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sábado, 7 de novembro de 2020

Juiz da Suprema Corte dos EUA manda Pensilvânia separar votos enviados pelo correio

O Globo e AFP

Decisão será apreciada neste sábado pelo plenário e pode beneficiar o presidente Donald Trump 

[Talvez, por enquanto  apenas um provável talvez, a esquerda e seus apoiadores mais uma vez fracassem.
A Suprema Corte mandou separar os votos enviados pelo correio e se decidir que tais votos são inválidos - valendo  apenas os conferidos pelos  eleitores que compareceram às seções eleitorais - ou que sejam considerados apenas os presenciais e os enviados via postal (no caso destes,  valendo que chegaram ao destino até o dia das eleições, 3 nov 2020) abre espaço para que a decisão seja válida para todos os estados = TRUMP VENCE.]
Várias pessoas foram às ruas exigindo que todos os votos fossem contados Foto: Getty Images
Várias pessoas foram às ruas exigindo que todos os votos fossem contados Foto: Getty Images
O juiz Samuel Alito, da Suprema Corte dos Estados Unidos, determinou que votos recebidos na Pensilvânia após 3 de novembro sejam contados separadamente, de acordo com uma ação do Partido Republicano. Uma decisão colegiada dos nove juízes da Corte deverá ser tomada neste sábado. A quantidade de votos nesta situação, no entanto, é pequena e provavelmente não influenciará no resultado final, segundo imprensa americana.

Mesmo que Trump consiga uma improvável virada, ele ainda precisaria ultrapassar Biden na Geórgia, onde haverá uma recontagem devido à pequena margem entre os candidatos, e em ao menos mais um estado um dos estados onde a apuração ainda está pendente — Arizona, Nevada Carolina do Norte, para ter chances de se reeleger. Dos cinco estados, o presidente só lidera neste último.

A Pensilvânia é a mais provável fiel da balança das eleições americanas, cuja apuração se prolonga desde a noite de terça-feira. Com 96% dos votos apurados, Biden lidera com 49,6% dos votos, contra 49,1% de Trump. A vantagem do ex-vice-presidente, que ultrapassou Trump na manhã de sexta-feira, não para de crescer e deve continuar a se expandir, já que parte dos votos restantes são postais ou originários de redutos eleitorais democratas.

O secretário de estado da Pensilvânia já ordenara que todas as cédulas que chegassem entre quarta-feira, 4 de novembro, e sexta-feira, 6 de novembro, fossem separadas daquelas que chegaram até o dia da eleição, enquanto se aguarda um litígio em andamento, a pedido dos republicanos, para decidir a validade desses votos. "Dados os resultados da eleição geral em 3 de novembro de 2020, a votação na Pensilvânia pode muito bem determinar o próximo presidente dos Estados Unidos", disseram os republicanos. "Não está claro se os 67 conselhos eleitorais do condado estão deixando de lado as votações tardias".

Pela lei do estado, votos que chegassem até três dias após a eleição poderiam ser normalmente computados — extensão aprovada para garantir que atrasos no correio não impedissem que votos por correspondência entregues dentro do prazo fossem aferidos. Como os EUA não têm uma Justiça Eleitoral unificada, cada estado define suas próprias regras.[conforme o caso uma decisão da Suprema Corte  tem validade nacional; 

decisões monocráticas de grande repercussão, são proferidas em situações excepcionais e, de imediato,  são submetidas do plenário para decisão final.]

Em razão da pandemia de Covid-19, mais de 65,4 milhões votaram desta maneira em 2020 — em sua maciça maioria, eleitores do Partido Democrata. Diante disso, Trump tenta há meses pôr em xeque a lisura da modalidade, mesmo sem quaisquer evidências de irregularidade.Os ataques se consolidaram após Biden ultrapassar o presidente na disputa em uma série de estados disputados, consolidando-se como favorito para vencer a eleição. Como votos pelo correio levam mais tempo para ser apurados que os presenciais, modalidade mais popular entre os republicanos, já se esperava que as primeiras parciais mostrassem uma ilusória vantagem republicana e que os democratas ganhassem força com o tempo.

