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terça-feira, 7 de junho de 2022

E a Covid-19? - Alon Feuerwerker

Análise Política

Todas as pesquisas mostram que a Covid-19 vai cedendo ou já cedeu, rapidamente, terreno à economia nas preocupações do eleitor, e portanto nos fatores para a decisão de que botões este vai apertar na urna eletrônica. Mas seria um erro acreditar que a pandemia e o tratamento por ela recebido das autoridades tenham deixado de influir no desfecho da corrida eleitoral. Seus efeitos estão impregnados no quadro da disputa, a quatro meses do primeiro turno.

Já foi dito e repetido aqui: Jair Bolsonaro mantém firme com ele a fatia de mercado que o acompanhou no primeiro turno de 2018, cerca de um terço. Tampouco é novidade que o principal obstáculo ao incumbente é a dificuldade de trazer apoios fora do núcleo mais consolidado. E a atitude do presidente na pandemia certamente ajudou a anabolizar as desconfianças a respeito da perícia dele diante de outros assuntos vitais, como a economia.

Onde Bolsonaro acertou e onde não?

O presidente acertou ao projetar que, em algum momento, as curvas de preocupação das pessoas com a pandemia e a economia se cruzariam e que a segunda seria dominante no período eleitoral.  
Mas talvez não tenha tido suficiente prudência, ou ceticismo diante dos otimistas, sobre quanto duraria a fase crítica e qual seria o custo em vidas de não adotar a meta de “Covid zero”. Ao final, a fase durou cerca de dois anos, e as mortes já passam 660 mil. Há países muito bem considerados cujo desempenho foi igual ou pior, mas na maioria deles os governantes alinharam-se à tríade máscaras, distanciamento e vacinas e atravessaram a correnteza. Especialmente no caso das vacinas, a associação da imagem do líder ao esforço em busca do imunizante e ao estímulo à vacinação em massa vem trazendo retorno em capital político. Por aqui, o governo federal tem alguma dificuldade para recolher esse dividendo.

Um caso a estudar é a disputa entre Bolsonaro e o então governador de São Paulo, João Doria. Este teve que desistir da disputa ao final, por estar extremamente enfraquecido na política. E isso apesar de carregar o mérito de ter sido um dínamo na vacinação. Mas é possível notar que a vitória de Bolsonaro sobre Doria teve uma boa dose de pírrica, pois acabou consumindo forças que hoje fazem falta ao presidente contra Luiz Inácio Lula da Silva.[Lula é nada; para desmontá-lo um sopro, ou um espirro forte, bastam.]

Não é por acaso que a saída do tucano da corrida tenha, segundo pesquisas, beneficiado, ainda que momentaneamente, o petista.  Um aspecto paradoxal é Bolsonaro ter acertado na previsão de que muito provavelmente teríamos de conviver com o vírus em circulação, sem que esse acerto lhe traga por enquanto qualquer benefício político. 
 
Talvez seja útil na campanha, quando Bolsonaro terá à disposição mais e maiores janelas de presença nos veículos, nem que apenas no horário eleitoral que caberá à coligação apoiadora do presidente da República.

 Alon Feuerwerker, jornalista e analista político