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terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Segurança pública - Senado tem a obrigação de acabar de vez com a saidinha dos presos - Alexandre Garcia

Vozes - Gazeta do Povo

Arma de fogo

Arma de fogo
Foi preciso que PM mineiro fosse assassinado por bandido em saidinha de Natal para presidente do Senado se mexer.| Foto: Steve Buissinne/Pixabay

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, parece que ouviu o estampido cruel dos dois disparos que atingiram a cabeça do sargento Roger Dias, da PM de Minas Gerais, em Belo Horizonte. 
Pacheco afirmou que “o Congresso Nacional atuará para mudanças na lei penal e de execuções criminais, suprimindo direitos que, a pretexto de ressocializar, estão servindo como meio de mais e mais crimes”.  
Foi na saidinha de Natal que o bandido ganhou arma e munição do Papai Noel e atirou no sargento de 29 anos, pai de um recém-nascido. 
Seu cúmplice tinha dois homicídios e 15 crimes, e estava em liberdade condicional. 
O assassino tinha 18 registros de crimes. E estava solto, como se merecesse passar o Natal em casa, convivendo com a família. 
Houve uma reclamação muito grande, você também viu aqui, e parece que Pacheco finalmente ouviu o barulho dos tiros.

Em São Paulo descobriram que 1.566 condenados soltos para a saidinha de Natal não voltaram. 
Além desses, outros 81 outros foram flagrados ou traficando, ou roubando, ou furtando, ou agredindo, ou ameaçando. 
A Câmara aprovou a extinção da saidinha por 311 votos contra 91
O relatório na Comissão de Segurança Pública do Senado já está pronto, é do senador Flávio Bolsonaro, do Rio de Janeiro; está pronto para ir à Comissão de Constituição e Justiça e ser votado em plenário.

Superávit recorde é baseado em queda preocupante na importação
O governo está fazendo propaganda, dizendo que a balança comercial teve quase US$ 100 bilhões de superávit no ano passado. 
Bonito, muito bonito, muito mais que no ano anterior. 
Mas sabem o que aconteceu? As importações diminuíram muito
Quando se importa, é porque se acredita no futuro, é porque estão investindo, produzindo, criando emprego, comprando insumos para produzir aqui no Brasil. 
A importação não é só de material de consumo: são adubos, fertilizantes, máquinas, grandes máquinas, tecnologia. 
Mas a importação caiu quase 12%, baixando para US$ 240 bilhões. 
As exportações cresceram só 1,7%, foram de US$ 339 bilhões.  
[em português claro, que até petista entende: para um crescimento  sustentável as importações não podem cair, o SUPERAVIT tem que ser obtido exportando mais, de forma crescente, especialmente a indústria, gerando valor agregado  e não reduzindo importações de itens essenciais ao crescimento.]  
A agropecuária conseguiu exportar 9% a mais; os minérios tiveram 3,5% de aumento na exportação.  
Mas a indústria exportou ainda menos que no ano passado, queda de 2,3%.
Veja Também:



 
Líderes vão decidir o que fazer com MP da reoneração da folha
Pode ser que nesta terça-feira, em reunião com líderes do Congresso, Pacheco decida o que fazer com a medida provisória que veio para anular a vontade de 438 deputados e senadores que derrubaram o veto do presidente à prorrogação da desoneração da folha para 17 setores que mais empregam
A decisão pode ser a de devolver a MP, e isso pode ser feito, a derrubada ou acolhê-la, mas assim que o ano legislativo começar derrubá-la na comissão especial. Isso também pode acontecer. [é essencial que a medida seja devolvida, o que mostrará ao presidente Da Silva que é o Congresso quem tem a competência constitucional de legislar; o Congresso Nacional tem que ser claro, duro e mostrar ao atual presidente que sua manobra de derrubar, via MP,  a derrubada de vetos em questão é OFENSIVA ao PODER LEGISLATIVO e ao POVO = representado legitimamente pelo Congresso Nacional.
Além do mais, abre a porta para que o senhor Da Silva edite uma MP para revogar decisão do Congresso sobre o 'marco temporal' e qualquer outra matéria aprovada pelo Poder Legislativo que desagrade aos interesses daquele cidadão e do seu partido. ]

Acidente na Bahia chama atenção para descuido com segurança
Por fim, para o pessoal que anda de ônibus interestadual, um ônibus bateu de frente em um caminhão na cidade de São José do Jacuípe, na Bahia. Morreram 22 passageiros do ônibus, e eu pergunto: estão exigindo que todos os passageiros estejam com cinto de segurança?
 
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


domingo, 7 de janeiro de 2024

Ditadura indisfarçável, Parte 1: relatos sobre o Brasil pós-8 de janeiro - Marcel van Hattem

Gazeta do Povo - VOZES

8/1
Manifestantes na Praça dos Três Poderes, em Brasília, em 8/1/2023| Foto: EFE
 
Às vésperas da “comemoração” proposta pelo petismo de um ano dos atos de 8 de janeiro de 2023, visitei novamente os presídios da Papuda e da Colmeia, em Brasília (DF). 
Seguem ali 18 brasileiros presos, ao menos cinco dos quais com pedido de soltura do Ministério Público há semanas e ainda não analisados pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes
Enquanto Lula, Moraes e convidados estarão no Congresso na próxima segunda-feira celebrando uma suposta "democracia inabalada”, centenas de brasileiros seguirão com tornozeleiras eletrônicas em suas casas sem o devido processo legal, e dezenas deles seguirão encarcerados no Distrito Federal e nos estados, vítimas de uma perseguição política somente comparável àquelas ocorridas em Estados de exceção. 
 
Em ditaduras.
Na próxima segunda-feira, em Brasília, petistas e seus aliados aduladores de "democracias relativas" como a Venezuela de Nicolás Maduro, tentarão continuar a difundir a falsa narrativa de que o Brasil ainda é um país democrático e que aqui a Constituição está sendo respeitada.
No entanto, doze senadores continuam aguardando autorização do ministro Alexandre de Moraes para realizarem seu trabalho de fiscalização nos complexos penitenciários da Papuda e da Colmeia, que abrigam os presos do 8 de janeiro de 2023.

A festa que pretendem promover na segunda-feira é a festa da tirania; é a ode ao reino do abuso e da vilania.

É isso mesmo que você leu: o direito constitucional de congressistas fiscalizarem órgãos e espaços da administração pública, que independem de qualquer decisão judicial, agora está sujeito a uma autorização concedida por Alexandre de Moraes a si mesmo. 
No caso do documento protocolado por Eduardo Girão e outros onze senadores, incluindo o líder da oposição no Senado, Rogério Marinho, desde o dia 6 de dezembro aguardam os senhores senadores pelo beneplácito de Sua Excelência, ministro Alexandre de Moraes, para que tenham acesso aos presídios.

No meu caso, no entanto, pude fazer a visita aos presídios neste período de recesso parlamentar graças a uma autorização concedida pelo ministro ainda em março do ano passado. Adentrei os complexos penitenciários nas últimas quarta, 3 e quinta, 4 de janeiro, e vi coisas que nada têm a ver com o que se deveria ver em democracias e que nada têm a ver com o cumprimento da Constituição.

As atrocidades que estão sendo cometidas contra milhares de cidadãos trabalhadores são dignas do mais profundo repúdio e desprezo.

