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quinta-feira, 29 de junho de 2023

A cesta (nada) básica do MST - Artur Piva

Revista Oeste

Com produtos que vão de uma cachaça estampada com o rosto de Lula a um açúcar mais caro que picanha, os sem-terra querem alimentar o Brasil

Alguns produtos vendidos pelo MST | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
 
Num bairro central da cidade de São Paulo existe uma loja da marca Armazém do Campo.  
A proposta da rede é vender a produção dos assentados do MST.  
Na teoria, as prateleiras deveriam ser forradas por alimentos plantados pelas mãos dos militantes do grupo. Na prática, os assentamentos não conseguem produzir sequer todos os produtos oferecidos na cesta básica.
 
O público e os preços se assemelham aos de um empório chique da capital paulista.  
Na semana passada, o açúcar da reforma agrária à venda no Armazém do Campo vinha do coco. “Supersaudável e gostoso”, garantiu uma consumidora vestida com uma camiseta estampada com a imagem de Lula, boné de Che Guevara na cabeça e uma bolsa a tiracolo com a frase “o amor venceu”. O preço: R$ 31,98 por 250 gramas. Ou seja: quase R$ 130 o quilo — nem a picanha seria tão cara.
Açúcar de coco à venda na loja do MST, Armazém do Campo, por R$ 31,98 o pacote de 250 gramas | Foto: Artur Piva/Revista Oeste
 
Do que tem, falta tudo
 A cesta com os alimentos fundamentais para o consumo das famílias é formada por pão francês, carne, leite, feijão, arroz, farinha, batata, tomate, café em pó, banana, banha ou óleo, açúcar e manteiga
No empório do MST não há pão. Assim como não existe metade dos produtos dessa lista. A outra metade é vendida por mais do dobro do preço médio.
“A produção de carne ainda é muito pequena e distante”, disse um rapaz de Santa Catarina ao tentar justificar a ausência da proteína. 
Filho de assentados em seu Estado de origem, ele comentou estar na loja cumprindo uma missão dada pelo MST. “Funciona assim: eles pedem para migrarmos conforme precisam de gente nos lugares”, disse. “Daí, vim para cá.”
 
Ele reconheceu que nem tudo à venda vinha dos assentamentos. “A gente procura alguns parceiros para suprir as faltas”, disse. 
Ele garantiu, porém, que a escolha acontecia somente entre os fornecedores alinhados com os valores dos sem-terra.
 
Armazém do Campo, loja do MST | Foto: Artur Piva/Revista Oeste
 
Bibelôs da revolução
Três prateleiras à frente, azeites importados da Espanha e da Itália (cerca de R$ 50 por um vidro com meio litro) dividiam o espaço com o café da reforma agrária: R$ 49,98 por um pacote de 500 gramas da marca Guaií Sustentável
A poucos metros dali, numa grande rede de supermercados, o café do agronegócio era vendido na mesma quantidade por R$ 17.
 
 Azeites importados à venda na loja do MST | Foto: Artur Piva/Revista Oeste
 No armazém do MST, o café Guaií (500 gramas) custa R$ 46,98 | Foto: Artur Piva/Revista Oeste
 
Ao lado, um freezer da Heineken com as latas de cerveja estampadas com fotos de Fidel Castro, Olga Benário e Antonio Gramsci. 
Quem quisesse uma bebida mais forte — e mais cara — podia comprar uma garrafa de meio litro da cachaça Vidas Secas, com o rótulo homenageando Lula.
O MST se apresenta como o maior produtor de arroz orgânico do Brasil. 
A venda de acessórios é um dos negócios em destaque. 
Logo na entrada do armazém, começa uma área para vendas de souvenir. Ela é forrada com camisetas com a cara do Lula, canecas e garrafas com o emblema do PT, além de guardanapos e bonés do MST. 
 
O arroz e o feijão, dois itens imprescindíveis na mesa das famílias brasileiras, ficam quase escondidos no fundo da loja.
Um pacote com 1 quilo de feijão carioca dos assentamentos custa quase R$ 15.  
No supermercado, o mesmo alimento sai por menos de R$ 10
No pé de uma prateleira esquecida, um saco de arroz orgânico de 5 quilos estava à venda por pouco menos de R$ 38. No mercado, a mesma quantidade do produto sai por R$ 25.
 
Verdade opressora?
A safra dos assentados, contudo, que em 2022 fechou em 15,5 mil toneladas, não conseguiria alimentar o Brasil nem por um único dia
De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), hoje aparelhada por companheiros do MST, os brasileiros consomem cerca de 13,5 milhões de toneladas em um ano. Ou seja: 18,5 mil toneladas a cada 12 horas.
 
Além disso, foram necessárias quase 300 famílias sem-terra, todas localizadas no Rio Grande do Sul, para conseguir as 15,5 mil toneladas. Fazendo uma regra de três, seriam necessárias quase 150 mil famílias para igualar a produção.
Para ter uma base, toda a agropecuária gaúcha emprega por volta de 100 mil trabalhadores com carteira assinada para produzir um leque extenso de alimentos.  
A começar por 7,6 milhões de toneladas de arroz — 500 vezes mais que o MST.Cachaça com o rosto de Lula estampado no rótulo, à venda no armazém do MST | Foto: Artur Piva/Revista Oeste
 
No mundo real
Em 2022, o agronegócio gaúcho, longe das terras invadidas, gerou 25 milhões de toneladas de grãos.  
Além do oceano de arroz, volumes gigantescos como 3 milhões de toneladas de milho, 5,7 milhões de toneladas de trigo e 9 milhões de toneladas de soja — carro-chefe da agricultura nacional.
Aparentemente, para os sem-terra, a soja também é o carro-chefe. Somando todas as terras sob o comando dos assentados, a colheita desse grão é estimada em 2,4 milhões de toneladas. Isso é 60 vezes menos que a safra do grão gerado nas lavouras do agronegócio brasileiro.Arroz orgânico do MST (5 quilos), vendido a R$ 37,49 | Foto: Artur Piva/Revista Oeste
 
