonde da História”, comunicou à nação. O desafeto Renan Calheiros defendeu com igual veemência o impeachment do ex-parceiro que não subira no bonde que fretou para eleger-se governador. O bucaneiro oportunista mandou chumbo em tudo que se movesse no navio corsário do qual saltara ao pressentir o naufrágio. Só poupou Itamar Franco. Depois trocou Itamar por Fernando Henrique Cardoso e ganhou o Ministério da Justiça. Em seguida trocou Fernando Henrique por Lula. Em fevereiro de 2005, aos 55 anos, virou presidente do Senado.

O clássico da chanchada pornopolítica em que contracenou com a jornalista Mônica Veloso apressou a barganha repulsiva: em 4 de dezembro de 2007, para escapar da cassação do mandato por quebra de decoro (corrupção graúda, em língua de gente), renunciou ao comando do Senado e seguiu usando a carteirinha de congressista. Voltou ao palco meses mais tarde. Arrendado por Lula para liderar a guerra pelo sepultamento da CPI da Petrobras, o general da banda podre convocou para o combate o de novo comparsa Fernando Collor, rebaixado a ajudante de ordens, e foi à luta. 

Nas semanas seguintes, Renan foi mais Renan do que nunca. Caprichando no sotaque de cangaceiro, insultou quem dele discordava, valeu-se de chantagens e extorsões para inibir oposicionistas, achincalhou o Conselho de Ética, desmoralizou a CPI e conseguiu cumprir a missão abjeta que Lula lhe encomendara. De lá para cá, continuou a fazer o que pode e o que é proibido para transformar o Senado num clube de cafajestes da terceira idade.

Em nações civilizadas, o Atleta da Odebrecht estaria na cadeia há muito tempo. Num Brasil abastardado pelo Supremo Tribunal Federal, Renan segue driblando a capivara cevada pela pilha de processos e inquéritos. Em vez de temporadas na gaiola, coleciona mandatos na presidência do Senado. Até agora são três. Vai começar a campanha para chegar ao quarto na quinta-feira, fantasiado de relator da CPI da Pandemia. Só no País do Carnaval um investigado investiga. O criador do codinome do senador merece alguma condecoração. Sem sair da Praça dos Três Poderes, sem se afastar de cargos relevantes, Renan Calheiros foge da Justiça há quase 30 anos. É o nosso Usain Bolt da corrupção. É um tremendo Atleta.

Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste

sábado, 27 de julho de 2019

Sinceridade Impetuosa... Por que não?

Alerta Total

Impetuosidade, eu concordo com você. Aliás, nele vejo um pouco dos meus próprios defeitos. Mas, falta de cultura? Desculpe, não vi isso. Vejo, sim, conhecimento sem glacê. Vejo sinceridade que, é verdade, beira à franqueza. Mas prefiro assim. Os problemas do Brasil o Bolsonaro conhece. Purgou por trinta anos, testemunhando os conchavos, os malfeitos, as bandalheiras se amontoando. Mais: como não era parte da quadrilha, jogaram nele tudo que se pode imaginar em intrigas, apelidos, falsidades, distorções e mentiras. Aliás, inconformados com a derrota e, com o saldo do produto do roubo, continuam jogando.

Acho que, para alguém, como ele, que viu tudo isso, que sofreu toda sorte de indignidades (até o atentado não dizem que foi mentira, enquanto se desprezava as evidências escancaradas e o marginal é emudecido como louco?), que não se corrompeu e manteve princípios, consertar o Brasil é missão, sim.  Pare e avalie o que ele teve contra ele: o establishment, a burocranalhada (só no BNDES, 406 advogados acabaram de ganhar um pé no rabo), a "intelectualidade" que desfruta de privilégios e sinecuras às custas de quem trabalha, os tentáculos da mídia aparelhada, a rede de sites robôs financiada e tudo que se pode imaginar como agentes de agressão, inclusive urnas fraudadas!

Agora, some a isso o poderosíssimo o aparato doutrinário da esquerdalha, afiada pelo treinamento do Kominterm soviético desde a década de 1920. Hoje, ainda mais sofisticados, com o veneno escatológico do Gramsci, os comensais da propina e do Foro de São Paulo) dispunham de dinheiro a rodo para arrebanhar idiotas pelos 50 "real" e mortadela. Em oposição a tudo, Bolsonaro foi a personificação do Quixote, um Davi contra gigantes, essa é a verdade. E foi isso o que transpareceu, lentamente, aos olhos de quem sofreu por anos sem ter como mudar as coisas.  Por isso, exatamente por isso ele venceu. E quem elegeu o cara? Quem é que foi para a rua, gritando – "Eu vim de graça!", enquanto ele sofria três cirurgias, você lembra? 

