Por
breve período, imaginei obter da CPMI do dia 8 de janeiro resposta para
as perguntas que me fiz enquanto os fatos aconteciam. Qual o quê!
Imediatamente o governo reagiu, mostrou desinteresse e, quando o
requerimento foi lido no plenário, tratou de formar maioria. Comprou o
quórum, a lona e os palhaços do circo.
Como já
escrevi, as comissões parlamentares de inquérito são instrumentos para,
em proteção ao interesse da sociedade ou do país, conhecer o que querem
ocultar aqueles que detêm poder sobre determinadas situações e
encaminhar denúncias que couberem ao Poder Judiciário. Profundamente
contrariado, então, assisti o enorme esforço da base governista em
impedir a audiência dos principais personagens.
Com isso, de modo
ostensivo e deliberado, o governo oculta da população a verdade que não
lhe convém.
O vandalismo é
evidente nos atos de 8 de janeiro. Tão evidente quanto o vandalismo é a
falta de espontaneidade dos protagonistas daquelas ações e a omissão
coletiva das várias polícias com dever de proteger o local e seus bens
materiais.
A leniência
com que as responsabilidades do governo vêm tendo sua averiguação
conduzida desde o dia 8 de janeiro é um caso à parte na história
política do Estado.
Observe que as imagens do general G. Dias só vieram a
público quando vazaram 90 dias depois de iniciadas as prisões em massa e
de estar decretada a prisão de Anderson Torres!
Agora, é a própria
CPMI que, passados outros 90 dias, ainda não conseguiu ouvir, nem o
general, nem o ministro da Justiça. O que quer
ocultar o cerco de proteção ao governo? Só os fanáticos não sabem! A
estas alturas, os silêncios e omissões na investigação falam mais do que
os depoimentos.
Não bastasse o
desrespeito à cidadania, ao longo das reuniões transpareceu algo que se
reproduz em tantos inquéritos: enquanto por um lado escondem dados e
fatos, por outro se aproveitam para vasculhar a vida alheia muito além
da razoabilidade e do interesse da boa justiça.
O sigilo é quebrado e a
intimidade dos adversários é invadida com a mesma bonomia com que se
descasca um amendoim enquanto se toma um uísque.
Coisa de hacker com
mandato e poder de Estado, dando uma tarrafada na vida dos outros para
ver o que aparece na rede. Perdeu-se a noção do ridículo.
A estas
alturas, não creio mais que o minoritário Jerry consiga capturar e expor
o poderoso Tom. Ao menos não com a exposição midiática que seria
necessária para o bem do país, nestes dias em que a sociedade se tornou
descartável, sujeita a visíveis intenções de reciclagem para uma nova
ordem mundial.
Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org,
colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas
contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A
Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia
Rio-Grandense de Letras.