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sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Supremo deboche - Augusto Nunes

Revista Oeste

O drama vivido por milhares de brasileiros é tratado como piada pelo comando do Poder Judiciário

 

 Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Rosa Weber | Foto: Montagem Revista Oeste/Reprodução/Marcos Oliveira/Agência Senado/Carlos Alves Moura/STF

Tão previsível quanto a mudança das estações, a troca de guarda no Supremo Tribunal Federal é menos empolgante que festa de batizado na sacristia da igrejinha
A tradição determina que os dois primeiros da fila de 11 ministros, formada pelo critério da antiguidade, sejam alojados a cada dois anos nos cargos de presidente e vice-presidente. 
Sempre pelo placar de 10 a 1: as boas maneiras ordenam que os previamente escolhidos votem nos que irão substituí-los na mudança seguinte. 
Ao divulgar o resultado, portanto, o presidente em fim de mandato está dispensado de identificar os homenageados com o voto solitário. Não precisa, certo?
 
Precisa, sim, decidiu Rosa Weber neste 9 de agosto, na primeira etapa da cerimônia do adeus que se encerrará com a aposentadoria em setembro. O roteiro começou a desandar quando Rosa Weber cismou de enxergar na cerimônia protocolar uma eleição de verdade, só que sem urna eletrônica e com cédulas de papel.  
Foi assim que o que seria uma sessão ligeiramente mais solene acabou transformada numa bizarra mistura de hora do recreio num antigo curso de madureza com happy hour da turma da quarta série 30 anos depois da formatura.

  Todos estavam felizes na quarta-feira mais que perfeita. Barroso transpirava alegria por assumir o comando da tropa que derrotou o bolsonarismo na frente suprema

(...)

Ainda sorria quando ouviu o comentário do também risonho Gilmar Mendes: — Vai colocar esse pessoal num inquérito…

Mero palpite? Sugestão explícita? Outra declaração de guerra? Nada disso, parecia informar a expressão “esse pessoal”, usada pelo decano para referir-se aos dez ministros que haviam imposto a Moraes o primeiro revés em mais de quatro anos de confrontos. O comentário seria remetido ao baú dos chistes e pilhérias em juridiquês se a réplica do artilheiro do Timão da Toga não tivesse escancarado o espetáculo do deboche:

— É que a eleição não foi no TSE…

Moraes ouvira claramente o elogio da desfaçatez, avisou a rapidez da resposta.

(.....)
Só o golpe de 8 de janeiro resultou em mais seis inquéritos secretos, sucessivos recordes na modalidade captura em massa, centenas de prisões sem julgamento, milhares de oitivas sem pé nem cabeça, uma infinidade de castigos arbitrários e a eternização da insegurança jurídica. “Tem muita gente pra prendê, muita multa pra aplicá”, não param de ouvir os botões da toga. 
 
Sobrancelhas e pestanas se cumprimentaram quando a garganta de Barroso qualificou de “luminosa” a passagem da introvertida gaúcha pela Presidência do STF. Ele vai suceder Rosa, mas nem tentará substituí-la. É tarefa impossível, conformou-se, alheio aos dicionários que teimam em garantir que sucessor é a mesma coisa que substituto.

Hoje o Supremo escancarou o DEBOCHE e o DESPREZO com que os ministros tratam a cidadania brasileira. Gilmar Mendes fez uma pergunta jocosa a Alexandre de Moraes ao questioná-lo se iria incluir os colegas “no inquérito” por ter perdido a eleição para vice-presidente do STF. Moraes… pic.twitter.com/EQUT2iJQn3— Marcel van Hattem (@marcelvanhattem) August 9, 2023

Moraes estava feliz desde o começo da manhã, quando soube da prisão preventiva de Silvinei Vasques, ex-comandante da Polícia Rodoviária Federal, acusado de ter dificultado a movimentação de eleitores lulistas no dia da votação em segundo turno. 
A distribuição de mais um lote de tornozeleiras eletrônicas e castigos adicionais foi promovida pela operação Constituição Cidadã. 
Era esse o adjetivo colado pelo deputado Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Constituinte, ao conjunto de normas aprovado em 1987 e agora em frangalhos. A marcha da insensatez segue seu curso. Já não há limites para o deboche perverso.  
Nem haverá salvação para os desprovidos de compaixão.
 


Leia também “A danação de Dino”

 Coluna Augusto Nunes, Revista Oeste

 

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Moraes inova ao definir que críticas a urna eletrônica é ‘atentado contra democracia’ - O Estado de S.Paulo

J. R. Guzzo

Para ministro, o direito de pensar não se aplica ao que o cidadão possa achar do funcionamento do sistema de votação

O ministro Alexandre de Moraes acaba de apresentar uma inovação no conceito universal da liberdade de expressão
 De acordo com o que disse numa palestra, o direito de pensar não se aplica ao que o cidadão possa achar das urnas eletrônicas do TSE. Apresentar dúvidas, ou críticas, sobre o seu funcionamento é um ato contra a democracia, sustenta Moraes. “De forma alguma podemos aceitar essa afirmação totalmente errônea de que isso é liberdade de expressão”. Não se admite tal coisa, segundo ele, “nem nos Estados Unidos
Não dá para entender direito esse “nem”, e menos ainda a revelação de que falar mal do sistema de votação é um delito na lei americananunca se ouviu falar, desde Thomas Jefferson, que alguém tenha sido indiciado em processo penal nos Estados Unidos por fazer alguma coisa parecida.  
Mas, seja como for, Moraes está dizendo o seguinte: é proibido achar que as urnas usadas no Brasil possam dar problema. Isso, em sua opinião, é atentar contra o regime democrático" – e “atentados contra a democracia”, segundo afirmou na palestra, “não são exercício da liberdade de expressão”.


Desde que surgiu a ideia de que os seres humanos têm o direito de dizer o que pensam, na Grécia de 2.500 anos atrás, ninguém tinha sustentado que esse direito não se aplica a quem duvidar de algum mecanismo declarado infalível pela autoridade pública.  
E porque seria ilegal contestar alguma coisa, qualquer coisa, que o STF e os sábios da hora consideram infalível? 
Era infalível, por exemplo, a noção de que o Sol girava em volta da Terra – o sujeito podia acabar na fogueira da Inquisição por dizer uma coisa dessas. 
É óbvio que a vida humana se tornaria impossível se os governos continuassem pensando assim; por isso, justamente, mudaram de ideia a respeito. 
Mais difícil de entender, ainda, é a conclusão de que as urnas do TSE não falham.
 