Pobres e ricos precisam comer
A safra de soja colhida no país é a maior do mundo. Haveria um desastre em escala global caso o Brasil dependesse da produção do MST para o plantio da cultura.
O grão é um dos mais utilizados no planeta. Vai soja até em pneu de carro, pasta de dente e chocolate, além de diversos outros itens e da dependência da indústria de proteína animal. 
A redução da produção brasileira geraria uma devastação em cadeia e um verdadeiro apagão alimentar.
Um dos grandes motivos dos chineses serem os maiores importadores da soja brasileira é manter o maior rebanho de porcos do mundo.  
Não bastasse isso, a disponibilidade dessa leguminosa no mercado interno faz do Brasil o maior exportador de carne de frango do planeta.
Colocando as ideologias de lado, a população mundial precisa comer. 
O MST pode até ter uma butique gourmet, mas é o agronegócio que alimenta a humanidade. Fachada do Armazém do Campo | Foto: Artur Piva/Revista Oeste
 
 
 
Artur Piva, colunista - Revista Oeste
 
 

terça-feira, 14 de março de 2023

Covid - 19 - Os verdadeiros negacionistas da pandemia foram os que negaram tratamento - VOZES

Gazeta do Povo - Alexandre Garcia 

O Supremo já tem mais do que maioria para negar um pedido da Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 para processar o ex-presidente Jair Bolsonaro, por retardar, frustrar e sabotar o enfrentamento da pandemia. 
O ministro Luís Roberto Barroso é o relator; ele mesmo negou, e já foi acompanhado por mais oito ministros. Então esse é um assunto terminado, só que não. Recomendo à associação que reveja os seus conceitos, porque o tempo passou e a verdade prevaleceu. Eu acho que talvez Bolsonaro tenha errado na compra da vacina.
 
Agora apareceram dados sobre máscaras, tratamento, isolamento, os parentes das vítimas têm de cobrar de quem impediu que os seus entes queridos fossem tratados, de quem fez uma coisa errada. 
Até entendemos que nos primeiros meses tenha havido um certo desespero, mas depois a verdade chegou, embora os negacionistas ficassem negando, inclusive negando o tratamento eficaz. Hoje vocês já sabem de quem cobrar.

Os venezuelanos e os yanomamis
Um amigo, o general Rocha Paiva, de um instituto de pesquisa das coisas brasileiras, esteve em Boa Vista, São Gabriel da Cachoeira, Tabatinga, Benjamin Constant, andou por toda a região, constatou que mais venezuelanos estão chegando, fugindo daquele regime, e a Operação Acolhida os está recebendo. Mas vejam também o que ele escreve: “entretanto, fiquei surpreso com a atitude dos yanomamis. Sabia que estão jogando fora os alimentos recebidos com tanto esforço? A mídia não mostra, mas é lamentável”.

Isso me lembra meus tempos de correspondente de guerra em Angola, quando o governo de Luanda mandava coisas que eram recusadas pelas populações. Se enviavam peixe enlatado, eles achavam “meu Deus do céu, estão dizendo que eu sou incompetente pra pescar?” Se mandavam papel higiênico, eles tomavam isso como uma ofensa pessoal, “estão achando que eu não tenho higiene”.  
Da mesma forma, o general diz que os yanomamis não usam panela para cozinhar arroz e feijão
Mandaram esses alimentos, mas não é disso que eles vivem; eles comem principalmente mandioca, acho que banana, além da caça e pesca. A mídia não mostra, mas é lamentável, diz o general Rocha Paiva.
 
Agro tem novos indicadores positivos, mas governo insiste em desprezar o campo
Temos novos dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários referentes a janeiro deste ano: queda de 2,7% no movimento nos portos brasileiros. 
A navegação internacional de longo curso caiu 3,5% e a de cabotagem, 2,4%. 
Eles explicam que foi porque a exportação de minério de ferro caiu 11%, mas essa queda foi compensada, vejam só, pelo agro: 
- milho, 128% a mais de movimento; açúcar, mais 32%; trigo, mais 20%.
 
Tudo isso é um aviso para o governo neste momento em que despencou o preço do petróleo, com bolsas caindo em toda parte depois da quebra do Silicon Valley Bank e do fechamento do Signature Bank, num domingo!
 As ações dos principais bancos do mundo inteiro estão desabando e isso é algo que afeta, segundo estão dizendo, startups brasileiras que teriam lá US$ 10 milhões, ou R$ 50 milhões.  
Precisamos estar atentos aqui aos fatos econômicos, e o governo tem de parar com essa história de brigar com o agro, que é nossa locomotiva; tem de apoiar a indústria, apoiar os empresários. 
Se não promover segurança jurídica, o governo estará sendo masoquista.[caso tenha masoquista nessa história não é o governo - como habitual na esquerda, a trupe petista é sádica; masoquista foi  o povo brasileiro quando votou na volta do criminoso à cena do crime.]

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Prepare-se que alguém terá de bancar o teto de gastos furado - Alexandre Garcia

VOZES - Gazeta do Povo

Impostos

Uma má notícia para o contribuinte, para os pagadores de impostos – que somos todos nós. 
Você pode achar que não paga imposto de renda, mas quando você vai na esquina comprar óleo de soja, macarrão, feijão e arroz, você está pagando imposto sim.  
Talvez você tenha de pagar mais imposto e o produto vai ficar mais caro pra suprir toda essa despesa que agora está nos esperando.
 
Aprovaram esse teto de gastos furado. São 200 bilhões a mais de gastos. Agora, todo esse dinheiro não vai cair do céu. 
Tem de sair de algum lugar.  
Se emitir moeda, vão tirar o dinheiro do nosso bolso direto pela inflação; se emitirem papeis, terão de pagar mais juros, e nós vamos pagar mais juros também quando comprarmos qualquer coisa no crediário, que vai ficar mais caro. Vamos comprar menos, e o varejo vai vender menos, menos imposto será recolhido e entraremos no círculo vicioso que causou a recessão no governo Dilma. [onde está a surpresa? afinal, eles querem impor o apedeuta eleito, isso ocorrendo teremos uma Dilma mais incompetente, piorada.]