Os presos que encontrei seguem sem seus direitos garantidos, não sabem por que estão sendo processados, seus advogados seguem tendo prerrogativas cerceadas e seus processos continuam sem a devida individualização das condutas
Relembro aos leitores: praticamente 100% dos réus foram processados com denúncias genéricas, sem provas de envolvimento individual, um legítimo copia e cola das iniciais oferecidas pelo Ministério Público. 
Para piorar ainda mais: após a morte de Cleriston Pereira da Cunha, o Clezão, durante o banho de sol no final de novembro e com a notícia da condenação de vários presos a penas que chegam a 17 anos de reclusão, dois internos já tentaram colocar fim à própria vida, um dos quais foi transferido do presídio da Papuda à ala psiquiátrica da Colmeia.
 
Um terceiro interno, preso mais recentemente na Operação Lesa Pátria, tinha esperança de sair da cadeia durante o período de Natal e Ano Novo para acompanhar o parto de sua esposa
Ao perceber que permaneceria encarcerado, desabafou com o médico do IML que, caso acontecesse algo a sua esposa e ele não estivesse junto, ele certamente viria a fazer alguma “besteira”.  
Este também acabou transferido à ala psiquiátrica. 
Felizmente, sua filhinha nasceu com saúde no dia de Natal, mas o pai não pode acompanhar o parto enquanto traficantes e homicidas eram beneficiados Brasil afora com saidinhas à cadeia. Saidinhas sem retornadinhas em muitos casos, como noticia a imprensa nos últimos dias.

Em vez de inabalada, nossa democracia está sendo vilipendiada, abusada. Violentada.

“Não vamos chegar numa ditadura, já é!”, disse-me um dos presos. Outro, o único dos réus cujo processo já transitou em julgado e foi condenado pelo STF a 17 anos de cadeia, divide hoje cela com três homicidas na ala de criminosos comuns da Papuda, implorou-me: “se puder assinar agora para ir embora, sem indenização, sem nada, assino na hora. Na hora! Só quero a minha liberdade, o resto corro atrás!”
Aos 24 anos, casado há cinco, tem uma filha de seis meses que conheceu na visita da mãe à cadeia. 
Se cumprida a pena inteira, estará quite com a injustiça brasileira apenas em 2039, após completar 40 anos de idade
Na mesma prisão em que se encontra, há condenados a 8 anos por estupro e a 15 por homicídio. 
Ele pegou 17 por enviar um áudio infeliz à esposa e por ter adentrado o Congresso Nacional no 8 de janeiro. 
Não há provas em seu processo de que tenha vandalizado ou efetivamente quebrado qualquer bem público.
 
Esta é a “democracia inabalada” de Lula e de Moraes? 
É este o país em que supostamente se respeita a Constituição e a lei é igual para todos? 
Não, certamente a festa que pretendem promover na segunda-feira é a festa da tirania; é a ode ao reino do abuso e da vilania. As atrocidades que estão sendo cometidas contra milhares de cidadãos trabalhadores, cuja esmagadora maioria nunca teve passagem alguma pela polícia, são dignas do mais profundo repúdio e desprezo, jamais da horrenda pompa e circunstância que se pretende dar no Congresso Nacional no próximo dia 8 de janeiro.

Aliás: o governo Lula, se decente fosse, deveria admitir que não apenas nada fez para impedir os atos de vandalismo como contribuiu para sua execução, conforme se viu pelos vídeos internos vazados do Palácio do Planalto ainda quando o GSI era comandado pelo General do Lula, Gonçalves Dias. Já as imagens das câmeras de segurança do Ministério da Justiça nunca apareceram e, como prêmio, o responsável pelo prédio, Flávio Dino, foi indicado e aprovado para ser o novo ministro do Supremo Tribunal Federal. Em vez de inabalada, nossa democracia está sendo vilipendiada, abusada. Violentada.

A fim de deixar muito claro e expor ao Brasil e ao mundo o que vi na Papuda e na Colmeia nas minhas visitas aos presídios, bem como os excessos e abusos que estão sendo cometidos contra brasileiros presos ou com restrições de liberdade na esteira da depredação e vandalismo ocorridos na sede dos Três Poderes no dia 8 de Janeiro do ano passado, publicarei no meu espaço na Gazeta do Povo uma série de artigos intitulados “Ditadura indisfarçável”
Contarei aqui histórias individuais de presos do dia 8 de janeiro que se somam em uma tragédia coletiva: a violentação da nossa democracia e a consolidação de uma tirania que abusa dela, inclusive hipocritamente alegando defendê-la.
 
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

domingo, 31 de dezembro de 2023

Intolerância religiosa - A perseguição extrema de cristãos na Nigéria, um grito silenciado por liberdade religiosa

Vozes - Gazeta do Povo

Crônicas de um Estado laico

Decoração de Natal na cidade nigeriana de Ibadan, uma semana antes dos ataques islâmicos contra cristãos no Natal.

Decoração de Natal na cidade nigeriana de Ibadan, uma semana antes dos ataques islâmicos contra cristãos no Natal.| Foto: Samuel Alabi/EFE/EPA

Há uma crença equivocada segundo a qual apenas minorias podem ser alvo de perseguição, uma lógica que desconsidera a perseguição religiosa, especialmente contra cristãos, um povo pacífico por sua própria teologia. Além da perseguição educada que atinge os cristãos, como o cancelamento e a mordaça, tão presentes atualmente no Brasil e denunciadas nesta coluna, ocorrem também lamentáveis episódios de perseguição extrema em diversas partes do mundo, destacando-se o caso da Nigéria.

A perseguição religiosa extrema na Nigéria tem crescido ano após ano, enquanto entidades internacionais permanecem indiferentes e o mainstream faz questão de esconder tudo. 
Com uma população de pouco mais de 200 milhões – semelhante, portanto, à do Brasil – dos quais 100,5 milhões são cristãos, a Nigéria subiu da nona para a sexta posição na lista dos 50 países onde os cristãos enfrentam maior perseguição nos últimos dois anos, de acordo com os dados fornecidos pelo Portas Abertas.
No mais recente capítulo dessa tragédia, ocorrido durante as celebrações natalinas entre os dias 23 e 25 de dezembro, grupos islâmicos atacaram pelo menos 20 aldeias cristãs no estado de Plateau. 
Enquanto o mundo celebrava o nascimento de Jesus Cristo, nossos irmãos nigerianos foram brutalmente massacrados por causa de sua fé. Segundo relatório da ONG nigeriana Intersociety, mais de 40 mil cristãos foram mortos nos últimos anos por causa de sua fé, enquanto 18,5 mil cristãos desapareceram permanentemente. 
Além disso, 17,5 mil igrejas foram atacadas e 2 mil escolas cristãs foram destruídas. 
Nesse contexto, 6 milhões de cristãos foram forçados a fugir do país, e 4 milhões são deslocados internos.


    A perseguição religiosa extrema de islâmicos contra cristãos na Nigéria tem crescido ano após ano, enquanto entidades internacionais permanecem indiferentes e o mainstream faz questão de esconder tudo

Na situação ocorrida neste Natal, os relatos de cristãos residentes na Nigéria revelam que os ataques resultaram na morte de 160 pessoas e deixaram mais de 300 feridos, muitos dos quais foram encaminhados para tratamento em hospitais. 
Entre as vítimas, predominam mulheres, crianças e idosos, grupos vulneráveis que enfrentam maiores dificuldades para escapar desses ataques brutais. 
A organização Portas Abertas aponta que a perseguição extrema enfrentada pelos cristãos na Nigéria está relacionada a uma agenda organizada de islamização forçada, que tem se intensificado ao longo dos anos. Desde a adoção da sharia, em 1999, essa islamização, utilizando meios tanto violentos quanto não violentos, agravou-se, com ataques de grupos militantes islâmicos aumentando desde 2015. 
Boko Haram e ISWAP são alguns dos grupos liderando essas ações violentas, resultando em mortes, danos físicos, sequestros e violência sexual, impactando principalmente os cristãos. 
Nos estados onde a sharia foi implementada, os cristãos enfrentam discriminação e exclusão, enquanto os convertidos enfrentam rejeição familiar e pressões para abandonar o cristianismo, muitas vezes acompanhadas de violência física.
 