Quem disse que as urnas do TSE são infalíveis? 
O sistema de votação e apuração de eleições em vigor no Brasil não é uma lei da física – é o produto de máquinas, e por definição qualquer máquina pode falhar. 
Os maiores bancos brasileiros, por exemplo, investiram R$ 35 bilhões em tecnologia de informação no ano passado – isso mesmo, 35 bi, e só em 2022. Apesar de todo esse esforço, o Banco Itaú, o maior banco do país, acaba de passar quase um dia inteiro sem funcionar, paralisado por falhas nos seus sistemas eletrônicos.  
Porque não poderiam acontecer problemas de funcionamento nas urnas do TSE?  
Além do mais, elas não são utilizadas em nenhuma democracia séria do mundo; nenhuma.
 
Será que refletir sobre isso é tentativa de golpe de Estado? Não fecha.
 
J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo
 
 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

‘As Forças Armadas não são poder moderador como pensam que são’, diz chefe do Executivo

Presidente afirma que descartou decretar uma GLO para não transferir seu poder de governar a um general e que o fato de não ter porta quebrada no Palácio no domingo das invasões significa que “facilitaram” a entrada dos extremistas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva revelou nesta quinta-feira, 12, que descartou decretar o instrumento da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) em reação aos protestos de extremistas para não abrir mão de sua responsabilidade de governar. Com críticas à participação de militares que aderiram ao discurso golpista do ex-presidente Jair Bolsonaro, Lula afirmou que as Forças Armadas não são poder moderador. Aliados de Bolsonaro defendiam a tese, que não está prevista na Constituição, de que os militares poderiam fazer uma intervenção por conta de supostas fraudes, nunca comprovadas, no processo eleitoral de 2022.“As Forças Armadas não são poder moderador como pensam que são. As Forças Armadas têm um papel definido na Constituição que é a defesa do povo brasileiro e a defesa da nossa soberania contra conflitos externos. É isso que eu quero que eles façam bem feito”, disse Lula, em café com jornalistas no Palácio do Planalto.

O presidente disse que já conversou com os comandantes sobre o que entende como o papel dos militares e expôs sua contrariedade com o que Bolsonaro fez das Forças Armadas durante sua gestão. “Eu disse para eles que nunca imaginei que tivéssemos um presidente que tivesse sido expulso das Forças Armadas por má conduta e, ao assumir a presidência da República, tivesse criado um clima negacionista dentro das Forças Armadas”, disse.

Aos comandantes, Lula criticou o envolvimento das Forças Armadas no processo de fiscalização das urnas eletrônicas. ““Eu disse aos comandantes: o que explica uma comissão de general ir cuidar de urna eletrônica? Qual a lógica? Quem tem que cuidar da democracia são os partidos, a sociedade”.

Sempre fazendo carga à atuação de Bolsonaro em relação aos militares, o presidente citou casos de indisciplina militar que, para ele, são inadmissíveis: um motorista do ex-ministro Augusto Heleno que declarou em redes sociais que iria matar o petista; um tenente que também se insurgiu e declarou que Lula não subiria a rampa do Palácio do Planalto; e até mulheres e filhas de generais no acampamento do QG pedindo golpe. [em nossa opinião mulheres e filhas de generais tem o direitro de ter seus próprios pensamentos; ou estamos no Irã?] Para Lula, esses comportamentos são fruto da ação de Bolsonaro que, segundo ele, “poluiu” as Forças Armadas.

“O cidadão negou chamar o Exército de Caxias, e passou a tratar como se fosse uma coisa dele. Esse cidadão conseguiu poluir as Forças Armadas”, disse Lula. “É como se tivesse dado um terremoto, mudou tudo de lugar. Bolsonaro mudou o comportamento de muita gente nesse País.”

O presidente se referia a um praça da ativa da Marinha que pregava a execução de petistas e participava do acampamento, enquanto estava lotado no Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Outro oficial da equipe de Heleno, da ativa do Exército, alardeava impunemente desobediência a Lula. A segunda referência foi a familiares do ex-comandante-geral do Exército general Eduardo Villas Bôas. “Esses acampamentos ficaram tanto tempo gritando ‘golpe, golpe’. Isso é democrático? Quem estava financiando, bancando ônibus, churrasco, almoço? Queremos descobrir. Isso coloca a democracia em risco. Vimos no acampamento mulher e filha de general gritando golpe. Isso não é normal. Eu disse aos comandantes e vou voltar a conversar com eles, temos que colocar um relacionamento civilizado e respeitoso”, disse Lula, na contramão de antigos comandantes da era Bolsonaro que defenderam em nota conjunta antecipada pelo Estadão a legalidade dos protestos.

“Não quero saber se um soldado qualquer votou no Bolsonaro ou Lula, se um general não votou no Lula. Minha preocupação é que quem participa de carreira de Estado tem que pensar e servir ao País, não pode ter lado. O lado deles é cumprir o que está garantido na Constituição como função de cada um de nós. E isso nós vamos fazer com que aconteça daqui para frente”, disse o presidente.

Dando a medida do clima de tensão entre o governo e os militares, o presidente contou que na noite do domingo, 8, após o ato de invasão e depredação do Congresso, do Planalto e do prédio do Supremo Tribunal Federal (STF), com os vândalos dentro do acampamento na porta do QG do Exército, dois blindados foram colocados na avenida que dá acesso ao local impedindo a ação da polícia contra os extremistas. “Os tanques estavam protegendo o acampamento. O general me ligou dizendo para que não entrasse no acampamento de noite que era perigoso”, contou o presidente.

Blindados isolaram acesso ao QG do Exército onde estava o acampamento dos extremistas no domingo, 8.
Blindados isolaram acesso ao QG do Exército onde estava o acampamento dos extremistas no domingo, 8. 

