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sábado, 6 de agosto de 2022

Pela democracia, de novo - Carlos Alberto Sardenberg

 Os grandes bancos privados são extremamente cautelosos em suas relações com o governo, o legislativo e o judiciário. Têm seus motivos: o sistema financeiro é muito regulado, o que significa funcionar sob um emaranhado de leis e normas. É custoso, algo que precisa ser negociado o tempo todo. Um artigo numa lei qualquer pode significar prejuízo direto. Ou lucro, claro.

 Além disso, banco é objeto do ódio universal. Uma instituição que paga 10 quando você aplica e cobra 30 quando você toma emprestado, não pode pretender ser amada pelo público. São infinitas as frases que exprimem esse sentimento. “O que é pior, roubar um banco ou fundar um?” – que aparece em diversas versões. O celebrado economista John Kenneth Galbraith também entrou no assunto: “A maneira como os bancos ganham dinheiro é tão simples que é repugnante”.

Politicamente, é um escândalo: de um lado, o pobre devedor, de outro, o banqueirão. Resultado: leis que dificultam a cobrança de dívidas e sistemático aumento de impostos sobre o pecaminoso lucro financeiro. Populismo, claro. Quanto mais complexa a concessão do crédito, quanto mais difícil a cobrança e quanto maior o imposto, maior a taxa de juro. Lógico: a taxa de juro é a medida do risco de não receber.

Algum político topa isso? Não.

E mesmo nós, jornalistas, temos que tratar do assunto com o máximo de cuidado. Trata-se de um difícil equilíbrio, quase impossível: colocar a lógica econômica sem provocar a ira dos leitores. Tudo considerado, é muito significativa a decisão dos três maiores bancos privados brasileiros de não conceder crédito consignado aos beneficiários do Auxílio Brasil. Até podem alegar questões técnicas – como dar empréstimo tendo como garantia uma renda provisória? – mas a decisão tem claro conteúdo ético e político.

Político, a de oferecer dinheiro aparentemente fácil a pessoas vulneráveis, que estão precisando e não têm educação financeira. Pequenos bancos, financeiras, correspondentes bancários já estão correndo atrás dos beneficiários do auxílio e oferecendo dinheiro na mão por juros de 80% ao ano – valor que, claro, não é mencionado. Nesse caso, o juro tem que ser muito caro mesmo, pois o banco precisa recuperar seu dinheiro rapidamente, em poucos meses, pois não sabe se o benefício será ou não mantido. Por isso, aliás, não se fixou teto para a taxa de juros.

Outra questão agora é o comportamento das duas grandes instituições públicas: o Banco do Brasil e a Caixa. Serão obrigados a entrar? Provável. O que o BB dirá a seus acionistas privados? [um lembrete: a mídia militante, ou velha imprensa, falam contra sobre qualquer projeto do governo Bolsonaro -  assim, não seria poupado de críticas o de facilitar financiamento para os mais pobres - e esquecem de mencionar projetos que ajudam especialmente aos mais necessitados;
-  vamos citar um exemplo: a queda no preço dos combustíveis = na bomba, no posto, o que permite que o consumidor sinta os beneficios de imediato.  
O presidente Bolsonaro com a sua teimosia, sempre procurando defender os mais pobres, conseguir reduzir o preço da gasolina de quase R$ 8,00 (em alguns postos, felizmente poucos, chegou a ultrapassar os oito reais)para cinco reais e alguns centavos por litro; 
- no DF tem postos vendendo o litro de gasolina, aditivada, por R$ R$ 5,39 - em todo o Distrito Federal  raro se encontrar gasolina a preço superior a R$5,50 e na região do Entorno (limítrofe ao DF, o preço ainda é menor. O etanol também está em baixa e o diesel mesmo caminho.]
A negativa dos grandes bancos privados não é movimento isolado. Junta-se às manifestações pela democracia preparadas pela sociedade civil, pessoas físicas e jurídicas. Mais de 700 mil indivíduos já asinaram a Carta pelo Estado de Direito que será lida dia 11 de agosto. E a poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Fiesp, lidera um manifesto de associações empresariais, incluindo a dos bancos, e centrais sindicais,  com o mesmo teor. [Outro aspecto curioso é que além da cartinha a ser lida no dia 11, em S. Paulo, tem cartinhas pela democracia dos delegados, dos banqueiros e de outras categorias, cuja soma das assinaturas não alcança 1.000.000.
Não mencionam, tentando abafar a divulgação, que tem a     CARTA    - MANIFESTO = MANIFESTO À NAÇÃO BRASILEIRA - DEFESA DAS LIBERDADES E DE BOLSONARO  = lançada após o manifesto a ser lido em 11 de agosto e cuja divulgação não foi, nem está sendo, efetuada pela mídia militante, mas a soma dos seus signatários ultrapassa  800.000.]

