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sábado, 16 de dezembro de 2017

O messianismo dos anti-Bolsonaro

Ser conservador, então, é preferir o familiar ao desconhecido, o testado ao nunca testado, o fato ao mistério, o atual ao possível, o limitado ao ilimitado, o próximo ao distante, o suficiente ao abundante, o conveniente ao perfeito, o riso presente à felicidade utópica.”

Michael Oakeshott

Em “The Politics of Faith and The Politics of Scepticism”, o filósofo britânico conservador Michael Oakeshott (1901-1990) identificou duas vertentes ocupando o debate político moderno: de um lado, a política de fé. Do outro, a política do ceticismo.


Os liberais não se contentam com o bom senso e o estoicismo de Jair Bolsonaro, e querem linchá-lo por isso

Em poucas palavras, Oakeshott entendia que a política de fé se baseia em um racionalismo raso que promete soluções universais em pacotes ideológicos nos quais existem respostas para tudo. A fé, aqui, não tem conexão com a religião; é a fé na Razão, a deusa da modernidade. A política de fé é a dos ideólogos, dos racionalistas delirantes.

Por outro lado, a política de ceticismo é aquela na qual existem soluções provisórias, circunstâncias e possíveis à administração civil. Mas não há respostas universais aos problemas modernos, aliás, nem todos os problemas são solúveis. A política de ceticismo é a dos conservadores que se contentam com o mundo possível ao mundo ideal.

Os liberais apressados da terrinha podem se esforçar para tentar empurrar o presidenciável Jair Bolsonaro e seus seguidores ao campo da política de fé. Bolsonaro é um nome contra o establishment, livre dos partidos, desembaraçado de obrigações para com empresários que dependem do BNDES e dos políticos na mira da Lava Jato. 

Os brasileiros notaram o fato e, por isso, Bolsonaro tem arrastado multidões por onde passa, representando hoje um fenômeno popular que enraivece defensores do establishment espraiados por todos os lados do espectro político, da esquerda à direita.
Ocorre que o próprio Bolsonaro já declarou, incontáveis vezes, que não é um “messias”, [messias só no nome: Jair Messias Bolsonaro.] que não tem o poder de “consertar o Brasil” e que não carrega soluções mágicas no bolso para todos os nossos problemas atuais, sejam eles econômicos ou socioculturais.

Arrogância liberal x estoicismo conservador
Os liberais, ironicamente, enxergaram nesse ceticismo político saudável de Bolsonaro uma fraqueza indesculpável. Eles não perdoam o fato de que ele não é expert em economia com soluções mágicas para a crise que enfrentamos.  E perdoam menos ainda que Bolsonaro, de maneira humilde e sensata, confesse publicamente que não é o messias, quer dizer, o especialista que os liberais estão esperando surgir em um cavalo branco com as soluções universais mágicas com as quais os racionalistas sonham. Jair afirmou que seu papel será o de estabelecer diretrizes, formar uma equipe competente e delegar. Nenhuma mágica, mas apenas o uso do bom senso na avaliação de cada situação.

Isso, contudo, não é o bastante para os nossos liberais que, herdeiros do racionalismo iluminista e partidários da política de fé descrita por Oakeshott, esperam sempre por pacotes fechados com soluções mágicas universais para tudo.  Nossos liberais rejeitam a postura estóica de Bolsonaro, que fala apenas em soluções circunstanciais e provisórias. Como ensinou o filósofo britânico, o racionalista exige uma solução racional para todo e qualquer problema. O racionalista rejeita o que seria o melhor dadas as circunstâncias, ele exige apenas o melhor em termos absolutos. O racionalista pensa saber, com certeza dogmática, a “direção com a qual o mundo está se movendo”. E quer um pacote ideológico que leve a essa direção.


O Messias liberal
Nossos liberais nunca se cansam de brandir seu puritanismo ideológico. E, desta forma, crucificam Jair Bolsonaro por conta de opiniões políticas equivocadas quem nunca as teve? que ele manifestou em um passado já um tanto longínquo. O terror da esquerda americana, Donald Trump, apoiou Democratas por vinte anos pouco antes de perceber que eram eles, os democratas, o problema. O seu rompimento com a esquerda foi autêntico e teve consequências de proporções globais, como se sabe.
Assim como é autêntico o rompimento de Bolsonaro com figuras que pareciam representar uma alternativa ao establishment.

Os liberais, contudo, de forma consciente ou não, preferem opções fabricadas, criadas nos departamentos de marketing de partidos que integram o establishment, que trazem uma embalagem de novidade para entregar o de sempre.  Os liberais preferem apoiar um opositor fabricado, criado por marqueteiros, que teatralizará algo de novo e recebera aval das esquerdas, incluindo o PSDB, porque salvará o establishment.  Para os liberais, importa mais a aparência da coisa do que a coisa em si.

Foi o caso de Doria, poderia ser o caso de Luciano Huck e talvez agora seja o caso de João Amoedo. São todos impecáveis porque são fabricados. São figuras de grupos, de partidos, e contam com a simpatia dos liberais que esperam por um messias. São eles, os liberais, que estão rejeitando Bolsonaro em nome de alternativas fabricadas que refletem a obsessão racionalista com o melhor absoluto e a rejeição ao melhor “dadas as circunstâncias”. Os liberais são os fanáticos da seita messiânica por aqui.  Os liberais preferem aquilo que parece se aproximar da perfeição ao que é imperfeito, mas autêntico e com real legitimidade popular. São os racionalistas, os puritanos, os gladiadores da ideologia, que buscam um líder messiânico e ungido pelo mercado.

Thiago Cortês é jornalista - MSM