“Eu ainda não conversei com as pessoas a respeito disso. Eu estou esperando a poeira baixar. Quero ver todas as fitas gravadas dentro da Suprema Corte, dentro do palácio. Teve muito gente conivente. Teve muita gente da PM conivente. Muita gente das Forças Armadas aqui dentro conivente. Eu estou convencido que a porta do Palácio do Planalto foi aberta para essa gente entrar porque não tem porta quebrada. Ou seja, alguém facilitou a entrada deles aqui”, afirmou. O clima de desconfiança perdura no governo e, até o momento, Lula sequer conta com ajudantes de ordem militares.

Sobre a decretação da GLO para enfrentar os extremistas, Lula explicou porque descartou a medida que lhe foi apresentada como uma alternativa de ação do governo federal. As operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) são realizadas por ordem da Presidência da República e ocorrem nos casos em que há esgotamento das forças tradicionais de segurança pública. A GLO é regulada pela Constituição Federal e concede aos militares a faculdade de atuar com poder de polícia até o restabelecimento da normalidade. A proposta foi colocada na mesa do presidente pela Defesa e, segundo ele, recusada “na hora”.

“Se eu tivesse feito a GLO, eu teria assumido a responsabilidade de abandonar a minha responsabilidade. Aí sim estaria acontecendo o golpe que as pessoas queriam. O Lula deixa de ser governo para que algum general assuma o governo. Quem quiser assumir governo que dispute a eleição e ganhe. Por isso não quis fazer GLO. Nós tínhamos que fazer a intervenção na polícia do DF porque ela é a responsável pela segurança do DF e quem paga o salário deles somos nós do governo federal”.

Demissão do ministro da Defesa
O presidente descartou a possibilidade de demitir o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro Filho. O cargo tem sido cobiçado pelo PT desde o período da transição e Múcio passou a ser criticado por defender publicamente o direito de manifestação dos acampados na frente dos quartéis. “Quem coloca ministro e tira sou eu. José Múcio vai continuar. Se eu tirar ministro cada vez que cometerem um erro vai ser a maior rotatividade de mão de obra do Brasil”, disse Lula.

Múcio foi nomeado para distender a relação entre os petistas e os militares. Antes mesmo da posse, o ministro negociou com os comandantes das três Forças para que não houvesse mudanças antes que os indicados por Lula assumisse os postos. O governo petista, que tinha outros nomes de sua predição para os comandos, acabou optando pela solução de nomear os oficiais-generais mais antigos.

No encontro com jornalistas, Lula disse que os ataques aos prédios públicos ocorridos no domingo, 8, são lição para o País de que o bolsonarismo extremista está vivo. E declarou que o bolsonarista fanático “não respeita ninguém”. “O que aconteceu foi alerta de que precisamos construir narrativas para tirar da cabeça de bolsonaristas raivosos de que são superiores ao resto da humanidade, do povo brasileiro, e apenas governar bem, e construir narrativas para restabeleça a paz tranquilidade e harmonia”, afirmou Lula.

“Estamos apenas há 12 dias no governo, nem terminamos ainda de montar o governo, até agora foram indicadas poucos, estamos fazendo uma triagem profunda. A verdade é que no Palácio estava repleto de bolsonaristas e militares e queremos corrigir por funcionários de carreira, de preferência civis que estavam aqui e foram transferidos para outro departamento para que se transforme num gabinete civil, numa Presidência da República com mais civilidade do que nos últimos quatro anos”, disse.

Situação do Alvorada e Granja do Torto
O presidente informou que o governo busca um acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU) para mobiliar de forma emergencial e reformar as residências vinculadas à Presidência. Ele disse que ainda acha que “vai levar um tempo” até se mudar de vez para o Palácio da Alvorada, porque reequipar o imóvel, atualmente, pode demorar 90 dias, dada a necessidade de realizar licitações. Por isso, o petista busca uma exceção junto ao TCU para as compras emergenciais. Ele reclamou que despachar de um hotel não é adequado para governar o País e revelou até ter recebido oferta de casas particulares.

Lula contou que foi visitar o Palácio da Alvorada e saiu de lá decepcionado. No seu primeiro mandato em 2003, antes de assumir, o petista conheceu as instalações ainda ocupadas pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. “Fernando Henrique me levou para ver os quartos do jeito que ele saiu eu entrei sem problema. Agora estava tudo desarrumado, o sofá não tinha mais, o quarto não tinha mais cama. Não sei se eram coisas particulares do casal, mas levaram tudo. O Palácio está como se não tivesse sido habitado”, contou.

O petista disse considerar a situação sui generis por ele e a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, ainda não terem uma residência oficial disponível para morar em Brasília. Ela participou do café da manhã ao lado de Lula, do ministro Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social)

Segundo ele, outra residência oficial da Presidência, a Granja do Torto, que estava ocupada pelo ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, também não está em condições de moradia e precisa de passar por reforma. “Estou cansado de ficar em hotel. Pessoas me ofereceram cassas. Não quero morar como se fosse um clandestino. Nunca antes nesse País o presidente da República não teve onde morar”, reclamou o presidente que está hospedado e despachando com a mulher e dois cachorros de estimação numa suíte presidencial em um hotel no centro de Brasília. “O Torto precisa ser recuperado, parece uma coisa abandonada, apesar de o Guedes estar morando lá, tem coisa deteriorada. Espero o mais rápido possível dar uma reparada para começar a frequentar o Torto”.

Política - O Estado de S. Paulo

 

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Diplomação de Lula é festival de louvor à urna eletrônica - Gazeta do Povo

Alexandre Garcia - VOZES

Nessa segunda o Tribunal Superior Eleitoral diplomou Lula e Alckmin.  
A diplomação é um atestado de que eles foram eleitos presidente e vice-presidente da República e de que estão aptos a tomar posse dos cargos diante do Congresso Nacional. 
A menos que sejam impugnados como prevê o artigo 14, parágrafo 10.º, da Constituição, há um prazo de 15 dias para se impugnar ambos alegando abuso do poder econômico, corrupção ou fraude.

Na diplomação, Lula e Alexandre de Moraes disseram que as urnas eletrônicas têm a maior transparência, lisura, que está tudo certo, que nunca houve fraude na história das urnas eletrônicas, segundo Moraes. Lula disse que a confiança nas urnas eletrônicas é compartilhada pelo mundo inteiro mas, na verdade, apenas três países usam urnas como as nossas. [Os três países são: Bangladesh, Brasil e Butão; Quanto a declaração de Lula, ele mentiu = o que para ele é absolutamente normal = roubar e mentir na ótica do diplomado eleito, são atos tão normais quanto respirar. Tanto que ele defende bandidos que roubam celular.]

