Fábricas abriram 136 mil vagas no segundo trimestre. Banco prevê alta de 740 mil postos com carteira em 2018
- A
contratação com carteira assinada começa a dar sinal de vida nas estatísticas
de emprego. E é a indústria que vem puxando esse movimento. Foram mais de 136
mil vagas abertas no segundo trimestre pela atividade. A taxa de desemprego cai
desde abril — passou de 13,7% naquele mês para 12,6% em agosto —, numa queda
que vinha sendo sustentada até agora só pelas ocupações informais como os conta
própria e trabalhadores sem carteira. Mas o quadro começou a mudar, a ponto de
o Banco Itaú prever a criação de 740 mil vagas formais no ano que vem,
afirmando que o emprego com carteira assinada vai liderar a geração de postos
em 2018. Do emprego formal criado este ano, 40% vieram da indústria de
transformação, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
A
economista Maria Andréia Parente, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), lembra que a indústria cortou muito pessoal: — A indústria
passou momentos ruins, com substituição por importações e, agora, que começa a
voltar a produzir com mais força, precisa contratar. Como a grande maioria das
empresas está no mercado formal, isso aparece nas estatísticas.
Ela diz
que a exportação está ajudando a indústria. A cada mês, mais setores planejam
contratar nos próximos seis meses, segundo a CNI. Dos 27 setores acompanhados
pela confederação, em julho, cinco previam admissões. Em agosto, o número subiu
para sete e, em setembro, foram nove. — As
indústrias farmacêutica, química, de móveis, de confecção e bebidas estão
contratando. A alta ainda é mais localizada, mas a ocupação parou de cair,
depois de muito tempo de queda — afirma Marcelo Azevedo, economista da CNI.
PREVISÃO
DE CRESCIMENTO DE 2,2% NO ANO QUE VEM
De
outubro de 2014 a dezembro de 2016, foram eliminados 2,2 milhões de postos na
indústria.
Para o
Itaú Unibanco, o emprego formal vai contribuir cada vez mais para a queda da
taxa de desemprego. No ano que vem, em média, deve aumentar 2,2% a geração de
vagas com carteira. No fim de 2018, a alta será de 3,2%, nas previsões do
banco, intensificando a recuperação no mercado. — O setor
formal, pela primeira vez desde 2014, contribuiu para a queda na taxa de
desemprego em agosto. A retomada da economia vem melhorando o mercado de
trabalho, provocando a virada no emprego formal — disse Artur Passos,
economista do Itaú, que revisou a previsão de alta do Produto Interno Bruto
(PIB) de 2018 de 2,7% para 3%.
NO
COMÉRCIO, OITO SETORES COMEÇAM A CONTRATAR
No
momento de virada do emprego formal, as indústrias têxteis, de material de
transporte, de alimentos e bebidas, madeira e mobiliário lideram a contratação,
de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). A melhora
mais evidente é na categoria de têxtil e vestuário, que viu o saldo negativo de
4,9 mil postos de trabalho de janeiro a agosto de 2016 mudar para uma criação
de 24,2 mil vagas no mesmo período deste ano.
A
contratação também começa a engatinhar na indústria automobilística. O aumento
da produção de 7,4% este ano, com mais 111 mil veículos fabricados de janeiro a
setembro, trouxe estatística inédita. Pela primeira vez desde setembro de 2013,
houve dois meses seguidos de alta na contratação em julho e agosto. O número
ainda é baixo: 1.156 admissões. A indústria ainda está chamando trabalhadores
que estavam em layoff. — O
processo de recuperação já começou. Até setembro, os resultados da produção são
muito bons. A exportação deve fechar 2017 com alta de 50%, o maior salto da
história da indústria. O consumo interno deve crescer 11%. É uma reação do
emprego que tem base, sustentação — afirma João Morais, economista da
Consultoria Tendências especializado no setor.
No
comércio, de acordo com levantamento exclusivo feito pela Confederação Nacional
do Comércio (CNC), a reação do emprego formal já se mostra mais clara em
agosto. Dos 11 setores acompanhados, oito já contratam. Um avanço frente ao
desempenho dos últimos 12 meses, em que apenas a metade dos setores apresenta
resultados positivos. Em agosto, foram 10.721 contratações em comparação com
julho. Lojas de
material de escritório e informática, de artigos de uso pessoal, hiper e
supermercados — ramo que responde por 30% do emprego no comércio — artigos
farmacêuticos, livros, jornais e revistas, veículos e material de construção
admitiram com carteira.
— No
total do varejo, ainda estamos prevendo o fechamento de 20 mil vagas no
conjunto deste ano. A reação não foi suficiente para compensar a perda de vagas
no início do ano. Só em janeiro, foram 63 mil vagas fechadas — afirmou Fabio
Bentes, chefe interino da Divisão Econômica da CNC.
73 MIL
TEMPORÁRIOS NO NATAL
O Natal
vai melhorar as estatísticas. A estimativa da confederação é de 73 mil
temporários absorvidos de setembro a dezembro, com a efetivação de um
percentual de 27%. Em 2015 e 2016, a parcela dos que conseguiram emprego
permanente foi de 15%. —
Inflação baixa, crédito menos caro e alguma recuperação da confiança devem melhorar
esses números — diz Bentes.
O
ex-funcionário público Robert Wallace Pereira, de 43 anos, ajudou a melhorar o
resultado do emprego no setor. Decidiu se tornar empreendedor e gerou dois
postos de trabalho. Com dois sócios, ele abriu uma unidade da franquia Lava e
Leva na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. O investimento foi de R$
100 mil. Até o fim do ano, pretende contratar pelo menos mais quatro pessoas,
por ter percebido aumento da demanda pelo serviço. — Nossa
ideia era contratar só uma pessoa, mas surgiram duas pessoas para a vaga e
resolvemos apostar, até para dar uma oportunidade. Foi uma boa estratégia. O
movimento aumenta a cada semana — conta Pereira.
Para Ana
Maria Moreira da Silva, de 51 anos, uma das contratadas, a carteira de trabalho
é uma chance de garantir a aposentadoria e ter acesso a crédito. Ela estava há
cinco meses parada.
— Com
carteira, você é bem vista — resume.
Já Andréa
Heloísa Rodrigues, de 40 anos, buscava emprego há sete meses:
— Tenho
três filhos. Quem estava ajudando em casa era minha filha, de 20 anos.
Fonte: O Globo