O
ministro Henrique Meirelles sempre sonhou com a Presidência desde que se
candidatou em 2002 a deputado. Eleito, pelo PSDB, ele não exerceu um dia de
mandato porque foi convidado pelo ex-presidente Lula para a presidência do
Banco Central. O presidenciável Meirelles atrapalha o ministro da Fazenda de
forma até imediata, porque pode prejudicar a aprovação das medidas para limitar
o déficit. O déficit
do ano que vem tem chances de ficar nos R$ 159 bilhões, mas para isso é preciso
que sejam aprovadas as medidas que foram enviadas esta semana pelo governo ao
Congresso. São políticas que encontrarão a barreira da pressão dos funcionários
públicos e da pouca boa vontade dos parlamentares de comprarem essa briga em
época em que já se vive um clima de pré-campanha. Se Meirelles for visto como
um competidor para os partidos que pensam em lançar candidatos próprios, mesmo
da base, haverá menos interesse ainda em aprovar essas medidas. [Infelizmente, apesar do fracasso e desmoralização do Rodrigo Janot, como Denunciador-Geral da República, as acusações que apresentou contra o presidente da República Michel Temer conseguiram retardar a tramitação da reforma da Previdência (a mais urgente e necessária) o bastante para que qualquer discussão mais impactante só ocorra em 2018, situação que até petista consegue deduzir que por ser ano eleitoral, poucos parlamentares que vão se expor a favor de medidas que a maioria dos eleitores supõem, equivocadamente, prejudicar os brasileiros.
Lamentavelmente, os formadores de opinião insistem em não apontar que ou a Reforma da Previdência é realizada ou em breve APOSENTADORIA é algo que pertence ao passado.
O que fica difícil de entender é ser mais uma vez o funcionário público apontado como formador de uma das categorias contrárias as reformas, especialmente a da Previdência???
Lula na reforma que conseguiu expelir já ferrou o funcionalismo.]
Os
deputados terão que brigar com as muitas categorias de servidores em nome de
uma causa abstrata demais: evitar que o déficit supere R$ 159 bilhões. Não é em
nome do equilíbrio fiscal, é algo bem menos concreto. Como explicar isso para o
eleitor? Agora, um ingrediente a mais se soma ao problema: o fato de que no
comando dessas propostas, e da política econômica, está um ministro que diz que
sabe que é presidenciável. O
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi ministro da Fazenda de um
presidente que havia assumido depois de um impeachment, em época de crise
econômica, e, com uma boa equipe, montou um plano de saída da crise. A partir
dessa base se candidatou e se elegeu. Parece semelhante e não é. O Plano Real
criou uma situação que não se repete. As muitas diferenças de estilo, de
biografia dos presidentes aos quais serviram, da conjuntura econômica, tornam
as situações incomparáveis.
Meirelles
enfrentará agora o bombardeio de que é alvo todo candidato, principalmente
quando está no governo. Ele tem uma complicação a mais que é a de ter
trabalhado para o grupo J&F durante o período em que ficou fora do governo.
O perfil publicado pela revista “Piauí”, e escrito pela jornalista Malu Gaspar,
coloca mais uma vez essa questão em foco. E ela permanecerá numa corrida
presidencial porque precisa ser entendida. Em quatro anos, segundo a
reportagem, citando o BuzzFeed Brasil, ele ganhou R$ 217 milhões nas
consultorias às empresas privadas. Como se sabe o que ele ganhou em algumas
delas, como a Lazard, a KKR, a conclusão é de que ele teria recebido R$ 180
milhões da J&F, holding da JBS. Ele não confirmou nem desmentiu, mas disse
à jornalista que é “um valor até pequeno”.
Esse e
outros valores serão discutidos. O exato trabalho que executou no grupo
encrencado com a Lava-Jato também será analisado com lupa. Isso porque ele
admitiu ser presidenciável. Depois soltou uma nota para explicar em que
contexto falou nessa questão, mas são muitos os indícios e palavras soltas que
revelam que Meirelles permanece com o mesmo sonho que o levou a se candidatar
em Goiás. Meirelles
foi um bom presidente do Banco Central, ajudando o governo Lula a estabilizar a
economia após o salto cambial e inflacionário causado pela eleição do PT.
Durante os oito anos que permaneceu no cargo, várias vezes enfrentou o ataque
do partido que estava no poder, mas manteve a condução da política monetária
que achava a mais adequada, exigindo ter a independência que pedira ao então
presidente quando fora convidado.
Como
ministro da Fazenda de Temer, montou uma boa equipe e tem ajudado a melhorar a
situação da economia, apesar de a crise fiscal continuar sendo gravíssima. No
momento em que ele se coloca como candidato, tudo fica mais difícil, contudo.
Nos próximos meses, Meirelles precisa aprovar as medidas para manter o
Orçamento dentro dos limites que o governo estabeleceu e reagir às muitas
pressões dos políticos por liberações e facilidades na entrada do ano
eleitoral. O ministro, em notas nas últimas horas, tem tentado qualificar
melhor o que disse. Mas todos os que acompanham a sua vida sabem que ele há
anos sonha com a Presidência e pode estar convencido de que o momento é este.
Fonte: Coluna da Miriam Leitão - Com
Alvaro Gribel, de São Paulo