Bolsonaro e as crianças
No fim da tarde de segunda-feira, na hora do arriamento da bandeira que fica diante do Palácio do Alvorada, uma multidão correu lá e outra parte da multidão dormiu lá, passou a noite toda, com mau tempo, dormindo na laje fria. De novo, as crianças foram protagonistas. No dia anterior, a menina Júlia foi conduzida através do fosso por um segurança do presidente, como se fosse um São Cristóvão; ela foi pedir pra Bolsonaro não desistir.  
Nesta segunda, cerca de 50 crianças invadiram os jardins do Palácio do Alvorada, e um menino índio chegou a botar um cocar no presidente, fez um discurso em nome das crianças brasileiras. 
A primeira a passar foi uma menina que, também emocionada, entregou um girassol ao presidente; por fim, o coro disse que eles são o futuro da nação. 
Houve uma espécie de um sermão de um padre católico que, de joelhos, pediu que Bolsonaro não decepcionasse as crianças.
 Mais um senador quer enfrentar Rodrigo Pacheco
Agora tem mais um candidato à presidência do Senado: Eduardo Girão, do Ceará. Ele e Rogerio Marinho, do Rio Grande do Norte, vão tentar impedir que Rodrigo Pacheco seja reeleito. 
Aliás, eu leio a Constituição e, na minha leitura, não pode haver reeleição, mas tem havido.  
É isso, nós não temos a cultura de cumprir nem a Constituição.             Uma candidatura a mais não vai dividir os votos de quem não quer Pacheco, porque só será eleito presidente do Senado aquele que conseguir metade mais um, ou 41 do total de 81 senadores. [só que esse total de 81 na eleição do Alcolumbre - o senador cuja acusação de ter rachadinha em seu gabinete, foi esquecida -  se transformou em 82 = apesar do TOTAL GERAL ser 81 = (27 x 3 = 81) e a eleição não foi anulada.] Enquanto não alcançar esse número, a pessoa não está eleita.

A gastança vem aí, com PEC e mais ministérios
Enquanto isso, na Câmara já estão marcando para quarta-feira a votação da PEC da gastança
E a gastança vai ser maior do que a gente imagina, porque o futuro ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, já disse que serão 35 ministérios – atualmente são 22. 
Em tempos anteriores, de Dilma etc., chegaram a 39. É uma gastança enorme, para distribuir ministérios entre os partidos, e os partidos os enchem de nomeados sem concurso, para cargos de confiança. É uma gastança tão grande que provoca medo dos investidores, dos empregadores, dos que produzem, dos que plantam, dos que são credores do Brasil.
 
Falando em medo, Aloizio Mercadante está cotado para o BNDES, onde hoje está o excelente Gustavo Montezano, alguém que leva a sério o nome do banco, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, não “internacional de desenvolvimento das ditaduras amigas”. Só a possibilidade de Mercadante entrar lá já causou alta do dólar e queda da bolsa.  
O agro está parado, ninguém mais compra nada, não querem investir sem saber o que vai acontecer.  
Todos sabem que a dívida pública brasileira vai aumentar. 
Num país onde as estatais vinham dando lucro pela primeira vez, agora todos já se preocupam com quem será o dirigente partidário que vai comandar as estatais, a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal. Há um medo danado
A inflação está sob controle, mas será que vai continuar assim? 
Os juros, que estão sendo muito bem usados, vão disparar. 
Essa é a perspectiva; provavelmente por isso o padre Genésio, ajoelhado na frente de Bolsonaro, pediu para ele pensar nas crianças. Também nós temos de pensar nas nossas crianças.
 
Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
 
Alexandre Garcia,  colunista - Gazeta do Povo - VOZES 
 

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Urna eletrônica - Ainda bem que o TSE é perfeito - Gazeta do Povo

Vozes - Flavio Quintela

Deixemos de lado o tema “fraude eleitoral e concentremo-nos nas urnas eletrônicas usadas pelo Brasil
Sim, as mesmas que o TSE classifica como seguras e invioláveis, que formam a base de um sistema que a grande imprensa teima em chamar de “exemplo para o mundo”, ainda que não haja um país sequer desse mundo que tenha pedido ao Brasil que compartilhasse de tamanha perfeição. [as grandes democracias ignoram as urnas eletrônicas e,pior ainda, também não dispõem, sequer conhecem, Justiça Eleitoral. Será que,  as grandes democracias estão erradas?]
Essas urnas, as perfeitas, são tão ruins quanto tudo o que o Brasil produz na esfera estatal.



Urna eletrônica modelo 2020 utilizada pelo TSE nas eleições.| Foto: Divulgação / TSE

O fato é que, uma vez digitado o número do candidato naquela maquininha, o eleitor não tem como verificar se o seu voto foi contado da maneira correta
Não há meios para tal conferência. 
Não há comprovante impresso, não há voto que tenha sido lido por uma máquina, não há possibilidade de recontagem, só há um sinal eletrônico cuja integridade está baseada única e simplesmente na “palavra de honra” do TSE.[conheçam um pouco sobre a "segurança" das urnas eletrônicas brasileiras - inclusive com alguns nomes de vítimas e autores das falcatruas.]
 
Muito se tem escrito sobre a rapidez com que a apuração ocorre no Brasil. Os que defendem o nosso sistema usam a rapidez como argumento positivo. “Olhe para nós, mundo, e veja como somos rápidos na conclusão de nossas eleições. Morram de inveja”. 
Já os críticos afirmam que em nenhum lugar desenvolvido do mundo a apuração é tão rápida quanto no Brasil. Eu digo apenas uma coisa: olhemos para a Flórida. A Flórida não tem um sistema de urnas como o do Brasil, sem possibilidades de auditoria, mas mesmo assim apura seus votos rapidamente 

Embora seja o terceiro estado com mais eleitores do país, a Flórida apurou os votos das eleições deste ano em tempo recorde, muito à frente dos outros grandes estados norte-americanos e também de estados menores, com apenas uma fração dos votos a serem contados. E a Flórida não tem um sistema de urnas como o do Brasil, sem possibilidades de auditoria.