O grande capital industrial, comercial e financeiro se posiciona abertamente pela democracia, contra as ameaças de golpe. Bolsonaro não pode mais dizer que se trata de uma cartinha de comunistas.

Lembrei de uma frase de Jô Soares: “ se o comunismo acabar, quem é que vai levar a culpa?”

Satanás, quem sabe?

Enfim, a semana foi boa: a sociedade civil de novo mobilizada pela democracia. Ao mesmo tempo, é triste. Tantas décadas depois da queda da ditadura, ainda tem quem a queira de volta. Pior: há ameaças à democracia no mundo todo.

A vigilância tem mesmo que ser permanente.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista


quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Presidência acorrentada



No encontro com ministros, hoje, Dilma pode desmentir o cético Galbraith, para quem reuniões governamentais são indispensáveis, quando não se quer fazer nada
Dilma Rousseff reúne hoje o Ministério e adiciona nova fotografia ao álbum da Presidência. Para a maioria, será uma chance de encontrar a chefe. É chegar, ver, ouvir e partir. 

Em silêncio.  Isso porque são 39 ministros. Se a cada um for permitido sintetizar seus planos em apenas dois minutos, Dilma será obrigada a escutá-los durante hora e meia. Sem intervalo.  Há casos piores. Pré-candidato pelo PMDB à sucessão de Dilma, em 2018, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, precisa de auditório para juntar as 64 pessoas do seu primeiro escalão. Se deixá-las falar por dois minutos, Paes vai passar mais de duas horas apenas escutando. Sem intervalo. Tolerante, desde que as coisas sejam feitas do seu jeito, Dilma adotou a receita do antigo PSD mineiro, assim resumida por José Maria Alckmin, vice do general Castello Branco: primeiro se decide, depois faz-se a reunião. 

A presidente tem hoje um desafio à biografia. O risco de fracasso significa atravessar os próximos quatro anos arrastando correntes no Planalto. Alguns aspectos do cenário:  A escassez de água e os apagões sucessivos infernizam a rotina de 146 milhões de pessoas no Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste;  Os rarefeitos programas sociais encolhem, por caixa insuficiente para clientela crescente; A educação rateia, demonstra o Enem com o meio milhão de notas zero em Redação.

Os serviços saúde pública entraram em falência. As filas nos hospitais refletem a restrição de gastos (R$ 2,5 ao dia por habitante) e as deficiências administrativas no SUS, somadas a duas décadas de congelamento da tabela médica e à precariedade da infraestrutura: apenas 10% das obras de unidades básicas e de pronto atendimento foram concluídas, 83% do programa de saneamento não saíram do papel, assim como 62% das obras de água potável;  

A percepção coletiva de segurança econômica está abalada pela inflação alta (7%), que será turbinada pelo tarifaço (até 40% na conta de luz) combinado a uma escalada tributária; Os juros sobem, desde a reeleição, assegurando a continuidade da recessão industrial. Nos últimos quatro anos, a indústria cortou 188 mil empregos, equivalente a duas Petrobras.

Com o PT atropelado na eleição (perdeu 43% da bancada de sindicalistas e ficou reduzido a 23% dos votos nos maiores centros industriais paulistas, que lhe deram vida 35 anos atrás), Dilma e Lula traçaram um plano. Desde então, o governo se canibaliza na luta com o principal aliado, o PMDB, que completa duas décadas de hegemonia no comando e no controle da pauta do Congresso.

Sobram incertezas sobre as contas corrompidas da Petrobras e seus efeitos no governo, no PT, no PMDB e no PP, entre outros.  A reunião ministerial é para anunciar “ajustes”. Faz sentido, pois o Orçamento da União tem sido drenado em gastos questionáveis, como aluguel de imóveis (R$ 1,2 bilhão), publicidade (R$ 219 milhões), celebrações (R$ 400 milhões) ou no trato e irrigação do jardim presidencial (R$ 1 milhão). 

Dilma, porém, tem a chance de desmentir o cético keynesiano John Kenneth Galbraith. Depois de uma temporada no governo Kennedy, ele repetia: reuniões governamentais são indispensáveis, quando não se quer fazer nada.

Fonte: José Casado