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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Palestinos, um povo sem pátria e sem direitos - Guga Chacra

Meu pai, filho de libaneses, nasceu no Brasil e é brasileiro. 
Meus filhos nasceram nos EUA com pais brasileiros e são americanos. Afinal, tanto os EUA como o Brasil seguem a vertente de jus solis para concessão da nacionalidade. Isto é, se você nasceu nesses países, automaticamente terá a nacionalidade. 
Ao mesmo tempo, filhos de americanos e brasileiros nascidos no exterior mantêm o direito à cidadania. 
Por este motivo, meus filhos têm também a cidadania brasileira mesmo sendo de Nova York. 
Seria a aplicação do jus sanguinis, ou direito por sangue à nacionalidade.
Algumas nações, no entanto, aplicam apenas o jus sanguinis na quase totalidade dos casos, ignorando o jus solis. É o que ocorre no Líbano. 
Eu, que sou neto de libaneses, tenho o direito à cidadania libanesa mesmo sendo de São Paulo. 
Uma pessoa de origem palestina da minha idade nascida em Beirute não tem o direito a ser cidadão libanês, a não ser em raros casos
O que se aplica a mim também vale para milhões de brasileiros que são descendentes de libaneses, independentemente da religião. No meu caso, até estive várias vezes no Líbano.  
Mas alguns descendentes no Brasil jamais pisaram em Beirute e ainda assim têm mais direitos do que um refugiado palestino que nasceu e cresceu em Sídon, Trípoli ou na capital libanesa
Isso porque seus antepassados nasceram do outro lado de uma fronteira artificial criada por franceses e britânicos após o colapso do Império Otomano. Como o avô deles era de Haifa e não de Zahle, não são aceitos como cidadãos do Líbano. 
 
Estas pessoas de origem palestina ficam restringidas a viver em campos de refugiados e enfrentam restrições para trabalhar em uma série de profissões
 O argumento libanês para não conceder cidadania a esses palestinos nascidos no Líbano é de que, primeiro, isso afetaria a balança sectária libanesa, na qual o poder se divide entre cristãos de diversas denominações, xiitas, sunitas e drusos. 
Em segundo lugar, porque, na visão libanesa, essa é uma questão a ser resolvida entre Israel e Autoridade Nacional Palestina, pois esses refugiados têm origem no que hoje é território israelense.
 
Israel, por sua vez, concede a cidadania a qualquer pessoa nascida no país desde que um dos pais seja cidadão israelense. 
Isso não se aplica a palestinos nascidos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, que são controladas e ocupadas ilegalmente por Israel.  
Já judeus residentes nos assentamentos na mesma Cisjordânia são cidadãos israelenses. 
Filhos de israelenses nascidos no exterior e todos os judeus que imigrarem para Israel também têm o direito à cidadania. 
Mas cristãos e muçulmanos (e seus descendentes) nascidos em vilas palestinas que tenham sido expulsos ou deixado o que hoje é Israel em 1948 ou vivam sob ocupação na Cisjordânia e Faixa de Gaza não têm direito à cidadania israelense e tampouco a um Estado independente. 
 
Portanto, os palestinos no Líbano, Cisjordânia e Faixa de Gaza (além dos na Síria e Egito) são, sim, refugiados porque não são cidadãos dos países ou territórios ocupados onde vivem.  
Caso houvesse uma Palestina independente ou eles virassem cidadãos libaneses, israelenses e sírios, a situação seria resolvida. 
Palestinos no Chile, por exemplo, são chilenos e não são considerados refugiados. 
Mais jus solis e menos jus sanguinis. Quem questiona a existência de refugiados palestinos deveria ver as leis de cidadania no Líbano, Israel e Síria.  
Se fosse como no Brasil, não haveria problemas. 
Filho de palestino, libanês ou israelense nascido no Rio é brasileiro. Assim que deveria ser.

Guga Chacra, colunista - O Globo

 

 


domingo, 7 de janeiro de 2024

A insensatez abunda - Percival Puggina

          A exigência de visto para entrada no Brasil de turistas procedentes do Canadá, da Austrália e dos Estados Unidos começa a valer a partir do dia 10 de janeiro.

O governo brasileiro é pilotado por pessoas com cabeça de militante de centro acadêmico
O pessoal preserva suas saudosas memórias da UNE e mantém seus automáticos alinhamentos antiamericanistas, anticapitalistas e anti-imperialistas. 
Prefere o impávido e exitoso modelo cubano ao do inimigo ianque, tornando inevitável à preservação da honra nacional que a reciprocidade se impusesse: ou os brasileiros são dispensados do visto nesses três países ou vamos exigir visto dos turistas deles!
 
A moçada já grisalha, mas com o cérebro ainda deitado no colchão do centro acadêmico, ficou eufórica: “Agora eles vão ver o que é bom para a tosse!”. Só que o prejuízo será nosso. 
A medida vai afetar o setor turístico porque embora a entrada de canadenses e australianos seja inexpressiva, a de norte-americanos chegou próxima dos 500 mil no ano de 2023.
 
O topete e a presunção desaparecem quando nos propomos uma simples questão: quantos cidadãos desses três países tentam permanecer clandestinamente no Brasil? Ah, pois é
E quantos brasileiros, você conhece que já estão vivendo nos EUA, no Canadá e na Austrália.? Ah, pois é.
 
Aliás é bom que o fã clube nessa turma também saiba: o Brasil está longe de ser considerado um país atrativo no grande negócio do turismo internacional. 
Vir ao Rio de Janeiro, por exemplo, é turismo de aventura, tipo Gaza em versão dietética, e os criminosos fazem questão de proporcionar seus espetáculos na “safra” de verão, reforçando a mensagem que diz – “Não venham!”. 
Então, quando tudo corre bem, o Brasil recebe 6% do número de turistas que visitam a França ou a Espanha e 10% dos turistas que vão à Nova Iorque. E olha que temos espaço para acomodar nossos visitantes!

A insegurança em que vivemos foi cuidadosamente cultivada por sucessivos governos de esquerda que viram a criminalidade como agente da revolução social, a ser paparicada como se parceira de causa fosse. Nossa atual condição de pária internacional em virtude das parcerias do petismo com governos criminosos só veio complicar mais a situação.

O turismo brasileiro fica, então, na grande dependência dos glúteos femininos rebolando nas praias e no carnaval. A insensatez abunda.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

 

sábado, 11 de novembro de 2023

EUA e França aumentam pressão sobre Israel contra mortes de palestinos

Presidente francês pediu que o país 'pare de bombardear bebês e mulheres' e secretário de Estado americano afirmou que 'palestinos demais foram mortos' [a mortandade, o 'abate',   cruel e covarde,  de civis indefesos tem que parar - é inconcebível que a pretexto de se defender de um ataque ocorrido há 34 dias, Israel continue matando civis inocentes e desarmados, incluindo, sem limitar, mulheres e crianças.
Essa manifestação de opinião, a exemplo das anteriores, é feita SEM VIÉS IDEOLÓGICO, considerando apenas RAZÕES HUMANITÁRIAS.]
 
