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terça-feira, 28 de junho de 2022

A última trincheira - Revista Oeste

Silvio Navarro

O avanço da esquerda no continente faz do Brasil, principal economia do cone sul, um ponto de resistência na luta pela liberdade


Apoiadores do candidato Gustavo Petro comemoram depois que ele venceu o segundo turno das eleições presidenciais em Cali, Colômbia | Foto: Andres Quintero/AP/Shutterstock
Apoiadores do candidato Gustavo Petro comemoram depois que ele venceu o segundo turno das eleições presidenciais em Cali, Colômbia | Foto: Andres Quintero/AP/Shutterstock
 
A última reportagem de capa de Oeste no ano passado tinha como título “América vermelha”. Alertava, em dezembro, para o avanço da esquerda como nunca no continente. Colômbia e Brasil eram as últimas trincheiras contra o populismo e o fim da liberdade na América Latina. Seis meses depois, só resta o Brasil.

No domingo passado, o ex-guerrilheiro Gustavo Petro foi eleito presidente da Colômbia, tingindo ainda mais o mapa geopolítico de vermelho. Esta é a primeira vez que a esquerda chega ao poder num território marcado por décadas de derramamento de sangue no combate a narcoguerrilheiros e cartéis de drogas. A Colômbia registra em páginas tristes da sua história nomes como o do megatraficante Pablo Escobar, das Farc (Forças Armadas Revolucionárias) e do M-19 (Movimento 19 de Abril).

É por participar do violento M-19 que Gustavo Petro ficou conhecido. Ele fazia parte do grupo, que surgiu na década de 1970, como outros tantos formados por jovens marxistas pelo mundo. Logo entrou no radar das autoridades, pelo uso de pistolas e fuzis. A fama do bando armado começou em 1974, na invasão do Museu de Bogotá, para roubar a espada de Simón Bolívar, um dos líderes da independência do país. Anos depois, quando Pablo Escobar resolveu se meter na política, a espada foi parar nas mãos dele. Seu filho, Juan Pablo, já afirmou que brincava com ela quando criança.

“A esquerda precisa cativar jovens idealistas que não têm memória do que aconteceu no passado”

O M-19 foi responsável por uma série de sequestros que terminaram em mortes. O episódio mais trágico ocorreu em 6 de novembro de 1985. A imagem retratada na primeira temporada da série Narcos, da Netflix, mostra um tanque do Exército posicionado diante do Palácio da Justiça — o STF colombiano. Dentro do prédio, estavam 35 terroristas em conluio com o cartel de Medellín. Cem pessoas morreram, entre elas 11 magistrados. Pablo Escobar queria eliminar documentos. O M-19, tomar o poder.

Os “meninos” de Lula
Para o Brasil e a economia global, a chegada de Gustavo Petro à Presidência assim como a de Gabriel Boric (uma espécie de Guilherme Boulos tatuado) no Chile pouco importam. São economias pequenas, pouco industrializadas e incapazes de competir com a produção agrícola de Mato Grosso, por exemplo. O que tem incomodado grande parte da sociedade é o radicalismo dessa ofensiva em bloco contra quem se opõe ao tal “progressismo”.

É como se fosse obrigatório estar engajado à agenda da esquerda para andar no compasso do mundo atual isso inclui linguagem neutra (o “todes” e suas esquisitices, que não constam no dicionário), feminismo exacerbado, LGBT, “racismo estrutural”, etc. A coisa piora quando essa cartilha esbarra em minimizar o banditismo. Chamou a atenção, por exemplo, o primeiro discurso de Gustavo Petro depois de eleito: “Quanta gente morreu, quantos estão presos neste momento? Quantos jovens acorrentados e algemados, tratados como bandidos simplesmente porque tinham esperança e amor?”. Ele se referia a homens que foram parar na prisão por sequestros e assassinatos.

“A esquerda precisa cativar jovens idealistas que não têm memória do que aconteceu no passado”, afirma Gustavo Segré, analista político e consultor econômico argentino. “Por exemplo, da corrupção. No caso de Petro, esses jovens só se lembram de que ele foi prefeito de Bogotá, mas não que foi guerrilheiro.”

Os jovens de Petro não são diferentes dos “meninos” citados recentemente pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em mais uma desastrosa fala eleitoreira de improviso. Ao lado do senador alagoano Renan Calheiros (MDB), contou que pediu ao então presidente, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 1998, que libertasse os sequestradores do empresário Abílio Diniz, em greve de fome na cadeia.