O resto é o resto. Até o momento, não vi nada que pudesse diminuir minha admiração pelo que Bolsonaro está fazendo, palavras impetuosas ou não. Continua o Quixote, sim, lutando contra moinhos de trinta anos de mentiras, azeitada por propinas e interesses escusos e indefensáveis. lsonaro fala demais? É claro! Até porque tem muito o que falar, tem muito o que botar para fora. E se eu, que durante anos e anos me revoltei com essa inversão de valores, com essas agressões ao país e ao povo, tenho vontade de berrar, de externar a revolta que sinto, imagine o que está dentro dele, o parlamentar brasileiro, o peixe fora d'água, que sofreu por todo aquele tempo, apesar de certo em meio à coisa totalmente errada (há alguma dúvida quanto a isso?). 

Enfim, para mim ele tem crédito e apoio suficientes para continuar a dizer o que pensa. Se eu discordar, como com qualquer cidadão, direi a ele com todas as letras, porque sei – e ele demonstrou com seu comportamento rigorosamente correto até agora! – que ele vai ouvir e reconsiderar, como tem feito tantas vezes. Nunca o Brasil teve uma equipe tão competente, com tal sentido de missão.  Nem com tanto apoio do povo, agora consciente e decidido, em todas as camadas. Esse povo, vacinado pelo que sofreu, endossa o que estão eles fazendo.  E veja, conhece todos os ministros!  Quando isso aconteceu antes? Vão errar?  E daí?  Quem não erra?  Mas não veremos erro por dolo.  Nem nada enfiado abaixo do tapete. 

Sou brasileiro, sim, e tenho um profundo orgulho disso. Não sou xenófobo, porque não me considero, como brasileiro, superior nem interior a qualquer povo. Nem atribuo a ninguém a culpa que me cabe. Sou responsável pelos meus erros. Mudo de opinião se encontrar o erro.  Mas não pertenço a tribo alguma.
Continuo com minhas três frases prediletas: "Não acredito na sapiência coletiva das ignorâncias individuais." (Thomas Carlyle);." "Uma besteira dita por cinquenta milhões de pessoas continua uma besteira (Bertrand Russell); e "Em questões de consciência, não existe maioria." (Mahatma Gandhi).

E apoio o Bolsonaro e sua equipe, sim. Apoio de coração, eu, um cidadão brasileiro que não via como sair desse cipoal de leis inúteis e contraditórias, dos grilhões que trancam quem quer produzir, do peso imenso de três poderes caríssimos, mas inúteis até então. Sinto o cheiro dos esgotos que destampamos dessa herança maldita que a escória populista nos deixou. Mas também vejo gente a limpar e corrigir. Agradeço e sinto-me remoçar pelo ar fresco desse Admirável Brasil Novo!
 
Artigo no Alerta Total www.alertatotal.net
 
Por João Guilherme C. Ribeiro

domingo, 2 de junho de 2019

Muita fala, pouco rumo

Bolsonaro é candidato a ser o presidente mais falante da história

Por óbvio, o Parlamento parla e o Executivo executa. O presidente Jair Bolsonaro subverte essa lógica, ao executar pouco e estar se candidatando a ser o presidente mais falante da história da República, mas a principal questão nem é essa, é se Bolsonaro realmente tem um plano de governo para executar no País.  Até agora, lá se vão cinco meses de governo, o presidente aproveitou a oportunidade de ter os microfones e a caneta de presidente – muito mais poderosa do que a de Rodrigo Maia, como bem lembrou – para transformar em políticas de Estado as velhas crenças e convicções com as quais cresceu, educou seus filhos, bate papo com os amigos e vê o mundo.