Os Estados Unidos e a França, que são aliados de Israel, elevaram a pressão sobre o país nesta sexta-feira, 10, pelo crescente número de palestinos mortos no conflito contra o Hamas. 
Segundo o Ministério da Saúde da Palestina, que é controlado pelo grupo, mais de 11.000 pessoas morreram — incluindo mais de 4.500 mil crianças — desde 7 de outubro.

Em entrevista à BBC, o presidente da França, Emmanuel Macron, pediu que Israel “pare de bombardear bebês e mulheres em Gaza”, dizendo que “não há nenhuma razão e nenhuma legitimidade” para isso.

Ele afirmou que líderes e agências que participaram de um encontro sobre a crise humanitária na guerra em Paris na quinta chegaram à conclusão de que “não há outra solução senão uma pausa humanitária, primeiro, depois um cessar-fogo, que permita proteção aos civis que não têm nada a ver com terroristas”.

Macron seguiu, dizendo que a França condena os ataques do Hamas a Israel, que deixaram mais de 1.200 mortos, mas concluiu dizendo que “não há justificativapara os bombardeios de civis em Gaza.

Mais cedo nesta sexta, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, subiu o tom pela primeira vez ao comentar o conflito, ao afirmar que “palestinos demais foram mortos. Muitos que sofreram nessas últimas semanas, e nós queremos fazer todo o possível para evitar danos a eles e para potencializar a ajuda que chega a eles”.

Nesta quinta, a Casa Branca afirmou que o governo de Israel concordou em pausar operações militares no norte de Gaza por quatro horas diárias. Segundo o porta-voz do conselho de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, as pausas permitiriam que pessoas deixassem o local pelos dois corredores humanitários.

A situação humanitária em Gaza vem se deteriorando dia após dia desde o início do conflito, quando Israel deu início aos bombardeios à região. Agências humanitárias internacionais vêm repetindo os pedidos para cessar-fogo. Nesta sexta, o diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS) Tedros Adhanom, disse ao Conselho de Segurança da ONU que uma criança é morta a cada dez minutos em Gaza e que a região está “à beira do colapso”.

Mundo - Revista VEJA


domingo, 5 de novembro de 2023

O Brasil não está no círculo das nações que dão as cartas no mundo

 Geopolítica é para profissionais

Assistimos à intensificação da tensão entre nações, característica de uma guerra fria agravada. Isso não é uma novidade, mas o quadro é complicado por dinâmicas econômicas contraditórias nos EUA, China e Europa. 
Paralelamente, a guerra na Ucrânia se desenrola com uma cascata de efeitos secundários que reverberam globalmente — quadro agravado pelo conflito em Israel.
 
 

 O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, em reunião do Conselho de Segurança da ONU (30/10/2023) (ONU/Divulgação)

Deparamos com circunstâncias sem precedentes que podem trazer consequências sérias ao Brasil. Estamos à beira de uma transformação da guerra fria em curso em conflito de proporções globais, considerando a inclinação para a beligerância e a imprevisibilidade dos líderes atuais.

A atual conjuntura guarda paralelos com a década de 1930, ecoando a máxima de que a história tende a se repetir — embora como uma espécie de paródia. 
Para o Brasil, os impactos de um conflito global seriam desastrosamente superiores aos da II Guerra. 
A interconexão global e a interdependência econômica amplificadas deixam-nos em posição mais vulnerável.
 
No período pré-guerra, o Brasil vacilou antes de se posicionar ao lado dos Aliados contra o Eixo. 
 Hoje, observa-se um aparente desvio do país em direção a uma política externa reminiscente do Terceiro Mundo, com um alinhamento mais próximo aos interesses chineses e russos. 
Esse movimento gera questionamentos: por que tomar tal direção?

“Em um contexto complicado, o país oscila entre um protagonismo ilusório e ações relevantes”

Nossa economia está atrelada em grande medida ao comércio de commodities com a China, conferindo a esse parceiro uma influência considerável nas relações comerciais. 
Além disso, nossa dependência dos insumos russos, especialmente fertilizantes e diesel, restringe nossa capacidade de adotar postura mais assertiva com esse parceiro estratégico. 
Simultaneamente, enfrentamos críticas e uma espécie de perseguição por parte dos países europeus no que tange às questões ambientais.
 
A diplomacia dos EUA, marcada pela confusão há algum tempo, carece de narrativa coesa e ferramentas eficazes para reforçar sua presença institucional no Brasil. 
Washington parece nos tratar como “não prioridade”, relegando ao setor privado as relações com o país.

Em um contexto complicado, o Brasil oscila entre um protagonismo ilusório e ações efetivamente relevantes, como as tentativas de mediar um cessar-fogo em Gaza. O país não demonstra o peso de uma grande potência nem atua como tal em um cenário mundial onde a dissimulação e a desinformação são estratégias geopolíticas corriqueiras.
 
A biografia Putin, de Philip Short, revela a intricada teia da geopolítica ao narrar as manobras do líder russo desde o colapso da União Soviética. 
No trabalho de Short, que cobre os principais acontecimentos desde a queda do Muro de Berlim até a invasão da Ucrânia, o Brasil, para o bem ou para o mal, é mencionado apenas uma vez em um contexto singelo: nossa abstenção em uma votação de resolução da ONU em 2011.
Essa menção isolada reflete a posição do Brasil no xadrez geopolítico. Mesmo ostentando o status de uma das maiores economias do mundo, detendo vastos recursos naturais e sendo um dos principais produtores de alimentos, não ascendemos ao círculo das nações que dão as cartas no palco mundial.[para fechar o rol - autêntico e até condescendente -  que aponta as falhas do Brasil na disputa por um desejado, e inalcançável, protagonismo mundial, ainda fazem o L e elegem um Lula presidente, trazendo ao picadeiro  um ministério em que mais de 95% dos integrantes são SUMIDADES EM NADA.
Lula se imagina um estadista, mas, ainda não sabe diferenciar apupos de aplausos, da mesma forma que a primeira dama considera ser apalpada o mesmo que apupada.] 
 
 
 

Publicado em VEJA,  edição nº 2866, de 3 de novembro de 2023

 

sábado, 9 de setembro de 2023

A perseguição religiosa chegou de vez ao Brasil - Gazeta do Povo

Vozes - Crônicas de um Estado laico
 

Intolerância

Casal que não gostou de música com teor religioso insultou e depois agrediu motorista de aplicativo em Minas Gerais.| Foto: Melonemond/Pixabay

Já falamos aqui que o laicismo não tem nada a ver com o Estado laico e se caracteriza por um movimento de expurgo da religião do espaço público, limitando-a à residência dos fiéis e a suas igrejas. 
 Por outro lado, o Estado laico se caracteriza pela separação entre o Estado e o fenômeno religioso, garantindo liberdade de atuação de cada um, em suas respectivas esferas de competência, permitindo que os fiéis vivam sua vida, no público e no privado, de acordo com as suas crenças. 
A laicidade possui variações, desde a norte-americana, que se caracteriza pelo wall of separation between church and State, até a colaborativa, na qual este “muro” não existe, possibilitando a colaboração do Estado com a igreja e vice-versa, um reflexo da ideia tomista e escolástica de que a fé e a razão devem andar juntas.
 
No Estado laico as pessoas não são laicas; a maioria delas tem uma fé e a exerce em casa, na igreja e no espaço público, ou seja, onde quer que elas estejam. O Estado tem uma postura neutra de não interferir e nem se relacionar com a religião, como nos EUA. 
Em outras situações, o Estado tem uma conduta cooperativa, de auxiliar a igreja, sobretudo a principal, como acontece na laicidade italiana por meio do Acordo de Villa Madama, com a Igreja Católica.  
Temos, ainda, o Estado que é colaborativo com o fenômeno religioso e possui uma atitude benevolente e positiva com todas as fés, colaborando com elas em prol do interesse público – é o caso brasileiro, como diz o artigo 19, I da Constituição.
 
Em nenhum desses exemplos há uma conduta negativa do Estado para com a religião. Essa conduta é típica de países laicistas, que bebem da fonte francesa, onde religiosos perdiam suas cabeças e freiras eram estupradas por não concordarem com o regime da fraternidade francesa do século 18 e a imposição de sua religião positivista. 
O Brasil, como já dito, não é laicista; basta olhar para sua bandeira e ver nela a Cruz de Cristo; temos os feriados religiosos, nomes de estados e cidades em homenagens a santos, referências religiosas na heráldica das maiores cidades brasileiras e por aí vai. 
 Entretanto, existe um movimento cada vez maior de pessoas laicistas no Brasil. Pensam elas: “Já que a história do Brasil, os símbolos nacionais, a Constituição, o ordenamento jurídico e tudo o mais têm uma atitude simpática com a religião, especialmente o cristianismo, e já que infelizmente existem liberdade religiosa e Estado laico colaborativo por aqui, serei eu o laicista; vamos censurar algum padre ou pastor, fechar alguma igreja, e processá-los todos nem sei pelo quê!”

    No Estado laico as pessoas não são laicas; a maioria delas tem uma fé e a exerce em casa, na igreja e no espaço público, ou seja, onde quer que elas estejam

Esse pensamento se popularizou não só entre indivíduos, mas também entre grupos ativistas. O caso mais recente é de uma motorista de aplicativo de caronas, de 27 anos, que foi vítima de agressão verbal e física durante uma viagem entre um bairro de Belo Horizonte e Contagem (MG), de acordo com informações divulgadas pelo portal R7. 
Os agressores, um jovem de 25 anos e uma mulher de 22 anos, teriam iniciado o ataque após questionar a religião da motorista e proferir xingamentos devido à música que tocava no rádio do veículo. A motorista solicitou que o casal desembarcasse do carro em frente à Unidade de Pronto-Atendimento JK, na cidade de Contagem, mas os passageiros, em vez de seguir a solicitação da motorista, teriam iniciado a agressão física. 
Um espectador tentou intervir para proteger a vítima e impedir a continuação da agressão. 
A Guarda Civil Municipal de Contagem, que estava posicionada nas proximidades da unidade de saúde, foi alertada pelos gritos de socorro e testemunhou o crime, corroborando a versão apresentada pela motorista.

Eis uma aplicação do pensamento laicista francês: “você não pode escutar essas músicas religiosas em um transporte público, mesmo que o carro seja seu; e, já que você insiste, vou descer-lhe a porrada”.

Uma reflexão sobre o caso
A agressão, em qualquer uma de suas formas, seja ela física, psicológica ou verbal, é algo profundamente lamentável e merece ser condenada veementemente. 
O caso envolvendo a motorista de aplicativo em Minas Gerais, insultada devido à música religiosa que estava ouvindo e, depois, agredida fisicamente, lança um alerta preocupante sobre os crescentes casos de intolerância na sociedade. Intolerância que se manifesta pelo pensamento segundo o qual, “já que o Estado tem uma postura positiva com a religião, vamos nós persegui-la”.
 
A intolerância, antes restrita a xingamentos e manifestações nas redes sociais, parece estar ganhando espaço na forma de violência física no cotidiano das pessoas. 
O fato de um casal de passageiros ter insultado a motorista por sua escolha musical é inaceitável, ainda mais quando a música está ligada à crença de quem a está ouvindo e que, ainda por cima, é o proprietário do carro. 
O desdobramento dessa situação, que culminou na necessidade de a motorista pedir que os agressores deixassem o veículo, seguido de agressão física, torna o caso ainda mais grave.

    Quando a intolerância atinge o ponto de agressão física devido a diferenças religiosas ou à escolha de uma religião específica, temos um claro ataque aos valores democráticos e à coexistência pacífica na sociedade

Este incidente ressalta a importância da liberdade religiosa e da tolerância em uma sociedade pluralista. A liberdade religiosa é um princípio fundamental em sociedades democráticas, que garante a todos o direito de praticarem sua religião ou crença, no público ou no privado; não se limita apenas à liberdade de culto, mas também engloba a liberdade de expressão e manifestação de suas crenças.
Portanto, é crucial que todos os cidadãos compreendam e respeitem a diversidade religiosa e cultural que enriquece nossas comunidades, podendo evidentemente discordar com relação a dogmas, práticas e liturgias, mas sem suprimir o direito do outro, muito menos agredi-lo. A disseminação do que é conhecido como “marxismo cultural”, que expande a luta de classes a diversas outras formas de divisão, está começando a mostrar seus efeitos mais alarmantes, minando a coesão social e prejudicando a convivência harmoniosa entre os indivíduos, fragmentando totalmente a sociedade.

Expressamos nossa solidariedade à motorista de aplicativo e desejamos sua recuperação emocional e física. Esperamos que as medidas legais adequadas sejam tomadas para responsabilizar civil e criminalmente os agressores, de acordo com as evidências apresentadas no devido processo legal. Mais do que nunca, é essencial que a sociedade reafirme seu compromisso com a liberdade religiosa, garantindo que todos possam viver em paz, independentemente de suas crenças.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

Thiago Rafael Vieira, colunista - Gazeta do Povo -
Crônicas de um Estado laico

 

quinta-feira, 6 de julho de 2023

No Brasil, as cotas serviram para acabar com a universidade - Bruna Frascolla

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Gazeta do Povo - VOZES

 Progressismo

Milton Santos no Roda Viva. Um egresso da Universidade Federal da Bahia dos tempos em que ela era uma universidade de elite.| Foto: Reprodução do Youtube/Roda Viva

As cotas raciais caíram na sua terra natal, os EUA, graças a uma decisão da Suprema Corte. Como o Brasil é uma espécie de quintal dos EUA, em tese seria de esperar que caísse aqui também, e pelos mesmos moldes: decisão do STF
Nos EUA as grandes decisões morais são tomadas pela Suprema Corte afastada do povo; no Brasil, idem, só que por um STF que é conhecido demais por boa parte do povo.
 