Diante da derrota iminente, o presidente Trump reiterou que contestará judicialmente os resultados nos estados em que a vitória de Biden ocorre por pequena margem  —  apesar de ele próprio ter vencido nos estados de Michigan, Wisconsin e Pensilvânia em 2016 por uma margem total de apenas 80 mil votos. Além da Pensilvânia, a campanha republicana entrou com ações judiciais na  quinta para suspender a contagem em Michigan, Geórgia e Nevada, além de recontagem em Wisconsin, e dois de seus pedidos já foram rejeitados pela Justiça.[nada ainda definido, mas os pedidos rejeitados foram por juízes singulares ou de instância inferiores.]

 O Globo e AFP

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Bons e maus sinais

Tudo indica que o deputado Rodrigo Maia será reeleito presidente da Câmara, uma boa notícia para a reforma da Previdência, pois ele sabe a importância dela e vai tentar ajudar na tramitação
 
A notícia ruim é que Renan Calheiros aparentemente tem chance de se reeleger à presidência da Senado se a eleição for fechada, em vez de aberta, como está decidido. [difícil qualquer prognóstico sobre decisão judicial - especialmente decisões do STF, situação em que o supremo ministro pode acordar pensando de uma forma, votar de acordo com o seu pensamento, ir lanchar e mudar o voto em 180º - mas, arriscando um palpite, chute mesmo: Dias Toffoli deve reconhecer que o assunto é 'interna corporis' de cada casa parlamentar = vale o regimento interno da Câmara e o do Senado = votação fechada.] A reforma da Previdência apresentada pelo antigo governo Temer provavelmente vai ser aproveitada para que se ganhe tempo na tramitação, mas as modificações que serão feitas precisarão ser aprovadas no Senado, a Casa revisora.
O senador Renan Calheiros está mais ligado à oposição, especialmente ao PT, [Renan está ligado a partidos que tem integrantes enrolados com a Justiça - afinal, Renan precisa de proteção mais concreta para não ser preso.
Afinal, a melhor proteção é uma PEC que proteja políticos criminosos;
tem só um pequeno detalhe: sem o apoio de Bolsonaro uma PEC do tipo não passa e Bolsonaro fará o que for necessário para que Lula e outros mofem na cadeia.
O Brasil é mesmo um país estranho, uma PEC abolindo direitos individuais não pode sequer ser apresentada, já uma concedendo direitos a bandidos pode.]   e é provável que atue para impedir a reforma, o que será prejudicial não apenas ao governo, mas ao país.
Políticos de partidos como PT, PDT e PP estão se armando contra a reforma da Previdência, como também contra as propostas do ministro Sérgio Moro para endurecer o combate à corrupção. Boa parte dos que apoiam Rodrigo Maia tende a ficar contra as medidas. O projeto de reforma da Previdência está amadurecendo, e tudo indica que será enviado no início de fevereiro ao Congresso juntando o aumento na idade mínima com a criação do novo sistema de capitalização, destinado a quem estiver entrando no mercado de trabalho.