O contexto à luz dos direitos humanos universais
Neste contexto, é imperativo recordar os princípios fundamentais da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 
A perseguição religiosa, tanto extremada quanto educada, viola diretamente o artigo 18, que proclama o direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião.  
No mesmo artigo, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos garante o direito de ter, manter e mudar de crença, bem como de exercê-la, enquanto o artigo 12 da Convenção Interamericana de Direitos Humanos traz a mesma garantia.

Em nossa obra Liberdade Religiosa: 
- fundamentos teóricos para proteção e exercício da crença, defendemos que a liberdade religiosa ordena e estrutura o próprio sistema político em que se encontra: 
1. garantindo o pluralismo de ideias emanado de um ecossistema variado de crenças, fundamento de qualquer democracia plural e inclusiva; 
2. é um princípio de organização social e de configuração política, porque contém uma ideia de Estado oriunda da cosmovisão e dos sistemas de valores das confissões religiosas; 
3. potencializa o exercício e o gozo dos direitos civis e políticos. A pessoa religiosa que possui os âmbitos de sua crença e o exercício protegidos exerce os direitos civis e políticos com a tranquilidade de que aquilo que é mais sagrado não será tolhido nem violado pelo Estado; e 
4. é a pedra nodal do sistema de liberdades, visto que, se o ser humano tem negado pelo Estado seu direito mais íntimo de crer e de exercer sua crença, todas as outras liberdades serão prejudicadas, seja diretamente pelo Estado, seja pela aniquilação da autonomia da vontade da pessoa religiosa de exercê-los.

Assim, a defesa da liberdade religiosa é um dos pilares fundamentais para quem pretende proteger a dignidade e os direitos humanos. A liberdade religiosa é a base para a construção de sociedades pluralistas e inclusivas, onde a diversidade de crenças não é apenas tolerada, mas valorizada como um componente enriquecedor do tecido social.

Situações como a vivenciada pelos nigerianos devem ser enfrentadas pelas Nações Unidas e por todas as entidades que atuam com direitos humanos, e devem ser denunciadas pela mídia internacional – aliás, alguém viu alguma matéria de jornalões do eixo Rio-São Paulo sobre os ataques? 
Reportagens sobre a necessidade de um olhar eficaz das Nações Unidas sobre a Faixa de Gaza são constantes, enquanto denúncias em face da política de apartheid contra os cristãos na Nigéria e em outros países dominados pelo Islã, assim como as perseguições que ocorrem em regimes totalitários como Coreia do Norte e China, passam incólumes.

A União Nacional das Igrejas e Pastores Evangélicos e o Instituto Brasileiro de Direito e Religião (IBDR) emitiram importante nota denunciando esse lamentável fato ocorrido na Nigéria, conclamando todos à oração pelos cristãos que vivem em situações de perseguição extremada e “para que a comunidade internacional, bem como o governo brasileiro, tenha uma posição firme contra a perseguição religiosa ocorrida na Nigéria e em qualquer outro país do mundo, adotando medidas eficazes para rechaçar qualquer discriminação e perseguição aos cristãos e pessoas de qualquer religião que querem apenas viver suas vidas em paz, seguindo suas doutrinas religiosas e adorando a Deus”.

Diante dessa realidade, é urgente que a comunidade internacional se una em solidariedade e aja para proteger a liberdade religiosa, promovendo um mundo onde a crença de cada um seja respeitada e celebrada como um elemento vital da riqueza cultural da humanidade. 
Os autores dessa coluna reforçam seu compromisso em denunciar essas atrocidades, clamar por justiça e promover a liberdade religiosa como um direito humano fundamental. 
Que a luz da solidariedade ilumine o caminho daqueles que enfrentam a escuridão da perseguição, e que a esperança prevaleça sobre a intolerância, construindo um futuro em que todos possam viver e adorar livremente, sem temer pela própria fé.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

Thiago Rafael Vieira,
colunista  Gazeta do Povo - VOZES


sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Um ano envolto em fraldas - Percival Puggina

        As antigas folhinhas de xaropes e pílulas costumavam vir ilustradas com a imagem de um ano ancião que saía, barbas brancas, encurvado sobre sua bengala e um ano novo que chegava enrolado em fraldas. Posta na parede, ali ficava como “marco temporal” de nossos planos de réveillon.

Contudo, o Sol e a Lua não contam seus giros nem dão bola para as promessas que fazemos a nós mesmos. 
O tempo é coisa que usamos, mas não nos pertence; é utilidade, convenção, relatividade. Meia hora na cadeira do dentista dura bem mais do que meia hora numa roda de amigos. 
Na infância, eternidade é o tempo decorrido entre dois Natais ou duas visitas de Papai Noel. 
Minha mãe, por seu turno, tão logo terminava um ano começava a se preocupar com o Natal vindouro “porque, meu filho, logo, logo é Natal outra vez”.

A vida familiar e a vida social se fazem, entre outras coisas, do cotidiano encontro da maturidade com a juventude. Imagine um mundo onde só haja jovens ou onde, pelo reverso, só existam idosos. Imagine, por fim, a permanente perplexidade em que viveríamos se a virada da folhinha nos trouxesse, com efeito, um tempo novo, flamante, que nos enrolasse nas fraldas da incontinência urinária, com tudo para aprender.

Felizmente não é assim, nem deve ser visto assim. O importante, em cada recomeço, é ali estarmos com a experiência que o passado legou. Aprender da História! Aprender da vida! E, principalmente, aprender da eternidade!

Quem aprende da eternidade aprende para a eternidade. Aprende lições que o tempo não desgasta nem consome, lições que não são superadas, lições para a felicidade e para o bem. 
Por isso, para os cristãos, a maior e melhor novidade de cada ano será sempre a Boa Nova, que infatigavelmente põe em marcha a História da Salvação, cumprindo o plano de amor do Pai.

Bem sei o quanto é contraditório à cultura contemporânea o que estou afirmando. E reconheço o quanto as pessoas se deixam cativar pela mensagem do hedonismo “revolucionário”, supostamente coletivista e igualitário. Mas é preciso deixar claro que tal mensagem transforma o mundo num grande seio onde, a cada novo ano, se retoma a fase oral e se trocam as fraldas da imaturidade.

A quantos lerem estas linhas desejo um 2024 de afetos vividos, aconchego familiar, realizações, vitórias, saúde e paz.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

domingo, 24 de dezembro de 2023

TRÊS REFLEXÕES NATALINAS SOBRE JANJA - Gazeta do Povo

Paulo Polzonoff Jr. - VOZES

 

TRÊS REFLEXÕES NATALINAS SOBRE JANJA


Janja: a primeira-dama mais deslumbrada da história

Preguiça de ler?
Tá com preguiça de ler o texto acima?
 

Não tem problema. Clica na imagem abaixo que eu fiz um vídeo sobre ele.

 Então é Natal!Consegui amar a Janja um pouquinho

 

 Paulo Polzonoff Jr., COLUNISTA - Gazeta do Povo - VOZES

 


sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Natal, uma lição de amor - Percival Puggina


Recentemente participei de uma reunião em que se debatia o tema da “independência” no relacionamento conjugal. Assunto interessante porque em torno dele se tem estabelecido grande confusão, sendo muitos os que consideram coisa desejável, no casamento moderno, uma recíproca e absoluta independência entre os pares.

