Análise Política
A iniciativa de apresentar-se como mediador do conflito em Gaza,
desencadeado pelos massacres, chacinas e sequestros promovidos pelo
Hamas no sul de Israel em 7 de outubro, lançou novamente luz sobre um
ponto de estrangulamento da política externa brasileira nos governos
Luiz Inácio Lula da Silva: a contradição entre o desejo de protagonismo e
a capacidade real de projetar poder.
Só dois jogadores globais têm cartas e objetivos locais imediatos para
estar na mesa militar desse conflito: Estados Unidos e Rússia. E mesmo
esta segunda vem jogando com grande cautela, desejosa de manter o
governo de Bashar al-Assad e a presença estratégica russa na Síria, que,
além do mais, dá a Moscou seu único porto mediterrâneo.
Israel só aceitará um estado palestino que seja desmilitarizado e
militarmente neutro, além de reprogramado para abandonar a ideia de
riscar Israel do mapa. [a exigência referida na prática implica em acabar, destruir, o 'estado palestino' = situação que Israel já busca com sua 'defesa persistente', - suspensa temporariamente por uma trégua, ainda em vigor - de ataques havidos contra Israel há quase dois meses.] No passado, os governos nacionalistas do Egito e
da Síria, com seus exércitos poderosos, alimentavam nos árabes o sonho
impossível “from the river to the sea”. Hoje, é o Irã dos aiatolás quem
joga lenha na fogueira da ambição.
A conflagração interna em Israel a partir da reforma judicial proposta
pelo governo de Benjamin Netanyahu deve ter alimentado no Hamas a
esperança de catalisar a implosão, pelas contradições internas, do que
chamam pejorativamente de “entidade sionista”, a senha para enfatizar
que Israel não deve existir.
Claramente erraram na análise de conjuntura. Entre outros equívocos, por
reavivar na memória dos judeus, em Israel e na diáspora, a ameaça
existencial.