O eleitor floridiano vota com calma, em sua casa, se assim quiser. Ele retira a cédula e vota com calma para cada um dos muitos cargos que estão em disputa.  
Governador, deputado estadual, senador estadual, deputado federal, senador federal, comissário de Agricultura, membro do Conselho Escolar, promotor público, xerife etc. 
A cédula é enorme, leva um bom tempo para preencher. E o voto é facultativo, é claro. E é esse voto no papel que inicia o processo eleitoral. Obviamente, não foi contando votos no papel que a Flórida conseguiu a façanha de ser um dos primeiros estados a entregar os números finais. O que a Flórida fez foi organizar seu sistema eleitoral para, ao mesmo tempo, prevenir fraudes e apurar com rapidez e lisura. [e aceitando não só a Flórida, mas em todo os 'States", criticas ao sistema - procedimento normal nas democracias; são poucos os países, além do Brasil,  em que criticar o sistema eleitoral, é crime.]

Mas qual foi a grande sacada da Flórida? Muito fácil. Basta escanear as cédulas e você tem o melhor dos dois mundos: contagem rápida e material de verificação.

No Brasil, pelo fato de o TSE ser tão enfático em relação à inviolabilidade das urnas, não temos nenhum caminho técnico para auditar os votos. Somos obrigados a confiar de olhos vendados. 
O pedido do PL nem sequer abordou esse aspecto das urnas. 
O que eles fizeram ali foi se basear em apenas uma categoria de classificação das urnas e pedir que, devido à unicidade do parâmetro de identificação das máquinas – sem código único de identificação, urnas diversas foram agrupadas sob o mesmo valor de identidade e, portanto, não podem ser consideradas como auditáveis sob nenhuma circunstância –, essas urnas sejam desconsideradas na composição do resultado final.

Veja Também:

Para que serve uma suprema corte?


Felizmente, o Brasil tem o TSE (aviso: isso foi uma ironia). O governo brasileiro é um exemplo de má gestão em quase tudo o que faz, mas o TSE é perfeito. 
E o chefe do TSE é o mais perfeito dos homens perfeitos. 
E, já que ele é tão perfeito, não faz sentido limitar suas decisões a assuntos eleitorais. Melhor mesmo que ele decida sobre tudo. Precisamos cassar o passaporte de um jornalista? 
O nosso homem perfeito emitirá a ordem. 
Alguém ousou questionar o sistema eleitoral perfeito? 
O nosso homem perfeito indeferirá o questionamento e tascará uma multa de deboche na entidade que intentou tamanho ataque à democracia brasileira.
 
Parece ironia – e é –, mas é assim que a maior parte da imprensa brasileira tem tratado Alexandre de Moraes. 
Referem-se a ele como um herói, como a força a defender nossa frágil democracia contra inimigos terríveis.
 Ignoram tudo de ruim que esse homem já fez ao país só porque os alvos de sua ira são inimigos políticos da beautiful people midiática brasileira. “Ignorantes”, gritam, “golpistas!”. Na cabeça dos iluminados, esse povo merece ser surrado pelo chicote alexandrino, com seu alcance quase infinito.
 
Como já me expressei em minha conta de Twitter, não consigo ver outra explicação para esse tipo de comportamento que não seja a total falta de inteligência dessa gente, ou a total falta de caráter. Ou os dois. 
Afinal, só alguém muito embotado para não enxergar o perigo que é entregar essa quantidade enorme de poder nas mãos de apenas um homem. Ou alguém muito sem princípios, sem moral e sem caráter, que concorde com os arroubos ditatoriais do Judiciário brasileiro somente porque, nesse momento, eles estejam voltados a inimigos de ocasião.

A história cobrará um preço alto. Essas pessoas serão desmoralizadas e cuspidas pelo rei calvo como um caroço de fruta. Será tarde demais. Não terá sobrado ninguém para lutar por elas.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos

Flavio Quintela, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

O ladrão e o jabuti - Gazeta do Povo

VOZES - Guilherme Fiuza 


Novo modelo de urna eletrônica.| Foto: Abdias Pinheiro/divulgação TSE

Dez motivos para você confiar cegamente na lisura das eleições:

1 - O juiz do jogo disse que as regras atuais eram suficientes contra ilegalidades. Chegou a ameaçar os que pusessem em dúvida a segurança do sistema (negacionismo, desinformação, ódio à democracia etc). Aí termina o primeiro tempo e surge uma montanha de infrações documentadas em vídeo. Que bom que você estava de olhos fechados e não teve que ver essas cenas desagradáveis.

2 - Outra coisa boa da sua confiança cega é que você não precisa ficar tentando enxergar o que não pode ser visto. Por exemplo: como aferir o impacto no resultado eleitoral desses múltiplos casos em que o eleitor chegou à seção e já tinham votado no lugar dele? 
Não dá para aferir, porque a votação não pode ser auditada.

3 - Por que a eleição não pode ser auditada? Porque o Barroso não quis. O Fachin também não. O Alexandre idem. O William Bonner não podia nem ouvir falar nisso. O pessoal da MPB também não. Precisa de mais algum motivo? Eu, hein?

4 - A vantagem de a eleição não poder ser auditada é que não dá polêmica. Polêmica gera desavença, que gera conflito, que gera ódio, que pode gerar violência política. Por isso o melhor mesmo é o resultado ser o que o xerife disser que é e ponto final.

5 - Alexandre de Moraes passou décadas inconformado com um jogo do Corinthians – e só agora desabafou sobre isso. Foi um momento importante da Justiça brasileira: ele disse que assim como não pôde contestar a derrota do seu time do coração, ninguém vai poder contestar o resultado da eleição. Tá certo, tem que se vingar mesmo.

6 - O presidente do TSE disse que é corintiano “como todos sabem”. E você aí reclamando de falta de transparência.

7 - Como todos sabem, não existe ladrão biônico.

8 - Como todos também sabem, se o jabuti apareceu no alto da árvore alguém o colocou lá.

9 - Como todos sabem, só um jabuti biônico poderia chegar ao alto de uma árvore por seus próprios meios.

