Com alta do consumo, projeções para expansão do PIB em 2020 podem superar 2%
Após um longo período de letargia, em que a atividade econômica ficou
acomodada num ritmo de crescimento próximo a 1% ao ano, os indicadores
mais recentes sugerem aceleração —ainda que modesta. Os sinais mais positivos têm vindo do varejo e do setor de serviços em
geral. No terceiro trimestre, as vendas no comercio, incluindo
automóveis e construção, cresceram 1,4% ante o trimestre anterior, ou
5,6% em termos anualizados.
O ritmo deve continuar sólido nestes últimos meses do ano com a liberação dos saques do FGTS. Considerando a melhora também em outros setores, o indicador de
atividade do Banco Central mostrou alta de 0,9% no período
julho-setembro, o equivalente a 3,6% se a cifra for anualizada. Também a criação de empregos parece engatar tendência mais favorável. O
Caged, que mede a abertura líquida de empregos com carteira assinada,
mostrou 70,8 mil novas vagas em outubro.
Embora em ritmo ainda longe de satisfatório, o emprego cresceu de forma
generalizada, em serviços, comércio, indústria e construção civil. Em 12
meses, o saldo positivo chega a 562,1 mil postos. [ainda não é o ideal, mas, o suficiente para colocar o número de desempregado um pouco abaixo dos 12.000.000 - número carregado de simbolismo de uma queda.
Destaque-se que o desalentado e subempregado é antes de tudo um desempregado,com isto ele é contado duas vezes - no rol dos desempregados ao qual é somado o número dos desalentados ou subempregados e com isto ele é contado duas vezes.] É verdade que a pesquisa do IBGE nos domicílios —que captura todas as
formas de emprego, não apenas as formais, e também indicadores de
desalento e precariedade— sugere um quadro menos favorável.
No terceiro trimestre, o desemprego permaneceu elevado, abarcando 12,5
milhões de pessoas, ou 11,8% da população ativa, quase o mesmo patamar
do ano passado. Mostra-se que o 1,45 milhão de novas vagas em 12 meses
são em sua grande maioria (73%) informais. Para reduzir subemprego e informalidade, um ou dois trimestres mais
positivos decerto não bastam. As repetidas decepções devem servir de
alerta para análises mais otimistas. Feita a ressalva, desta vez há mais
consistência.
Vão ficando para trás os efeitos de choques que prejudicaram a retomada,
como a greve dos caminhoneiros de 2018, a incerteza a respeito das
reformas e até o impacto da recessão argentina, que subtraiu 50% das
exportações industriais brasileiras para o país vizinho. Por fim, há a politica monetária. Com juros hoje em 5% ao ano e
perspectiva de novas reduções, estima-se que haverá considerável impulso
para a economia em 2020 —mesmo que a queda da Selic ainda não se
reflita plenamente no custo do crédito para pessoas físicas e pequenas
empresas.
Tudo considerado, se não houver uma crise internacional grave ou novos
ruídos políticos vindos do governo de Jair Bolsonaro, as projeções para a
expansão do Produto Interno Bruto em 2020, hoje próximas a 2%, podem
subir aos poucos nas próximas semanas.
Editorial - Folha de S. Paulo