Não existe isso em qualquer instituição humana. As instituições, assim como todas as sociedades, se compõem precisamente porque as pessoas dependem uma das outras; uma sociedade de membros totalmente independentes seria algo tão atomizado e disperso quanto inútil.

Na vida conjugal, e em especial nas relações onde o amor se impõe como elemento vinculante fundamental (embora não único), essa interdependência dos membros pode levar - e com frequência leva - ao sacrifício. Qualquer pai, mãe, marido ou mulher sabe que o amor cobra capacidade de renúncia, e a exige, especialmente nos momentos de crise pessoal, nas enfermidades, e sempre que há fardos a serem compartilhados.

Um dos maiores problemas que atingem a instituição familiar e sua estabilidade nos dias de hoje está localizado nessa fobia cultural à renúncia e ao sacrifício, entendidas pelo avesso - como elementos destruidores da natureza humana - e não como construtivos e constitutivos de sua maturidade.

O Natal de Jesus, e é sobre isso que desejo escrever, exemplifica com muita clareza que, no plano de Deus, o amor é inseparável da doação e da renúncia. O Natal não é apenas uma bela história - a mais bela das histórias - como afirma recente comercial na TV. Ele é também um drama real, convivido nas duas cidades, a de Deus e a dos homens: Deus se faz homem para estabelecer uma “nova e eterna Aliança” com a humanidade a que ama. E seguindo a lógica do amor, vai ao sacrifício de si mesmo.

Esse “dar-se” resiste, no ensinamento cristão, contra a dimensão comercial que cada vez mais domina as festas de fim de ano onde as relações se tornam crescentemente materiais, numa sequência que começa com o simples “receber”, passa pelo “trocar” e talvez chegue ao “dar alguma coisa”, mas raramente cogita do “dom de si”, que é a essência do Natal. Espero que este Natal seja para cada um, em cada família, ocasião de refletir sobre as exigências do amor, segundo o exemplo de Jesus de Nazaré.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. 

 

 

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Supremo é o soberano - Gilberto Simões Pires

MEDIDAS MÓRBIDAS

Governantes socialistas/comunistas, mesmo convencidos de que ninguém seria capaz de impedir seus atos ditatoriais, ainda assim, como que atraídos por vaidade incontida, fazem questão de, na calada da noite, ou, principalmente, quando seus súditos estão muito envolvidos com as festas de confraternização, como é o caso do Natal e Ano Novo, adotar medidas mórbidas e/ou inconsequentes.

DIABOS EM RETIRADA

 No Brasil, notadamente depois que a maioria dos ministros do STF fez valer, sem ser minimamente importunado, a certeza de que o único SOBERANO É O SUPREMO, aí até os piores diabos entenderam que suas maldades não passam de coisas insignificantes e inofensivas. Como tal, cheios de frustração, muitos já estão de malas feitas e prontos para cair fora do Brasil e buscar um lugar onde têm chances de serem reconhecidos como malfeitores. 

FORA DO TETO DE GASTOS

Ontem, 18, à noite, para confirmar que é forte concorrente na arte de praticar maldades, o ministro Gilmar Mendes tomou a diabólica decisão que abre espaço para que o governo fique livre de pressões e negociações para aprovar a PEC da Transição. De novo, para que não paire dúvida: Gilmar Medes DETERMINOU que os recursos para renda mínima - estabelecida como os R$ 600 atuais do Auxílio Brasil- ESTÃO FORA DO TETO DE GASTOS. Mais: basta uma Medida Provisória de crédito extraordinário, para que o governo eleito resolva a principal promessa de campanha. Que tal? 

SUPREMO DO SUPREMO

Com esta fantástica decisão -diabólica- Gilmar Mendes, como que querendo mostrar que é o SUPREMO DO SUPREMO, fez uma legítima e enorme FIGA para o Poder Legislativo. Mais: tornou absolutamente irrelevante a tramitação da PEC DO ESTOURO, a qual havia sido aprovada no Senado na semana passada e pronta para ser votada na Câmara nesta semana.

VONTADE DO POVO?

Pois é, meus caros e tontos brasileiros: enquanto muita gente fica em frente dos quartéis esperando que um milagre aconteça, a Câmara e o Senado emitem sons de grande irresponsabilidade e o SOBERANO SUPREMO, sem ser minimamente incomodado, toma decisões DITATORIAIS que ignoram por completo a tal da ridícula VONTADE DO POVO. Pode? [comentando: se o milagre acontecer, e tudo indica que acontecerá, a vontade e arrogância do Supremo, Câmara e Senado, deixam de contar.]

Ponto Crítico - Gilberto Simões Pires


domingo, 18 de dezembro de 2022

Natal - A ladainha laicista nas escolas e o cancelamento do aniversariante do Natal

Vozes - Crônicas de um Estado laico

NATAL 
 

Detalhe de “A Adoração dos Pastores”, de Gerard van Honthorst.| Foto: Wikimedia Commons/Domínio público
 
Não existe Natal sem Jesus e o Natal está chegando. Shoppings e lojas enfeitadas, luzes piscando em todo lugar. 
 O que nos incomoda em meio ao Advento é o movimento cada vez mais impositivo da secularização ou do discurso laicista de que não se pode falar de Jesus no Natal, porque seria uma afronta as outras religiões e ao Estado laico, e blablablá.

De qualquer forma, é importante deixar claro que o problema não é o Papai Noel – muitos desavisados, aliás, criticam o pobre velhinho como se fosse uma criação do sistema. Santa ignorância. O Papai Noel é fruto direto da influência cristã e representa São Nicolau de Mira. Nicolau foi monge no século 4.º e era reconhecido por sua generosidade e afinidade com crianças. É sabida sua preocupação com crianças carentes, não apenas sob o ponto de vista assistencial, mas também educacional; por isso ele é tido como padroeiro dos estudantes. Aliás, a própria aparência do atual Papai Noel é exatamente como São Nicolau é descrito: velhinho, gordinho e com longas barbas brancas.

O problema está no fato de o Papai Noel ocupar a centralidade do Natal, excluindo o dono da festa e aniversariante
Nunca é demais lembrar que o real motivo do Natal é a comemoração do nascimento do Deus Filho na plenitude dos tempos, quando o Leão de Judá, o Sempiterno Filho de Deus, o Rei dos Reis, o Senhor dos Exércitos se esvaziou, tornando-se uma indefesa criança, deitada em uma manjedoura, na pobre cidade de Belém.


    O problema não é o Papai Noel – que, aliás, é fruto direto da influência cristã. O problema está no fato de o Papai Noel ocupar a centralidade do Natal, excluindo o dono da festa e aniversariante

As escolas são exemplo disso, públicas ou privadas. Ensinam as crianças a celebrar o Natal na base da troca de presentes (que em si não é problema, pois representa os presentes entregues ao Menino Jesus pelos reis magos), pinheirinho de Natal e Papai Noel, sem mencionar uma única vez que o motivo da festa que mobiliza a escola, a cidade e o mundo é o nascimento de Jesus. Isso não tem nada a ver com Estado laico, escola laica e outras ladainhas, mas com um fato histórico inconteste, tanto que contamos o tempo a partir dessa data – por que o leitor acha que estamos no ano de 2022? 
Eu mesmo perguntei à minha filha de 5 anos se lhe explicaram o motivo do Natal na escola, ou, no mínimo, se comentaram algo sobre Jesus. “Não, papai, na escola só falam do Papai Noel”. É lamentável: seja por uma imposição da secularização, seja pelo mantra fake do Estado laico, nossas crianças são “desensinadas” na escola – a palavra pode até não existir no português, mas na vida prática é exatamente o que acontece.