10 - Como todos sabem, um jabuti seria incapaz de roubar alguém. C
omo todos também sabem, um ladrão seria capaz de roubar tudo, menos uma eleição. A não ser que roubassem para ele, mas aí ele não teria nada com isso. Nem você. [por tal razão é que o candidato petista sempre tem dito, desde os tempos do mensalão, nada saber, nada ter a ver.] Fecha os olhos e confia.

Guilherme Fiuza, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


sábado, 27 de agosto de 2022

Quando as crianças podiam votar - Carlos Alberto Sardenberg

Talvez nem fosse permitido pela lei eleitoral, mas os mesários toleravam, de bom grado, que pais e avós levassem filhos e netos para votar. Isso mesmo, votar. Às crianças mais crescidinhas e mais espertas era dada a oportunidade de apertar as teclas da urna eletrônica, em nome da família.

Uma diversão, brincadeira, mas também uma verdadeira aula de educação moral e cívica – não daquele tipo de doutrinação imposta pelo regime militar nos anos 70. Crianças percebiam a importância do ato. Ingenuidade? Saudosismo das antigas? Pode ser, mas o ambiente eleitoral era realmente diferente, para melhor, antes de 2018. E muito mais saudável do que nos dias de hoje.

Há algum tempo, os juízes do Tribunal Superior Eleitoral sequer cogitariam de proibir celulares na cabine de votação. E, sim, mesários também toleravam que pais e avós fotografassem as crianças por ali. [atualizando: em 2014 já era proibido = sob o pretexto de evitar que eleitores, especialmente os que moravam em favelas, fossem obrigados pelos traficantes a foro grafar seu voto, para comprovar que haviam votado nos indicados pelo tráfico.]

Já neste ano, a decisão do TSE de proibir os celulares foi correta e tomada a tempo. Pelas redes sociais, já dava para perceber que muita gente se preparava para montar vídeos fake e espalhar falsidades sobre a segurança das urnas. Também se discute, no TSE, sobre a porte de armas no dia e nos locais de votação. A discussão já é um péssimo sinal. 
Por que o eleitor desejaria entrar com uma pistola na sessão de votação? Ou porque pretende fazer coisa errada ou desconfia que alguém tentará ameaçá-lo. Péssimo de todo modo. [simples de responder: apesar das restrições ainda existentes no Brasil à posse/porte de armas, algumas pessoas possuem porte autorizado de armas por razões de segurança e que foram acatadas quando da emissão do porte;
Tais pessoas continuam correndo risco no percurso até o local de votação, não tendo sentido proibi-las de exercer um direito já concedido.]

Em resumo, está na cara que ninguém pode votar armado de qualquer coisa que não seja sua ideia.

E entretanto, estamos discutindo isso tudo.

Não há dúvida que o presidente Bolsonaro é o primeiro responsável por esse ambiente tóxico. É dele e de sua turma que partem as ameaças ao sistema eleitoral. [essa afirmação expressa uma obsessão: um grupo de bolsonaristas vai entrar em uma Seção Eleitoral e dar um golpe de Estado?derrubar o presidente Bolsonaro? Não podemos esquecer que o presidente Bolsonaro será, com as bênçãos de  DEUS, o presidente da República Federativa do Brasil, no mínimo, até o próximo 31 de dezembro.
Ou a obsessão leva a cogitar um golpe contra o presidente Bolsonaro?, visto que,  por óbvio,  um golpe de Estado ocorre contra a autoridade que exerce o cargo no dia do golpe.]  É nesse grupo que se cogita de golpe.

(...)

Na primeira eleição depois da queda da ditadura, em 1989, Collor espalhou um tipo de terrorismo. Dizia que a vitória de Lula – bem antes do modo “paz e amor” – seria um triunfo do esquerdismo e, pois, uma ameaça à liberdade e à propriedade privada.

Mas não se falava em golpe. E terminou que o próprio Collor, eleito, aplicou um dos maiores golpes à noção de propriedade privada, com o confisco da poupança. [devolveu até o último centavo retido.] Para provar, afinal, que direita e esquerda erram igualmente em matéria de economia. E que ações autoritárias, como tomar o dinheiro das pessoas, são um a tentação para direita e esquerda.

O plano econômico fracassou espetacularmente e Collor caiu acusado de corrupção. [acusado; não foi condenado, já que, foi INOCENTADO pela Justiça.] Não foram bons momentos para a história nacional, mas pelo menos pode-se dizer que a então novíssima democracia funcionou bem. O presidente foi afastado, o vice, Itamar Franco, assumiu, cumpriu o mandato regular e as eleições seguintes se deram livremente, na data certa. E pais e avós puderam votar com suas crianças.

(...)

Leia MATÉRIA COMPLETA - Carlos Alberto Sardenberg, jornalista

Coluna publicada em O Globo - 27 agosto 2022


terça-feira, 23 de agosto de 2022

O custo da ineficiência - Revista Oeste

Cristyan Costa

O Brasil tem 91 tribunais, que consomem mais de R$ 100 bilhões por ano. Em troca, a população recebe um dos piores  Judiciários do mundo

Foto: Shutterstock
Foto: Shutterstock

A lista inclui nomeações para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), entre outras brasileirices. 
 No total, o país tem 91 tribunais diferentes, espalhados por todos os 26 Estados, além do Distrito Federal. O recém-inaugurado Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF6), por exemplo, foi inventado em 2021, sob o argumento de “desafogar” o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1).
 
Só para o TRF6, exclusivo de Minas Gerais, o presidente Jair Bolsonaro indicou 18 desembargadores
Ainda não se sabe quanto exatamente esse aleijão custará aos pagadores de impostos quando estiver pronto, em dezembro deste ano. Mas sabe-se que o valor será alto. Só o TRF1, por exemplo, gasta cerca de R$ 3,5 bilhões por ano.

São previstos para o TRF6 44 cargos de “analista judiciário”, 74 cargos comissionados e outros 11 chamados de “funções comissionadas”. A Corte já abriu um processo seletivo para a contratação de profissionais, a maioria na área de tecnologia da informação. Conforme o edital preliminar, o salário inicial de um técnico que atuará no tribunal será de R$ 7,5 mil, enquanto um analista ganhará R$ 12,4 mil. Ao fim da carreira, as remunerações desses cargos podem chegar a R$ 11 mil e R$ 18 mil, respectivamente. Isso sem contar os benefícios.