Pode ser que haja pesquisas no Planalto, pode ser que não, mas o fato é que Bolsonaro exercita o prazer de sair por aí pensando alto, falando o que bem entende e repetindo a sua tão bem sucedida campanha presidencial, em que era o centro das atrações e dos aplausos e nunca apresentou um plano de governo real. Um homem comum que veio por desígnios de Deus para mudar o País.  É assim que Bolsonaro estimula manifestações a favor de seu governo e contra o Legislativo e o Judiciário, propõe dois dias depois um pacto aos presidentes dos dois outros Poderes e termina a semana acusando o Supremo de “legislar” na questão da homofobia. [simples lembretes: o pacto foi proposto pela primeira vez pelo presidente do STF, ministro Dias Toffoli;


- o furor legiferante da Suprema Corte brasileira é tamanho, que mesmo tendo sido notificada, tesmpestivamente, pelo Senado Federal da existência, em tramitação naquela Casa,  de dois projetos de lei sobre o assunto, o que mostra a inexistência da alegada omissão em legislar por parte do Poder Legislativo, decidiu continuar julgando as ações;

- cabe ao presidente da República indicar os ministros do Supremo (inclusive não é necessário ser bacharel em direito para ser ministro do STF). Assim, desde que o indicado atenda os requisitos exigidos na CF, Bolsonaro pode indicar quem ele quiser - seja católico, protestante, umbandista, ateu, etc. Se o presidente cometeu algum erro foi o da vaidade - fez questão de demonstrar poder.
Aproveite, clique aqui e comprove as razões que motivam as pessoas a não desejarem ser amigas de homossexuais.] Ainda aproveita o ensejo – uma convenção religiosa em Goiânia – para defender (ou anunciar?) um ministro evangélico para a Corte.

Se há praticantes católicos, espíritas, muçulmanos, judeus ou umbandistas no Supremo, não se sabe ou não é importante saber, até porque o Estado é laico e o critério religião não cabe na nomeação de ministros, que devem ter alto saber jurídico, independência e respeitabilidade. Se as pessoas acham que um ou outro não tem, é outra história. O presidente do STF, Dias Toffoli, muito hábil, é desses que está bem com todo mundo e tem boa química com Bolsonaro, a ponto de ser convidado para um café do presidente com a bancada feminina aliada. Um peixe fora d’água. Mas Alexandre de Moraes, Marco Aurélio Mello e Celso de Mello reagiram à altura à fala sobre homofobia e “ministro evangélico”.

O PIB recua, o desemprego resiste e a estudantada volta às ruas, mas Bolsonaro atravessou a rua a pé até o plenário da Câmara, mantém os lives de internet sobre temas gerais e já traçou um rango em restaurante de estrada com caminhoneiros, uma das ameaças sobre o governo – e sobre a economia. E lá veio mais falação: “Estou comendo o pão que o diabo amassou”, lamentou-se o presidente, que estimulou os convivas não apenas a ter armas, como a usá-las.

Ao longo da semana, ele sinalizou que tende a vetar a proibição de cobrança para despachar malas em aviões, reconhecendo que, se vetar, os passageiros não vão gostar; se não vetar, as empresas é que vão reclamar. Ah, se os diabos perseguissem os presidentes por decisões tão simples... Na mesma fala, um ato falho. Apesar de tentar corrigir, ele admitiu que pesa na sua decisão o fato de a volta da bagagem gratuita ter sido proposta pelo PT. E saiu-se com essa: “Os caras (do PT) são socialistas, comunistas, estatizantes e gostam de pobre. Quanto mais pobre tiver, melhor”.

Pena que a área de Humanas esteja em baixa, porque a declaração merece análise sociológica, filosófica, política, psicológica. Primeiro, porque a declaração é pró-PT. Segundo, porque “gostar de pobre” é um dever de governantes e políticos. Terceiro: pobre anda mesmo de avião?   Assim, as manchetes são ocupadas, de um lado, pela economia patinando e o desemprego assolando e, de outro, pelas falas de Bolsonaro sobre suas crenças, seus desabafos e seus “foras”. Aparentemente, o presidente gosta de todo o foco nele, não no governo e nas soluções para o País.


Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo


 

sábado, 22 de outubro de 2016

O sonho (errado) acabou



Com a impunidade de Cunha, você podia até defender Lula e Dilma numa boa, por mais que eles roubassem o Brasil 

A prisão do companheiro Eduardo Cunha deixou aturdidos os heróis da resistência democrática. Como vão explicar isso em casa? 

Cunha era o grande vilão do golpe, a mente perversa que arquitetou a destituição da mulher honesta para entregar o poder aos brancos, velhos, recatados e do lar. A impunidade do Darth Vader do PMDB era o lastro da lenda, a prova de que estava tudo armado para arrancar do governo os quadrilheiros do bem. Mas eis que Sérgio Moro, esse fascista que só persegue os bonzinhos, prende Cunha. E agora?

É grave a crise. Eduardo Cunha era a reserva moral do PT. E do PSOL, da Rede e seus genéricos. Com a impunidade dele, você podia até defender Lula e Dilma numa boa, por mais que eles roubassem o Brasil na sua cara: bastava dizer que era contra o Cunha — o fiador do golpe, o homem do sistema. Mas que sistema é esse que põe seu articulador no xadrez? Ficou confuso. Melhor tomar uma água de coco, que o sol está forte.

