Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador Morro da Providência. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Morro da Providência. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Uma aula da fantasia oligárquica

O teleférico do Alemão seria um retrato do futuro, mas tornou-se uma amostra das conexões do andar de cima

Num ridículo episódio de caipirice cosmopolita, ao passear no teleférico do Complexo do Alemão, Christine Lagarde, diretora do Fundo Monetário Internacional, disse que estava se sentido “numa estação de esqui” dos Alpes. A doutora achou que viajara ao futuro, mas estivera a bordo das maquinações do passado e das empulhações do presente. Em breve, o teleférico será operado pela empresa de Tiago Cedraz, filho do presidente do Tribunal de Contas da União, o veterinário e ex-deputado Arnaldo Cedraz.

A obra custou R$ 253 milhões e foi inaugurada duas vezes (em 2010 e 2011) sem que o serviço estivesse em plena operação. Funcionando, ele reduz para 19 minutos uma caminhada que pode durar até duas horas. Quando madame Lagarde esteve nos Alpes cariocas, o governo do Rio já começara a atrasar os repasses para a manutenção do serviço, e a concessionária se desinteressara pela renovação do contrato, dispensando alguns funcionários. O colapso financeiro do Rio já havia começado.

No mundo da fantasia, dera tudo certo no andar de cima. As empreiteiras Odebrecht, OAS e Delta orgulhavam-se da obra. A Delta foi apanhada nas traficâncias do bicheiro Carlinhos Cachoeira e foi declarada inidônea pela Controladoria-Geral da União. A OAS, apanhada na Lava-Jato, está em recuperação judicial. A empresa Supervia, filhote da Odebrecht, ficou com a exploração do serviço.

À época, Lula, Dilma, Sérgio Cabral e Pezão saciaram-se na publicidade. Sobrou um teléferico para ser operado. Essa, a parte que exige trabalho e não rende propaganda, tomou outro curso, o dos serviços públicos para o andar de baixo. Às vezes o teleférico funcionava num horário proibitivo para quem precisava pegar no batente de manhã cedo.

A SuperVia desistiu da operação e devolveu a maravilha à Viúva. O repórter Ítalo Nogueira revelou que o governo do Rio concluiu a licitação para escolher a nova operadora do teleférico do Alemão. Venceu-a uma empresa do advogado Tiago Cedraz, criada em abril passado. Sem licitação, a prefeitura do Rio já entregara a Cedraz a operação de outro teleférico, menor, no Morro da Providência.

Ricardo Pessoa, um dos empreiteiros presos pela Lava-Jato, contou ao Ministério Público que deu R$ 1 milhão a Tiago para ajudar na liberação de um contrato de R$ 2 bilhões para obras da usina nuclear de Angra 3. Pessoa pagava também R$ 50 mil mensais ao escritório do advogado para cuidar de seus pleitos. Ele confirma ter trabalhado para a UTC, mas nega ter tocado em propinas.

Tiago Cedraz tem 33 anos e diplomou-se em 2006. Entre 2009 e 2013, formou um patrimônio imobiliário avaliado em R$ 13 milhões, mais um jatinho Cessna de dez lugares. Teve um conversível vermelho, mas seu pai fez com que o devolvesse. Vive em Brasília, e seu escritório acompanha 35 mil processos. Em 182 atuou no Tribunal de Contas. Em julho, a Polícia Federal visitou-o, cumprindo um mandado de busca e apreensão. Cedraz informa que criou a empresa Providência Teleféricos “quando surgiu a oportunidade de participar das concorrências”.

Quando madame Lagarde for esquiar nos Alpes, poderá perguntar se há por lá algum teleférico que tenha passado por tantas peripécias, com personagens tão pitorescos.

Fonte: Elio Gaspari, jornalista - O Globo




quinta-feira, 1 de outubro de 2015

O 'santo' não era mais tão santo - Os PMs erraram ao tentar forjar a cena do crime. Apresentassem os fatos: o suspeito esboçou reação e foi usada a força necessária para neutralizarsária

Eduardo: de coroinha na igreja ao envolvimento com o tráfico

Adolescente morto tinha abandonado a escola em 2014, no 9º ano do ensino fundamental

Caçador de pipas, coroinha da igreja, adolescente vaidoso e “vapor” do tráfico.

Eduardo Felipe Santos Victor foi tudo isso, conforme contaram, na quarta-feira, amigos e parentes do jovem de 17 anos, que teve o destino selado na véspera, num beco do Morro da Providência, vítima de policiais que tentaram forjar um confronto.  Pintinho ou Felipe da Provi, como ele se identificava no Facebook, cresceu na comunidade oriunda da primeira favela do Brasil. Habilidoso para recuperar pipas caídas e subir em mangueiras, tornou-se conhecido no lugar.

Outra diversão do rapaz, tricolor, era o futebol. A bolinha de gude, mais uma. Fez primeira comunhão na Paróquia Santa Catarina de Alexandria. E, na Igreja de Santa Rita de Cássia, virou coroinha. Mas a candura acabou com o tempo.  Numa família de oito irmãos, Eduardo Felipe parou de estudar em meados do ano passado. Cursava o 9º ano na Escola Municipal Calouste Gulbenkian, na Cidade Nova. Até que sua mãe, Patricia Santos, entrou em contato com a unidade para avisar que o filho não voltaria mais, alegando que ele não conseguiria conciliar os estudos com o trabalho.

Amigos reconhecem, no entanto, que o garoto se envolveu com o tráfico. Na quarta-feira, num vídeo na internet, o adolescente aparecia supostamente vendendo drogas, e o comando da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Providência confirmou que ele vinha sendo monitorado.  Antes do desfecho de terça-feira, foram três anotações criminais: por tráfico de drogas, injúria e ameaça. — Ele era tão bom que fiquei surpresa quando entrou para o tráfico. Acho que subiu à cabeça dele o fato de se sentir adorado e importante — contou uma vizinha de Eduardo, uma adolescente de 16 anos.

Apesar de estar envolvido com o crime, o jovem não deixava de participar de festivais de pipa na favela.  — Seria fácil recuperá-lo. Tinha boa índole — lamentou outro amigo da família, Fabrício Santos.

Fonte:  O Globo