Rodrigo Freire, professor de Direito Processual Civil da Universidade Presbiteriana Mackenzie, afirma que os recursos voltados à criação do TRF6 seriam melhor aplicados no fortalecimento da primeira instância da Justiça Federal. “As despesas, ainda que justificadas, são elevadas, quando comparadas a outras necessidades do país”, constatou Freire, ao defender a digitalização da Justiça, mais barata, se comparada a estruturas físicas. “O uso cada vez mais frequente da inteligência artificial pode contribuir para o fortalecimento da gestão do Judiciário.”

próximo presidente do brasil

As despesas do novo tribunal se somarão aos R$ 12 bilhões que a Justiça Federal consome anualmente para manter uma estrutura obesa, lenta, abarrotada de funcionários públicos e que, na maioria das vezes, faz tudo, menos justiça. No mês passado, por exemplo, a juíza Ana Lúcia Todeschini Martinez, titular do cartório eleitoral de Santo Antônio das Missões e Garruchos (RS), defendeu a proibição da bandeira do Brasil durante a propaganda eleitoral. Na visão da magistrada, o símbolo nacional tornou-se marca de “um lado da política” no país.

Nesta semana, o desembargador Elton Leme, presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ), ameaçou prender eleitores que reclamarem que seu voto não foi registrado corretamente na urna eletrônica. “Se causar tumulto por alegar que digitou um número na urna, mas apareceu outro, a ordem é prender em flagrante”, advertiu.

Os tribunais regionais
Os TRFs nasceram com a Constituição de 1988, fragmentando o antigo Tribunal Federal de Recursos em cinco sedes: Brasília (TRF1), Rio de Janeiro (TRF2), São Paulo (TRF3), Porto Alegre (TRF4) e Recife (TRF5). Cada Corte é responsável por analisar processos de um conjunto de Estados. É nesses tribunais que as requisições de boa parte dos pagamentos ocorrem, como os famosos precatórios. São os juízes dos TRFs que trabalham com a análise e o julgamento de ações trabalhistas envolvendo a União, suas autarquias, institutos e empresas estatais federais.

Embora haja cinco TRFs, os processos levam tempo para ser julgados. No TRF4, estima-se que uma sentença demore um ano para ser proferida (em alguns casos, o tempo sobe para cinco anos), conforme o mais recente Anuário da Justiça Federal. Com a pandemia de coronavírus, o tempo de espera pode ter aumentado ainda mais.

A indicação dos magistrados que vão ocupar os TRFs cabe ao presidente da República, explicou Vera Chemim, advogada constitucionalista e mestre em Direito Público Administrativo pela FGV. “É o que estabelece o inciso XVI do artigo 84 da nossa Carta Magna”, disse a especialista, ao mencionar que há um componente de subjetividade no momento de escolha do magistrado que, em algumas vezes, se sobrepõe ao mérito do juiz. “Se Bolsonaro ganhar, por exemplo, continuará a adotar o mesmo perfil de juízes: conservadores, para manter o apoio do grupo que o apoia. O mesmo acontecerá se outro candidato vencer a eleição.”

O Judiciário brasileiro em números
Conforme o mais recente relatório do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), publicado em 2021, a força de trabalho do Judiciário é composta de cerca de 440 mil funcionários. São aproximadamente 20 mil magistrados (4%) e quase 270 mil servidores (62%).

Em números absolutos, R$ 100 bilhões por ano são destinados ao Poder Judiciário brasileiro. A quantia equivale a 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, ou seja, mais de 1% da soma de todos os bens e os serviços produzidos no país. De acordo com o CNJ, as despesas totais com o Judiciário representam 11% de todos os gastos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios. 
Só neste ano, a Justiça Eleitoral pode gastar cerca de R$ 10 bilhões. 
Já o STF tem à disposição aproximadamente R$ 770 milhões, como prevê o Orçamento da União.

Considerada a mais urgente para destravar a economia, a reforma administrativa tem forte rejeição da classe política e do Judiciário

Para completar, nesta semana, o STF aumentou o próprio salário em quase 20%. A partir de agora, o ordenado de um ministro da Casa vai de R$ 39 mil para R$ 46 mil. 
 Como os salários dos juízes de todo o país estão vinculados aos rendimentos dos ministros do STF, acontecerá o chamado “efeito cascata” — um aumento em cadeia para toda a categoria, muitas vezes seguido de todo o funcionalismo público. A outra vez em que a Corte obteve aumento salarial foi em 2018. Os ministros conseguiram reajuste de 17%. Em troca, os brasileiros recebem o 30º Judiciário mais lento do mundo, dentre 133 países, segundo o Banco Mundial.

Em relação a outros países, o peso do Judiciário brasileiro sobre o PIB é significativamente maior. Na América do Sul, a Venezuela gasta 0,34% do PIB com a Justiça do país, índice levemente superior ao da Argentina (0,32%). Chile e Colômbia desembolsam cerca de 0,2% do PIB com o Judiciário. Na Europa, os gastos da Alemanha correspondem a 0,4% — um porcentual mais de três vezes menor que o do Brasil. Em Portugal, o índice é de 0,3% do PIB. Na Itália, de apenas 0,19%. Inglaterra e Espanha ficam na casa de 0,1% do PIB. As despesas dos Estados Unidos com a Justiça ficam em 0,14% do PIB. [aqui cabe lembrar que os países citados, exceto os da América do Sul, possuem PIB maior, o que reduz os valores em percentuais.]

Antonio Carlos Freitas Júnior, especialista em Direito e Processo Constitucional pelo Instituto de Direito Público, critica o tamanho do Judiciário brasileiro. Ele afirma que os tribunais têm de se digitalizar cada vez mais, seja para aumentar a eficiência das Cortes, seja para reduzir custos. “Com isso, dispensa-se a criação de novos tribunais”, constatou. “Sem uma estrutura de tecnologia da informação, que hoje faz parte da nossa vida, uma nova Corte pode repetir o mesmo comportamento das que temos hoje.”