Os juros começaram a cair depois de quatro anos. A inflação de outubro é a menor em sete anos, e ano que vem o desemprego começa a baixar. Isso não é mágica, é governo. Temer faz parte da mobília antiga do PMDB, e não tem nenhuma bandeirinha simpática para acenar. Se aparecer em alguma negociata, adeus. Mas, ao assumir o Planalto, resolveu escalar os melhores para tomar conta do dinheiro. Banco Central, Tesouro, Fazenda, BNDES, Petrobras — todos sendo desinfetados pelos melhores cérebros, mundialmente reconhecidos. 

Por que Michel Temer fez isso, e não simplesmente substituiu os parasitas esganados do PT pelos velhacos do PMDB? Não interessa, perguntem a ele. A vida no Brasil vai melhorar, e isso é muito grave. O que será daquelas almas puras que gritam “fora Temer” e se tornam instantaneamente grandiosas? O que será dos corações valentes que ficam bem na foto denunciando a entrega do país ao bando do Cunha? Talvez só uma Bolsa Psicanálise para fazer frente a tanto sofrimento.

Na época do Plano Real foi igualzinho. Na privatização da telefonia, que libertou a população dos progressistas retrógrados de sempre, esses mesmos que gritam contra o golpe (ou seus ancestrais) estavam lá nas barricadas — apedrejando quem chegava para os leilões. Eram os heróis da resistência democrática contra a ganância capitalista. Aí a privatização se consumou, a vida de todo mundo melhorou, e os heróis foram combinar a próxima narrativa — pelo celular.

A eleição no Rio de Janeiro, terra de Eduardo Cunha, apresenta um fenômeno surpreendente. No primeiro turno, a cidade confirmou a sua vocação de oposição a si mesma. No segundo turno, Marcelo Crivella disparou. Como pode? Gente esclarecida, eleitores de candidatos respeitáveis como Fernando Gabeira e que jamais votariam num bispo da Igreja Universal, cogitando votar em Crivella? 

Talvez a resposta seja simples: Marcelo Freixo é o candidato contra o golpe. O bom entendedor fez suas contas: o discurso que cultiva a mística de esquerda, à prova de vida real, é exatamente o que destruiu o país nos últimos 13 anos.  Freixo surgiu muito bem na vida pública. Fez um trabalho corajoso de denúncia das milícias, num tempo em que muitos as viam como justiceiras contra os traficantes. Se tornou personagem real de “Tropa de elite”, clássico extraído do trabalho excepcional de Luiz Eduardo Soares — acadêmico de esquerda que jamais sujeitou sua honestidade intelectual às místicas lucrativas. Já Freixo preferiu se tornar o personagem de si mesmo. Seria ótimo, se fosse de verdade.

Falar a verdade dá trabalho. O próprio Gabeira correu o risco do suicídio político algumas vezes, para não trair suas convicções. Primeiro a fazer a crítica da luta armada ainda em plena ditadura, apoiou a privatização da telefonia pelo governo FH — e na época era difícil ao eleitorado de esquerda ver aquilo como o melhor para a coletividade, e não uma traição neoliberal. Depois desembarcou da base de Lula no auge, ao enxergar a putrefação do governo pré-mensalão: “sonhei o sonho errado”.

As viúvas do governo que caiu de podre 13 anos depois disso ainda tentam ver em Dilma (se lembram dela?) uma vítima inocente da direita: preferem embelezar o pesadelo a parar de sonhar. No Rio, o sonho errado ainda rende um bom mercado eleitoral. Na ânsia de cultivar essa mística revolucionária, Freixo estimulou protestos violentos (nega, mas estimulou) — logo ele, que denunciou as milícias sanguinárias. Apoiou sindicalistas que bloquearam o trânsito e engessaram a cidade. Para vender o seu peixe humanista, ele prende e arrebenta — como diria o general Figueiredo.

Infelizmente, ainda há quem escolha candidato pelo crachá de progressista ou conservador (no sentido de moderno ou retrógrado). Então vamos lá, sem crachá: quem põe em risco seus votos para defender o bem comum, como fez Gabeira, é progressista; quem põe em risco o bem comum para defender seus votos, como faz Freixo, é conservador.E não adianta botar o Cunha no meio, porque agora ele está ocupado.

Fonte: Guilherme Fiuza, jornalista