Aumento para os “cidadãos de primeira classe”
Essa volta ao passado que a gente começa a antever o mercado já percebe, assim como os investidores, os industriais. 
Eu vejo pesquisas entre as indústrias, mostrando que o pessoal já está com um pé atrás, reduzindo a confiança. 
O agro está parando de investir e, enquanto isso, os deputados e senadores aprovaram aumento geral para esses cidadãos de primeira classe, esse pessoal que fica pendurado na folha de pagamento pública, sendo sustentado pelos que estão trabalhando com aposentadoria bem menor, com menos férias, menos regalias. 
Esse pessoal da primeira classe vai ter aumento de 18%. 
São quase 30 mil funcionários da câmara e do senado, 513 deputados, 81 senadores, os ministros do Supremo, o futuro presidente da Republica, todo mundo recebendo aumento. [o efeito cascata será inevitável, desejado e, por incrível que pareça, justo.]


A arrecadação recorde do governo
Que delicia! Parece que vamos desfrutar porque, afinal, o atual governo está com recorde de arrecadação. E um recorde muito saudável. A arrecadação subiu sobre a renda, sobre o rendimento, e caiu sobre a produção, estimulando o setor produtivo. Enfim, vão ter de sustentar também 37 ministérios.

Meu Deus do céu, é muito ministério! Agora, o último anunciado é o Ministério da Igualdade Racial. Eu acho que esse termo já é racista, porque usa raça como referência, mas, enfim, esse ministério será para a irmã da Marielle Franco. Vocês vão perguntar “mas o quê que ela faz?”. Ela é a presidente do Instituto Marielle Franco.                                 Aliás, a Marielle se chamava Marielle Francisco da Silva, e adotou o “Franco”. 
A irmã dela também adotou o nome e agora é Anielle Franco. 
A Janja não conseguiu emplacar uma colega dela de Itaipu para o Ministério da Igualdade Racial e quem foi escolhida foi a Anielle.
 
Os velhos ministros de sempre e a volta ao governo de Dilma
E a Marina Silva vai paro o Meio Ambiente porque a Simone Tebet não aceitou. 
Tebet só quer o Ministério do Desenvolvimento Social, que tem o Auxílio Brasil, mas esse o PT não vai dar para ela, está dando para o Wellington Dias. 
A Marina Silva se junta ao velho Ministério de Todo Mundo Que Já Foi.  
Tem o Alexandre Padilha, que foi da Saúde, o Zé Múcio, que foi de Assuntos Institucionais, o Mauro Vieira que foi do Itamaraty, o Luiz Marinho que foi do Trabalho, o Haddad que foi da Educação, o Mercadante que foi também alguma coisa no governo.[que nem ele lembra.]

É uma volta do passado. Está voltando, pela gastança e pelos erros, para o governo Dilma e não para aquele primeiro governo Lula, mesmo porque a conjuntura mundial no primeiro governo Lula era altamente favorável, transbordava investimento para o Brasil. O mundo ia bem, agora não; o mundo está afetado pela pandemia e pela guerra lá na Europa.

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do  Povo - VOZES

 

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Muitos agricultores, uma só agricultura - Revista Oeste

Evaristo de Miranda

Novas tecnologias e incorporação constante de inovações na gestão e no monitoramento da agropecuária brasileira ampliam sua capacidade virtuosa de gerar e distribuir renda

“Todos sejam um.”
João 17,21

A extensão rural surgiu no início do século passado em alguns Estados, como Minas Gerais e São Paulo. Organizados em escala nacional nos anos 1950, os serviços de assistência técnica e extensão rural (ATER) passaram por transformações institucionais e operacionais nas últimas décadas. E elas seguirão, com mudanças na agropecuária e nos governos. É natural.

O objetivo da extensão rural sempre foi o mesmo: ampliar a produção agropecuária, pela melhoria da produtividade, elevando a renda e o nível de vida do homem do campo. Em todos os contextos agrícolas, agrários e rurais, a extensão busca aumentar a independência dos produtores e reduzir sua suscetibilidade a fatores externos climáticos, sanitários, mercadológicos etc.

Inovações tecnológicas na agricultura | Foto: Shutterstock

Esse serviço público sempre foi diversificado em função das cadeias produtivas, de seus dinamismos e das realidades agrárias do Brasil. São mais de 8 milhões de estabelecimentos agropecuários e imóveis rurais. Só no bioma Amazônia são mais de 1 milhão. Todos compõem, como num mosaico, um só rosto, o retrato orgânico do mundo rural brasileiro.

Quem coordena esse processo é a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural, a Anater. Em sua missão, a Anater, além dos quadros estaduais e federais, também contrata vários serviços de assistência técnica com empresas privadas. Extensão rural e assistência técnica são inseparáveis e inconfundíveis.

(...)

A Anater apoia produtores em temas como: crédito, cadastro de terras e regularização fundiária; capacita extensionistas, monitora prestadores de serviços de Ater; conduz ações para diversificar culturas em regiões de tabaco; promove agricultura orgânica, pequenas agroindústrias e compras de alimentos de pequenos agricultores, além de coordenar programas como Produzir Brasil, Agronordeste, Brasil Mais Cooperativa e outros.

A agropecuária evoluiu, e o país é um produtor competitivo de alimentos. E cresce como grande fornecedor de alimentos seguros e de qualidade ao mundo. O crescimento da produção de grãos prosseguirá. Em 2023, a previsão para a safra de soja é de 150 milhões de toneladas, um aumento de até 20%, com mais produtividade e maior área plantada.

Ao contrário do imaginado por alguns, várias tecnologias na soja começaram praticadas por pequenos agricultores e só depois foram adotadas por grandes, como no caso do plantio direto na palha

Para o milho, a previsão é de 126 milhões de toneladas, um crescimento de 10%
O Brasil é 2,5% da população mundial e produz 10% do milho no planeta. 
 Com o restante dos grãos (arroz, feijão, trigo…), o país ultrapassará 300 milhões de toneladas. Recorde histórico
Ainda muito abaixo da produção anual de meio bilhão de toneladas de grãos dos EUA: 380 milhões de milho (32% do milho do planeta) e 125 milhões de soja, em uma única safra.

(...)

Colheita de milho em fazenda no Brasil | Foto: Shutterstock

Em 2023, o céu talvez não será dos mais favoráveis aos produtores. Ameaças surgem no horizonte, vindas de visões anacrônicas, de fora do mundo rural. A agricultura é uma só. Inimigos da agropecuária eficiente, rentável e sustentável apresentam, por exemplo, produtores de soja como latifundiários a serem tributados e até eliminados. São narrativas distantes da verdade.