Reforma administrativa
Considerada a mais urgente para destravar a economia brasileira, a reforma administrativa tem forte rejeição da classe política e do Judiciário. Parado no Congresso Nacional antes mesmo do ano eleitoral, o texto tem como um de seus pontos mais sensíveis a inclusão de juízes, desembargadores e demais membros nas mudanças para futuros servidores públicos. Inicialmente, o governo não incluiu integrantes do Judiciário e do Legislativo na reforma, mas a equipe econômica já deu sinal verde à proposta.

Se isso se confirmar, os servidores do Judiciário poderão perder o direito a férias de mais de 60 dias e a aplicação de aposentadoria compulsória como punição. [oportuno lembrar que férias de 60 dias só para os membros do Poder Judiciáriop e do MP - os servidores gozqam férias de 30 dias.], No Congresso, há pelo menos três iniciativas de emendas sobre a redefinição das carreiras do funcionalismo. A reforma administrativa já teve parecer favorável por sua admissibilidade na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara.

Manoel Galdino, diretor da organização não governamental Transparência Brasil, defende uma reforma administrativa que alcance o Judiciário. “Temos de cortar gastos”, disse. Ele, contudo, é cético quanto à aprovação de um texto que vá resolver todos os problemas. “Podemos começar por ajustes pontuais. O Judiciário tem de saber que ele precisa contribuir com a sociedade, reduzindo despesas. Tem de ser algo mais republicano.”

A Justiça brasileira hoje é um monstro criado pela Constituição de 1988, que beneficia muito mais a si própria do que a população. Enquanto nada muda, o país — e o povo — permanece à mercê de um Judiciário lento e ineficaz, aparelhado pelo presidente da vez.

Leia também “A urna canonizada”  

Cristyan Costa, colunista - Revista Oeste


sexta-feira, 29 de julho de 2022

Ministros da Defesa desmontam a narrativa do “puxão de orelha” sobre urna eletrônica - Gazeta do Povo

Alexandre Garcia 
 

Ministros da Defesa terminam encontro em Brasília defendendo respeito às soberanias nacionais

Terminou nesta quinta a XV Conferência de Ministros da Defesa das Américas, em Brasília, com 21 países.  
E eu vi um erro no noticiário, pois parecia que o secretário de Defesa americano veio para puxar a orelha do Brasil sobre as urnas eletrônicas, mas eu li agora a Declaração de Brasília, assinada por eles, e não há nenhuma menção à eleição brasileira. 
Nem haveria como ter, porque, se a declaração fala em soberania dos países, os estrangeiros não iriam se meter na eleição brasileira. [Seria absurdo que uma Conferência de Ministros da Defesa não ressaltasse a SOBERANIA dos países participantes; seria sem sentido, sem noção, que na mesma fosse priorizada uma carta assinada por um ministro de um país, prevalecesse sobre o texto constitucional daquele país. A mídia militante, fez questão de espalhar a 'narrativa' que deixava a impressão de que os ministros iriam impor ao Brasil uma carta da OEA, determinando como os países participantes deveriam conduzir seu sistema de governo.]
Estão forçando a barra; o sujeito escreve na notícia aquilo que ele acha que deveria ser, e não o que foi. Essa é a razão pela qual estão minguando tiragens, audiência, assinaturas: estão perdendo credibilidade.
 

15.ª Conferência de Ministros de Defesa das Américas foi realizada em Brasília, no fim de julho -  Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
 
E vejam como foi favorável ao Brasil essa Declaração de Brasília, assinada por 21 países
Traz o compromisso com a defesa de valores como autodeterminação, independência, integridade territorial, liberdade frente à ambição estrangeira e respeito às fronteiras e à soberania. Parece que os demais países estão se mostrando solidários ao Brasil em relação à Amazônia
E ainda tem mais, sobre a “Amazônia Azul”, porque o texto fala em combater a pesca ilegal – eu vejo, por exemplo, pescadores brasileiros e uruguaios reclamando de chineses, e a mesma coisa acontece no Pacífico. 
Os ministros mencionaram a caça furtiva silvestre, a exploração mineral e florestal ilegais, a preocupação com o crime transnacional – enfim, o tráfico. 
 
E, por fim, atenção!, a ciberdefesa e a necessidade de envolver instituições governamentais e civis para responder a atividades maliciosas na área cibernética. Então, não é nada do que vinham dizendo, está contemplada a preocupação quanto à segurança cibernética, o que inclusive engloba a apuração de uma eleição.[Em nosso entendimento e  nada foi falado referente ao regime de governo de cada país participante - já que a forma de governo é assunto interno de cada país, não cabendo ingerência de outros governos ou organizações = a Constituição de cada país é assunto primordialmente do Poder Legislativo não cabendo ingerência de ministros dos dois outros poderes.]
 
Perícia intrigante
Estou intrigado com a perícia daquela troca de tiros na Associação Recreativa Esportiva da Segurança de Itaipu. 
No aniversário de 50 anos de um policial, outro policial chegou lá, um jogou pedra no outro, que foi para casa buscar uma arma e voltou; o aniversariante já estava armado e inclusive morreu. 
Ele era guarda municipal, e o outro era guarda de presídio federal; sobreviveu mesmo tendo levado um tiro na cabeça e ter sido chutado reiteradas vezes na cabeça, no rosto, no tórax, nas costas, no peito. Sobreviveu e ainda está no hospital.

A perícia disse que a vítima atirou 13 vezes e o, digamos, agressor, que pelo jeito disparou primeiro, assim que chegou, deu três tiros.  
Eu imagino um julgamento em que o morto atirou 13 vezes e o sobrevivente atirou três, é uma coisa meio complicada. 
Isso confirma o que eu tenho dito para vocês: foi um tiroteio, uma troca de tiros, infelizmente. Onde já se viu, um aniversário terminar desse jeito, com o pai morto diante dos filhos. 
Os convidados nem viram que o aniversariante estava morto, já estavam chutando o outro
Fiquei chocado com a cena, pois a bala a gente não vê penetrar, mas o chute sim, a gente vê. A Justiça vai ter um trabalhão.

O combustível está mais barato
Só para lembrar,
hoje a gasolina está sendo entregue nas refinarias R$ 0,15 mais barata. Segunda-feira é o querosene de aviação que cairá 2,6%. De olho na passagem aérea!
 
Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
 
Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES