O bombardeio incendiário da cidade foi feito pelo “lado do bem” durante a II Guerra, mas as questões morais continuam as mesmas: vale tudo na guerra?
E como é fácil encontrar argumentos, se não fáceis, dignos de consideração: o inimigo era o nazismo, a Alemanha tinha iniciado a hedionda “guerra total”, sem diferenciar entre combatentes e civis.
Apenas cinco anos antes, era a Alemanha a agressora de civis inocentes. Faltava só a Inglaterra para ter o domínio total da Europa. Chegou perto disso.
Entre setembro de 1940 e maio de 1941, fábricas, indústrias, instalações militares e alvos que deveriam ser preservados, incluindo o Parlamento e patrimônios culturais como a catedral de Coventry, foram bombardeados.
Harmon escreveu um livro sobre o tema, intitulado Nós Somos Feras?.
Uma das descrições mais torturantes foi feita por um inglês, um prisioneiro de guerra chamado Victor Gregg. Em 13 de fevereiro, em sua cela num campo de trabalhos forçados ao lado de Dresden, ele viu “o dia virar noite”. Os traçadores e depois as bombas de fósforo começaram a cair. Uma parede da prisão desmoronou, Gregg tentou fugir.
Os sobreviventes estavam fazendo a mesma coisa. A cidade estava coalhada de corpos humanos, muitos “encolhidos” para menos de 1 metro pelo calor. Abaixo de 3 anos, as crianças haviam simplesmente evaporado. Era como uma Hiroshima sem a parte nuclear.
Curiosamente, em especial na Inglaterra, políticos da direita tradicional argumentam até hoje em favor do bombardeio de Dresden. Vencer o nazismo era tão mais importante do que tudo, mais até que as considerações morais básicas, que nenhum recurso podia ser evitado (Dresden, evidentemente, não foi a única cidade alemã reduzida a ruínas).
É uma expressão pesada, até ofensiva aos judeus que defendem o caráter único, sem parâmetros, do genocídio industrial conduzido pelos nazistas. Em hebraico, Shoá.
As pilhas e mais pilhas de corpos deformados levados para a incineração depois do grande fogo que caiu do céu em fevereiro de 1945 evocam, quase insanamente, as vítimas dos campos de extermínio. Talvez o que aconteceu em Dresden possa ser chamado apenas de holocausto, com minúscula.
Mas aconteceu e não pode ser ignorado, mesmo que isso provoque constrangimento e questionamentos morais. Nem 75 anos depois.
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