A realidade da soja é outra: o Censo Agropecuário do IBGE, em 2017, identificou mais de 232 mil produtores de soja. No Rio Grande do Sul são mais de 95 mil, e sua presença é representativa em 18 Estados. Mais de três quartos (75,9%) são pequenos agricultores. Seus sítios e fazendas têm menos de 100 hectares. Os médios, com menos de 500 hectares, reúnem 15,4% dos estabelecimentos agropecuários dedicados à soja. A maioria dos produtores de soja (91,3%) são pequenos e médios agricultores, boa parte organizados em associações e cooperativas e garantem quase 40% da produção nacional.

(...)

Leia também “É tempo de caju e de persistir”

INTEGRA DA MATÉRIA - Evaristo de Miranda, colunista - Revista Oeste 



quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Uma revolução verde - Revista Oeste

Artur Piva

Foto: Shutterstock
Foto: Shutterstock

Na década de 1980, ocorreu um dos últimos grandes movimentos que impulsionaram a agricultura brasileira. Produtores rurais migraram das regiões Sul e Sudeste do país para o Centro-Oeste, levando na bagagem técnicas mais modernas de agricultura. Isso fez com que a safra nacional desse um salto de quase cinco vezes nos últimos 40 anos. 
Voltando ao açúcar, por exemplo, o Brasil é hoje o maior produtor mundial do alimento. De 8 milhões de toneladas em 1981, hoje são mais de 41 milhões de toneladas — um salto de mais de cinco vezes.     Já a colheita de grãos passou de 52 milhões de toneladas para 255 milhões de toneladas no mesmo período.  
Entre os principais produtos, estão arroz, feijão, caroço de algodão, gergelim, girassol, sorgo, milho e soja, como mostram os boletins elaborados pela Companhia Nacional de Abastecimento.


Um salto da agricultura brasileira
Para conseguir o feito, o avanço tecnológico incorporado à agricultura foi fundamental. Além da ampliação do uso de tratores, cuja frota nacional passou de 500 mil, em 1980, para cerca de 1,25 milhão, em 2017, a utilização de adubos e defensivos agrícolas também foi imprescindível. E o mesmo pode ser dito sobre o desenvolvimento de novas variedades de sementes e mudas mais resistentes. “As soluções químicas estão entre as ferramentas que mais se relacionam com o incremento da produção na lavoura”, explica Andreza Martinez, diretora de Defensivos Químicos da CropLife Brasil, associação que reúne especialistas, instituições e empresas que atuam na pesquisa e no desenvolvimento de tecnologias agrícolas. “A revolução verde, por volta de 1960, introduziu essas inovações e, assim, contribuiu para aumentar drasticamente a produtividade de praticamente todas as culturas, não só no Brasil, mas no mundo.”

Andreza cita ainda estimativas da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura que ilustram a necessidade de defensivos e fertilizantes para a agricultura. De acordo com o órgão, cerca de 40% da produção agrícola do mundo é perdida todos os anos em razão de ataques de pragas.

“As doenças das plantas custam à economia global mais de US$ 220 bilhões por ano”, ressalta Andreza. “As culturas alimentares competem com 100 mil espécies de fungos patogênicos, 10 mil insetos herbívoros e 30 mil espécies de plantas daninhas. Ou seja, sem a contribuição dos defensivos agrícolas, esses agentes de redução de produtividade agiriam sobre as culturas sem nenhum controle, causando perdas muito grandes.”

Quanto à aplicação dos fertilizantes, a correção do solo permitiu, por exemplo, que as áreas de cerrado pudessem ser exploradas. O desbravamento dessas regiões surpreendeu até mesmo Norman Borlaug, um químico laureado com o Prêmio Nobel da Paz em 1970, pelas contribuições que deu à agricultura.

Aplicação de defensivos agrícolas | Foto: Shutterstock

“O cerrado brasileiro está sendo palco da segunda ‘revolução verde’ da humanidade”, declarou Borlaug, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, em 1994. “Os pesquisadores brasileiros desenvolveram técnicas que tornaram uma área improdutível há 20 anos na maior reserva de alimento do mundo.”

Entre 1981 e 2021, a área ocupada por culturas de grãos em Mato Grosso cresceu praticamente 15 vezes. Ela partiu de pouco mais de um milhão de hectares para 17 milhões hectares. As plantações de soja lideraram esse processo. Hoje, o Estado localizado no Centro-Oeste é o maior produtor desse grão no país. No começo da década de 1980, a safra de soja mato-grossense era de cerca de 360 mil toneladas, menos de 3% de toda a colheita nacional. Em 2021, os agricultores do Estado colheram cem vezes mais, chegando a 36,5 milhões de toneladas com essa cultura, ou seja, pouco mais de um quarto de toda a safra brasileira de soja no ano passado.

As novas técnicas envolvem ainda o plantio direto no solo e a manutenção palhada — restos das plantas —, deixada depois da colheita. Justus também cita o desenvolvimento de novas sementes e variações de plantas. “O cerrado não valia nada, porque dava, no máximo, um gado solto, criado de forma extensiva”, lembra. “Hoje, são plantadas ali duas safras por ano. Isso é possível porque, no sistema de agricultura tropical brasileiro, é feito um plantio de soja, que carrega o solo de nitrogênio, absorvido depois no plantio do milho.”

Plantação de soja no cerrado brasileiro | Foto: Shutterstock

Justus afirma que tanto a soja quanto o milho não teriam se adaptado ao Brasil sem os fertilizantes nem os defensivos. O cultivo feito sem esses insumos renderia uma safra que não cobriria os custos de produção, segundo o especialista. Além disso, “a utilização do adubo químico é uma reposição de nutrientes necessária para a produção”, argumenta.

A combinação de ciência e tecnologia, aliada à expansão do plantio, trouxe um ganho de produtividade que é medido pela quantidade colhida em uma mesma porção de terra. Em 40 anos, a safra de soja por hectare praticamente dobrou nas lavouras mato-grossenses. Para os grãos de modo geral, o ganho passou de três vezes.

Aprendendo com o mundo
Para que esse leque de tecnologias se disseminasse, Alysson Paulinelli, ex-ministro da Agricultura, foi fundamental. Na década de 1970, ele ocupou o cargo de ministro da Agricultura e se envolveu na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Ele lembra que, em 1974, nenhum país tropical tinha o conhecimento científico próprio necessário para desenvolver a agricultura nessas áreas.

A quantidade de alimentos que o Brasil produz atualmente é suficiente para abastecer por volta de 1 bilhão de habitantes ao redor do planeta

“Nós mandamos mais de 1,5 mil técnicos para os melhores centros de ciência do mundo”, conta. Eles tinham de ir até lá, ver o que se fazia de melhor, mas tinham o compromisso de voltar e desenvolver aqui a tecnologia e a inovação para o bioma tropical brasileiro”, contou. “E isso deu certo, porque, além desse esforço, nós criamos a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural, responsável por transferir a tecnologia desenvolvida para os produtores rurais.”

Safra de ganhos para o Brasil
Mais grãos e pastos melhores também impulsionaram os rebanhos brasileiros. Todas essas transformações aumentaram a relevância da agropecuária no Produto Interno Bruto (PIB) do país. Em 1990, o setor foi responsável por 6,7% de PIB. No ano passado, essa fatia subiu para 14%. Na pauta de exportações, houve a mesma expansão. De cada US$ 100 que o Brasil ganhou com o mercado externo em 1997, US$ 11 vieram da produção rural. Em 2011, essa relação cresceu para US$ 20 por US$ 100.

A quantidade de alimentos que o Brasil produz atualmente é suficiente para abastecer por volta de 1 bilhão de habitantes ao redor do planeta. A média de calorias disponível diariamente por brasileiro chega a 3,3 mil são 100 quilocalorias a mais que a Suécia, e acima também de nações como Holanda e Nova Zelândia, conforme mostram dados de um levantamento realizado em 2018 pelo site Our World In Data, vinculado à Universidade de Oxford.[e aquela sueca, Greta qq coisa,quer cantar de galo no Brasil.]

Criação de gado em Bananeiras, na Paraíba | Foto: Shutterstock

De arroz e feijão, o prato mais popular do país, são cerca de 60 quilogramas por habitante anualmente. O consumo médio interno de carnes, somando aves, bovinos e suínos, foi de cerca de 100 quilos por cabeça em 2021. De leite, a disponibilidade passa de um copo por dia para cada brasileiro. E ainda existe a produção de itens análogos à alimentação, como os biocombustíveis. A fabricação brasileira de etanol, sozinha, bateu cerca de 30 bilhões de litros no passado. E, em biodiesel, foram quase 7 bilhões de litros.

Produzindo com preservação ambiental
Essa produção toda foi possível aliando preservação de matas nativas, uma vez que 66% do território nacional está intocado. Levantamentos realizados pela Embrapa, pela Nasa e pelo Mapbiomas mostram que a agricultura ocupa apenas 8% de todas as áreas brasileiras. [as terras indígenas, ociosas, ocupam quase que o dobro. E quando somadas com a pecuária, as terras ocupam o dobro das terras ociosas = terras indígenas.]  Somando com a pecuária, as terras destinadas ao agronegócio representam cerca de 30% do país.  
A área preservada corresponde ao território de 17 Estados brasileiros, incluindo os dois com o maior território: Amazonas e Pará. Ao mesmo tempo, a área empregada para o cultivo das lavouras equivale ao tamanho de Goiás e Tocantins.

É a revolução verde. Um verde que vem tanto da agricultura quanto do meio ambiente.

Leia também “O mundo tem fome e o Brasil, alimentos”

Artur Piva, jornalista - Revista Oeste


quinta-feira, 14 de julho de 2022

Onde estão as provas da CPI da Covid? - Gazeta do Povo

Alexandre Garcia

Sri Lanka destruiu sua agricultura ao botar em prática as palavras bonitas da ONU

Como vocês sabem, lá no Sri Lanka o presidente teve de fugir para o exterior, porque o povo invadiu o palácio presidencial no sábado. Sabem qual foi a causa disso? Estou inspirado no Xico Graziano, num artigo que saiu também no Poder 360: o tal do produto orgânico. 
Ele prometeu na campanha eleitoral que não haveria mais importação de defensivos e fertilizantes químicos, e fez isso exatamente baseado num relatório da ONU.  
O pessoal da ONU fala e escreve essas coisas, é tudo muito bonito, já acompanhei de perto essas coisas lindas da notícia, da fama; pois ele aplicou.

Casal cultiva horta caseira no Sri Lanka: política agrícola do governo causou escassez de comida e revolta popular. -  Foto: Chamila Karunarathne/EFE/EPA


Em seis meses essa política já tinha arrasado a cultura do arroz em um país que era exportador. O preço interno subiu 50% e tiveram de importar arroz para comer porque a produtividade despencou 35%.  
Vocês acham muito? Pois a produtividade do chá caiu pela metade. A do coco, outro grande produto de lá, caiu 30%.
A do milho também caiu pela metade. Então, gente, quando aparecem essas novidades, essas coisas bonitinhas, tudo bem testar em pequenas propriedades, avulsas, meio raras e para quem pode pagar o preço, porque fica mais caro; em larga escala, no entanto, o Sri Lanka mostrou que fracassou. É bom a gente lembrar que Norman Borlaug ganhou um Prêmio Nobel por aumentar a produção de alimentos do mundo, aplicando fertilizantes e defensivos, principalmente.


Onde estão as provas da CPI da Covid?

Vou falar de novo da tal CPI do circo no Senado. A Polícia Federal recebeu aquele calhamaço de denúncias, mas não tinha prova nenhuma;  
então, está pedindo que o relator, o senador Renan Calheiros, mande as provas. Faz mais de meses que ela está pedindo e não vem nada. 
Então, a PF está apelando para o Supremo, já que foi o Supremo que mandou abrir essa CPI, que mande também enviar as provas para a polícia conseguir concluir os inquéritos e encaminhar tudo para a procuradoria com as devidas provas. Do contrário, não adianta nada: é só trabalho perdido da CPI, tempo perdido de quem acompanhou, da PF, vamos esperar que seja tudo encaminhado.
A propósito de CPI da Covid, eu vi aqui no Poder 360 que quem mais lucrou com a pandemia foi a Pfizer.  
O lucro líquido mais que dobrou, subiu 131%. 
A vacina rendeu US$ 13,2 bilhões; 
um tal de Paxlovit, US$ 1,5 bilhão de dólares. Bom negócio. 
Agora, diga-se a favor de todos os laboratórios que uma parte do preço do medicamento é destinada depois à pesquisa de novos avanços; tomara que a Pfizer aplique esse dinheiro em pesquisas de vacina, por exemplo.
 

