Há a possibilidade de o Hamas, o Irã e o movimento xiita libanês Hezbollah deflagrarem ações militares contra interesses de Israel e dos Estados Unidos em vários países
A provável declaração de Trump representaria um “beijo de morte” nas
perspectivas de paz, é o que acredita o professor da Universidade de
Belém e da Universidade de Al-Quds, o palestino Bishara Bahbah. “A
probabilidade de a violência se espalhar pelo mundo muçulmano estaria
praticamente garantida. Os territórios palestinos se acenderão em um
nível de violência jamais visto por Israel desde a primeira Intifada,
deflagrada em 9 de dezembro de 1987." O analista adverte que a medida
também fortaleceria atores radicais em todo o mundo. Ele não descarta,
inclusive, que o Hamas, o Irã e o movimento xiita libanês Hezbollah
deflagrem ações militares contra interesses de Israel e dos Estados
Unidos em vários países. Na noite de ontem, manifestantes queimaram
cartazes com fotos de Trump, em Belém, na Cisjordânia.
O iraquiano Alon Ben-Meir, professor de relações internacionais da
Universidade de Nova York e especialista em Oriente Médio, disse à
reportagem não crer que Trump anunciará a mudança da embaixada. “Ele não
fará isso, pois tal gesto criará uma reação negativa do mundo árabe e
dos muçulmanos. Se Trump quer que os palestinos prossigam na negociação
(de um acordo de paz) com os EUA, precisa desistir dessa ideia”,
comentou. “O que Trump pode dizer é que Jerusalém representa a capital
de fato de Israel e que retomará o processo de paz. Se mover a
embaixada, ele queimará as pontes entre os EUA e os mundos muçulmano e
árabe. Seria loucura e estupidez.”
Em entrevista exclusiva ao Correio, por e-mail, Saeb Erekat — atual secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e ex-negociador-chefe palestino no processo de paz — advertiu que o provável anúncio do presidente Donald Trump resultará em extremismo. anarquia e violação do direito internacional. “Isso certamente legitimaria as políticas israelenses na Jerusalém Oriental Ocupada”, afirmou, a partir de Ramallah, na Cisjordânia.
Como o senhor vê os planos do presidente Trump de reconhecer Jerusalém como capital do Estado de Israel?
Ele
expressou a intenção de fazê-lo. Nós acreditamos que este será um passo
muito negativo. De fato, é uma manobra que promoverá extremismo,
anarquia internacional, além de desrespeito pela lei internacional e
pelos direitos inalienáveis do povo palestino.
Então tal decisão incendiaria as tensões no Oriente Médio e levaria a retaliações diplomáticas por parte de nações árabes?
Isso
é precisamente o que desejamos evitar. Jerusalém é o coração da
Palestina, mas também do mundo árabe. Milhões de árabes, cristãos e
muçulmanos são sensíveis ao que ocorre na Cidade Sagrada. Não se trata
de ameaçar qualquer coisa, mas de analisarmos os fatos: o reconhecimento
da soberania de Israel sobre Jerusalém não seria apenas uma violação do
direito internacional e dos compromissos dos EUA com o processo de paz,
mas também seria atravessar uma linha vermelha para o mundo árabe e
para o resto de nossa região.
O senhor crê que essa ação legitimaria a ocupação israelense?
Sim,
isso certamente legitimaria as políticas israelenses na Jerusalém
Oriental Ocupada, incluindo demolições de casas, despejos, expropriações
de terra, revogações de documentos de identidade e expansão de
assentamentos coloniais ilegais.
Na sua opinião, Trump ainda poderia desistir desse gesto?
Não
sei, é uma boa questão para ele. O que eu diria é que, ao seguir
adiante com o reconhecimento de uma ilegalidade, ele estaria em
contradição com o seu objetivo declarado de alcançar um acordo em nossa
região. (RC)
Correio Braziliense