Minha vontade é sugerir à ex-escola da minha filha (sim, já a tirei de lá) para adotar outro calendário, já que Jesus não pode ser mencionado. Mas isso daria tela azul na diretoria, pois todos os calendários têm origem religiosa. E agora, José? Não tem jeito; a religião é um fato inexorável da vida humana.

Por outro lado, não é só de secularismo ou ladainha fake de Estado laico que vive o Brasil. Lembrando da igreja sem liberdade religiosa no Natal

O advento é temporada do ano em que nós olhamos para a primeira vinda de Cristo, quando Ele se fez carne em forma de um bebê nascido em Belém. É tempo de refletirmos na história de redenção e prepararmos nosso coração para meditar e celebrar diariamente na salvação do Senhor. Como cantou a milícia dos anjos aos pastores no campo: “Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem” (Lucas 2,14). É um tempo de lembrar e também esperar. Lembramos do nascimento de Cristo, e esperamos o dia em que ele irá retornar para buscar a sua Igreja.

Hoje, em cumprimento à grande comissão entregue por Jesus, “ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura”, a Igreja de Cristo está espalhada pelo mundo todo. Contudo, Jesus alertou que, por causa de seu nome, os Seus discípulos seriam perseguidos, conforme João 15,20-21:“Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. Tudo isto, porém, vos farão por causa do meu nome, porquanto não conhecem aquele que me enviou.”

A verdade é que, enquanto festejamos livremente o Natal no Brasil, com grandes festividades em nossos lares e congregações, há muitos de nossos irmãos e irmãs em outras partes do mundo que não podem comemorar o nascimento de Cristo com a mesma abertura que temos. Na verdade, sofrem perseguição intensificada nesta época do ano. O portal cristão especializado Religion Unplugged relata que “muitos cristãos, apesar de sua fé e devoção, têm pouca oportunidade de celebrar o nascimento do menino Cristo, ou de ‘descansar à beira da desgastante estrada e ouvir os anjos cantarem’”.

O referido portal explica que no Irã o Natal é um tempo de crescente controle e perseguição, em que a junção de cristãos para celebrar é acompanhada de violentas prisões. Na Nigéria e outros países africanos, invasões e massacres durante a madrugada fazem os sobreviventes agradecerem a cada manhã que acordam porque o Senhor os guardou para viverem outro dia. Na China, igrejas são vigiadas, cultos são interrompidos, bem como líderes eclesiásticos que são levados acabam desaparecendo.

A Unigrejas, portanto, faz este desafio para nós aqui no Brasil: celebrar o nascimento de nosso Salvador neste período de advento, sem esquecer dos nossos muitos irmãos e irmãs em Cristo que não desfrutam dessa mesma liberdade de religião e crença para comemorar o nascimento de nosso Salvador. 
Oramos para que todo consolo e encorajamento estejam sobre a Igreja perseguida espalhada pelo mundo neste Natal, e que muitos deles sejam feitos livres dessas amarras. 
Ao meditar sobre a primeira vinda de Cristo, fortalecemo-nos com a esperança de sua segunda vinda, quando todos nos reuniremos livremente em Sua presença para festejar a Salvação que veio por meio de Cristo e para dar Glórias a Deus nas maiores alturas!

Conteúdo editado por: Marcio Antonio


Crônicas de um Estado laico -Thiago Rafael Vieira e Jean Marques Regina, colunistas - Gazeta do Povo - VOZES

 

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

É tempo de caju e de persistir - Evaristo Miranda

Revista Oeste

A fibra do caju, normalmente descartada, é utilizada cada vez mais em hambúrgueres, bolinhos e quibes vegetarianos, com tecnologias da Embrapa 
 
Pé de caju | Foto: Shutterstock

…em dois credos se esmoem.
Gabriel Soares de Souza, 1587

O clima influencia a agropecuária e até o futebol. Nunca a Copa do Mundo foi realizada entre novembro e dezembro. As altas temperaturas do verão no Golfo Pérsico levaram a Fifa a decidir pela mudança da data. E o futebol também influencia o clima. A Copa parece ajudar a baixar a temperatura do clima sociopolítico no Brasil. Parece. As principais equipes já jogaram no Catar.  
No próximo domingo, quem entra em campo é Jesus Cristo. No 27 de novembro começa o Tempo do Advento, do latim Advenire, chegar a. Chegar onde? Ao Natal. Nas casas, no campo e nas cidades é tempo de montar presépios, árvores de Natal, guirlandas, enfeites e muitas luzinhas. Neste ano, em meio ao verde-amarelo da Pátria patriótica e de chuteiras.

No calendário litúrgico, o Tempo do Advento corresponde às quatro semanas antecessoras do Natal. O comércio ganha vida, além de promoções, como a Black Friday, antecipando as compras dos presentes natalinos. Lojas de decorações natalinas surgem nos shoppings. Cidades e casas ganham luzes e o campo começa a colher os plantios da primavera.

Muitos chamam estas semanas de tempo do Natal. Com tanta festa é bom não misturar os tempos. Para a Igreja Católica existem dois: o do Advento e o do Natal. O calendário litúrgico começa com o Tempo do Advento em novembro e termina no 24 de dezembro com a comemoração do nascimento de Jesus.  
O Tempo do Natal vai do 24 dezembro até o primeiro domingo depois da Epifania, em janeiro. Como dizem na Itália: L’Epifania tute le feste a pórta via. Se a Epifania leva embora todas as festas, logo o Carnaval as traz de volta. E, no Brasil, ele já dá seus brados no réveillon de 1° de janeiro.

Em dezembro, o sol caminha cada vez mais para o Sul e para o alto, a menos de um mês do solstício. O banho de luz amadurece as frutas. A colheita da fruticultura antecede a dos grãos. E de uma delas em particular. Quem não conhece ou não gosta de caju?

O nome vem do tupi acayú: a– fruto + ác– que trava + aiú– fibroso ou fruto travoso e fibroso. O pedúnculo, chamado de fruto, é na realidade um pseudofruto, como no caso do morango. Sua cor varia do amarelo ao vermelho. O nome científico do cajueiro (Anacardium occidentale) evoca a forma de um coração invertido do pseudofruto (do grego kardia, coração). E occidentale evoca o Ocidente, as Índias Ocidentais, o Oeste. O cajueiro é o símbolo de Recife. Em tupi, Aracaju significa cajueiro dos papagaios (ará). O maior cajueiro do mundo encontra-se na Praia de Piranji (RN). A árvore recobre 8.500 metros quadrados e produz de 70 a 80 mil cajus/ano (2,5 toneladas).

Maior cajueiro do mundo, localizado em Piranji, Rio Grande do Norte
Maior cajueiro do mundo, em Piranji, Rio Grande do Norte
Foto: Reprodução/Idema-RN

Típicos do litoral nordestino, os brasileiríssimos cajueiros logo foram identificados pelos povoadores portugueses. Gabriel Soares de Souza (GSS) destaca o caju e os cajuís, os primeiros em sua lista de frutíferas, no Tratado Descritivo do Brasil, de 1587. Um capítulo esplêndido: Daqui por diante se dirá das árvores de fruto, começando nos cajus e cajuís. (…) demos o primeiro lugar e capítulo por si aos cajueiros, pois é uma árvore de muita estima, e há tantos ao longo do mar e na vista dele.

GSS descreve suas qualidades terapêuticas: …são medicinais para doentes de febres, e para quem tem fastio, os quais fazem bom estômago e muitas pessoas lhes tomam o sumo pelas manhãs em jejum, para conservação do estômago, e fazem bom bafo a quem os come pela manhã, (…) e são de tal digestão que em dois credos se esmoem. Uma das primeiras ilustrações do cajueiro é do frade franciscano André Thevet, na obra Singularidades da França Antártica, de 1557.

