Ex-senador, que está preso no Complexo Penitenciário da Papuda, é acusado de falsificação de documentos em obras no aeroporto de Fortaleza
Condenado a 26 anos de prisão por irregularidade nas obras do
Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo e preso desde março do ano
passado, o ex-senador Luiz Estevão deixou ontem o Complexo Penitenciário
da Papuda para participar de uma audiência na Justiça Federal. Trata-se
de mais um entre as centenas de processos judiciais envolvendo o
empresário, desta vez, por uso de notas fiscais falsas nas obras do
aeroporto de Fortaleza, no Ceará. Ele é acusado de estelionato majorado e
chegou algemado ao prédio do tribunal, na 510 Norte.
O Ministério Público Federal (MPF) responsabiliza Estevão pelo uso
de documentação falsa, entre março e outubro de 2002, para o recebimento
de valores relacionados às obras de urbanização e construção de novas
instalações do Grupo de Aviação no Aeroporto Internacional Pinto
Martins. A defesa alega que Estevão estava afastado da Presidência do
Grupo OK, responsável pela construção, nesse período e que, por isso,
não pode ser acusado do crime.
Entre as falsificações
estariam as assinaturas de servidores da Empresa Brasileira de
Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) em processos de pagamentos
feitos ao Grupo OK. As obras incluíam hangar de manutenção, prédio do
comando, redes gerais, vias de acesso e estacionamento de aeronaves. A
Infraero iniciou as investigações após esses funcionários declararem que
não reconheciam as assinaturas. Perícias feitas nos documentos
comprovaram a falsificação.
Na audiência de ontem, Geórgia Maria de Andrade Eufrásio, que trabalhava
na Gerência de Recursos e Contratos da Infraero à época do contrato,
depôs durante 20 minutos. Ela informou que identificou as assinaturas
falsas em, pelo menos, seis ordens de pagamento e comunicou a falha à
direção do órgão. De acordo com Geórgia, a sindicância aberta pela
empresa apontou que houve fraude no pagamento de R$ 9 milhões. “Os
processos de pagamento foram montados, e esses processos entraram na
contabilidade da empresa sem ter antes passado pela minha área, que é a
área que deveria ter feito algumas conferências e autorizado o
pagamento”, explicou a servidora.
Também foi ouvido, na condição de testemunha de defesa, Carlos
Estevão Taffner, funcionário do Grupo OK que exercia a função de
superintendente imobiliário da empresa no período da assinatura do
contrato. Ele afirmou que não sabia que as notas eram falsificadas e que
só soube das fraudes com as investigações em curso. Ao ser questionado
pelo procurador federal, Taffner afirmou que não sabia quem era o
responsável pelo contrato. Estevão não falou durante a sessão, apesar de
estar presente. A defesa do ex-senador não quis conversar com a
reportagem.
Filhas e netos
Memória
Correio Braziliense
Luiz
Estevão chegou à 12ª Vara Federal em um camburão da Subsecretaria do
Sistema Penitenciário (Sesipe) com quase meia hora de atraso. As algemas
motivaram um bate-boca entre o procurador da República Frederico Paiva e
os defensores do ex-senador. Ao entrar na sala de audiência, o advogado
Marcelo Bessa solicitou que as algemas fossem retiradas, alegando que
eram desnecessárias. O procurador, então, pediu que fosse registrado que
o atraso da audiência em quase uma hora se devia ao fato de que Estevão
se recusara a comparecer diante do juiz algemado. De acordo com
Frederico, o empresário teria afirmado aos agentes penitenciários
responsáveis pela escolta que a audiência só começaria quando ele
quisesse.
Vestindo camisa polo branca e calça jeans, Estevão ficou sob a vigilância de quatro policiais armados e acompanhado por dois advogados durante quase uma hora de oitiva. O empresário passou a maior parte da audiência calado e só se dirigiu ao magistrado a fim de pedir autorização para conversar com a mulher, as filhas e os netos que estavam presentes, alegando que não via as crianças há mais de um ano. Conseguiu dois minutos com os familiares. Mais testemunhas desse processo serão ouvidas em janeiro e fevereiro de 2018.
Vestindo camisa polo branca e calça jeans, Estevão ficou sob a vigilância de quatro policiais armados e acompanhado por dois advogados durante quase uma hora de oitiva. O empresário passou a maior parte da audiência calado e só se dirigiu ao magistrado a fim de pedir autorização para conversar com a mulher, as filhas e os netos que estavam presentes, alegando que não via as crianças há mais de um ano. Conseguiu dois minutos com os familiares. Mais testemunhas desse processo serão ouvidas em janeiro e fevereiro de 2018.
Memória
Condenação e benefícios
Luiz
Estevão foi condenado pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região
(TRF3), em 2006, pelo escândalo das obras do TRT de São Paulo. Na última
década, porém, apresentou sucessivos recursos ao Superior Tribunal de
Justiça (STJ) e ao Supremo Tribunal Federal (STF) e, assim, conseguiu
postergar o início do cumprimento da pena. A condenação é de 26 anos de
prisão por corrupção ativa, estelionato, peculato, formação de quadrilha
e uso de documento falso. Está preso desde 8 de março no Centro de
Detenção Provisória (CDP), no Complexo Penitenciário da Papuda, 24 anos
após o escândalo.
Desde então, no entanto, a concessão
de benesses ao ex-senador Luiz Estevão ocorre com frequência. Em
janeiro, agentes e integrantes da Subsecretaria do Sistema Penitenciário
do DF (Sesipe) encontraram, na cela do empresário e na cantina onde ele
faz as refeições, itens proibidos, como chocolate, cafeteira elétrica,
cápsulas de café e massa importada (fotos)— o episódio acarretou a queda
da cúpula do CDP. À época, a Sesipe instaurou um inquérito sigiloso
para avaliar o caso.
Em agosto de 2016, o MPDFT
ajuizou uma ação de improbidade administrativa que revelou o pagamento
feito por Luiz Estevão para a reforma do Bloco 5 do CDP, onde ele cumpre
pena. As celas são maiores que as demais, com vasos sanitários,
chuveiro elétrico, televisão com tela plana, antena parabólica e
ventilador de teto.