Coronavírus sacode mercados, mas efeitos econômicos dependem da gravidade do surto
Os mercados financeiros globais foram abalados nesta semana pelo
agravamento do surto envolvendo o coronavírus. Seu epicentro é a China,
segunda maior economia do mundo e principal fonte de produtos baratos do
planeta. Como ocorre nesses momentos, fundos e grandes especuladores
internacionais aproveitaram-se das fortes oscilações nos preços dos
ativos para maximizar ganhos e realizar lucros, o que derrubou as
principais bolsas de valores.
Ao longo da semana, as oscilações acompanharam em parte o noticiário.
Ainda é difícil, contudo, enxergar com clareza os verdadeiros impactos
do surto da doença. A partir da China, os casos já se espalharam para
cerca de 25 países. Várias companhias internacionais, de grupos de aviação a montadoras,
passando por empresas de tecnologia e de bens de consumo, anunciaram
fortes restrições em suas operações na China.
Segundo uma estimativa, mais de 60% do PIB chinês é gerado nas 12
províncias com o maior número de contágios. Cidades estão bloqueadas e
há restrição à circulação de pessoas, o que paralisou muitas fábricas.
Já se especula que o surto poderá subtrair um ponto do crescimento
chinês neste ano. As autoridades do país, porém, não devem ficar paradas, e fortes medidas de estímulo são aguardadas.
A eclosão dessa nova ameaça à saúde da economia global é uma ducha de
água fria em um cenário um pouco mais positivo que havia surgido, há
duas semanas, após o fechamento do tão esperado acordo comercial entre
EUA e China. Razão de muitas preocupações de investidores e empresas ao longo de
2019, o entendimento entre Washington e Pequim havia aberto o caminho
para compensar positivamente outros fatores de fragilidade no cenário
global.
A China é o maior parceiro do Brasil, mas seria prematuro especular
sobre a real influência da epidemia na corrente comercial de US$ 98
bilhões entre os dois países —sobretudo na área de alimentos essenciais à
população chinesa. Em um contexto mais geral, vale lembrar que o Brasil tem participação
muito reduzida na economia global: responde por uma fatia de 1,2% de
todo o comércio internacional e produz somente 2,5% dos bens e serviços
do planeta. Longe de isso ser positivo, porque mantém o país atrasado em muitos
aspectos, o isolamento torna o Brasil relativamente alheio a impactos
externos, desde que limitados.
Editorial - Folha de S. Paulo