Voilà (…) nostre Acaïou, auec le pourtrait qui vous est cy deuant representé. Singularitéz de la France Antarctique.

Rapidamente, os portugueses espalharam o cajueiro pelo mundo. Ele chegou às Índias Orientais, em Goa, entre 1560 e 1565. Da Índia, onde se adaptou muito bem, os lusitanos o levaram ao Sudeste Asiático e à África, ainda no século 16.

Seu pseudofruto, pedúnculo carnudo e sumarento, é consumido in natura, dá ótimo suco e pode ser cristalizado ou feito doce em pasta. Fazem-se estes cajus de conserva, que é muito suave, e para se comerem logo cozidos no açúcar cobertos de canela não têm preço (GSS). E compõe excelente batida com cachaça. Ele é a base da cajuína, bebida não alcoólica de cor amarelo-âmbar, típica do Maranhão, do Ceará e do Piauí. Ela foi desenvolvida em 1900 pelo escritor e farmacêutico Rodolfo Marcos Teófilo. Até vinho de caju, os indígenas produziam: Do sumo desta fruta faz o gentio vinho, com que se embebeda, que é de bom cheiro e saboroso (GSS). A fibra do caju, coproduto abundante nas fábricas de suco, normalmente descartada, é utilizada cada vez mais em hambúrgueres, bolinhos e quibes vegetarianos, com tecnologias da Embrapa.

A castanha-de-caju, ótimo aperitivo, é utilizada em doces e pratos, como o vatapá. É para notar que no olho deste pomo tão formoso cria a natureza outra fruta, parda, a que chamamos castanha, que é da feição e tamanho de um rim de cabrito (GSS). As primeiras exportações, no início do século 20, foram da Índia aos Estados Unidos. Hoje, seu mercado mundial movimenta mais de US$ 5 bilhões ao ano, sendo produzido em mais de 40 países.

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Castanha-de-caju | Foto: Shutterstock

A área mundial de cajueiros é da ordem de 7,1 milhões de hectares, com maior concentração na África: 56% da castanha-de-caju produzida no mundo. Em área cultivada, o Brasil está na sexta posição, dos quais 99,7% no Nordeste. O Vietnã, sem grandes áreas cultivadas, tem elevada produtividade (1.241 quilos por hectare — kg/ha), lidera as exportações mundiais e processa 1 milhão e 820 mil toneladas, 80% importados da África.

A castanha serve ainda à fabricação de produtos vegetarianos e veganos, como “leites” vegetais, “iogurtes” e até “queijos”, por pequenas e grandes indústrias de alimentos

Os EUA respondem por 20% do consumo mundial; a Europa, 16%; e a China, 9%. A Índia, maior consumidor, com 38%, importa 55% (1 milhão e 550 mil toneladas). O Brasil, preocupa: de quinto maior produtor mundial em 2011, caiu para a 14ª posição em 2016, com 1,5% do total produzido.

Os sistemas de produção do cajueiro precisam evoluir muito em genética e tecnologia. A produção nacional de castanha declinou 2% ao ano entre 2017 e 2021, com uma diminuição de área de 4% ao ano, apesar do aumento anual de 1,3% na produtividade. Produtores e Embrapa sistematizam inovações para a cajucultura ganhar eficiência e produtividade. Com falta de castanha nas indústrias, até São Paulo amplia o plantio do caju nas regiões mais quentes do Estado.

Na indústria processadora, o índice de quebra de castanhas é alto e gera, com tecnologias de extração adequadas, um óleo comestível de qualidade e elevado valor agregado. A castanha serve ainda à fabricação de produtos vegetarianos e veganos, como “leites” vegetais, “iogurtes” e até “queijos”, por pequenas e grandes indústrias de alimentos.

A casca da castanha fornece um óleo industrial, negro e viscoso, o LCC (líquido da castanha-de-caju) e faz parte da química verde. Ele corresponde a cerca de 25% do peso da casca. Formado por ácido anacárdico, cardanol, cardol e 2-metilcardol, é rico em fenóis. Deita essa casca um óleo tão forte que aonde toca na carne faz empola, o qual óleo é da cor de azeite, e tem o cheiro mui forte (GSS). Dada sua composição química, o LCC tem várias aplicações, de larvicida a verniz, até em sensores eletroquímicos. E exige cuidados dos produtores. O azeite que tem na casca (faz) pelar as mãos a quem as quebra. “Queima” e marca as castanhas, desvalorizando-as.

O tronco produz uma resina amarela, a goma do cajueiro, com usos farmacêuticos. Confere proteção tópica e tem ação anti-inflamatória sobre a mucosa do esôfago. Substitui a goma arábica nas cápsulas para comprimidos, com a vantagem de não apresentar açúcares, interessante em medicamentos para diabéticos. Também é usada na indústria alimentar e do papel. Cria-se nestas árvores uma resina muito alva, da qual as mulheres se aproveitam para fazerem alcorce de açúcar em lugar de alquitira (GSS). Alquitira é a goma mucilaginosa do astrágalo (Astracantha gummifera), espessante em loções, geleias, sorvetes etc., substituída aqui pela resina.

A casca, comercializada desidratada, é usada em chás como adstringente e tônico. Popular, ela serve para tratar tosse, catarro e fraqueza. É um excelente antisséptico, bactericida e efetiva no tratamento de cáries.

Caju or not caju? Há muita coisa feita de caju. Do erótico Soneto ao Caju de Vinicius de Moraes à Chuva do Caju dos meteorologistas. Até novena católica. A Novena do Caju é cerimônia sensual, cantada e dançada, durante os festejos em louvor a Nossa Senhora da Conceição, no 8 de dezembro, ou a Santa Luzia, no 13. Tambor e pífaro acompanham o canto dos fiéis em frente ao altar da santa, numa casa de família. Ao final, o dono da casa convida todos a beijarem os pés da imagem. Quando terminam, a dança começa. A Novena do Caju ocorre do Pará à Paraíba, associada à frutificação do caju, em pleno Advento. Como se diz no Nordeste: tanta novena e tanto caju… faz lama.

No litoral do Nordeste, a colheita do milho conclui-se em novembro. A Confederação da Agricultura e Pecuária prevê crescimento de 2,8% do Produto Interno Bruto da agropecuária em 2022, em parte pela expansão de milho e trigo. O agro brasileiro é persistente e entra confiante no Tempo do Advento. Seja qual for o clima, o tempo ou a temperatura, o agronegócio seguirá o preceito tão presente nos regimentos reais das naus portuguesas: prepara-te para o pior, espera o melhor e cuida do que vier. Quem planta caju não colhe manga.

Cajus expostos em um mercado de Arembepe, Bahia
Cajus expostos em um mercado de Arembepe, Bahia - 
 Foto: Helissa Grundemann/Shutterstock

Leia também “O milagre do lúpulo, o tempero da cerveja”

Evaristo Miranda, colunista - Revista Oeste


sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Bolsonaro escala ex-ministros: segundo turno acirra disputa no Nordeste

Candidatos ao Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) travaram um duro embate, com acusações mútuas, numa disputa pelo eleitorado dos estados do Nordeste. Com estratégias distintas para alcançar o mesmo objetivo, as duas campanhas preparam investidas nos próximos dias para ganhar terreno na região, dominada pela esquerda nas últimas décadas. Enquanto os petistas vão aproveitar o Dia do Nordestino, comemorado amanhã, para tentar colar em Bolsonaro o selo de preconceituoso, o postulante à reeleição convocou aliados a manterem seus comitês abertos e a militância mobilizada para compensar a ausência de palanques naquelas unidades da federação.