Longe de mim saber o que está acontecendo nos bastidores dos EUA, mas num curto espaço de tempo caíram dois pilares do progressismo: a impossibilidade de proibir o aborto e a possibilidade de usar a raça como critério de admissão
Foram juízes indicados por Trump. Por que essas decisões saíram agora e não antes? Não sei. Haverá uma crise interna na tecnocracia dos EUA, ou tais decisões estavam previstas? Não sei.

De todo modo, é preciso observar que as cotas raciais do Brasil e dos EUA são bem diferentes e atendem a propósitos distintos. Nos EUA, as recém-extintas cotas serviam ao propósito de colocar o negro em posição inferior.  

No Brasil, as cotas serviram ao propósito de destruir a universidade pública.

    Na expressão de Sowell, o negro fica sempre mismatched (descasado) em relação à turma. É mais fácil dizer que as quotas nos EUA desenharam um sistema que garantia ao negro o posto de burro da sala.

Comecemos pelos EUA. O país tem um vestibular nacional único chamado SAT, do qual o nosso ENEM é imitação
Tal como aqui, instituições diferentes têm notas de corte diferentes – e as notas de corte das quotas são diferentes das notas de corte normais. 
O SAT é uma prova criada para refletir o QI. Digamos que um branco e um negro tenham o QI 100: o negro de QI 100, graças às quotas, ia para uma sala onde os brancos tinham um QI superior ao seu, enquanto que o branco de QI 100 ficará entre pares – sentindo-se superior, porém, ao cotista de QI inferior que, graças à política de quotas, era negro. 
Na expressão de Sowell, o negro fica sempre mismatched (descasado) em relação à turma. É mais fácil dizer que as quotas desenharam um sistema que garantia ao negro o posto de burro da sala. 
A única possibilidade de escapar disso seria ter uma nota altíssima, que colocasse qualquer um (independente da cor) no curso com a nota de corte mais alta de todas. Mas aí seria, naturalmente, exceção, já que nem todos podem estar no topo do pódio. A menos que esteja no topo do pódio, o negro sempre estaria na posição de inferioridade intelectual entre os colegas.
 
A polêmica obra The Bell Curve alegava que o QI decide o sucesso profissional e financeiro de um indivíduo nos Estados Unidos. 
Essa é uma afirmação bastante parcimoniosa, já que lá o diploma importava muito, e o acesso ao diploma era mediado pelo QI
Um efeito colateral previsível, inclusive, é o sucesso dos orientais, que costumam se sair melhor em testes de QI e açambarcam as vagas nas melhores universidades – que passaram então a fazer provas de personalidade para excluir os orientais, aflitos com a “sobre-representação” (o excesso) de orientais mais ou menos como os alemães se afligiam com a “sobre-representação” de judeus nas universidades.  
Se a obra The Bell Curve estiver correta, a política de cotas serviu precisamente para que o QI de um indivíduo negro fosse obstado pela sua raça.

Se as cotas raciais dos EUA eram anti-negro, podemos dizer que as cotas no Brasil – raciais ou não – são anti-universitárias.  A implementação das quotas aqui se deu no quadro mais amplo do Reuni, o Plano de Reestruturação do então ministro da Educação Fernando Haddad. Uma das primeiras medidas foi substituir a pluralidade de vestibulares locais por um exame único nacional: o ENEM, que deixou de ser uma avaliação do Ensino Médio e passou a ser o SAT brasileiro.

Diferentemente dos EUA, o Brasil até hoje não tem uma classificação racial clara e burocrática da sua população. Antes das cotas e depois das cotas os negros entraram na universidade sem usar cotas. À época da implementação das cotas, tentou-se criar um sistema de identificação racial de todas as crianças ainda no ensino básico (Demétrio Magnoli registrou isso na coletânea Divisões Perigosas). 
No sistema vigente, quem pleiteia uma vaga de quotas raciais precisa passar por um tribunal racial, que irá aprová-lo ou não. 
Ser considerado negro por uma banca não é garantia de nada; cada tribunal tem autonomia para dar um veredito diferente, de modo que a cada vestibular se pode ganhar, do Estado, uma classificação racial diferente. Há nesta Gazeta uma matéria preciosa detalhando o funcionamento de tal instituição-jabuticaba.

    No caso brasileiro, as cotas são uma seleção negativa de QI.

Quem viveu a mudança do vestibular para o ENEM há de se lembrar que uma das promessas do novo método de acesso era acabar com o decoreba para criar uma prova que qualquer pessoa inteligente e bem alfabetizada pudesse responder só com base no texto. 
Eu tenho memória privilegiada nesse quesito porque peguei os anos finais do vestibular como método de acesso à UFBA e era filha de professora de colégios particulares prestigiosos. Então eu me lembro bem disso. 
E uma prova que não precisa de decoreba porque pessoas inteligentes resolvem é isto: seleção segundo o QI. No caso brasileiro, seleção negativa de QI.
 
As federais hoje reservam incríveis 50% das vagas para as cotas. Seja você um branco rico que estudou em escola de elite, ou um preto pobre que estudou numa escola pública ruim, se você tirar uma nota boa no ENEM, você não entra por cotas e preenche as vagas de acesso livre, ou seja, a outra metade das vagas. 
Só se você não conseguir uma nota boa, é que vai usar suas cartas junto à burocracia – cartas essas que incluem a raça, mas não se limitam a ela; e que são variáveis de universidade para universidade
Por exemplo, além das quotas estritamente raciais (que são julgadas por tribunais), pode haver quotas para quilombolas, índios de aldeia, deficientes… Criam-se assim sinecuras para atestar, driblando o tribunal racial da universidade, que tal aluno é um quilombola ou índio aldeado, comprando certificados de lideranças.

Seja como for, o Reuni acabou com o vestibular rigoroso que cobrava conhecimentos da história local e substituiu-o por uma prova centralizada que exige QI e conhecimento do politicamente correto… para destinar metade das vagas aos burros. Um curso é feito de professores e alunos. O Reuni se certificou de que a universidade pública deixasse de ser a universidade de elite. Foi sabotagem. Quem ganha com isso? Logicamente, as corporações transnacionais de uniesquinas, que têm dinheiro para comprar políticos. Mas os vilões mais em evidência são os demagogos de esquerda, os docentes apedeutas e os discentes oligofrênicos. São vilões reais, ainda assim, é preciso dar a eles a sua real dimensão.

A direita liberal aponta o funcionalismo como o grande ganhador. Esta é uma meia verdade. A parte do funcionalismo que já tinha emprego antes do Reuni não ganhou nada; é mais fácil ter perdido por causa do congelamento de salários.  
No entanto, como o Reuni inchou o funcionalismo, podemos dizer que a maior parte desse funcionalismo que está aí hoje de fato ganhou com a destruição da universidade, pois deve o emprego à abertura exagerada de concursos. 
Um dos meus primeiros textos para esta Gazeta foi justamente para explicar que concurso docente é tudo menos impessoal
Aí entrou um monte de lacrador uspiano nas federais do Brasil todo.
 
