A questão do financiamento das campanhas eleitorais brasileiras
voltou ao centro do debate político com a criação do tal Fundo Especial
de Financiamento da Democracia (FFD) de R$ 3,6 bilhões aprovado por uma
Comissão Especial e já rejeitado por parte dos deputados, inclusive o
presidente da Câmara Rodrigo Maia. O mais grave é o que poucas pessoas notaram: esse Fundo Democrático
não substitui o Fundo Partidário, que é distribuído pelo Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) anualmente aos partidos que participaram das
eleições para a Câmara.
Na sua mais recente versão, estava em R$ 800
milhões, o que dá por cada voto válido 12,00 que, com o
contingenciamento, está valendo R$ 9,50. Há propostas para que o Fundo
Democrático, que será dado a cada eleição, seja composto com as emendas
dos deputados e senadores, para não aumentar o gasto público. O que pode parecer uma boa ideia tem problemas, no entanto. Metade
das emendas parlamentares, que agora são impositivas, tem que ser
dedicada à saúde, e o restante para obras e outros investimentos. Esse
dinheiro para saúde e obras públicas seria transferido para pagar as
campanhas eleitorais, o que não é uma solução.
O financiamento privado de campanhas eleitorais por empresas,
proibido pelo Supremo Tribunal Federal, terá que ser rediscutido, assim
como o barateamento das eleições de maneira geral. Nesse caso, ganha
força o voto distrital, mesmo que seja o misto, com metade das vagas
preenchidas pelo voto proporcional. O ministro do Supremo Luis Roberto Barroso, que foi o relator do
processo que proibiu o financiamento de campanhas eleitorais por
empresas, esclareceu sua posição em diversos pronunciamentos públicos.
“Eu votei a favor da inconstitucionalidade porque a lei não previa
nenhum tipo de limite às doações, mas a questão em si de se empresas
devem poder doar ou não é política e deve ser decidida pelo Congresso”,
afirmou, durante uma palestra em São Paulo.
O ministro Barroso disse que o financiamento por empresas precisaria
ter limites mais rígidos para não se tornar um fator de desequilíbrio
nas eleições, e teria que ter restrições, como a mesma empresa não poder
financiar os candidatos de todos os partidos. O sistema chamado de “distritão”, que foi aprovado pela Comissão
Especial e será votado em plenário da Câmara, é criticado, entre outras
coisas, por favorecer os candidatos mais conhecidos do eleitorado, e
encarecer as campanhas. O deputado Miro Teixeira, autor da emenda do
distritão, chama a atenção para o fato de que o voto majoritário já é
usado para Presidente da República, Senador, Prefeito, e nunca se alegou
que esse sistema encarece a eleição ou favorece os candidatos mais
conhecidos.
Geraldo Tadeu Monteiro, cientista político e professor da Uerj, é um
dos muitos críticos do sistema. Ele diz que as pesquisas vêm mostrando
que os eleitores estão muito mais dispostos a votar branco ou nulo nas
próximas eleições. Considerando que
as últimas eleições presidenciais, o percentual de votos brancos e nulos
(no primeiro turno) foi de 8,56% (3,11% brancos + 5,45% nulos), isso
representa, no mínimo, quase o dobro da taxa de 2014.
Ele revela que simulação que realizou em 2015, quando começou a
discussão sobre o distritão, mostra que apenas 9% ou 45 vagas de
deputados federais mudariam de lugar. O resultado indica, segundo
Geraldo Tadeu Monteiro, que o sistema proporcional de lista aberta
elege, em 91% dos casos, os mais votados; e que a adoção do distritão
vai favorecer os atuais ocupantes de cargos proporcionais, pois 91%
deles teriam sido eleitos com o distritão em 2014.
Nesses casos, o argumento serve também para aprovar o distritão, pois
tem os mesmos efeitos do voto proporcional e ainda favorece uma
renovação. Outro aspecto relevante que o cientista político ressalta é a
perda de votos de eleitores que terão votado em candidatos que não se
elegeram, que, pelos cálculos, seria de 36%.
Essa alegação, muito
usada pelos críticos do sistema, é combatida pelos defensores do
distritão como Miro Teixeira com um argumento pragmático: os votos não
são perdidos pelos partidos, pois renderão R$ 9,50 cada na distribuição
do Fundo Partidário. Além disso, os candidatos que não se elegem sempre
existirão, em qualquer tipo de sistema eleitoral. Mas não se elegerão
mais candidatos de pouquíssimos votos, como os que vão na rabeira de
puxadores de votos como Tiririca. Segundo as contas de Geraldo Tadeu Monteiro, a adoção do distritão
tiraria da Câmara nada menos que 6 partidos: PSDC, PEN, PTC, PTdo B,
PRTB, PSL.
Esse pode ser um argumento a favor do distritão.
Fonte: Merval Pereira - O Globo
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domingo, 13 de agosto de 2017
Saco sem fundo
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