O assunto tomou conta do debate depois que o presidente da República relacionou o bom desempenho de Lula na eleição ao analfabetismo do Nordeste, aproximadamente quatro vezes maior do que as taxas do Sul e Sudeste do país. Durante transmissão ao vivo nas redes sociais, anteontem à noite, Bolsonaro afirmou que “outros dados econômicos também são inferiores” porque tais estados “há 20 anos estão sendo governados pelo PT”. [o presidente Bolsonaro falou apenas e tão somente a verdade - aqui cabe um  'verdade dos fatos'; é uma situação que se arrasta desde o século passado, mas que se acentuou no inicio deste século quando a esquerda, o PT, passaram a governar os estados daquela região. O mentiroso nato, patogênico,  destas eleições é o petista Lula,  e Bolsonaro não quer essa pecha, por ser, merecidamente, de propriedade única e exclusiva do Lula.] 

Lula venceu em nove dos dez estados com maior taxa de analfabetismo. Vocês sabem quais são os estados? No nosso Nordeste. Esses estados estão sendo há 20 anos administrados pelo PT. Onde a esquerda entra leva o analfabetismo, leva a falta de cultura, leva o desemprego, leva a falta de esperança acusou Bolsonaro.

O ex-presidente terminou o primeiro turno com cerca de 13 milhões de votos a mais do que Bolsonaro no Nordeste — 67% a 26,8%. A campanha de Bolsonaro acredita que, apesar da diferença, há espaço para crescer na região. Lula, porém, trabalha para ampliar a rejeição ao adversário naqueles estados, intensificando ataques, como fez ontem. 

(...)

A estratégia bolsonarista no Nordeste passa pela captação do eleitorado feminino e evangélico local. Se entre as mulheres Bolsonaro enfrenta forte rejeição, junto aos religiosos, ele lidera. Nesta quinta-feira, João Roma ciceroneou a ex-ministra e senadora eleita Damares Alves (Republicanos), assim como a deputada federal reeleita Bia Kicis (PL), ambas do Distrito Federal, numa reunião com mulheres conservadoras em Vitória da Conquista (BA). A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, também deverá se empenhar na empreitada.

— Vamos atrás das pessoas que estão desinformadas. Vou coordenar essa ação no Nordeste junto com Damares e a primeira-dama. Vamos atrás de deputados, prefeitos, lideranças. Vamos falar com todo mundo — afirmou Bia Kicis.

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Bolsonaro pediu até a aliados que não disputarão o segundo turno para manter seus comitês abertos com o objetivo de facilitar a distribuição do material gráfico do presidente. As ações vão mirar prioritariamente as capitais em que ele venceu em 2018, na disputa contra Fernando Haddad (PT) — Recife, João Pessoa, Fortaleza e Natal. Há a previsão de que haja uma rodada de atos nessas cidades neste fim de semana, possivelmente com a presença do próprio candidato à reeleição ou de Michelle.

Dois dados animam a campanha. Nos cálculos dos bolsonaristas, cerca de 30% dos evangélicos ainda não decidiram em quem votar. O trabalho no Nordeste pode conquistar parte desses brasileiros, na avaliação dos aliados do presidente. Eles também apostam que aumentará a abstenção, tradicionalmente maior no segundo turno, o que tende a prejudicar o candidato que está na frente, no caso, Lula. 

Em O Globo - MATÉRIA COMPLETA

 

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Covid para sempre - Revista Oeste

J. R. Guzzo

Foto: AZP Worldwide/Shutterstock
Foto: AZP Worldwide/Shutterstock
 
Imagine que você é um executivo de alguma empresa rica de São Paulo, ou coisa parecida, ganha R$ 60.000 por mês e está morando, digamos, na Praia da Pipa, um paraíso perto de Natal.  
Recebe o salário pontualmente, a cada mês; pode até ter um aumento. Seu plano médico cinco estrelas está de pé. Continua tirando férias, com 30% de adicional, e mantém o 13º inteirinho. Só que não é mais preciso comparecer ao local de trabalho. 
Nada de horário para entrar, possivelmente a grande divisão diária entre quem trabalha de verdade e o resto da espécie humana. Nada de trânsito. Nada de stress
Agora você se levanta à hora que quiser, faz surfe de manhã, ou alguma outra atividade fisicamente correta, almoça coisas nutritivas e investe tempo “consigo mesmo” ou com a família, como recomendam os melhores consultores em qualidade de vida. 
A um momento qualquer, quando se sente preparado, senta-se na frente do computador e fica lá até julgar que terminou as tarefas do dia. 
Recebe então um elogio do chefe (caso tenha um chefe; é possível que seja uma empresa onde não há a brutalidade dos “níveis de hierarquia”), diz “valeu, cara” no Zoom e volta a cuidar das suas próprias coisas — até começar tudo de novo no dia seguinte. Que tal, como meio de ganhar a vida?
 
É melhor ainda do que parece. Preocupado, talvez, com uma possível desconfiança da empresa em relação a essa história toda? Tipo: “Será que vale a pena continuar pagando tudo isso para o sujeito ficar na Praia da Pipa? Será que esse negócio de home office vale mesmo o colosso que estão dizendo?” Esqueça. Todos à sua volta — e principalmente os que estão acima — convenceram a si mesmos, desde o primeiro dia de vida nova, que o “trabalho à distância” é puxadíssimo. 
Dez em dez executivos que vivem hoje na praia, ou na montanha, ou no Havaí, ou seja lá onde for, dizem que estão “trabalhando muito mais” fora do escritório. Garantem que sua produtividade “aumentou”. Que estão “mais focados”, que o trabalho está mais “intenso” e por aí afora. É claro que dizem isso. Quem fiscaliza e julga o resultado do “trabalho à distânciasão os próprios executivos; são eles que medem as horas trabalhadas, os índices de produtividade e a eficácia do que fazem. São eles que atestam que assim é melhor. Ou, então, quem faz a avaliação são os dirigentes de RH, seus irmãos gêmeos; jamais diriam o contrário, até porque eles mesmos, os RHs, também estão ganhando sem ir ao trabalho. Xeque-mate.
 
A mãe de todo esse mundo admirável é a covid. De um lado, a doença matou 5,5 milhões de pessoas pelo mundo, arruinou vidas e causou a destruição econômica que seria causada por uma guerra nuclear. De outro, está sendo uma benção extraordinária para muita gente
Sem ela, não haveria Praia da Pipa, nem qualidade de vida, nem salário integral sem sair de casa. 
Sem a covid, aliás, não haveria nenhuma das maravilhas que mudaram para muito melhor a vida diária de algumas centenas de milhões de pessoas pelo mundo. À essa altura, o que ganharam se transformou em “direitos adquiridos”. Precisam que a covid continue para continuar com suas novas conquistas. Quem vai querer voltar às realidades do passado e que continuam sendo as realidades do presente para a imensa maioria dos seres humanos? 
 
É por isso que, justo no momento em que a pandemia começou a ceder, apareceu a promoção desesperada da Ômicron como tinham aparecido antes os 50 diferentes tons de “cepa”.  
Para reforçar o impacto da nova “variante”, somaram-se no pacote pró-covid a gripe comum, a influenza H1000N5000, o resfriado, a dor de cabeça, a febre de 37 graus, o bicho-do-pé e tudo o mais que vier, de maneira que é praticamente impossível não estar doente hoje em dia. Conclusão: o combate permanente para “salvar vidas” tem de continuar, intacto — e, com ele, todo o mundo maravilhoso de vantagens que veio para a minoria, a começar pela turma do home office com surfe e outras belezas.

