Leonardo Coutinho - VOZES
Brasil, América Latina, mundo (não necessariamente nesta ordem)
Guerra na Ucrânia E agora, Zelensky?
Os presidentes Joe Biden e Volodymyr Zelensky durante visita do norte-americano à Ucrânia, em fevereiro de 2023.| Foto: Adam Schultz/White House/Flickr
O presidente americano, Joe Biden, avisou que, se o Congresso não aprovar novos pacotes de ajuda financeira, ele não tem como fazer isso de forma discricionária para ajudar a Ucrânia a enfrentar a invasão russa. O dinheiro acabou.
A notícia trouxe o presidente Volodymyr Zelensky a Washington no mês passado, mas ele voltou para casa de mãos vazias. E possivelmente sabendo que, sem o suporte americano, a resistência ao agressor se torna um desafio ainda mais duro.
Os ucranianos estão cada vez mais sozinhos
Como se não bastassem as questões orçamentárias, Biden está em um ano eleitoral. E, por mais que possa parecer estranho, ajudar a Ucrânia parece ter virado uma questão tira-voto.
Para além dos trumpistas desmiolados que acham que Putin é um cara bacana, pois enfrenta o climatismo, o globalismo e a ideologia de gênero, muitos americanos estão convencidos de que os bilhões de dólares de seus impostos, que serviram para reforçar as defesas ucranianas, seriam mais bem usados nos Estados Unidos.
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De norte a sul dos polos da política americana há uma falta de compreensão de que o caos na fronteira, os opioides, a guerra na Ucrânia e em Gaza, a tensão sobre Taiwan, as estripulias de Nicolás Maduro e as ameaças do Irã fazem parte do mesmo conflito.
São frentes distintas de uma só guerra. A barbárie do Hamas, seguida da reação de Israel, desviou o foco da Ucrânia, que por sua vez foi um laboratório para a China estudar como o mundo reagiria a uma invasão de Taiwan.
Biden está com sua reeleição ameaçada e precisa olhar para dentro se não quiser ser trucidado nas urnas. O resultado disso é um novo vácuo de influência que será preenchido pelo eixo liderado por China e Rússia. A derrota da Ucrânia será a derrota de todos nós. Quando isso ficar claro, vai ser tarde
A campanha democrata sabe que não há como derrotar Donald Trump sem fazer este ajuste de rota. Mas isso pode significar que a Ucrânia não resista até novembro, quando o presidente americano para os próximos quatro anos será conhecido. Talvez este seja o mais longo inverno.
Zelensky nunca se mostrou disposto a ceder em um acordo de paz desfavorável para os ucranianos, como o que o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva ensaiou mediar. Um acordo que “leve em conta a segurança da Rússia”, como chegou a afirmar o assessor presidencial e chanceler de fato, Celso Amorim.
A mesma coisa se aplica ao Hamas. Ainda que perca militarmente frente à reação israelense, os terroristas já venceram. Reavivaram a “causa palestina”, reacenderam o antissemitismo que estava preso no armário e ainda prestaram um serviço e tanto a Rússia e China ao abrir outra frente de batalha política e socialmente onerosa para os americanos – devido à relação dos Estados Unidos com Israel.
Zelensky está em uma grande enrascada. A derrota da Ucrânia será a derrota de todos nós. Quando isso ficar claro, vai ser tarde.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos
Leonardo Coutinho, colunista - Gazeta do Povo - VOZES