“A fritura de Santos Cruz continua no círculo íntimo de
poder, que faz de tudo para intrigar o ministro com o presidente
Bolsonaro”
O
ministro da Fazenda, Paulo Guedes, o
ministro da Justiça, Sérgio
Moro, e o
ministro da Secretaria de Governo, Santos Cruz, quando nada
pelas pastas que ocupam, são ministros poderosos, que deveriam estar em
sintonia fina com o presidente Jair Bolsonaro.
Mas não é isso que
acontece na prática: com frequência, o presidente da República dá
demonstrações de que essa sintonia não existe e emite sinais de que não
pretende ser tutelado por nenhum dos três.
Guedes constantemente se vê às voltas com declarações de Bolsonaro
que contrariam sua estratégia de ajuste fiscal, quase sempre com
o
ministro jogando para o gol e o presidente da República, para a
arquibancada. Os exemplos se multiplicam
. Na reforma da Previdência,
Bolsonaro recuou em pelo menos quatro propostas da equipe econômica:
idade igual para homens e mulheres, aposentadorias rurais, benefício de
prestação continuada e plano de capitalização. Também
atropelou Guedes
no aumento dos combustíveis, quando vetou o reajuste anunciado pela
Petrobras
para agradar os caminhoneiros, e quando
sugeriu a redução dos
juros pelo Banco do Brasil, provocando muitas turbulências no mercado
financeiro.
O ministro da Justiça, Sérgio Moro
, é outro que volta e meia fica
numa saia justa. Na semana passada, teve que digerir um decreto polêmico
de liberação do porte de armas, que foi elaborado pela Presidência para
atender o lobby da chamada
“Bancada da Bala”, com erros grosseiros de
constitucionalidade. O decreto contraria qualquer discussão séria sobre
os indicadores de violência e segurança pública no país. Depois,
Bolsonaro fez vista grossa para o fato de que o ministro da Casa Civil,
Ônix Lorenzoni,
liberou a base do governo na votação da reforma
administrativa, na comissão mista que decidiu transferir o Conselho de
Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do âmbito do Ministério da
Justiça e Segurança Pública para o Ministério da Economia.
O assunto vai
a plenário na Câmara.
Essa decisão esvazia bastante o poder do Ministério da Justiça em
relação ao combate aos crimes de colarinho branco, enriquecimento
ilícito e lavagem de dinheiro, a grande tarefa de Sérgio Moro. Falou-se
até que Moro estaria pensando em deixar a pasta. Seria esse o motivo de o
presidente Bolsonaro ter declarado, em entrevista, que havia assumido o
compromisso de indicar Moro para uma vaga no Supremo Tribunal Federal
(STF), ao convidá-lo para ser ministro.
A declaração é corrosiva para o
ex-juiz que liderou a Operação Lava-Jato, pois passa a impressão de que
realmente moveu uma perseguição política ao ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, como denuncia o petista, ao condená-lo no caso do triplex
do Guarujá. Constrangido
, Moro disse ontem que não houve o acordo e que
sua indicação para o Supremo é um assunto extemporâneo, porque não
existe vaga aberta a ser preenchida na Corte. O ministro Celso de Mello,
decano da Corte, só deixará o Supremo em novembro do próximo ano.
Militares
O caso do general Santos Cruz está longe de se resolver. Ontem
, o
vice-presidente Hamilton Mourão voltou a defender o colega de farda, que
está sob ataque do chamado
“grupo olavista” do governo, formado pelo
ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo; pelo ministro da
Educação, Abraham Weintraub; pela ministra dos Direitos Humanos, a
pastora Damares Alves; e pelos filhos de Bolsonaro, Flávio, senador pelo
Rio de Janeiro; Eduardo, deputado federal por São Paulo; e o vereador
carioca Carlos Bolsonaro, que é o grande desafetos do general Santos
Cruz.
O guru Olavo de Carvalho, radicado na Virgínia (EUA),
acusa os
militares de serem um obstáculo ao projeto ultraconservador de
Bolsonaro, divergindo de quase tudo o que seu grupo pensa
. Os militares
exercem um papel de equilíbrio e moderação no governo, o que desagrada o
clã Bolsonaro, que vê a presença dos generais no como uma espécie de
tutela. O busílis do conflito com Santos Cruz é a política de
comunicação do governo, que está sob sua guarda, sobretudo a
distribuição das verbas de publicidade. Carlos discorda de uma política
institucional de comunicação, defende que as verbas de publicidade sejam
utilizadas na sua cruzada ideológica contra a oposição e a grande
mídia. Por causa disso, a
fritura de Santos Cruz continua no
círculo
íntimo de poder, que faz de tudo para intrigar o ministro com o
presidente Bolsonaro.
Congresso
Os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi
Alcolumbre (DEM-AP),
jogaram um balde de água fria nas tensões entre o
Congresso e o Palácio do Planalto. Estão em Nova York (EUA), para uma
série de encontros com empresários e investidores. A agenda inclui
compromissos até amanhã, quando está previsto o retorno de ambos ao
Brasil.
O presidente Bolsonaro deixou de ir a Nova York depois de sua
presença ser considerada inconveniente pelo prefeito da cidade, Bill de
Blasio. Uma aliança dos democratas com grupos políticos identitários,
sobretudo LGBT e de defesa dos direitos civis,
articulada por
brasileiros radicados nos Estados Unidos, está por trás da declaração de
Blasio
. [Bolsonaro escolheu a pior opção das duas disponíveis:
- ignorar o assunto e deixar que a entidade autora da homenagem, a AMCHAM, a realizasse no Brasil - escolha excelente para a autoestima dos brasileiros que realmente amam a Pátria Amada; ou,
- aceitar outra cidade nos EUA para receber a homenagem - foi sua escolha e a cidade será Austin, Texas.
Opção que representa mais um pontapé na autoestima dos brasileiros e que se soma a de liberar os americanos da necessidade de visto para entrar no Brasil sem a reciprocidade por parte dos Estados Unidos.]
Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB