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domingo, 20 de setembro de 2015

“The Walking Dead” e outras seis notas de Carlos Brickmann

A tropa de funcionários sem concurso continua lá, como se tudo estivesse normal. Aloizio Mercadante faz cara de bravo e ocupa o espaço ao lado do rosto e acima do ombro de Dilma, como se as fotos ainda valessem a pena. Sibá Machado e José Guimarães aquele cujo assessor andava com dólares na cueca ─ ainda discursam, como se alguma vez tivessem sido importantes. E todos correram para buscar socorro com o Pai de Todos, o Número 1, o Boa Ideia, O Cara, como se Lula ainda pudesse salvar seus empregos e mordomias. No momento em que pediram socorro ao Pai dos Postes, anunciaram que o governo acabou.

Se a Benemerenta que distribui nomeações e benesses e manda no Diário Oficial não consegue sustentar-se no poder, nem distribuindo dezenas de Ministérios, não tem como ostentar o majestoso título de Denta. Denta virou cargo honorífico. Como diria um filho cujo pai o chamou de Ronaldinho dos Negócios, game over. Como nos desenhos animados em que o personagem anda na prancha e só despenca no abismo ao perceber que a prancha acabou, falta apenas cair.

E táticas que já deram certo dificilmente funcionarão agora. Lula, estrela máxima do petismo, já se queixou de que não pode sequer ir a um restaurante. Não pode tomar um voo comercial nem, por outro motivo, os bons jatos dos empresários. Sujeita-se a um jatinho pequeno, apertado. Aliados o abandonam; amigos antigos, como José Dirceu, ele os abandonou. E, se nem aos tradicionais restaurantes do tempo de metalúrgico pode ir, que prestígio lhe resta para dar a Dilma?

O jatinho pequetitinho
Como Lula viaja, hoje? Já se sabe: num jatinho Cessna 525, prefixo PR-BIR, de uma empresa do ex-ministro Walfrido Mares Guia. O dono do jato que serve a Lula é filiado ao PTB e foi vice do governador tucano Eduardo Azeredo, em Minas. O PT o acusou de articular o Mensalão Mineiro, esquema de corrupção eleitoral que seria seguido pelo Mensalão propriamente dito, e de ser protegido pela Justiça pela ligação com tucanos.


Com a eleição de Lula, Mares Guia foi seu ministro do Turismo e das Relações Institucionais. Saiu em 2007, acossado pela Justiça (as acusações prescreveram só em 2014). Mas, pelo jeito, continuou amigo de Lula, daqueles de guardar debaixo de sete chaves (e um brevê de piloto).

Julgando a chapa
Os locutores de futebol diriam: que fase! Bem no meio da crise, a ministra Luciana Lóssio, do Tribunal Superior Eleitoral, liberou para julgamento um dos processos em que o PSDB pede a cassação do registro da chapa Dilma-Temer. A questão entra em pauta nesta terça, 22. Até agora, votaram pela aceitação do processo (atenção: não é julgamento. É apenas o ato de recebê-lo para que seja julgado em outra ocasião) quatro ministros: João Otávio Noronha, Luiz Fux, Gilmar Mendes e Henrique Neves. Votou contra a ministra Maria Thereza de Assis Moura. Faltam os votos de Luciana Lóssio e de Dias Toffoli, presidente do Tribunal. 

Mas, apesar da maioria, a questão não está decidida: enquanto a votação não se completar, cada ministro tem a prerrogativa de alterar seu voto.

Sacudindo o governo
O Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais anunciou greve geral para quarta-feira, como protesto contra o adiamento de janeiro para agosto do reajuste do funcionalismo. Decretar greve é uma coisa, realizá-la é outra: se der certo, será a primeira a ocorrer no país. No mesmo dia, deve haver manifestações do MST e MTST, grupos que sempre estiveram ao lado do PT.

A coisa é confusa, a favor de Dilma, contra Levy, mas enfraquece o governo. 

A conta do pacote
Por que a revolta do funcionalismo? Porque, no corte de despesas previsto no plano do governo, 40% se dirige ao bolso dos funcionários públicos. 

E não é só o governo
Um assíduo leitor desta coluna recebeu carta de seu seguro-saúde, ligado a um dos maiores grupos empresariais do país. Informa a carta que o plano, conforme autorizou a ANS, Agência Nacional de Saúde, está subindo 13,31% mais que o dobro da taxa de inflação no período, medida pelo Índice Geral de Preços.


O leitor pegou então sua apólice de 1988 e atualizou o preço para o valor de hoje da moeda. O pagamento, corrigido pela inflação, seria de R$ 943,72. Mas o custo mensal do plano é agora de R$ 2.406,00, pouco menos que o triplo da tabela original, corrigida pela inflação oficial.

Em resumo, o governo é o leão que se alimenta de nosso dinheiro; e que libera as hienas para que comam o resto.

Excelentíssimas excelências
A República já tem mais de um século, mas velhos hábitos se mantêm. A mania de se diferenciar da rude plebe, por exemplo: até reitores, que deveriam perceber o ridículo, fazem-se chamar de “Vossa Magnificência”. Parlamentares, por menos excelentes que sejam, exigem o tratamento de “Vossa Excelência”. Juiz, por ser juiz, passa a se distinguir pelo mérito e vira “meritíssimo”. Agora, delegados da Polícia Federal querem ser chamados de Vossa Excelência, e alguns, quando o tratamento não é usado, movem processos disciplinares contra os subordinados.


Os agentes da PF entraram na Justiça para contestar a determinação.

Fonte: Publicado na Coluna de Carlos Brickmann
CARLOS BRICKMANN