Mas o fato mais importante é que os docentes, enquanto classe, se enfraqueceram com o Reuni. 
O professor universitário não pode mais ter ares de aristocrata independente; a classe agora é mais numerosa, menos remunerada, menos inteligente e, sobretudo, menos autônoma, porque o ambiente institucional foi tomado pela esquerda lacradora.  
Os bons professores se autocensuram porque temem a administração e o linchamento dos alunos burros.


    O que resta à maioria da população é a dívida estudantil, um problema crônico dos EUA que Haddad vigorosamente importou para cá ao mesmo tempo em que destruía a universidade pública. Há quem creia que isso é coincidência.

O professor que ganhou com o Reuni é um insignificante. Outro insignificante que ganhou foi o rentista pobre, um tipo social novo, criado pelo liberalismo (“imposto negativo”), que não quer saber de trabalhar e vive catando auxílio aqui e ali. 
É tanta bolsa que os alunos de federal recebem que é constrangedor perceber que as reitorias agora só falam de dinheiro. Ninguém mais quer estudar.
 
O Reuni começou a ser implementado em 2008; lá se vão quinze anos
De lá para cá, as universidades públicas deixaram de ser cobiçadas pelas famílias de classe média e média alta. Agora, quem pode, paga para os filhos irem estudar em universidades particulares caras de São Paulo
E o pobre dedicado, que já perdeu a escola pública boa na década de 70, perdeu a universidade pública boa nos anos 2010
Não tem mais como ascender por meio da educação pública em seu estado de nascimento.
 
O que resta à maioria da população é a dívida estudantil, um problema crônico dos EUA que Haddad vigorosamente importou para cá ao mesmo tempo em que destruía a universidade pública
Há quem creia que isso é coincidência. Eu, não. A marcha globalista sobre as universidades é real; essa marcha é ligada ao mercado financeiro (Soros não é exatamente um funcionário público); e ao cabo o que ela conseguiu, em 15 anos, foi fazer uma mídia amestrada comemorar a redução da carga horária do curso universitário mais antigo do Brasil.
 
De um lado, a esquerda americanizada diz que é racismo esperar que gato, cachorro, papagaio e periquito não entrem nas universidades públicas e combate a ideia de que deva existir uma elite intelectual no país. 
De outro, vulgata liberal da direita repete que os problemas do Brasil se resumem ao Estado, sem atentar à destruição da vida universitária brasileira concomitante ao ingresso do capital transacional no ensino superior.  
Meus senhores, sem investimento do Estado em pesquisa, não haveria agronegócio no Brasil! 
Vocês estão trocando Paolinelli por Lemann e acham bonito. 
É preciso superar essa terra arrasada e reerguer a ciência nacional.
 

 Bruna Frascolla, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


terça-feira, 4 de julho de 2023

Pastor que sugeriu morte de gays abre nova guerra entre direita e esquerda

Flávio Dino, Gleisi Hoffmann e Fabiano Contarato pedem punição de André Valadão por fala em culto; 

Flávio Bolsonaro e Feliciano veem perseguição religiosa

A polêmica – para dizer o mínimo – fala do pastor André Valadão, da Igreja Batista da Lagoinha, durante um culto em Orlando (EUA), na qual sugere a morte de pessoas LGBT+, detonou uma nova guerra entre direita e esquerda na política brasileira. [Opinião de um leigo  no juridiquês, e católico
- o fato ocorreu na Flórida, EUA, e certamente pelas leis locais não é crime; ao que sabemos quando é solicitada àquele país a extradição de um brasileiro ela só é concedida pelos norte-americanos se o fato pelo qual o brasileiro foi condenado,  seja considerado, pelas leis de lá, crime. Caso contrário sem extradição. Por analogia, não tem sentido o Brasil condenar alguém por ter praticado,  em solo estrangeiro, um ato que pelas leis locais NÃO É CRIME; e, 
- salvo engano nosso, no Brasil, quando certos comentários são  proferidos no interior de uma igreja durante cerimônia religiosa não constituem crime.]

Durante a pregação religiosa no domingo, 2, Valadão falou sobre “recomeçar do zero” a sociedade em relação às pessoas LGBT+. “Aí Deus fala ‘se eu pudesse, matava tudo e começava tudo de novo, mas já prometi para mim mesmo que não posso, então agora está com vocês'”, declarou o pastor na cerimônia transmitida pelas redes sociais.

Vários parlamentares de esquerda foram à tribuna do Congresso e ao Ministério Público Federal denunciar o líder religioso. “Por tudo que sou, pelo que acredito, pela minha família e por tudo que espero para a sociedade, não posso me calar diante do crime praticado por André Valadão. Vamos representar criminalmente para que ele responda por manipular a fé e incitar a violência”, diz o líder do PT no Senado, Fabiano Contarato, que é gay. Na representação que fez ao MPF, ele pede a prisão de Valadão. “Pastor bolsonarista Andre Valadão tem que ser punido por incitar o ódio e ataques contra a comunidade LGBTQIA+. Não dá pra normalizar esse absurdo. Mentiu sobre Lula fechar igrejas nas eleições e continua praticando crimes. Não pode usar o nome de Deus para pregar a violência”, postou a deputada Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT [agora uma a toa, ops... atéia, quer dar palpites em assuntos de religião? Finge esquecer que o comunismo é  intimamente ligado ao demônio.].

“O suposto cristão que propaga ódio contra pessoas, por vil preconceito, tem no mínimo dois problemas.  Primeiro, com Jesus Cristo, que pregou amor, respeito, não violência contra pessoas. ‘Amar ao próximo como a si mesmo’, disse Jesus. Segundo, com as leis, e responderá por isso”, anunciou o ministro da Justiça, Flávio Dino.

Outros parlamentares, como a deputada Erika Hilton, primeira mulher trans eleita para a Câmara dos Deputados, também foram ao MPF denunciar o pastor.

Defesa
Do outro lado do espectro ideológico veio a defesa de Valadão. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), disse nesta terça-feira, 4, que o que está acontecendo é perseguição religiosa. 
 “Aos que estavam duvidando… a perseguição chegou dentro das igrejas, é o início do fim do resto que ainda tínhamos de liberdade religiosa”, disse, ecoando uma pregação que a direita fazia na campanha contra Lula.

O pastor e deputado Marco Feliciano (PL-SP) foi à tribuna da Câmara para dizer que Valadão é “um homem íntegro, um homem de família”, que “tem sido atacado covardemente pela extrema imprensa, que insiste em distorcer as falas, separam palavras” para “destruir a imagem e a reputação das pessoas”.

Criticou deputados de esquerda que atacaram Valadão, inclusive o pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ), a quem chamou de “canalha”. Tentou, ainda, mostrar que Valadão citava um trecho bíblico relativo ao dilúvio e atacour qualquer outro tipo de união que não seja entre homem e mulher. “Não tem como as pessoas transigirem nesses assuntos”. E mandou um aviso a quem quer enquadrar Valadão. “Não se pode meter em assuntos de igreja”, disse.

Na segunda-feira, André Valadão, que está em Orlando, na Flórida, gravou um vídeo reagindo à polêmica e também disse ter sido mal interpretado. “Nunca será sobre matar pessoas, Deus nos livre deste terrível pecado”, declarou o pastor em vídeo publicado nas redes sociais, em que também se diz vítima de censura e “constrangimento”.

Blog Maquiavel - Revista VEJA


segunda-feira, 19 de junho de 2023

Poder das Big Techs - Distopia real: Amazon desliga casa de cliente por denúncia de racismo infundada

Ideias - Roberta Ribeiro

Cliente ficou sem serviços da Amazon por uma semana - Foto: Eli Vieira com Midjourney

A Amazon cortou os serviços de IoT (ou internet das coisas, que conecta funções dentro de um lar, como acender e apagar as luzes, abrir as portas, ligar o som, a televisão, entre outras) de um cliente com base em acusações de racismo feitas por um entregador da Big Tech. 
O caso ocorreu com Brandon Jackson, de Baltimore, nos EUA, no dia 25 de maio, quando descobriu que as funcionalidades oferecidas pela empresa haviam sido interrompidas. “Esse incidente me deixou com uma casa cheia de dispositivos que não respondem, uma Alexa silenciosa e muitas perguntas”, disse Jackson em um texto comentando o caso.
 
Ao entrar em contato com a Amazon, Jackson foi informado, em tom acusatório por um executivo da empresa, de que sua “campainha”, que emite respostas faladas automatizadas, havia feito um comentário racista durante entrega realizada no dia 24 de maio. 
A denúncia foi recebida com surpresa: Jackson, que trabalha como engenheiro para a Microsoft, é negro, assim como sua família. Segundo ele, “parecia altamente improvável que fizéssemos tais comentários”.

A situação ficou ainda mais estranha quando Jackson perguntou o horário em que o suposto incidente tinha ocorrido — 18h05. Segundo ele, era praticamente impossível que alguém de sua família tivesse feito o comentário, pois não havia ninguém em casa naquele momento. Foi então que recorreu às imagens gravadas pelas múltiplas câmeras de sua propriedade para comprovar o que realmente havia acontecido.

A análise das filmagens não deixou dúvidas e ele confirmou que nenhum comentário havia sido feito. A campainha apenas havia emitido uma resposta automática, dizendo: "com licença, posso ajudá-lo?” para o entregador. Os vídeos também mostraram que, no momento da resposta, o motorista se afastava da porta usando fones de ouvido – o que, segundo Jackson, deve ter levado à má interpretação da mensagem.

Mesmo depois de enviar as evidências do equívoco cometido para a Amazon, Jackson continuou com os serviços bloqueados. “Deixe-me ser claro: apoio totalmente a adoção de medidas pela Amazon para garantir a segurança de seus motoristas. No entanto, questiono por que todo o meu sistema de inteligência doméstico foi inutilizado durante a investigação interna. (...) O envio de evidências em vídeo de vários ângulos logo após minha ligação inicial com o executivo pareceu ter pouco impacto em sua decisão de desativar minha conta”, relatou. Os serviços de Jackson foram restabelecidos no dia 31 de maio, uma semana após o corte.

Segundo Jackson, primeiramente, ele acreditava que “alguém podia ter tentado acessar sua conta repetidamente, causando um bloqueio. Eu uso um endereço de e-mail bastante antigo para minha conta da Amazon e é plausível que uma senha antiga tenha sido exposta em uma violação de dados”, comentou. Mas, mesmo tendo diversos dispositivos de segurança em operação, como o uso de senhas fortes e de dupla verificação, nenhuma dessas medidas é suficiente para barrar o próprio provedor de cortar o fornecimento de seus serviços.

Resposta da Amazon
Em resposta à Gazeta do Povo, a porta-voz da Amazon, Simone Griffin, disse que “trabalhamos muito para oferecer aos clientes uma ótima experiência e, ao mesmo tempo, garantir que os motoristas que entregam pacotes da Amazon se sintam seguros. Nesse caso, descobrimos por meio de nossa investigação que o cliente não agiu de forma inadequada e estamos trabalhando diretamente com o cliente para resolver suas preocupações e, ao mesmo tempo, procurar maneiras de evitar que uma situação semelhante aconteça novamente.”

Ao ser questionada sobre que ações são consideradas inadequadas a ponto de causar a suspensão ou restrição de serviços, quais são as regras e políticas da empresa para avaliação de tais situações, bem como onde essas diretrizes estão listadas e disponibilizadas para o público, a Amazon apenas reiterou a resposta já citada.

Controle doméstico
Jackson disse que o incidente o levou a questionar sua relação com a empresa, após quase “uma década de lealdade”. “Estou pensando seriamente em interromper o uso dos dispositivos Amazon Echo e alertarei outras pessoas sobre esse incidente. Essa dura experiência abriu caminho para buscar um sistema de assistência doméstica mais personalizado”, talvez utilizando outros dispositivos, completou.

Em vídeo postado sobre o caso, o Youtuber norte-americano Louis Rossmann, que tem uma empresa de conserto de aparelhos eletrônicos e que conta com 1,8 milhões de inscritos em seu canal, expressou sua indignação diante do fato. “Esse é o problema quando você dá muito controle para uma companhia e, particularmente, quando o controle que você dá é para dispositivos dentro da sua casa conectados aos servidores deles. Você pode, literalmente, se encontrar em uma situação na qual alguém que fez uma acusação infundada (...) comprovadamente falsa, faça com que a infraestrutura da sua casa pare de funcionar”.

Em uma atualização do texto no qual relata sua história, Jackson disse que não ficou uma semana no escuro, exatamente por também ter seus dispositivos vinculados a servidores locais, ao invés de depender somente da Amazon. Ele ainda disse esperar que sua experiência leve a empresa a reformar e repensar sua abordagem para lidar com tais situações no futuro. “É essencial que os clientes se sintam confiantes na segurança e confiabilidade de seus serviços, especialmente quando esses serviços são parte integrante das funcionalidades de suas casas. É hora da Amazon adotar uma abordagem mais focada no cliente para a resolução de problemas e  de conflitos”, concluiu.

Roberta Ribeiro - Coluna Gazeta do Povo - Ideias

 

quarta-feira, 12 de abril de 2023

Lançamento do Pix nos EUA traz preocupações mundo afora - Daniel Lopez

Gazeta do Povo - VOZES

“PIX” norte-americano revela tendência global preocupante

 

Imagem ilustrativa.| Foto: Pixabay

Com três anos de atraso se comparado ao Brasil, os Estados Unidos lançaram mês passado o FedNow, o “Pix americano”, o seus sistema de pagamentos instantâneos. 
Você poderia ficar muito alegre com isso, celebrando nosso pioneirismo na tecnologia de pagamentos instantâneos. Em tese, fomos mais rápidos que o país mais poderoso do mundo. 
 Mas eu não vejo grandes motivos para comemoração, uma vez que, para o cidadão atento, algo estranho está em jogo.

