Vozes - Flavio Quintela
Magic Kingdom, um dos parques da Disney em Orlando, na Flórida.| Foto: stinne24/Pixabay
Na época, diante de toda a polêmica criada pela imprensa de esquerda, que deturpou por completo o texto da lei, o então CEO da Disney, Bob Chapek, disse aos trabalhadores da gigante do entretenimento que a empresa não assumiria uma posição pública sobre a legislação, de forma a permanecer fora do campo da ação política. Os funcionários da Disney protestaram e Chapek cedeu rapidamente, declarando que a empresa lutaria para que a lei fosse rescindida.
A Disney tornou-se o símbolo do aumento do ativismo corporativo. A empresa é um bastião do movimento woke. Ainda que esteja longe de quebrar, ela está enfrentando boicotes sem precedentes de seus parques e filmes
A Disney poderia continuar se beneficiando dessa vantagem única por muitas décadas mais. Em vez disso, optou por agir politicamente contra o governo eleito da Flórida, achando que não haveria consequências graves. Em resposta à promessa de Chapek de lutar pela rescisão da lei, o governador Ron DeSantis articulou uma resposta contundente com o Legislativo estadual, extinguindo o distrito Reedy Creek Improvement e criando um novo distrito para governar toda a área de propriedade da empresa e um novo conselho administrativo em que a turma do Mickey não possui nenhuma influência ou capacidade de decisão.
Diante desse revés, a empresa poderia ter tentado encontrar um meio-termo. Em vez disso, fez algo ainda mais imprudente: nos últimos dias do conselho dominado pela Disney, os membros votaram pela transferência de poderes para a empresa. Algo do tipo “já que nao haverá mais um distrito em que somos a autoridade, nós estamos inventando uma resolução em que nossa empresa fica imune ao controle de qualquer outro conselho daqui para a frente”. Em outras palavras, uma verdadeira declaração de guerra ao governo estadual.
A Disney tornou-se o símbolo do aumento do ativismo corporativo. A empresa é um bastião do movimento woke. Ainda que esteja longe de quebrar, ela está enfrentando boicotes sem precedentes de seus parques e filmes, incluindo filmes infantis controversos com personagens e relacionamentos do mesmo sexo. Em dois desses filmes, a Disney perdeu mais de um quarto de bilhão de dólares. Mas ela não está sozinha. Nos últimos dias, Bud Light e Nike enfrentaram reações e boicotes depois de alinhar suas marcas com o influenciador transgênero Dylan Mulvaney. No caso da Anheuser-Busch, controladora da Bud Light, o impacto imediato foi a perda de US$ 6 bilhões em valor de mercado. Essas empresas se juntam a uma longa lista de corporações que abraçam causas políticas e sociais a despeito da oposição significativa de seus consumidores.
No caso da Disney, se os rumores se confirmarem e o novo conselho prosseguir com seu plano, a empresa terá de fazer uma escolha. Ela pode abandonar a briga e buscar um acordo com o Estado. Caso opte por continuar a briga, o litígio manteria a Disney no noticiário de forma negativa e polarizadora. Também exporia suas operações à descoberta e escrutínio público. Além disso, diante da imensidão de quatro parques temáticos, dois parques aquáticos, 25 hotéis e cerca de 80 mil funcionários, o estado da Flórida tem uma série de áreas onde seu poder regulatório pode custar muito caro à Disney. Basta que o novo conselho aja para forçar inspeções de monotrilhos e elevadores, fazer cumprir as normas ambientais e aumentar os salários dos socorristas. Só isso já seria suficiente para causar um tremendo prejuízo. E se a Disney lutar publicamente contra qualquer uma dessas ações, terá de fazê-lo com base no argumento de que merece ser tratada com desigualdade de condições em relação a outras empresas, uma posição que tem um apelo muito mais negativo que positivo.
Mickey está num beco sem saída. Aguardemos as cenas do próximo capítulo.
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Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos
Flavio Quintela, colunista - Gazeta do Povo - VOZES