Um erro político
O caso da promoção do filho do vice-presidente Hamilton Mourão a assessor direto do novo presidente do Banco do Brasil, o economista Rubem Novaes, é daqueles que devem ser colocados na conta do ônus do poder. Funcionário há 19 anos do banco, onde entrou por concurso, Antonio Rossel Mourão trabalhou no grupo de transição do governo, onde conheceram-se.
Segundo Novaes, “o Antonio me impressionou pela inteligência, competência e conhecimento do Banco”. Para ele, a pergunta que deve ser feita é “por que não tinha cargos ainda mais altos entre os executivos do Banco”. O presidente do Banco do Brasil lembra que tem três cargos de livre provimento em sua assessoria “para indicar pessoas de minha confiança e não consigo entender a estranheza da imprensa sobre o assunto, já que o critério de mérito foi rigorosamente atendido”.
Além do fato de que Antonio Rossell Mourão foi promovido ganhando três vezes o salário que tinha, não há nada de tecnicamente errado na sua ascensão, embora a insinuação de que foi prejudicado na carreira nas gestões petistas por ser filho de General, como o próprio vice-presidente reforçou ao dizer que, naquele período, competência e mérito não eram valorizados, não seja justificativa para compensações.
Nem mesmo a indicação pode ser classificada como nepotismo, pois segundo decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), ele só se caracterizaria se o filho do vice tivesse sido nomeado pelo próprio, para cargo na mesma instituição pública. Foi o caso, por exemplo, do filho do prefeito do Rio Marcelo Crivella, impedido de assessorar o pai. Embora o governo seja seu sócio majoritário, o Banco do Brasil é uma empresa de economia mista, tem ações na Bolsa de Valores, e pessoa jurídica própria, sem conexão com a União. A questão do ônus do poder é que continua de pé.
Mesmo que tenha competência para tal função, o critério de meritocracia inspirará dúvidas. Só o tempo dirá. Não seria justo que Antonio Mourão fosse prejudicado por ser filho de quem é, mas é evidente que o anúncio da nomeação foi negativo para o governo, dando margem a todo tipo de especulação. Um erro político, em suma, não um pecado mortal. Todo governo, de qualquer tendência política, sente-se incomodado com o acompanhamento implacável da imprensa, e seus membros consideram-se atingidos por críticas e denúncias.
A relação entre a imprensa e os governos foi conturbada pelos novos meios de comunicação de massa, inicialmente pela possibilidade de seus apoiadores usarem esses meios para pressionar jornalistas críticos. Sem falar nas fake news. Mais recentemente, com a ação direta do presidente Donald Trump, que resolveu enfrentar a imprensa através do twitter, e utilizar seus poderes para cercear o trabalho de quem não gosta. O presidente Bolsonaro [digamos que ainda não segue: mas, nada nem ninguém pode impedir a caminhada do Brasil rumo ao desenvolvimento econômico.]  segue o mesmo caminho.
Em vez de acusar a imprensa profissional de distorcer fatos com má intenção, seria melhor que desse entrevistas com possibilidades de contraponto, e não apenas através do twitter ou a quem está disposto a ouvi-lo sem contestação. Sempre que houver indícios de distorção maliciosa, que se processe o (ir)responsável. [sugestão justa e condizente, combina com o seu autor; o complicador é o presidente já concede entrevistas demais, o que está enrolando o meio campo.]
 
Merval Pereira - O Globo
 

sábado, 3 de novembro de 2018

Está tudo muito confuso, tá ok?

Boa comunicação faz parte da arte de bem governar, por isso o presidente eleito deveria migrar para outro estilo de transmitir suas ideias e decisões


O presidente eleito Jair Bolsonaro gosta de uma comunicação de frases curtas, vocabulário estreito, ideias simples e uma interjeição final. O seu “tá, ok?” costuma se seguir a ideias controversas e é posto muitas vezes como uma prévia interdição ao contraditório. Nessa primeira semana após a eleição tudo foi muito confuso. É natural. O governo nem começou. A decisão de barrar jornais numa coletiva mostra autoritarismo. A cena de Paulo Guedes e Sérgio Moro, na sexta-feira, desistindo da entrevista, em frente ao pelotão de jornalistas exibe o improviso.

Bolsonaro acredita na força do seu próprio canal de comunicação e se baseia no fato de ter sido com a mídia alternativa, criada pelo filho 02, que ele contornou a falta de recursos eleitorais tradicionais, como acesso ao fundo partidário e tempo de televisão. Só que agora tudo mudou. Ele é o presidente eleito e a boa comunicação faz parte de bem governar.  Após o primeiro turno, em vez de falar com os repórteres como fazem todos os candidatos que vencem essa etapa inicial, Bolsonaro fez um live no Facebook.  

Ao vencer o segundo turno, teve que fazer três falas de vitorioso para cumprir de forma incompleta o ritual democrático de qualquer eleição, que é se comunicar com o país após as urnas. Sua primeira fala foi ainda de conflito, via Facebook. Na segunda, que foi mais organizada pelo esforço dos órgãos de imprensa que se uniram para isso, ele preferiu ler um texto em que faltavam pontos importantes, como uma palavra indispensável aos eleitores que não votaram nele. Na terceira, Bolsonaro voltou ao Facebook para completar o que havia esquecido. No meio de tudo isso, uma oração, que seria normal sendo feita internamente, mas exposta como primeira cena do governante eleito parecia revogar a sadia separação entre Igreja e Estado, um dos primados da Reforma Protestante de 500 anos.

Tem havido ruído demais em todos os canais de comunicação. Na entrevista do Jornal Nacional, ele teve oportunidade de se comprometer com a imprensa livre e deu duas informações no sentido contrário. Primeiro, que pretende usar as verbas publicitárias como forma de punir e premiar segundo o critério do que considera ser o papel da imprensa. Segundo, que escolheu como primeiro alvo a “Folha de S.Paulo”.  Nas primeiras entrevistas que Bolsonaro deu na segunda-feira a várias televisões ele disse coisas que ecoavam à campanha e que não ajudam em nada nesse momento de olhar o futuro e governar. Ele afirmou à “Band” que não se arrepende de ter dito que a ditadura deveria ter matado mais, porque foram desabafos no contexto de um Congresso cheio de anistiados. [muita coisa ruim que aconteceu ao Brasil pós Governo Militar, teria sido evitada se muitos dos hoje 'anistiados', tivessem sido abatidos.] Justificou a censura com uma explicação inusitada: as matérias censuradas teriam “a palavra-chave para executar um assalto a banco, ou até mesmo uma autoridade em cativeiro”. Sobre a morte de opositores pelo regime, ele disse que “como tinha a lei de vadiagem, tinha que ter o documento”, e o “elemento” ia assaltar um banco, e por isso era morto. Ele tem direito a ter a sua opinião positiva da ditadura militar, mas em que serve, a esta altura, o uso dessas versões fakes para fatos históricos, como se estivéssemos na distopia orwelliana de um regime de força que reescreve o passado? O Brasil tem enormes dificuldades à frente e essa agenda deveria ocupar a mente do novo governante que saiu consagrado das urnas. Após ser eleito, ele deveria ampliar ao máximo o alcance do seu discurso. Afinal, isso aumenta as chances de sucesso do seu governo.

Se o clã Bolsonaro está convencido de que apenas os canais alternativos sob seu exclusivo controle serão suficientes para se comunicar está enganado. 
[Trump vai muito bem com sua postura e Bolsonaro foi eleito com ampla maioria. Algunsd ajustes podem ser necessários, mas nada importante, apenas retoques.] Não existe essa dicotomia de velhas e novas mídias no complexo mundo da comunicação atual. O presidente Donald Trump hostiliza parte da imprensa, elege veículos que não podem entrar em entrevistas, e usa o twitter para provocações agressivas. Bolsonaro pode estar escolhendo copiar esse modelo. Mas na sexta, os semblantes de perplexidade de Sérgio Moro e Paulo Guedes diante da natural pluralidade de perguntas da imprensa mostra que talvez eles precisem de menos improviso. Governar não é cavar trincheiras. A comunicação faz parte da arte de administrar bem o país.

Miriam Leitão, jornalista - O Globo
 

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Exemplo para o Brasil

Atentados malsucedidos foram fomentados, mesmo que indiretamente, contra pessoas e instituições ofendidas por Donald Trump

[Se tornou recorrente, tudo que acontece de ruim nos Estados Unidos, é culpa do Donald Trump - que está fazendo um excelente governo;

a moda também está vindo para o Brasil contra Jair Bolsonaro - que com as bençãos de DEUS será o próximo Presidente do Brasil a partir do próximo dia 28 - coisa errada o partido 'perda total' e seus sequazes atribuem a Bolsonaro.

Até mesmo uma resposta dada pelo filho do capitão a um interlocutor que fez uma pergunta sobre uma situação hipotética - só esta semana, o poste petista foi desmentido três vezes, de forma inequívoca, sobre FAKE NEWS que lanço contra Bolsonaro.]

A tentativa de explodir bombas nas casas dos ex-presidentes Bill Clinton e Barack Obama e na sede da rede de TV de notícias CNN é um bom exemplo para o Brasil no limiar de inaugurar um governo de extrema direita. Terrorismo não é novidade no cotidiano dos Estados Unidos. Atentados praticados por inimigos externos, como os ataques de 11 de setembro de 2001, ou por grupos de casa, como a explosão de Oklahoma City, são objeto de permanente e obsessiva vigilância da Inteligência e das forças policiais americanas.

Os atentados malsucedidos de ontem, contudo, têm outra característica. Foram fomentados, mesmo que indiretamente, contra pessoas e instituições sistematicamente ofendidas pelo presidente Donald Trump. Não falha um dia, desde que assumiu a Casa Branca Trump ataca sem trégua a imprensa, e sobremaneira a rede CNN e o jornal “The New York Times”. Os membros do Partido Democrata, dos ex-presidentes Clinton e Obama, também são objeto da fúria presidencial.

Trump chegou a dizer que os democratas apoiavam e poderiam estar por trás da caravana de refugiados centro-americanos que há dez dias marcham em direção à fronteira dos Estados Unidos. Há dois dias, a polícia explodiu um pacote-bomba enviado para a casa do bilionário George Soros. No início deste mês, Trump acusara Soros de financiar manifestantes que se mobilizaram contra a indicação do conservador Brett Kavanaugh para Suprema Corte.

Trump é um fomentador de ódio entre os americanos. [quem criou o 'nós contra eles' foi o presidiário Lula.] Os que se deixam convencer por sua retórica podem se tornar potenciais agressores de “inimigos” e, no limite, terroristas amadores capazes de fazer barulho como o que se ouviu ontem e na véspera. O pior inimigo dos Estados Unidos pode ser o seu principal líder, se levadas em consideração as suas seguidas manifestações de onde emanam rancor e espírito de vingança.

No Brasil, poderemos viver experiência que tem tudo para ser parecida. O candidato Jair Bolsonaro, líder das pesquisas e que está muito próximo de ser eleito presidente da República, destila seu ódio aos adversários, que não vê como competidores, mas como inimigos a serem varridos do mapa. Foi o que ele disse naquele discurso de domingo, endereçado aos manifestantes a favor da sua candidatura concentrados na Avenida Paulista.

Bolsonaro disse que “os vermelhos” (referindo-se ao PT e demais partidos de esquerda) se enquadram ou serão presos ou banidos do Brasil. Uma falácia, claro, mas muito perigosa. Ainda no primeiro turno, em Rio Branco, o candidato empunhou um tripé de câmera de vídeo como se fosse um arma e, apontando para frente, disse que era hora de “fuzilar a petralhada” do Acre. Sinal mais claro não há. Bolsonaro, eleito, terá de imediatamente moderar o seu discurso ou acabará criando monstros como aqueles que ontem tentaram explodir bombas em Nova York.

Não começou no domingo, nem no primeiro turno, Bolsonaro tem usado o discurso do ódio muito antes de se lançar candidato a presidente da República. Era olhado como figura exótica, ultrapassada, que não representava perigo para um país consolidado e de instituições sólidas. Muito mais do que uma vez, o deputado enalteceu a ditadura, a tortura e sempre banalizou a morte dos inimigos. Políticos ou militantes de esquerda, bandidos ou traficantes, são todos iguais aos olhos do capitão candidato.

Do outro lado da cerca, o PT também estimulou o ódio a adversários ao longo dos anos finais de seus quatro governos, sobretudo durante o período em que se encaminhou o impeachment da ex-presidente Dilma e a prisão do ex-presidente Lula. Os que defendiam a saída da primeira e o encarceramento do segundo eram chamados de fascistas, nazistas, entreguistas. Não escapou ninguém. Juízes, políticos, partidos, jornalistas, não importa, bastava não condenar o impeachment e a prisão para ser objeto da ira petista.

O Brasil piorou muito ao longo dos últimos anos. E tem tudo para caminhar ainda mais rapidamente para o fundo do poço. Não dá para imaginar o futuro governo apenas pela pauta econômica ou social. Estas agradam a uns e desagradam a outros. A qualquer uma o Brasil sobrevive, doído, mas íntegro. O problema é quando se alcança o nível da intolerância, onde adversários passam a ser inimigos. E inimigos que precisam ser eliminados.
P.S. O Brasil, cada vez menos inteligente e mais mal-humorado, ficou pior ontem. Morreu o jornalista Raymundo Costa.

Ascânio Seleme - O Globo
 


quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Declarar Jerusalém capital de Israel é "beijo de morte" na promessa de paz

Há a possibilidade de o Hamas, o Irã e o movimento xiita libanês Hezbollah deflagrarem ações militares contra interesses de Israel e dos Estados Unidos em vários países

A provável declaração de Trump representaria um “beijo de morte” nas perspectivas de paz, é o que acredita o professor da Universidade de Belém e da Universidade de Al-Quds, o palestino Bishara Bahbah. “A probabilidade de a violência se espalhar pelo mundo muçulmano estaria praticamente garantida. Os territórios palestinos se acenderão em um nível de violência jamais visto por Israel desde a primeira Intifada, deflagrada em 9 de dezembro de 1987." O analista adverte que a medida também fortaleceria atores radicais em todo o mundo. Ele não descarta, inclusive, que o Hamas, o Irã e o movimento xiita libanês Hezbollah deflagrem ações militares contra interesses de Israel e dos Estados Unidos em vários países. Na noite de ontem, manifestantes queimaram cartazes com fotos de Trump, em Belém, na Cisjordânia.

O iraquiano Alon Ben-Meir, professor de relações internacionais da Universidade de Nova York e especialista em Oriente Médio, disse à reportagem não crer que Trump anunciará a mudança da embaixada. “Ele não fará isso, pois tal gesto criará uma reação negativa do mundo árabe e dos muçulmanos. Se Trump quer que os palestinos prossigam na negociação (de um acordo de paz) com os EUA, precisa desistir dessa ideia”, comentou. “O que Trump pode dizer é que Jerusalém representa a capital de fato de Israel e que retomará o processo de paz. Se mover a embaixada, ele queimará as pontes entre os EUA e os mundos muçulmano e árabe. Seria loucura e estupidez.”

"Jerusalém é o coração do mundo árabe”
Em entrevista exclusiva ao Correio, por e-mail, Saeb Erekat — atual secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e ex-negociador-chefe palestino no processo de paz — advertiu que o provável anúncio do presidente Donald Trump resultará em extremismo. anarquia e violação do direito internacional. “Isso certamente legitimaria as políticas israelenses na Jerusalém Oriental Ocupada”, afirmou, a partir de Ramallah, na Cisjordânia.

Como o senhor vê os planos do presidente Trump de reconhecer Jerusalém como capital do Estado de Israel?
Ele expressou a intenção de fazê-lo. Nós acreditamos que este será um passo muito negativo. De fato, é uma manobra que promoverá extremismo, anarquia internacional, além de desrespeito pela lei internacional e pelos direitos inalienáveis do povo palestino.

Então tal decisão incendiaria as tensões no Oriente Médio e levaria a retaliações diplomáticas por parte de nações árabes?
Isso é precisamente o que desejamos evitar. Jerusalém é o coração da Palestina, mas também do mundo árabe. Milhões de árabes, cristãos e muçulmanos são sensíveis ao que ocorre na Cidade Sagrada. Não se trata de ameaçar qualquer coisa, mas de analisarmos os fatos: o reconhecimento da soberania de Israel sobre Jerusalém não seria apenas uma violação do direito internacional e dos compromissos dos EUA com o processo de paz, mas também seria atravessar uma linha vermelha para o mundo árabe e para o resto de nossa região.

O senhor crê que essa ação legitimaria a ocupação israelense?
Sim, isso certamente legitimaria as políticas israelenses na Jerusalém Oriental Ocupada, incluindo demolições de casas, despejos, expropriações de terra, revogações de documentos de identidade e expansão de assentamentos coloniais ilegais.

Na sua opinião, Trump ainda poderia desistir desse gesto?
Não sei, é uma boa questão para ele. O que eu diria é que, ao seguir adiante com o reconhecimento de uma ilegalidade, ele estaria em contradição com o seu objetivo declarado de alcançar um acordo em nossa região. (RC)

 Correio Braziliense
 

sábado, 7 de outubro de 2017

Bolsonaro na Veja: uma rápida nota

Ana Clara Costa, a jornalista que assina a peça de propaganda contra o deputado Jair Bolsonaro para a Veja desta semana, é uma daquelas figuras típicas do jornalismo tucano: formada na Wharton Business School, ela não é ignorante o suficiente para acreditar em economia marxista ou keynesiana, mas subscreve toda a agenda cultural da esquerda, venera o lumpemproletariado (o povo oficial, formado pelas “minorias”) e sente nojo do povo real, que se preocupa com segurança pública, está farto da roubalheira da classe política e repudia a corrosão dos valores tradicionais simbolizada em exposições como a do MAM e do Queermuseu.[entre os que são contra o deputado Jair Bolsonaro, está a turma que chama pedofilia de arte.]


Não surpreende, portanto, que ela tenha se colocado a serviço de figuras como o governador Geraldo Alckmin e o prefeito João Dória (a quem ela parece ser mais simpática nas redes sociais) e esteja trabalhando, ativamente, contra o candidato que dará mais trabalho aos dois.

Não há nenhuma grande novidade em nada disso, mas a capa da revista é um tanto curiosa. Apostando em uma chamada em letras vermelhas e com um subtítulo repleto de adjetivos insultuoso, extremista e outras platitudes do tipo –, a Veja tenta alertar seus leitores (em número cada vez menor) de que o deputado federal representa uma grande ameaça. No interior da revista, o conteúdo da matéria segue a mesma linha, com o agravante de dizer algumas bobagens sobre o professor Olavo de Carvalho, mas o que mais chama a atenção é mesmo a capa, que em um certo sentido, mais profundo do que a turminha do André Petry poderia imaginar, acerta o alvo.

O deputado Jair Bolsonaro representa mesmo uma ameaça. Ele ameaça os arranjos do establishment brasileiro, de que fazem parte a Veja e o tucanato em geral; a hegemonia da tríade PT-PMDB-PSDB e a sobrevivência de seus esquemas de corrupção; a instrumentalização das instituições de ensino para a formação de idiotas úteis como os que assinam a edição da revista; e a cultura do banditismo que, todos os anos, vitima centenas de milhares de brasileiros. O deputado ameaça, ainda, todos aqueles que abominam a idéia de serem governados por alguém que pensa, fala e age como a maior parte do povo brasileiro e que, no mínimo, atrapalha um bocado os mais diversos esquemas de poder conduzidos por grupelhos iluminados que desejam ditar os rumos do país.

P.S.: Para o tal do especial sobre a Revolução Russa, os jornalistas da Veja produziram matérias que, comparam Lênin ao presidente Donald Trump e, dentre outras coisas, tecem loas às supostas conquistas que as mulheres obtiveram com o regime comunista.
P.S. 2: O efeito da matéria certamente será o oposto do esperado. A um ano da eleição, como nos mostrou o Trump, “all media is good media”.

Por:

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