Em outubro de 2020, uma matéria do InfoMoney abriu meus olhos para essa questão. O sobretítulo era bem sugestivo: “Sem papel”. O título trazia um insight ainda mais importante: “Pix é o primeiro passo do BC no caminho da substituição da moeda em espécie pelo real digital, dizem especialistas”. Ou seja, ficava claro que o Pix não era um fim em si, mas uma ponte, uma fase de transição, o início de um processo para uma realidade completamente distinta, não apenas para as transações financeiras, mas para a economia em geral e a sociedade como um todo.

O mundo inteiro caminha no sentido da substituição do dinheiro físico pelo dinheiro digital. Um cenário distópico, porém, cada vez mais real.

Para aqueles que estavam pensando que o Brasil havia sido pioneiro e singular nessa ideia “inovadora”, trata-se, na verdade, de uma tendência global. Ou, melhor dizendo, uma agenda mundial. Cada vez mais temos visto um fortalecimento dos bancos centrais ao redor do planeta, conquistando presença crescente na sociedade. 
O mundo inteiro caminha nesse sentido da substituição do dinheiro físico pelo dinheiro digital. 
Essa mudança viabilizará o monitoramento da pegada de carbono, o estabelecimento do crédito de carbono e, consequentemente, do crédito social. Um cenário distópico, porém, cada vez mais real.

Parece inevitável o avanço do poder estatal sobre o poder social. Se você ainda não percebeu isso, faço um convite para ler um artigo de fevereiro de 2020, com o título: “Federal Reserve apresenta Fedcoin, sua criptomoeda ameaçadora”. No texto, há uma frase do economista Robert Wenzel que abriu meus olhos sobre toda essa agenda de mudança: “Uma moeda digital criada pelo Fed poderia ser um dos passos mais perigosos tomados por uma agência do governo. Colocaria, nas mãos do governo, a possibilidade de criar uma moeda digital com a capacidade de rastrear todas as transações em uma economia — e proibir transações por algum motivo. Em termos de liberdade individual no futuro, isso seria um pesadelo”. Fica a reflexão.

O fato de os Estados Unidos terem inaugurado o seu Pix mostra que seu processo de substituição do dinheiro físico pelo dinheiro digital (Fedcoin) está em processo acelerado. Por aqui, a crise sanitária e o auxílio emergencial criaram um cenário muito propício para a inauguração do Pix
No caso norte-americano, a justificativa surgiu posteriormente, com a chamada “desdolarização” do mundo, junto ao fim do “petrodólar”.
 
A digitalização das moedas mundo afora pode parecer algo muito empolgante para os chamados early adopters, ou seja, aqueles que adotam novas tecnologias ou novos produtos antes dos demais. 
Porém, o processo inspira preocupação naqueles que entendem o rumo que as coisas têm seguido em todo o planeta. 
No Pix, fomos pioneiros. Mas, quanto ao segundo passo a inauguração da moeda digital controlada pelo Banco Central – quem você acha que será o primeiro: Brasil ou EUA? Deixe sua opinião nos comentários. Que Deus nos proteja.

Daniel Lopez, jornalista e teólogo, autor de ‘Manual de Sobrevivência do Conservador no Séc. XXI’.-  Gazeta do Povo - VOZES
 

sexta-feira, 7 de abril de 2023

Uma cabeça baldia - Augusto Nunes

Revista Oeste

As frases reproduzidas em negrito atestam o fiasco da terceira largada
Luiz Inácio Lula da Silva, no Complexo Naval de Itaguaí, Rio de Janeiro | Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
 
 Luiz Inácio Lula da Silva, no Complexo Naval de Itaguaí, Rio de Janeiro - Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil 
“Eu posso dizê pra vocês que se juntá todas as campanha desde a proclamação da República por Floriano Peixoto… sabe… até a minha eleição, não se gastou metade do que o genocida gastou na campanha pra não deixa a gente voltá”, ensinou o presidente Lula 20 dias depois da posse, numa reunião com dirigentes de centrais sindicais. Na cabeça do Exterminador de Esses e Erres, portanto, não foi Deodoro da Fonseca quem anunciou em 15 de novembro de 1889 a queda do imperador D. Pedro II e o nascimento do novo regime, do qual seria o primeiro presidente. 
Foi Floriano Peixoto — que os livros de História teimam em apresentar como o vice que substituiria o titular a partir de 1891
Confundir o número 1 e o número 2 é coisa de deixar ruborizada até estátua equestre. Lula achou pouco. No mesmo janeiro, não perdeu a chance de errar por 67 anos a idade do sistema de governo que preside.

“O Orçamento secreto é a maior bandidagem já feita em 200 anos de história da República”, jurou o palanque ambulante. (Esqueça a perda da liderança do Petrolão no ranking mundial da ladroagem. Não repare no rebaixamento do Mensalão para o terceiro lugar. Faça de conta que o Orçamento secreto não segue vivo e viçoso na Praça dos Três Poderes, agora com o codinome “emendas de relator”.) 
Isso é truque de vigarista sem cura. 
Mais aflitivo é o claro enigma: como puderam tantos brasileiros devolver à cena do crime quem não sabe sequer quem proclamou a República, e aumenta para 200 anos a idade de uma senhora que acaba de completar 133? 
Para existir há dois séculos, a República precisaria ter nascido em novembro de 1822 (menos de dois meses depois da Independência do Brasil)
Para que fosse proclamada por Floriano Peixoto, o militar alagoano não poderia ter vindo ao mundo só em 1839 (com 17 anos de atraso). Cabeça baldia é isso aí.

Despejadas com igual desembaraço em quaisquer campos do conhecimento, tais sopas de letras confirmam que Lula 3 consegue ser mais inquietante que as versões anteriores. Não aprendeu nada, nem acha preciso: o tom das discurseiras identifica uma sumidade em tudo. Não esqueceu nada, nem esquecerá: tem pressa para vingar-se dos alvos do ressentimento anabolizado por 580 dias de cadeia. “De vez em quando, ia um procurador de sábado ou de semana, pra visita, pra vê se tava tudo bem. Eu respondia: ‘Não tá tudo bem, só vai estar bem quando eu fodê esse Moro’”, informou o rancoroso juramentado no meio de uma conversa com jornalistas companheiros.

