Sérgio Machado e a revolta contra a Lava Jato
Além de
devastar a cúpula do PMDB com suas revelações –
preservando o PT e toda a corja lulopetista - o delator mostra que os
políticos se revoltam com a operação porque consideram natural a propina
A
importância da delação de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, não se resume ao fato de ser devastadora para a cúpula do PMDB. Machado afirma que passou cerca
de R$ 100 milhões de propina a seu partido e
revela os nomes dos principais agraciados – o presidente do Senado,
Renan Calheiros, o ex-presidente José Sarney, e os senadores Romero Jucá e Edison Lobão. Ele conseguiu conferir credibilidade
ao que diz porque gravou os três primeiros, em uma demonstração cabal de que
desfrutava da confiança deles. Em seu relato aos procuradores, Machado
demonstra a antiguidade, a extensão, o modo de funcionamento e explica de onde
vem a indignação dos envolvidos com as delações premiadas e o atropelo que a
Operação Lava Jato representa em seu modo de fazer política.
À frente de um caixa recheado na
Transpetro,
indicado por Renan, Machado funcionou como um arrecadador de recursos de
empresas fornecedoras da Transpetro. Segundo ele, as
empresas ganhavam contratos e, depois, tinham de pagar o pedágio para os
políticos. Eram procuradas também em anos eleitorais para fornecer algum
dinheiro para campanhas.
Machado demonstra que seus amigos do PMDB tinham o privilégio
de receber propina em parcelas regulares. Políticos de outros partidos também o
procuravam de tempos em tempos. Entre esta turma, o pluripartidarismo vigora.
Machado foi procurado pelo hoje governador interino do Rio de Janeiro, Francisco Dornelles, pelo petista Cândido Vaccarezza, por Jandira
Feghali, do PCdoB, entre outros. Entregou também seus antigos colegas do PSDB,
como o senador Aécio Neves, e o falecido presidente do partido Sérgio Guerra.
Mais
curioso, Machado deu talvez a melhor
explicação até aqui sobre a revolta dos políticos com a Lava jato. Segundo
ele, desde 1946 – quando a ditadura de
Getúlio Vargas foi substituída pela volta da democracia – vigora um sistema informal, pelo qual os empresários que
fazem negócios com o governo moldam seus orçamentos ao que ele chama de “custo político”, que nada mais é do que
corrupção, o hábito de pagar propina a políticos que controlam cargos públicos.
As conversas com Renan, Jucá e Sarney tratam justamente de uma certa revolta
com este ponto, com o fato de as
delações terem acabado com a lei do silêncio que servia de sustentação a esse
sistema. Os três e Machado indignam-se com o fato de alguém querer derrubar
esse modo de vida arraigado e favorável a seus participantes. Aos políticos,
parece natural que tenham o direito de cobrar propina de quem queira fazer
negócios com o governo.
O
ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, negou os pedidos de prisão de Renan, Jucá e Sarney, feitos pelo procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, com base nas gravações feitas por Machado. A
princípio, Janot perdeu essa. Mas as informações de Machado não aliviam a vida
dos três. As revelações de Machado vão levar a novas investigações para apurar
onde foi parar o dinheiro que ele diz ter entregado aos três e a todos os
outros citados. Não haverá sossego.
Fonte: Revista Época