Com a covid, a sua vida melhora. Sem a covid, sua vida piora. De que lado você acha que eles estão?

É possível que nunca tenha havido, em toda a história da humanidade, uma campanha tão poderosa em favor de algum sistema de organização social como a que está sendo feita desde 2020 em torno da covid — e das “necessidades” de que a “vida mude” radicalmente para combater a doença. Também podem chamar essa campanha de cruzada, esforço de guerra, lobby ou lavagem cerebral — tanto faz. O que importa é que se trata de um movimento com poder inédito para mudar o mundo. Está acima de qualquer força conhecida até agora, ignora fronteiras nacionais e é capaz de juntar numa mesma neurose — e nos mesmos interesses objetivos — pessoas das mais diferentes convicções políticas, religiosas ou morais. O que lhe dá a força extraordinária que tem são duas coisas. A primeira é o pânico — e a súbita recusa de encarar a própria mortalidade por parte das classes que mandam na sociedade. A segunda é o espetacular combo de vantagens materiais que a covid trouxe para uma parte da população mundial — justamente a parte mais rica, mais instruída e mais influente. Essa gente toda, indiscutivelmente, está tirando proveito direto e pessoal da covid — proveito financeiro, político, social, ideológico, psicológico ou de outros tipos. Com a covid, a sua vida melhora. Sem a covid, sua vida piora. De que lado você acha que eles estão?

Os beneficiados reais, a turma que tira proveito líquido e certo da covid, são, talvez, 10% da população do mundo. É apenas uma hipótese; não foi feito ainda, nem é provável que se faça, nenhum cálculo coerente sobre quanta gente se beneficiou e está se beneficiando da epidemia, baseado em observação sistemática da realidade, em fatos e em evidências. Mas é uma hipótese que está dentro da lógica. É também um número que dá o que pensar. Qualquer 10% é pouco, claro. Para começo de conversa, quer dizer que 90% estão fora. Mas faça as contas: se for isso mesmo, num mundo com cerca de 8 bilhões de habitantes, os que lucram ativamente com a covid seriam uns bons 800 milhões. Vá lá, para arredondar: 1 bilhão. É gente, não é mesmo? É a minoria, mas é gente que não acaba mais. 

(...)

O cidadão diz que “não se sente seguro” para trabalhar de novo — e pronto, não se fala mais no assunto

O povo do home office é o primeiro grande bloco que vem à mente. Estão há dois anos sem ir ao trabalho, com os salários e benefícios intactos, levando as crianças à aula de inglês, rodando de bicicleta em dia da semana e no horário comercial, e dormindo de tarde. Seu trabalho, em grande parte, é ficção — pelo menos quando se usa a palavra “trabalho” com o significado que ela tem no dicionário. Pela primeira vez na vida, estão dando ao empregador exatamente o esforço e a dedicação que acham necessários, nem 1 grama a mais. O patrão não tem ideia do que o sujeito está fazendo nesse ou em qualquer momento do horário de trabalho. Ninguém é demitido. Quando aparece alguma ameaça de voltar ao trabalho “presencial”, como se diz hoje com desprezo (só o trabalho “remoto” é considerado bom), o cidadão diz que “não se sente seguro” para trabalhar de novo — e pronto, não se fala mais no assunto. É outra coisa, não é? Os jornalistas, a propósito, merecem atenção especial nesse mundinho do “teletrabalho”. O público é escassamente informado a respeito, mas o fato é que os jornalistas estão ganhando sem sair de casa desde o começo de 2020, e desfrutam de todos os privilégios descritos nos parágrafos anteriores. Só que são eles, justamente, os encarregados de dizer como está a covid. O que você acha que estão dizendo? Querem continuar com a vida que têm hoje; precisam, portanto, que a covid esteja cada vez pior. Tenha certeza, então, que vão continuar lhe socando em cima cada vez mais “Ômicron”, mais gripe, mais fluorose, mais vírus alfa, beta, gama, delta — até o ômega.

(...) 

Multiplique o número de jornalistas brasileiros pelo de jornalistas dos outros 200 países do mundo; multiplique os executivos da Praia da Pipa pelos executivos de todas as grandes empresas do mundo, mais as médias. Já começa a ficar na cara, à essa altura, quanta gente está viajando no bonde mundial da covid. Mais: o grosso desse povo está nos Estados Unidos e na Europa. O Brasil, perto dele, é mixaria.

(...)

Só no Brasil há 12 milhões de funcionários do Estado. Some-se a isso, então, a burocratada do resto do mundo — e dá para começar a fazer ideia, então, de como se chegaria aos 800 milhões citados lá no começo. Não são os funcionários só dos países. (Para ter um pouco de ideia: as Forças Armadas norte-americanas, sozinhas, têm mais de 2 milhões de membros; vai pondo o resto.) Some-se a eles a população empregada nos milhares de organizações internacionais de todas as espécies, desde a ONU e o seu império de escritórios até a União Europeia e todo o resto dessa geringonça que não acaba mais. É a Comissão Europeia da Sardinha ou o Comitê Internacional Para Medir a Temperatura do Gelo. É a Organização Mundial de Trigonometria ou o Painel Internacional das Terras Indígenas. Enfim: deu para entender, não é? É um negócio que não acaba mais. Em comum, todos eles têm vontade que a sua vida continue como está — se possível para sempre.

Trabalho é para os 90% da população que tem de se pendurar em poste para consertar o corte de luz na casa de quem não admite comparecer ao serviço

(...)

Trabalho é para os 90% da população brasileira que tem de se pendurar em poste elétrico para consertar o corte de luz na casa de quem não admite comparecer ao serviço — ou para todos os que são obrigados a trabalhar para sobreviver. É coisa de quem tira lixo da rua. É coisa de quem guia o metrô, ou do motoboy do delivery, ou do porteiro do prédio. É coisa de quem trabalha no comércio, no hospital ou na polícia. É coisa de operário, do técnico da torre de aeroporto, do homem da companhia de gás que se enfia embaixo da terra para garantir o fogão dos terraços gourmet. Não é o mundo do professor da USP. Não é a Praia da Pipa. Esse é o Brasil da maioria que realmente produz, e não o Brasil dos parasitas — do universo político, dos banqueiros de esquerda, da CPI da Covid, dos comunicadores e das classes intelectuais que andam de máscara, combatem o genocídio e querem que o mundo continue nessa camisa de força que lhes faz tão bem.

A lista dos sócios do vírus ainda vai longe. Pode incluir a big pharma norte-americana e mundial em peso, da Pfizer, AstraZeneca e Johnson&Johnson a todas as suas irmãs. Só o Brasil, e só nesta primeira fase, colocou no Orçamento cerca de R$ 30 bilhões para gastar com vacinas, numa conta que ainda pode ser muito maior. Calcule agora o tamanho dessa bonança em termos mundiais; é de dar inveja em qualquer Google da vida. Junte os fornecedores de testes para covid, os fabricantes de insumos para a vacina e os produtores de material de apoio. Some as empresas de transporte, as redes de farmácias e outros serviços de assistência — para não falar em médicos e hospitais. Não se esqueça, enfim, dos 6.000 prefeitos e dos 27 governadores brasileiros, que ganharam do Supremo Tribunal Federal o prodigioso direito de fazerem o que bem entendem para “salvar vidas” a começar pela dispensa de licitação para gastar dinheiro público no combate à covid. É roubar, deitar e rolar, com a aprovação do Judiciário e o diploma de “heróis da saúde” concedido pelos editoriais da imprensa. Quem vai querer outra vida? É covid para toda a eternidade.

Leia também “A negação do jornalismo”

MATÉRIA COMPLETA - J. R. Guzzo, colunista - Revista Oeste