Onde o Brasil que pensa vê 100 dias de conversa fiada, muito ministro e pouco plano, excesso de falatório e ausência de ideias, falta de sintonia e intrigas de sobra, Lula enxerga uma largada admirável

Perplexos com o chocante amadorismo da confissão, devotos de Lula se julgaram socorridos no dia seguinte pela operação da Polícia Federal que fulminou um plano arquitetado pelo PCC para assassinar o ex-juiz Sergio Moro (e outras autoridades condenadas pelos chefões da organização criminosa). A deputada Gleisi Hoffmann, presidente do PT, viu no episódio uma aula de civilidade e grandeza ministrada por Lula a seus algozes.  
Os sacerdotes da seita da missa negra festejavam a isenção admirável do estadista quando Lula sucumbiu à sede de vingança. “Esse plano do PCC é uma armação do Moro, mas quero ser cauteloso. Vou fazê algumas investigações, mas é visível que é outra armação do Moro”, desandou o presidente que durante a campanha louvara o desarmamento dos espíritos.  

A temporada na cadeia continua atormentando o único presidente brasileiro que virou presidiário. Na mesma entrevista em que revelou o que sonha fazer com o mais conhecido dos juízes que o condenaram, Lula seguiu caçando fantasmas. “Tenho consciência de que a Lava Jato fazia parte de uma mancomunação entre o Ministério Público brasileiro, a Polícia Federal brasileira e a Justiça americana, o Departamento de Justiça”, delirou confundindo o Poder Judiciário com o órgão que, nos EUA, equivale ao Ministério da Justiça.
 Em conversas reservadas, a CIA é incorporada ao pérfido complô internacional. O que buscavam os conspiradores? A resposta tem sido recitada com frequência nos últimos 100 dias: “Era pra destruir. Porque as empresas da construção civil brasileira estavam ocupando espaço no mundo inteiro”.   

Lula parece convencido de que é mesmo a alma viva mais pura do Brasil. Se é que cometeu algum deslize, por distração ou ingenuidade, foi absolvido pelo Supremo Tribunal Federal de todos os pecados — passados, presentes e futuros. “Fui vítima da maior injustiça da história do Brasil”, repete de meia em meia hora. Pelos próprios cálculos, lidera uma tribo de bom tamanho: “Tem muito inocente preso”, vive lastimando, ressalvando que nessa categoria não figura um único encarcerado nos presídios da Papuda e da Colmeia. Ele acha que todos os homens e mulheres capturados por ordem do ministro Alexandre de Moraes merecem envelhecer na prisão: “O que aconteceu no dia 8 de janeiro foi uma tentativa de golpe pra derrubá o meu governo. E golpista tem de sê preso. Era o que tinha de tê acontecido com os que participaram do golpe que derrubou a Dilma”. 

Se pudesse, Lula já teria trancafiado numa cela, entre outros, seu grande satã Sergio Moro, o ex-procurador e agora deputado federal Deltan Dallagnol (ambos pela eficiente condução da Lava Jato), o ex-presidente Michel Temer (pelo impeachment de Dilma Rousseff) e, claro, Jair Bolsonaro. 
Numa segunda leva, decerto entraria o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na mira de Lula desde o falatório de 6 de fevereiro: “Não é possível que a gente queira que este país volte a crescer com 13,75% de juro. Nós não temos inflação de demanda. É isso que eu acho que esse cidadão indicado pelo Senado tenha possibilidade de maturá, de pensá e de sabê como vai cuidá deste país”. 

Onde o Brasil que pensa vê 100 dias de conversa fiada, muito ministro e pouco plano, excesso de falatório e ausência de ideias, falta de sintonia e intrigas de sobra, Lula enxerga uma largada admirável. “O Brasil já recuperou seu prestígio no mundo e vai ajuda outros países a resolvê problemas e vivê em paz”, avisou em fevereiro, ao oferecer-se para acabar com a guerra na Ucrânia. Ao revelar a diretriz que seguiria, o mediador mostrou que entrara em campo visivelmente fora de forma. “Quando um não quer, dois não brigam”, pontificou o estadista de picadeiro. A nação invadida não queria guerra. Os ucranianos combatem em defesa do território, da liberdade e da vida. 

Enquanto não é convocado para lidar com barulhos estrangeiros, Lula se mete em tudo o que deveria ser confiado ao primeiro escalão. Se os 37 ministérios fossem preenchidos pelo critério da meritocracia, o presidente estaria zanzando pelo Brasil ou apresentando a Janja ditadores de estimação.[ele só não quer mais é ficar próximo Biden- que, todos lembram, não perdoa...]   
Como o portentoso saco de gatos ainda não decorou os ramais das secretárias, Lula trata tanto de miudezas — o que fazer para manter no emprego um ministro corrupto, por exemplo — quanto de buracos negros que nos governos anteriores preferia terceirizar.
Nestes 100 dias, ficou claro que no passado Lula repassava complicações econômicas a especialistas do calibre de Henrique Meirelles. Agora cuida disso pessoalmente. Entre uma ordem e outra ao estafeta Fernando Haddad, demonstra que também nesse ramo se considera doutor honoris causa. Confira o trecho de uma aula recente:

“Os livros de economia estão superados. Se o Estado é capaz de conviver com divida de 1,7 trilhão, que as pessoas devem à Previdência e à Receita, por que não pode convive com um pouco de subsídio para a pessoa pobre se tornar menos pobre, virar cidadão de classe média, poder virar um cidadão de padrão médio, e este país voltar a crescer. É preciso criar uma nova mentalidade sobre a razão da gente governar”.

Lula jura que terá de recomeçar do zero. Culpa de Bolsonaro, claro: “A economia brasileira não cresceu nada em 2022”, mentiu em janeiro, fevereiro e março. Sairia ganhando se trocasse de gabinete com o amigo Alberto Fernández: “A Argentina terminou 2022 numa situação privilegiada. Não apenas na economia, na política, mas também no futebol”
Por culpa de Bolsonaro, claro, o Brasil quase faliu e, na Copa do Mundo, não foi além das quartas de final. 
Só acertou na política, ao eleger um governante que, mesmo com o país à beira da falência, tem dinheiro para emprestar a caloteiros juramentados. O BNDES está aí para isso.

O clube dos cucarachas aguarda ansioso o recomeço da farra. Haverá doações em dólares até para os que não acertaram pendências antigas. Os três maiores devedores são a Venezuela (US$ 681 milhões, oficialmente), Cuba (US$ 226 milhões) e Moçambique (US$ 122 milhões). Como Lula já explicou a uma plateia de sindicalistas, de novo a culpa foi de Bolsonaro: “Os países que não pagaram é porque o presidente decidiu cortá relação pra não cobrá e ficá nos acusando. Tenho certeza que vão pagá, porque são todos países amigos do Brasil”.

A lista de clientes do Departamento de Propinas da Odebrecht confirma que Lula é o Amigo, com maiúscula, vive cercado de amigos que prezam o sentimento da gratidão e sabem externá-lo em espécie.  
São todos generosos na distribuição de dinheiro — desde que seja o extorquido dos pagadores de impostos. 
Os primeiros 100 dias foram pouco rentáveis. Logo veremos os efeitos decorrentes da síndrome de abstinência.

Leia também “Sherloques de picadeiro”

Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste