Lula era ou não o comandante da Lava
Jato? Perdoe o spoiler: ao ler a denúncia, você vai concluir que era
Este Brasil lindo e trigueiro, malandro
e brejeiro, se fixou no PowerPoint. Tudo bem. A Olimpíada acabou, o pessoal precisa
se divertir com alguma coisa. Mas, sem querer ofender ninguém, fica a sugestão:
Brasil, leia a denúncia do Ministério Público Federal
contra Lula. Não, não estamos falando de reportagem, nem de
comentário, nem de flash na TV, no rádio ou na internet. Leia a denúncia assinada por 13 procuradores da República. São 149
páginas. Não dói tanto assim. Até diverte.
Ao final,
você poderá tirar sua própria conclusão sobre a polêmica do momento: Lula era
ou não era o comandante máximo do esquema da Lava-Jato? Perdoe o spoiler: você vai concluir que era. E que
PowerPoint não é nada. De saída, uma
ressalva: a referida denúncia, apesar de sua extensão que dá uma preguiça
danada neste Brasil brasileiro, é só o começo. As obras
completas do filho do Brasil demandarão muito mais páginas – se é que um
dia chegarão a ser publicadas na íntegra. De qualquer forma, ao final dessas
primeiras 149, você não terá mais dúvidas sobre quem é
Luiz Inácio da Silva e sobre quem é o Brasil delinquente que o impeachment barrou.
Os
procuradores seguiram um caminho simples: o
do dinheiro. A literatura da Lava Jato é tão vasta que a plateia se perde
no emaranhado de delações, na aritmética dos laranjas e na geometria das
trampolinagens. Aqui, a festa na
floresta está organizada basicamente em três eixos: a ligação direta e comprovada de Lula com os diretores corruptos da
Petrobras, incluindo a nomeação deles e sua manutenção no cargo para continuarem roubando; a ligação pessoal e
comprovada de Lula com expoentes do clube das empreiteiras, organizado para
assaltar a Petrobras; e a ligação orgânica e comprovada
de Lula com os prepostos petistas e seus esquemas de prospecção de
propinas.
José Dirceu, João
Vaccari Neto e Silvinho Pereira são algumas dessas estrelas escaladas pelo
ex-presidente
para
montar o duto nacionalista que depenou a Petrobras. Interessante notar que,
quando Dirceu cai em desgraça por causa do mensalão, o esquema do petrolão
continua a todo vapor – e o próprio Dirceu, mesmo proscrito, continua recebendo
o produto do roubo. Claro que um ex-ministro sem cargo, investigado e,
posteriormente, preso, só poderia atravessar todo esse calvário recebendo
propina se continuasse tendo poder no esquema – e só uma pessoa poderia
conferir tanto poder a um político defenestrado: o astro-rei do PowerPoint.
A novela
da luta cívica de Lula em defesa de “Paulinho”
(Paulo Roberto Costa, ex-diretor de
Abastecimento da Petrobras e um dos mais famosos ladrões do esquema) é
comovente. O então presidente da República não mede
sacrifícios e atropelos para nomear e manter o gatuno no cargo. Os
procuradores não foram genéricos em sua denúncia. Ao contrário, optaram por
aproximar o foco de algumas triangulações tão específicas quanto eloquentes.
Uma delas, envolvendo também Renato Duque – colocado
pela turma de Lula na Diretoria de Serviços da Petrobras para roubar junto com
o Paulinho –, ilumina outro protagonista da trama: Léo Pinheiro, executivo
da OAS. Montado o elenco, os procuradores apresentam o eletrizante enredo do
caso Conpar. “A expansão de novos e
grandiosos projetos de infraestrutura, incluindo a reforma e a construção de
refinarias, criou um cenário propício para o desenvolvimento de práticas
corruptas”, aponta a denúncia. Ou seja: o governo
Lula criou um PACo da corrupção. O ladrão fez a
ocasião.
E entre as ocasiões mais apetitosas estava uma obra de R$ 1,3 bilhão na Refinaria Getúlio
Vargas (Repar), que acabou custando R$
2,3 bilhões. A OAS integrava o consórcio Conpar, que graças ao prestígio de Léo Pinheiro, amigo do rei, arrematou
o contrato em flagrante “desatendimento
da recomendação do departamento jurídico da Petrobras sobre a necessidade de
avaliação da área financeira para a contratação do consórcio Conpar, em junho
de 2007”.
Como 149 páginas não cabem em uma, fica só o aperitivo para este
Brasil brejeiro largar o PowerPoint e conhecer, com seus próprios olhos, a
denúncia que Sergio Moro acatou. O caso Conpar, como você já imaginou, termina
em Guarujá. No mínimo, você aprenderá como ocultar (mal) um tríplex
à beira-mar.
Fonte: Guilherme Fiuza – Revista Época