“Fui na cadeia, no dia 31 de dezembro, conversar com os meninos e falar: ‘Olha, vocês vão ter de dar a palavra para mim, vocês vão ter de garantir pra mim que vão acabar com a greve de fome agora e serão soltos”, disse Lula. “Eles respeitaram a proposta, pararam a greve de fome e foram soltos. E eu não sei onde eles estão agora.”

Lula disse não saber qual foi o destino dos “meninos”. Um deles matou um vigilante de banco no Chile em abril de 2020. Está preso.

O caminho para a revolução
São nessas manifestações que os líderes de esquerda latinos se parecem. Lula já lamentou publicamente a prisão de jovens por furtos de celulares. E escorregou ao dizer que o presidente Jair Bolsonaro “não gosta de gente, gosta de policial”. Uma das bandeiras de campanha do colombiano Petro era “acabar com a abordagem do proibicionismo” em relação às drogas.

O advogado e ex-deputado chileno José Antonio Kast afirma que seu país segue na mesma direção. Ele perdeu as últimas eleições para Gabriel Boric. O Estado de Direito tem de fazer valer a lei, ou a impunidade prevalece”, disse Kast a Oeste. “Não é só o narcotráfico que vai crescer, mas o mesmo se aplica ao ladrão de carros: se não for punido, no próximo assalto vai agredir o condutor. Se o militante ‘progressista’ acha que pode bloquear estradas porque nada vai acontecer, ele começa a incendiar e depredar.” O político conclui: “Começam a enxergar que é o caminho para uma revolução”.

Gabriel Boric, atual presidente do Chile, chegou a ser levado para uma delegacia em 2005. Foi fichado por furto, ao sair com um vidro de álcool escondido de um supermercado em Punta Arenas. Incendiar praças e vias públicas foi uma das marcas dos protestos que terminaram em vandalismo no Chile antes das eleições.

O consórcio sem juízo
Os discursos da legião de governantes latinos de esquerda e seus apoiadores ainda sugerem a ampliação de relações diplomáticas com as ditaduras da Venezuela, Nicarágua e Cuba. Também é uníssona a narrativa de que os mandatários de direita estão depredando a Amazônia. No Brasil, é pior. A essa, somam-se acusações de que o presidente Jair Bolsonaro estimula a criminalidade na área de selva e promove genocídio de índios. A agenda ambiental, devidamente manipulada, desponta como a favorita dessa geração que vota pela primeira vez.

Com exceção de Equador, Uruguai e Paraguai, democracias com pouca expressão global, a vizinhança tem outros movimentos de esquerda em curso. O principal deles foi a vitória de Andrés Manoel López Obrador num plebiscito para esticar seu mandato na Presidência mexicana até 2024. Na Argentina, nem a miséria nas ruas de Buenos Aires nem a inflação galopante de 60% tiram a hegemonia do “kirchnerismo socialista”, atualmente representado por Alberto Fernández.

México e Argentina são bons exemplos de países onde a imprensa hoje paga o preço por ter apoiado candidatos populistas de esquerda. O tiro saiu pela culatra. López Obrador não só tenta silenciar a imprensa local como tem aversão aos correspondentes estrangeiros de jornais norte-americanos, mesmo os alinhados à esquerda. Já atacou publicamente o New York Times e o Washington Post. Cristina Kirchner, a vice-presidente que manda de fato na Argentina, ficou famosa por tentar fechar jornais que a investigam — o Clarín foi o pior caso, mas não o único. A caçada é descrita no livro A Batalha Final de Cristina, do jornalista Daniel Santoro.

                                    A América do Sul vermelha

Tentar regular os meios de comunicação depois de eleito foi uma marca nos países vizinhos. Poderia servir de alerta ao Brasil, não fosse a militância sem maquiagem das redações da velha imprensa, unidas em um consórcio político sem juízo. Apesar das críticas diárias à mídia tradicional, o fato é que Jair Bolsonaro não tentou calar articulistas que desejam sua morte em páginas de jornais nem repórteres que acham normal chamá-lo de fascista e genocida. Paralelamente, o consórcio também aplaude a censura imposta pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a canais de direita na internet.

Em 2004, o governo brasileiro cancelou o visto do correspondente Larry Rohter, do New York Times. Tentou duas vezes estabelecer ferramentas de censura à imprensa, pelas mãos dos ministros Franklin Martins e José Dirceu, ambos ex-guerrilheiros de esquerda. O presidente era Lula — o candidato do consórcio. 

Com reportagem de Cristyan Costa

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Silvio Navarro, colunista - Revista Oeste