Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador Frances Perkins. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Frances Perkins. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Uma boa notícia: Elizabeth Warren - Elio Gaspari

Ela precisa criar uma onda semelhante à que elegeu Obama em 2008 

Nunca um grande partido dos EUA teve candidato tão crítico dos privilégios e das mumunhas do andar de cima

Elizabeth Warren poderá ser a candidata do Partido Democrata à Presidência dos Estados Unidos. Numa pesquisa que mediu as preferências dos eleitores da primeira prévia do ano que vem, ela bateu o ex-vice-presidente Joseph Biden. Em sete outras, em seis ela derrota Donald Trump e numa empata. “ Ele é essencialmente corrupto”, diz. 

A candidatura da senadora pelo Massachusetts tem uma luminosa originalidade. É mulher, mas nada deve ao marido. Chegou ao Senado sem jamais ter disputado uma eleição, catapultada pela ferocidade com que denunciou os privilégios e as maracutaias da banca. Para Wall Street, ela é uma bruxa perfeita e acabada. Conhece Washington com o olhar do andar de baixo porque esteve numa comissão da Câmara e criou a Agência de Proteção Financeira do Consumidor. Sua bandeira era simples: se você compra um torradeira e ela bota fogo na sua cozinha, existem agências do governo a quem você pode se queixar. Se você compra uma casa e vai à bancarrota, não tem com quem reclamar. Estudando a Lei das Falências pelo lado dos fracos, acabou tornando-se professora da Universidade Harvard. 

Para chegar à Casa Branca, a senadora Warren precisa criar uma onda semelhante à que elegeu Barack Obama em 2008, e isso pode acontecer. Em 2007, um ano antes da eleição, Hillary Clinton batia Obama por 40 a 28. Deu no que deu. Na semana passada, Warren discursou por quase uma hora (mais quatro de selfies) na Union Square, em Nova York. Se em 2008 Obama foi à ponte de Selma, onde em 1965 a polícia botou cachorros em cima dos negros, ela foi mais contundente e atual. 

Lembrou que na tarde do dia 25 de março de 1911, uma senhora tomava chá naquela praça, quando a poucos quarteirões dali pegou fogo o prédio onde centenas de mulheres trabalhavam numa confecção. As portas para as escadas estavam fechadas, e 146 pessoas morreram queimadas, algumas atiraram-se das janelas. A mulher que tomava chá e viu as cenas chamava-se Frances Perkins. Ela se tornou a campeã da reforma das relações trabalhistas nos Estados Unidos. Em 1933, o presidente Franklin Roosevelt nomeou-a secretária do Trabalho e, sempre de chapéu, ficou no cargo até 1945.

Perkins morreu em 1965, aos 84 anos, sem patrimônio, enxergando mal e ouvindo pouco. Nessa época, Elizabeth Warren era uma adolescente que vivia no Oklahoma, numa família de classe média estruturada e arruinada. Seu pai tornara-se zelador de um edifício, e a mãe foi trabalhar numa loja. Ela era garçonete e costurava para as tias.  Elizabeth conseguiu uma bolsa de estudos para cursar a faculdade e foi a primeira de sua família e conseguir um diploma de curso superior, de fonoaudióloga. Só mais tarde tornou-se advogada. 

A presença de Elizabeth Warren na disputa pela Presidência dos Estados Unidos será uma lufada de inteligência num tempo de debates com personagens medíocres. Mais que isso: nunca um grande partido americano teve candidato tão crítico dos privilégios e das mumunhas do andar de cima. Em 2012, ela arrecadou 42 milhões de dólares na sua campanha para o Senado. Oitenta por cento das doações foram de até 50 dólares.
Serviço: A autobiografia de Warren — “Uma chance de lutar” — está nas livrarias. Lá se aprende muito, inclusive que ela nunca pensou que viraria loura e se apaixonou pelo marido porque ele tinha bonitas pernas.
 
Coluna em Folha de S. Paulo e O Globo - Elio Gaspari, jornalista