O custo da reputação de uma grande empresa
Manipulação de até dois dólares por barril nos contratos produzia fortunas
Brasil, Estados Unidos e Suíça avançam numa investigação conjunta de
corrupção que tende a resultar numa reforma das práticas do comércio
mundial de petróleo, alimentos, minerais e metais. No alvo estão as
transnacionais Glencore, Vitol, Trafigura, Mercuria e Gunvor. Juntas,
controlam quase 25% dos contratos no comércio global de commodities. Nos EUA, o Departamento de Justiça, a Comissão de Valores Mobiliários
(SEC, na sigla em inglês) e a Comissão de Negociação de Futuros de
Commodities (CFTC) se uniram às Procuradorias do Brasil e da Suíça na
apuração de pelo menos 17 casos.
É a mais ampla investigação no setor desde os anos 80, quando o então
promotor de Nova York Rudolph Giuliani saiu à caça de Marc Rich,
fundador da Glencore. Rich acabou condenado a três séculos de prisão, o
dobro da pena do ex-governador do Rio Sérgio Cabral. Fugiu, perdeu
metade da fortuna, mas morreu ainda bilionário em 2013. Não voltou aos
EUA, mesmo perdoado pelo presidente Bill Clinton. A etapa brasileira da investigação avança com delações de executivos
relatando subornos em troca de vantagens em contratos da Petrobras.
Escritórios da estatal em Houston, Londres e Nova York negociavam em
média 400 mil barris de combustíveis por dia, a preços variáveis. Em
apuração sobre contratos com Glencore, Trafigura e Vitol, a Petrobras
afirmou à Justiça que não possui registros em papel ou eletrônico sobre
os negócios, feitos durante 15 anos seguidos de maneira informal, sem
qualquer controle. A manipulação de até dois dólares por barril nos contratos produzia
fortunas, rateadas entre funcionários e políticos (PT, MDB,
Progressistas, antigo PP, PL , ex-PR, e PSDB).
Glencore, Vitol e Trafigura são três vezes maiores que a Petrobras. Os
prejuízos potenciais às suas reputações são imensuráveis —por causa de
Rich, a Glencore já foi obrigada a se dividir. Somente para juntar a
papelada exigida pelos EUA, a Glencore gastou em média R$ 620 mil por
dia no segundo semestre do ano passado, informa no balanço anual.