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domingo, 7 de janeiro de 2024

E agora, Zelensky? A Ucrânia está cada vez mais sozinha, e o mundo perderá com isso - Gazeta do Povo

Leonardo Coutinho - VOZES

Brasil, América Latina, mundo (não necessariamente nesta ordem)

Guerra na Ucrânia E agora, Zelensky?

Os presidentes Joe Biden e Volodymyr Zelensky durante visita do norte-americano à Ucrânia, em fevereiro de 2023.

Os presidentes Joe Biden e Volodymyr Zelensky durante visita do norte-americano à Ucrânia, em fevereiro de 2023.| Foto: Adam Schultz/White House/Flickr

A neve que tinge de branco algumas paisagens da Ucrânia nos avisa que a guerra de agressão da Rússia, iniciada em fevereiro de 2022, já alcançou o seu terceiro inverno.  
O frio torna o conflito ainda mais duro e brutal. 
Mas há algo ainda mais gélido que a hostilidade do clima. Os ucranianos estão cada vez mais sozinhos.

O presidente americano, Joe Biden, avisou que, se o Congresso não aprovar novos pacotes de ajuda financeira, ele não tem como fazer isso de forma discricionária para ajudar a Ucrânia a enfrentar a invasão russa. O dinheiro acabou.

A notícia trouxe o presidente Volodymyr Zelensky a Washington no mês passado, mas ele voltou para casa de mãos vazias. E possivelmente sabendo que, sem o suporte americano, a resistência ao agressor se torna um desafio ainda mais duro.

    Os ucranianos estão cada vez mais sozinhos

Não custa relembrar que, quando Biden diz que “o dinheiro acabou”, não quer dizer que os Estados Unidos estão de cofre vazio. Ele fala de orçamento – algo que os rivais dos Estados Unidos não têm como limite de ação. 
No caso ucraniano, Vladimir Putin não tem nada que o impeça de investir na guerra. Nem as sanções, que deveriam ser o dificultador, parecem ter sido capazes de parar seu expansionismo. [desde o inicio da guerra, que temos dito ser o conflito Ucrânia x Rússia uma guerra que o ex-comediante, que atualmente preside a Ucrânia, arrumou  confiando que os outros países iriam guerrear pela Ucrânia.
Enganou aos incautos, especialmente ao valoroso povo ucraniano e a alguns líderes  que estão na OTAN.
Todos confiaram que um boicote ao governo de Putin levaria a Rússia à derrota. 
Esqueceram que a Rússia é autosuficiente em petróleo e com condições de boicotar o fornecimento de gás a muitos países europeus.
Tudo nos leva a perguntar: até onde Israel vai? conseguirá o que deseja?]

Como se não bastassem as questões orçamentárias, Biden está em um ano eleitoral. E, por mais que possa parecer estranho, ajudar a Ucrânia parece ter virado uma questão tira-voto.  

Para além dos trumpistas desmiolados que acham que Putin é um cara bacana, pois enfrenta o climatismo, o globalismo e a ideologia de gênero, muitos americanos estão convencidos de que os bilhões de dólares de seus impostos, que serviram para reforçar as defesas ucranianas, seriam mais bem usados nos Estados Unidos.

Republicanos acham que o dinheiro tem de ser usado para reforçar a proteção da fronteira sul, por onde entram milhares de imigrantes ilegais, e combater a pandemia de opioides
Democratas acham que o dinheiro poderia servir para mitigar o peso dos imigrantes ilegais nas contas dos estados e cidades receptoras, como Nova York, que vive um verdadeiro caos com a gestão da invasão dos ilegais.

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De norte a sul dos polos da política americana há uma falta de compreensão de que o caos na fronteira, os opioides, a guerra na Ucrânia e em Gaza, a tensão sobre Taiwan, as estripulias de Nicolás Maduro e as ameaças do Irã fazem parte do mesmo conflito. 

São frentes distintas de uma só guerra. A barbárie do Hamas, seguida da reação de Israel, desviou o foco da Ucrânia, que por sua vez foi um laboratório para a China estudar como o mundo reagiria a uma invasão de Taiwan.

Biden está com sua reeleição ameaçada e precisa olhar para dentro se não quiser ser trucidado nas urnas. O resultado disso é um novo vácuo de influência que será preenchido pelo eixo liderado por China e Rússia. A derrota da Ucrânia será a derrota de todos nós. Quando isso ficar claro, vai ser tarde

A campanha democrata sabe que não há como derrotar Donald Trump sem fazer este ajuste de rota. Mas isso pode significar que a Ucrânia não resista até novembro, quando o presidente americano para os próximos quatro anos será conhecido. Talvez este seja o mais longo inverno.

Zelensky nunca se mostrou disposto a ceder em um acordo de paz desfavorável para os ucranianos, como o que o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva ensaiou mediar. Um acordo que “leve em conta a segurança da Rússia”, como chegou a afirmar o assessor presidencial e chanceler de fato, Celso Amorim.

Ainda que Zelensky resista até o fim do ano, Putin já venceu.  
Estraçalhou a Ucrânia em uma guerra longa, cara e mortal. 
Os custos russos foram igualmente enormes. Mas os ganhos são elevados. Entre eles está a torra dos estoques dos arsenais ocidentais e o desgaste da opinião pública com guerras “dos outros”
Putin já virou a vítima para muitos. Insólito, mas assustadoramente real.

A mesma coisa se aplica ao Hamas. Ainda que perca militarmente frente à reação israelense, os terroristas já venceram. Reavivaram a “causa palestina”, reacenderam o antissemitismo que estava preso no armário e ainda prestaram um serviço e tanto a Rússia e China ao abrir outra frente de batalha política e socialmente onerosa para os americanos – devido à relação dos Estados Unidos com Israel.

Zelensky está em uma grande enrascada. A derrota da Ucrânia será a derrota de todos nós. Quando isso ficar claro, vai ser tarde.


Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

Leonardo Coutinho, colunista - Gazeta do Povo - VOZES