Rodrigo Constantino
Aqueles que lutaram contra a corrupção são punidos, conservadores são perseguidos, censurados ou cancelados, e os corruptos se regozijam à nossa custa
José Dirceu e Kakay | Foto: Montagem Revista Oeste/Marcelo Camargo/Agência Brasil/Reprodução/Shutterstock
Um foi o braço direito de Lula durante a primeira gestão nacional petista, que mergulhou o país nos maiores escândalos de corrupção da história. Comunista de carteirinha, revolucionário que participou de atividades criminosas no passado, ele buscou refúgio em Cuba depois que os militares impediram a tomada de poder pelos discípulos de Fidel Castro na década de 1960. Lá, foi treinado como guerrilheiro, soldado comunista, com o codinome “Daniel”. Voltou clandestino para o Brasil, casou-se, teve filho e, após a anistia, se mandou para regressar uma vez mais ao seu projeto de poder.
O outro é um famoso advogado criminalista com lista extensa de clientes políticos e notórios corruptos.
É muito bem pago para defender essa turma, gosta de hábitos luxuosos e de expor seu estilo bon vivant, é excêntrico e já despachou no Supremo Tribunal Federal de bermuda, para demonstrar seu grau de intimidade e influência na corte.
Pela repercussão negativa, acabou pedindo desculpa, mas a ousadia deixou sua marca: não há toga capaz de impor o devido respeito a quem apresenta lista tão poderosa de clientes.
Ambos são amigos. Ambos estavam em Paris, na França, quando saiu a decisão do TSE de cassar o mandato de Deltan Dallagnol. Ambos publicaram uma foto juntos fazendo o “L” com a mão e rindo.
A imagem viralizou, pois ilustra com perfeição a total inversão de valores em nosso país hoje.
Os bandidos e defensores de bandidos estão à vontade, contentes, rindo de orelha a orelha e consumindo rios de dinheiro — muitas vezes obtido dos nossos impostos. Eles acham graça de quem tenta levar o Brasil a sério. Eles montaram um circo e, nesse cenário, o palhaço é o povo.
A história, claro, não acabou ainda. A vida continua. A esperança é a última que morre. A ousadia dos canalhas pode produzir um efeito bumerangue. A arrogância dos poderosos impunes pode plantar as sementes para um movimento ainda mais forte de libertação à frente. Mas sejamos realistas: até aqui foi vitória plena dos corruptos. E nada disso seria possível sem muita gente influente se deixar corromper também.
Veículos de comunicação participaram desse conluio com vontade. Economistas renomados “fizeram o ‘L’” embarcando na narrativa patética de “salvar a democracia” com um bajulador dos piores tiranos do planeta.
Militares resolveram se curvar e prestar continência aos comunistas corruptos em troca de privilégios, carguinhos ou promoções, traindo o povo. Não há como um projeto nefasto desses avançar sem apoio de boa parte de uma elite podre, míope ou alienada.
O resultado é este: tudo piora bem rápido no país. A inércia das reformas liberais do governo anterior permite algum respiro e tempo ao atual desgoverno, mas é questão de meses até a conta do populismo chegar. Aqueles que lutaram contra a corrupção são punidos, conservadores são perseguidos, censurados ou cancelados, e os corruptos se regozijam à nossa custa.
Enquanto isso, os tucanos que acreditaram em Lula como uma espécie de Mandela numa frente ampla moderada para pacificar o país confessam sentir medo agora, mas o orgulho os impede de pedir perdão e reconhecer a lambança que fizeram com o país.
Repito: a esperança é a última que morre. Sem ela, resta o niilismo, o pânico, a depressão profunda.
Mas a esperança também pode ser a grande falsária da verdade, como sabia Baltasar Gracián, o jesuíta do Século de Ouro Espanhol. É preciso ser realista, até se pretendemos ter alguma chance de reverter esse quadro sombrio. A negação da realidade nunca é boa estratégia. Temos de partir de premissas verdadeiras.
E o fato é que, até aqui, os corruptos levaram todas, venceram as batalhas mais importantes, estão com a faca e o queijo nas mãos, e muitas guilhotinas afiadas para degolar cabeças e mostrar quem manda nesta republiqueta de bananas chamada Brasil. Salve-se quem puder!
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Rodrigo Constantino, colunista - Revista Oeste