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terça-feira, 26 de setembro de 2017

Renca: governo cede a lobby reacionário. O que essa gente fez mesmo com Raposa Serra do Sol?

A rigor, o que o decreto fazia era extinguir as regras antigas e definir as novas para a exploração mineral de uma área diminuta. Só. Com efeito, dentro da chamada “Renca”, há reservas ambientais e reservas indígenas, que seguiriam intocadas

A coisa mais interessante do “causismo” — essa mania que “ozartista” e as celebridades têm de aderir a causas — é o descompromisso. Assumem uma opinião, saem propagando a dita-cuja por aí, demonizam os que pensam o contrário, posam de especialistas, alguns até vão a Brasília e se encontram com “parlamentares progressistas” e pronto! Qualquer que seja o resultado, missão cumprida! Encomendam outra causa a suas respectivas assessorias de imprensa ou de imagem. As consequências, como diria o célebre conselheiro, vêm depois. Mas aí os bacanas já abraçaram um novo ursinho — o branco e o panda são sempre os mais abraçáveis — para dormir com a consciência tranquila.

Vejam o caso da tal Renca (Reserva Nacional de Cobre e Associados) que esses luminares da ecologia descobriram existir depois que o governo decidiu mudar a legislação que regulava a área por meio de decreto. Nestes tempos, é preciso um cuidado danado com as palavras. A própria linguagem oficial recorreu ao verbo “extinguir” e ao substantivo “extinção”, e as bonitas, os bonitos, os patronos de formatura do Projac, as monstras e os monstros sagrados da representação, os apenas monstros, sem histórico de santidade, bem, toda essa gente resolveu arrepiar. De saída, entendeu-se que o governo estava extinguindo uma área… ambiental! Nem se procurou entender por que aquela região chama RENCA. De novo: Reserva Nacional de Cobre e Associados. Nunca foi nem será um santuário ambiental. Trata-se de reserva mineral.

A rigor, o que o decreto fazia era extinguir as regras antigas e definir as novas para a exploração mineral de uma área diminuta. Só. Com efeito, dentro da chamada “Renca”, há reservas ambientais e reservas indígenas, que seguiriam intocadas. O texto não autorizava exploração mineral nesses territórios. Ocorre que a grita aqui despertou o berreiro lá fora. E aí as milhares de ONGs se mobilizaram, com sua formidável capacidade mentir, omitir e influencias pessoas. O que se afirma é que o Brasil decidiu extinguir uma “reserva” — dando a entender que se trata de “reserva ambiental” — para permitir o garimpo.

Bem, o resumo da ópera é o seguinte: o Planalto recuou, no que fez muito mal, e resolveu que não vai baixar decreto nenhum. Fica tudo como está, e o debate será retomado em outra oportunidade. Pronto! As bonitas, os bonitos, os monstros e as monstras já podem se dedicar a uma nova causa. Ouvi dizer que o Minhocuçu do Anel Dourado corre sério risco de extinção. Onde ele existe? Não sei. Acabei de inventar. Estou em busca de uma causa permanente para essa gente.
Infelizmente, o governo cedeu ao lobby e à quantidade formidável de mentiras que se contaram aqui e lá fora sobre o tal “reserva”. Vocês acham o quê? Que esses descolados vão se preocupar com o que vem depois?

Raposa Serra do Sol
Se vocês querem uma medida da irresponsabilidade dessa gente e dessas ONGs que agora vomitam asneiras, façam uma breve pesquisa. Vejam o que aconteceu com a área Raposa Serra do Sol, em Roraima, onde só vivem índios já aculturados. As lavouras de arroz, que tinham uma produção formidável, ocupavam apenas 0,7% da área: 12 mil hectares de um total de 1.678.800. Lula é que havia decidido tornar as terras indígenas contínuas (2005), o que obrigaria a expulsão dos não-índios. Havia famílias de não-indígenas que ela estavam havia mais de 100 anos (clique aqui para ler mais a respeito).  Sim, os arrozeiros se foram. Parte considerável dos índios, que trabalhavam para eles, também tiveram de ir embora. Foram catar lixo em Boa Vista e morar em favelas. Índias caíram na prostituição (leia mais aqui).
  
Atenção! Quando os arrozeiros deixaram a área, eles respondiam por 70% das 152 mil toneladas de arroz produzidas em Roraima106.400 toneladas. Não, senhores! De lá se não se tira mais um grão. Vejam no alto a foto do índio Adauto da Silva num lixão de Boa Vista. Reproduzo trecho de reportagem da VEJA de 2011:
“Quatro novas favelas brotaram na periferia de Boa Vista, nos últimos dois anos. O surgimento de Monte das Oliveiras, Santa Helena, São Germano e Brigadeiro coincide com a demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol. Nesse território de extensão contínua que abarca 7,5% de Roraima, viviam 340 famílias de brancos e mestiços. Em sua maioria, eram constituídas por arrozeiros, pecuaristas e pequenos comerciantes, que respondiam por 6% da economia do estado. Alguns possuíam títulos de terra emitidos havia mais de 100 anos pelo governo federal, de quem tinham comprado suas propriedades. Empregavam índios e compravam as mercadorias produzidas em suas aldeias, como mandioca, frutas, galinhas e porcos.”
Ele de chama Adauto da Silva, é índio e trabalha num lixão em Boa Vista. Quem o jogou ali foi a boa má-consciência  [de uma coisa tenham certeza: o hoje catador de lixo Adauto com é proprietário de algumas centenas de hectares, os quais não sabe explorar e nem tem os meios - especialmente disposição - necessários para tornar produtivas suas terras que agora estão no mesmo estado das mostradas abaixo]



 Lavoura destruída de arroz. Onde se produziam quase 107 mil toneladas do alimento, agora só se produz fome. Deem os parabéns aos ongueiros e ao Supremo


Miséria, favelização e prostituição. Eis as grandes contribuições, em Roraima, dos “preservacionistas” do STF e das ONGs de proteção aos índios e o meio ambiente. Estima-se que um número muito maior de índios teve de abandonar a reserva por falta de condições de sobrevivência do que de brancos e mestiços.

Ah, lembro bem da gritaria dos ongueiros em defesa da dita reserva. Perguntem se alguém se ocupou de saber o que veio depois. Que nada! Aí eles tentaram impedir Belo Monte, depois outra área qualquer, até descobrirem que havia um troço chamado “Renca”. O governo fez mal em ceder ao lobby do obscurantismo desses iluminados pela própria ignorância.  Ah, sim: por que chamei de esses cascateiros de “lobby reacionário”? Porque “reacionário” é tudo o que, ao voltar pra trás, torna pior a vida das pessoas e dos países. É o caso.

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo