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quarta-feira, 13 de julho de 2022

Ficha da oposição cai tarde demais sobre cheque em branco a Bolsonaro - O Globo

Vera Magalhães

[vamos ver o que ela está imaginando, desejando e narrando na matéria de hoje; Quem quiser saber mais sobre essa jornalista de esquerda leia aqui.]

O intervalo entre a aprovação a toque de caixa da PEC Kamikaze no Senado e sua discussão na Câmara parece ter sido aquele da tomada de consciência por parte da oposição da forma irresponsável com que rasgou a lei eleitoral e o ordenamento jurídico que assegura o equilíbrio fiscal para dar uma enorme vantagem econômica e política a Jair Bolsonaro na disputa pela reeleição. [COMENTANDO: se trata de uma PEC que após aprovada anula todas as leis e decisões jurídicas que a contrariem.  A oposição votou a favor da PEC, devido a única forma contrária seria ser favorável a que milhões de brasileiros continuassem passando fome.]

Uma cegueira inexplicável pautou a sem-cerimônia com que a chapa Simone Tebet - Tasso Jereissati, os petistas todos e demais oposicionistas chancelaram um texto escrito literalmente na hora pelo senador Fernando Bezerra, conhecido pela sua capacidade camaleônica de servir a qualquer governo de turno, e hoje um dos mais efetivos arautos do bolsonarismo no Congresso.

No entorno do ex-presidente Lula já se capta uma preocupação com o estrago eleitoral que a PEC dos R$ 41 bilhões para Bolsonaro despejar no bolso do eleitor pode causar. Tarde demais. O movimento todo na Câmara de Arthur Lira enquanto este texto ia para o prelo era de atropelar as tentativas tardias da oposição de obstruir a farra fiscal. Graças ao auxílio emergencial que vigorou na pandemia, a avaliação de ótimo e bom de Bolsonaro, a despeito de suas declarações e ações contra o isolamento social, as medidas protetivas e as vacinas, saltou para 37% em agosto de 2020, segundo o Datafolha. 

De nada adiantou deputados e senadores bradarem que foi o Legislativo, e não o governo, que definiu o valor de R$ 600, que podia chegar a R$ 1.200 a depender da especificidade das famílias. Quem fatura com programas de transferência de renda é sempre o governo cuja logomarca vem impressa no cartão, isso a literatura e a escrita das eleições sucessivas do PT comprova.

Por que haveria de ser diferente agora, quando às vésperas das eleições os beneficiários terão acrescido o poder de compra desses cartões em 50%, e um grande contingente de famílias passará a receber R$ 600 quando não ganhava nada?

Lula propõe, nas falas nos atos de pré-campanha, que o eleitor receba o dinheiro, mas não leve isso em consideração na hora do voto. Trata-se de puro pensamento mágico, cuja realização as próprias pesquisas recentes permitem colocar em dúvida. Levantamentos das últimas semanas já apontam a recuperação de Bolsonaro nas faixas de renda e nas regiões mais contempladas pelo Auxílio Brasil, e um grau de conhecimento elevado por parte do eleitor da suposta disposição do presidente de lutar contra o aumento do preço dos combustíveis e a inflação. [os preços dos combustíveis já apresentam baixa  apreciável - em Brasília a gasolina já baixo mais de R$ 2 por litro e continua baixando diariamente.]

Com a análise imediatista de que votar contra a PEC seria votar contra os pobres, sem se dar conta da possibilidade de instrumentalização desses mais sofridos, [a única instrumentalização dos mais sofridos é passarem a se alimentar duas ou três vezes ao dia - atualmente, comem uma vez por dia, nem todo dia.] justamente os que mais pagarão a conta quando a bomba fiscal finalmente estourar, a oposição deu a faca e o queijo na mão de Bolsonaro.

Os próximos levantamentos vão mostrar se o efeito de recuperação das intenções de votos do capitão mediante o dinheiro obtido ao arrepio da Constituição e das demais leis será tão imediato quanto o de 2020. [Verinha,  a Constituição sendo emendada vale o novo texto e as leis que o contrariarem,  perderão a validade. Você sabe disso, então o que  te motiva a falsear a narrativa?]

Se for, o resultado prático será tornar bem mais difícil o empenho dos petistas de resolver a fatura no primeiro turno, que levava em conta, inclusive, a menor capacidade de Bolsonaro arregimentar entusiastas para sua já evidente disposição de questionar a lisura do pleito. Com uma eleição mais acirrada e uma diferença de votos menor, a narrativa falsa de fraude ganhará aquele ar de verossimilhança que tem sido suficiente para engajar militares e civis no roteiro golpista de tentar melar as eleições.

E aí a lei eleitoral terá sido transformada em letra morta pela mesma oposição míope e terá pouca valia para tentar conter o tumulto e uma temida onda de violência que os fatos das últimas semanas mostram não estar mais apenas nos cenários hipotéticos.

Política - O Globo