[Lula = o rei da mentira = o Pinóquio de nove dedos]
O ex-presidente Lula andou passando por Brasília e deu uma entrevista para o Correio Braziliense. Depois de ter chamado Bolsonaro de mentiroso, ele afirmou que foi o político mais investigado do país e não acharam nada contra ele.
E ainda disse que a denúncia do petrolão foi recusada pela Justiça de Brasília

Pois é... Eu contei aqui as vezes em que Lula mencionou Bolsonaro: nove vezes. Alckmin ele mencionou duas vezes. Parece até que Bolsonaro é seu companheiro de chapa...

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


quinta-feira, 26 de maio de 2022

O agronegócio alimenta o Brasil - Revista Oeste

 
Ceasa no Rio de Janeiro | Foto: Shutterstock
 
Ceasa no Rio de Janeiro | Foto: Shutterstock

O mito de que o agronegócio alimenta o mundo, mas deixa o brasileiro passando fome, não se sustenta mais. Nem a concepção de que dependemos de pequenos agricultores primitivos, como o clichê criado por movimentos de esquerda.

A produção agrícola que fornece alimentos para a população do Brasil não é aquela cultivada apenas na enxada, no arado puxado à tração animal e adubada somente com esterco. Esse agricultor ainda existe, mas não consegue colher mais que o suficiente para o próprio sustento. Equipamentos como tablets e drones aparecem com frequência cada vez maior no campo.

O agronegócio, que pode ser familiar ou empresarial, usa técnicas modernas e ocorre em áreas de todos os tamanhos. O Censo Agro 2017 mostrou, por exemplo, que o número de tratores, próximo de 250 mil em 1975, pulou para 1,25 milhão.

Com a evolução tecnológica continuamente avançando na área rural, a disponibilidade de alimentos deu um salto. A produtividade do arroz, um dos principais pratos consumidos no país, aumentou mais de seis vezes desde o fim da década de 1970, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Para o feijão, o crescimento chegou a três vezes. Em quase 50 anos, a cultura de grãos no Brasil ficou, em média, quatro vezes mais eficiente. A colheita saiu de cerca de uma tonelada por hectare para quase quatro toneladas por hectare em 2021.

Primeiro Mundo em comida na mesa
O agronegócio brasileiro consegue disponibilizar cerca de 13 milhões de toneladas de arroz e feijão anualmente para o consumo interno. São 60 quilos por habitante, ou 240 quilos para uma família formada por pai, mãe e dois filhos.

A fabricação do óleo de soja, amplamente utilizado nos lares nacionais, é sete vezes superior ao consumo interno. E a safra do grão in natura — acima de 120 milhões de toneladas — supera em mais de duas vezes a demanda do país. A colheita de milho, outro item bastante procurado, deve passar de 100 milhões de toneladas neste ano, sendo que 77 milhões delas ficarão por aqui.

No Brasil robusto na produção de alimentos, a média de quilocalorias consumida diariamente por habitante chega a 3,3 milsão 100 quilocalorias a mais que a Suécia, e acima também de nações como Holanda e Nova Zelândia. Os dados fazem parte de um levantamento realizado em 2018 pelo site Our World In Data, vinculado à Universidade de Oxford. Como costuma dizer o engenheiro agrônomo Roberto Rodrigues, ministro da Agricultura durante o governo Lula, “comida no Brasil não falta. A distribuição que é ruim.

Mais carne que a média da OCDE
A oferta de carnes por habitante, somando bovinos, suínos, aves e carneiros, se aproximou de 80 quilos por ano em 2019, conforme dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, na sigla em inglês). O consumo brasileiro ficou acima da média dos países membros do órgão, que o coloca como o sexto maior per capita do planeta. À frente do Brasil estão Estados Unidos, Israel, Austrália, Argentina e Chile.

Ainda falando da contribuição pecuária, as granjas nacionais de galinha produziram cerca de 55 bilhões de ovos em 2021. Praticamente 100% ficou no mercado interno, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal. E existe também a ordenha de leite de vaca, estimada em 35 bilhões de litros em 2020. Ou seja: 160 litros por habitante.

Gigante na produção
O Valor Bruto da Produção rural vai passar de R$ 1 trilhão pelo segundo ano seguido em 2022. Além de todos os itens já citados, a conta também inclui grandes volumes de algodão, amendoim, banana, batata, café, cana-de-açúcar, laranja, tomate e outros. Na prática, quase todos os alimentos consumidos no país têm origem local. Tanto que a exportação agrícola foi dez vezes maior que a importação: praticamente 120 milhões de toneladas, contra 12 milhões de toneladas.

O agronegócio também abrange a agricultura familiar. Esse modelo não está ligado à renda ou à tecnologia embarcada na propriedade

Na pauta da importação agrícola, o trigo aparece com o maior peso: 6 milhões de toneladas. Apesar disso, metade da demanda interna de 12 milhões de toneladas vem das lavouras nacionais. E, graças às sementes desenvolvidas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a autossuficiência pode ser alcançada. Tudo depende de políticas públicas e crédito.

Prosperidade no campo e na cidade
Essa expressiva produção também traz desenvolvimento rural e urbano às regiões onde ela acontece. O cerrado baiano é uma das partes beneficiadas do país. Júlio Cézar Busato, atual presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão, viu e viveu esse desenvolvimento agrícola.

A família Busato partiu de uma propriedade modesta, com cerca de 80 hectares no interior do Rio Grande do Sul, na década de 1980 para um grupo empresarial familiar que emprega em torno de mil funcionários atualmente. Em entrevista a Oeste, o empresário comentou a transformação gerada pelo impacto positivo da agricultura na região do município de Luís Eduardo Magalhães, no interior da Bahia.  “Quando cheguei, em 1987, o oeste da Bahia plantava 183 mil hectares de soja, e hoje o plantio chega a 2,7 milhões de hectares, contando soja, milho, algodão, frutas e outras culturas”, comentou. “Luís Eduardo Magalhães era um posto de gasolina abandonado no meio do nada. Agora, a cidade tem o terceiro IDH da Bahia e 100 mil habitantes. Isso mostra o desenvolvimento que a agricultura traz. Todo mundo ganha dinheiro com esse ciclo, não apenas o agricultor. Na fazenda, existem vários funcionários de diferentes áreas, como técnicos, agrônomos, operadores de máquinas, mecânicos e cozinheiros. São eles que vão comprar carros, colocar os filhos em escola particular, construir suas casas, ir aos supermercados. É isso que movimenta a economia e que fez brotar numa região oportunidades para se libertarem da pobreza e da dependência dos programas sociais.”

Agronegócio também é familiar
No Brasil, propagou-se a ideia de que o agronegócio não é o grande fornecedor de alimentos. Essa distorção coloca — erroneamente — o agricultor rudimentar, com pouco espaço de terra e baixa tecnologia, como o maior responsável pela comida que vai para a mesa. O mito confunde inclusive esse tipo de produtor com o que seria a agricultura familiar.

O fato é que o agronegócio também abrange a agricultura familiar. Esse modelo não está ligado à renda ou à tecnologia embarcada na propriedade. Para ser uma chamada Unidade Familiar de Produção Agrícola (UFPA), o estabelecimento rural precisa atender a quatro critérios definidos em lei: a propriedade não pode ultrapassar as dimensões de quatro módulos fiscais, a renda da família deve vir majoritariamente daquela terra e a gestão bem como a maior parte da mão de obra empregada têm de ser familiar.

As regras não proíbem o uso das mais avançadas tecnologias, a venda para outros países nem o acúmulo de riqueza. Em alguns casos, as propriedades podem até mesmo ter dimensões que não parecem exatamente “pequenas”.

A medida de cada módulo fiscal é diferente de um município para outro. Em Mato Grosso, o Estado que tem a produção agrícola com o maior Valor Bruto no Brasil, o módulo fiscal varia de 60 a 100 hectares. Sendo assim, uma fazenda com 400 hectares (em torno de 500 campos de futebol) pode ser uma UFPA.

Em Guaxupé (MG), por exemplo, a agricultura familiar está limitada a 100 hectares de terra. A Cooxupé, cooperativa dos cafeicultores locais, formada por agricultores desse modelo de produção, é uma das grandes exportadoras do grão do país e aplica as mais modernas técnicas na lavoura para garantir produtividade e qualidade.

A origem da safra
Realizado em 2017, o último Censo Agropecuário revelou que 77% dos estabelecimentos rurais fazem parte da agricultura familiar. Eles, porém, ocupam 27% das terras dedicadas à agropecuária no Brasil. Todo o restante — quase três quartos da área agrícola — é gerido pelo modelo denominado empresarial. Isso mostra a colcha de retalhos que forma o campo brasileiro. A produção de alimentos, no fim das contas, é feita nos dois modelos interligados. O que faz a força da produção brasileira chegar às nossas mesas.

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Artur Piva, colunista - Revista Oeste


quarta-feira, 13 de abril de 2022

O Brasil não precisa importar trigo - Evaristo de Miranda

Revista Oeste

A Embrapa Territorial identificou quase 3 milhões de hectares com condições favoráveis para a triticultura nos cerrados brasileiros

Plantação de trigo | Foto: Shutterstock 

 Plantação de trigo | Foto: Shutterstock

Companheiro! Hoje, essa expressão possui tons políticos. Seu significado literal evoca aquele com quem compartilhamos o pão (cum panis). O pão é um dos maiores símbolos da alimentação humana. É alimento material e espiritual. Como na metonímia, o pão nosso de cada dia. O Cristianismo considera Jesus Cristo o Pão da Vida (Jo 6,48) e associa Pai Nosso (ORAÇÃO) e Pão Nosso (EUCARISTIA). A fabricação do pão é simples: farinha de trigo amassada com água e um pouco de sal. A massa com levedura descansa, cresce e vai a um forno com temperaturas altas. Quando falta trigo, falta pão. E não só. A farinha de trigo é a base de macarrões, bolachas, bolos, pizzas, pastéis, pudins, bolinhos…

O trigo é o segundo cereal mais cultivado e produzido no mundo, depois do milho. E é também o segundo cereal em consumo humano, depois do arroz. Mais de 70% do trigo é destinado à alimentação humana, enquanto boa parte do milho é usada na produção de etanol, ração animal e outras finalidades não alimentares. O trigo é a principal fonte de calorias em mais de 80 países. O Brasil, grande produtor e exportador de alimentos, depende de importações de trigo.

Em 2021, houve uma exportação recorde de mais de 2 milhões de toneladas de trigo brasileiro

O Brasil é o sétimo importador mundial de trigo e compra na ordem de 7 milhões de toneladas por ano, essencialmente da Argentina (85%). Foram quase US$ 3 bilhões, apenas em 2021, enviados ao exterior para não faltar pão nem macarrão. Em 2021, o país plantou 2,74 milhões de hectares de trigo e colheu 7,7 milhões de toneladas. Uma safra recorde. O consumo interno foi de 12,5 milhões. A atual produção brasileira atende mais da metade da demanda interna.

Os cinco principais exportadores de trigo são Rússia, Estados Unidos, União Europeia, Ucrânia e Argentina. A produção mundial em 2020 foi da ordem de 770 milhões de toneladas, cultivados em cerca de 219 milhões de hectares. Rússia e Ucrânia representam juntas cerca de um terço do trigo exportado no mundo e são os grandes fornecedores da África do Norte. A Ucrânia é o quarto exportador de trigo. A guerra elevou o preço internacional do trigo em mais de 30%.

Moinhos, indústria agroalimentar e de rações relutam em pagar por aqui as valorizações refletidas do mercado internacional pela guerra para os cereais. O milho está em patamares próximos das máximas históricas no Brasil. As cotações do trigo atingiram o maior valor em 14 anos. O mercado interno anda devagar, à espera de alguma pouco provável acomodação nos preços.

O Brasil também exporta trigo. Milhões de toneladas. Todo santo ano. Em 2021, por razões logísticas e econômicas, houve uma exportação recorde de mais de 2 milhões de toneladas de trigo brasileiro. E a exportação prossegue em 2022. Razões de mercado não faltam, e a guerra na Ucrânia ajuda.

Com câmbio favorável e um mercado interno em marcha lenta, a exportação de trigo atingiu volumes nunca vistos. A estimativa de exportação de trigo do Brasil no período 2021/22 (de agosto a julho) foi revisada de 2,5 para 2,7 milhões de toneladas. De dezembro de 2021 a fevereiro de 2022, os embarques de trigo somaram cerca de 2 milhões de toneladas, o dobro do volume de todo o ano passado. Em todo o mundo, a guerra ampliou a exportação de trigo em 25%.

Isso comprometeu a disponibilidade interna e as margens dos moinhos. Logo, o Brasil só contará com as importações para atender à demanda interna, até a nova safra, em setembro. Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa, o Brasil vive o livre mercado. Isso proporciona exportações na conjuntura atual e estimula a ampliação do plantio na nova safra. Em 2022, o Brasil semeará 3,6 milhões de hectares, a maior área dos últimos 36 anos. Se o clima ajudar e a produtividade média atingir 3 toneladas por hectare, a produção nacional se aproximará de 10 milhões de toneladas.

O trigo pode seguir o caminho da soja e do milho nas últimas décadas. Em 20 anos, o Brasil passou de 35 milhões de toneladas de milho por ano para cerca de 120 milhões. Para a Embrapa Trigo, limitados unicamente ao mercado interno, os triticultores tinham poucos incentivos. Agora, os preços externos elevados dão sustentação aos preços internos. A demanda da indústria brasileira é boa e oferece garantias aos produtores. A Argentina, principal exportador para o Brasil, está diversificando seus mercados. O Brasil tem boas oportunidades para ampliar a exportação ao mercado africano.

Plantação de trigo em Cascavel, Paraná - Foto: Shutterstock

As regiões tradicionais no Paraná enfrentam dificuldades para expandir a área de trigo. Os cultivos de inverno ocupam apenas 20% das áreas cultivadas no verão. Já no Rio Grande do Sul, a área poderá crescer em até 30% em 2022. A Embrapa, junto com o setor privado, lidera a expansão de área e o aumento da produtividade do trigo tropical. Minas Gerais e Goiás expandiram em mais de três vezes a área cultivada entre 2012 e 2020, e ultrapassaram 100 mil hectares.

Experimentos da Embrapa e parceiros comprovam o potencial de produção de trigo tropical de sequeiro no Norte e no Nordeste, como em Roraima, Piauí, Maranhão, Alagoas e Ceará. Algo inimaginável tempos atrás. É a capacidade científica de adaptar o trigo às condições tropicais, como foi feito para a soja, com variedades adaptadas até ao clima equatorial. E essa expansão poderá ocorrer sem implicar novos desmatamentos, em áreas já utilizadas nos cerrados com a produção de grãos. A Embrapa Territorial identificou 2,7 milhões de hectares com condições favoráveis para a triticultura nos cerrados brasileiros.

A produtividade do trigo aumenta constantemente. Na década de 1990, a média era de 1,5 tonelada/hectare (ton/ha). Na de 2000, chegou a 2,5 ton/ha, quase 70% a mais. Hoje, as melhores lavouras já superam 5 ton/ha nas regiões produtoras. No Cerrado, sob irrigação, com variedades da Embrapa, como a BRS 264, produtores atingem mais de 9 ton/ha. Paulo Bonato, de Cristalina (GO), colheu 9,63 ton/ha em 2021, um recorde mundial de produtividade. O trigo avança, graças às melhores tecnologias de produção, ao empreendedorismo e à competência dos agricultores.

A conhecida expressão “pão e circo” (panem et circenses) foi usada pelo poeta satírico romano Juvenal (Decimus Iunius Iuvenalis) para denunciar a distribuição de pão e a organização de jogos pelos imperadores romanos para desviar a atenção dos cidadãos de outras preocupações importantes. No circo político atual do Brasil, o pão tem sido usado para desviar a atenção dos legítimos problemas e de suas verdadeiras soluções. A falta de trigo derivada da guerra neste momento é estimada em menos de 1% do cultivo global. E a  produção de trigo no Brasil já é grande e pode avançar mais e rapidamente. Isso é relevante.

Para o presidente da Embrapa, Celso Moretti, tempos de guerra relembram a importância da segurança nacional, e isso inclui a segurança alimentar e a necessária autossuficiência brasileira na produção de trigo. O país deve adotar as políticas e os mecanismos necessários para expandir a produção tritícola. Não há solução mágica. O Ministério da Agricultura aprovou um plano da Embrapa Trigo para expansão da produção da triticultura no Cerrado. Os recursos previstos de R$ 2,9 milhões fomentarão ações por 36 meses. Os objetivos são: aumentar a área cultivada em 40% até 2025, de 252.000 hectares, em 2021, para 353.000 hectares; capacitar 70 assistentes técnicos; produzir 1.760 toneladas de sementes no período; apoiar dias de campo, unidades demonstrativas, lavouras expositivas e visitas técnicas, além de fóruns e reuniões de pesquisa.

As ações de pesquisa e transferência de tecnologia serão em São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, além do Distrito Federal. Deveriam complementar essas ações, melhorias na logística, impostos equilibrados e incentivos aos setores envolvidos, da produção à pós-colheita.

Pão de hoje, carne de ontem e vinho de outro verão fazem o homem são, diz o adágio latino. Carnem hesternam, panem hodiernum, annotina vina, sume libens dicto tempore, sanus eris. A sanidade alimentar está ao alcance de tratores e mãos dos produtores brasileiros. Sus! A Embrapa estima ser possível produzir até 22 milhões de toneladas/ano de trigo no Brasil. Isso triplicará a produção atual e tornará o país um dos dez maiores exportadores de trigo. Sus! O Brasil tem tecnologia e produtores preparados. Precisa subir no barco certo. Já dizia Gil Vicente no Auto da Barca do Inferno: “Companheiro… Sus, sus! Demos à vela!”.

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Evaristo de Miranda, colunista - Revista Oeste