Este espaço é primeiramente dedicado à DEUS, à PÁTRIA, à FAMÍLIA e à LIBERDADE. Vamos contar VERDADES e impedir que a esquerda, pela repetição exaustiva de uma mentira, transforme mentiras em VERDADES. Escrevemos para dois leitores: “Ninguém” e “Todo Mundo” * BRASIL Acima de todos! DEUS Acima de tudo!
Corte de Haia determina que Israel tome medidas contra 'atos de genocídio' em Gaza, mas não fim de campanha militar
Corte se pronunciou sobre medidas emergenciais solicitadas pela África do Sul, dentro da ação sobre genocídio, nesta sexta-feira
A Corte Internacional de Justiça (CIJ) declarou nesta sexta-feiraque a operação militar de Israel
contra Gaza representa um risco plausível de danos irreversíveis e
imediatos à população palestina em Gaza, determinando que o Estado judeu
tome todas as medidas em seu poder para evitar violações da Convenção
das Nações Unidas sobre Genocídio, de 1948, e permita a entrada de ajuda
humanitária no enclave palestino.
A determinação não é um reconhecimento da prática de crime de genocídio
por Israel — o que poderá ou não ser determinado apenas ao fim do
julgamento do mérito do processo, que pode levar anos —e não atende à principal medida cautelar solicitada pela África do Sul,
que pedia o fim da operação militar contra Gaza.
Apesar disso, as
medidas provisórias, que incluem o pedido para que Israel informe a
Corte em 30 dias sobre seus esforços para cumprir suas determinações,
pareceram uma repreensão para os israelenses e uma vitória moral para os
palestinos.
— O Estado de Israel deve, em acordo com suas obrigações sob a
Convenção Sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio, em relação
aos palestinos em Gaza, tomar todas as medidas em seu poder para
prevenir o cometimento de todos os atos descritos no Artigo 2º da
convenção — declarou a presidente da corte, a americana Joan Donoghue.
O artigo mencionado pela jurista na decisão define genocídio como os
seguintes atos, desde que cometidos com a intenção de destruir"no todo
ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso": a) matar
membros do grupo; b) causar lesão grave à integridade física ou mental
de membros do grupo; c) submeter intencionalmente o grupo a condição de
existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou
parcial; d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio
de grupo; e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para
outro grupo.
A corte também disse que estar "gravemente preocupada" com o bem-estar de mais de 200 pessoas feitas reféns pelo Hamas
durante os ataques de 7 de outubro de 2023, que deixaram 1,2 mil
mortos, e pediu sua imediata libertação. A resposta de retaliação de
Israel em Gaza já deixou mais de 26 mil mortos, segundo o Ministério de
Saúde de Gaza, território que é controlado pelo Hamas desde 2007.
Veja as medidas cautelares determinadas pelo CIJ a Israel:
Tomar todas as medidas em seu poder para prevenir o cometimento de todos os atos descritos no Artigo 2º da convenção;
garantir, imediatamente, que seus militares não cometam nenhum ato descrito como genocídio pela convenção;
tomar
todas as medidas para prevenir e punir incitações diretas e públicas
sobre cometimento de genocídio em relação aos palestinos em Gaza;
tomar medidas efetivas para prevenir a destruição e garantir a
preservação de evidências relacionadas a atos de genocídio contra
palestinos em Gaza.;
submeter um relatório à Corte, dentro de um
mês, mostrando o que fez para garantir que as medidas cautelares estão
sendo colocadas em prática.
Todas as medidas cautelares determinadas pela Corte foram alcançadas
por ampla maioria entre os juízes(por 16 votos a favor e 1 contra ou 15
a favor e 2 contra).
'Baita símbolo'
Para muitos israelenses, o fato de um Estado fundado após um genocídio
ser acusado de outro é um"baita símbolo", disse ao New York Times Alon
Pinkas, um comentarista político israelense e ex-embaixador.— Só o fato de sermos mencionados na mesma frase em que o conceito de
genocídio é citado, não mesmo atrocidade, força desproporcional, crime
de guerra, mas genocídio, é extremamente desconfortável — disse Pinkas.
Para muitos palestinos, apesar de a intervenção da CIJ trazer pouco
alívio prático, há um breve sentimento de validação à sua causa,
especialmente considerando-se que, sob sua perspectiva, Israel raramente
é obrigado a prestar contas de suas ações. — A matança e a destruição continuam — disse Hanan Ashrawi, uma
ex-autoridade palestina. — [Mas a decisão reflete] uma séria
transformação na forma de percepção e tratamento de Israel globalmente:
está prestando contas pela primeira vez, e perante a mais alta corte e
por uma decisão quase unânime.
Contudo, para muitos israelenses, o mundo impõe a Israel um padrão mais
alto do que à maioria dos outros países, com as determinações da CIJ
parecendo o exemplo mais recente de preconceito contra o país em um
fórum internacional. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, reagiu à decisão
classificando como "escandaloso" o caso de genocídio movido pela África
do Sul. "A acusação de genocídio levantada contra Israel não é apenas
falsa, é escandalosa, e pessoas decentes em todo o mundo deveriam
rejeitá-la", disse em um vídeo.
A liderança do Hamas classificou a decisão como "importante" e disse
contribuir para "isolar Israel e expor seus crimes em Gaza". A
Autoridade Nacional Palestina afirmou que a decisão da CIJ mostra que
"nenhum Estado está acima da lei". Os Estados Unidos, por sua vez,
reiteraram sua posição de que as alegações de genocídio são
"infundadas".
A África do Sul saudou as medidas provisórias ordenadas pela CIJ
chamando-as de "uma vitória decisiva para o Estado de Direito
internacional e um marco significativo na busca de justiça para o povo
palestino".
“Em uma decisão histórica, a Corte Internacional de Justiça determinou
que as ações de Israel em Gaza são plausivelmente genocidas e indicou
medidas provisórias com base nisso”, diz o comunicado. "A África do Sul
continuará a agir no âmbito das instituições de governança global para
proteger os direitos, incluindo o direito fundamental à vida, dos
palestinos em Gaza — que continuam em risco urgente, incluindo devido ao
ataque militar israelense, à fome e às doenças — e para obter a aplicação justa e igualitária do direito internacional a todos."
Contexto da acusação
A acusação de genocídio contra Israel foi apresentada pela África do
Sul no ano passado e começou a ser avaliada pelo tribunal internacional
há duas semanas.
Pretória acusa o Estado judeu de violações à Convenção
sobre Genocídio durante a operação militar em Gaza.
Israel já
classificou o caso publicamente como difamação, e líderes políticos,
como Netanyahu, puseram em dúvida o cumprimento de uma eventual decisão
desfavorável. — Ninguém vai nos parar, nem Haia [sede da CIJ], nem o Eixo do Mal [Irã
e grupos e países aliados no Oriente Médio] nem ninguém — afirmou o
primeiro-ministro israelense em 14 de janeiro, dois dias depois de a
defesa do país apresentar seus argumentos na CIJ.
A equipe jurídica sul-africana apresentou a denúncia na sede do tribunal, em Haia, em 11 de janeiro.
O cerne da acusação foi demonstrar que o governo israelense teria
demonstrado "intenção genocida" ao lançar sua operação contra Gaza. Para
isso, os juristas apresentaram imagens da destruição e do impacto civil
provocado pelas forças de Israel em Gaza, além de declarações públicas
de autoridades do país que, sob a tese sul-africana, comprovam que houve
uma tentativa de desumanizar o povo palestino e de sinalizar sua
eliminação.
A África do Sul solicitou que a corte declarasse a suspensão das
operações militares israelenses "em" e "contra" Gaza; a garantia de que
os militares israelenses (ou quaisquer forças relacionadas) parassem as
operações ofensivas; o fim do assassinato e deslocamento do povo
palestino; a normalização do acesso a alimentos, água, infraestrutura e
saúde; e que Israel tomasse "todas as medidas razoáveis ao seu alcance"
para prevenir um genocídio.
Israel rebateu as acusações um dia depois da apresentação do caso pela África do Sul. A defesa tentou
descaracterizar o argumento da acusação de que houve tentativa
deliberada de destruição do povo palestino, apresentando a tese jurídica
de que os impactos provocados por uma ação militar a civis não é o
mesmo que o crime de genocídio.
Na quinta-feira, o New York Times revelou que Israel, como parte de sua defesa, apresentou à CIJ mais de 30 ordens antes secretas dadas
por líderes governamentais e militares que, diz, mostrariam os esforços
do país para diminuir as mortes entre os civis no enclave palestino.
Além disso, a equipe israelense também exibiu imagens da violência
cometida pelo Hamas durante os ataques de 7 de outubro a Israel e acusou
a equipe sul-africana de apresentar uma visão "totalmente distorcida" e
manipuladora sobre os fatos ocorridos na região.
A decisão desta sexta-feira é apenas a primeira dentro de um processo
que deve se arrastar por anos. A CIJ ainda precisa julgar o conteúdo
material da acusação, ou seja, a suposta responsabilidade do Estado de
Israel em crime de genocídio, para além das medidas emergenciais pedidas
pela África do Sul.
De acordo com Sylvia Steiner, ex-juíza do Tribunal Penal Internacional
(TPI), também em Haia, há diferentes desafios das cortes internacionais
para determinar a responsabilidade em um caso de genocídio, em que a
intenção de dizimar um grupo precisa ser evidente.— Aquilo que no começo do conflito a gente já dizia que se tratava de
crimes de guerra, agora se alega que esses crimes de guerra têm um
objetivo genocida — explicou ao GLOBO Steiner, única brasileira a já ter
integrado o TPI. — Existem desafios de diferente natureza para provar o
genocídio em uma corte internacional. No TPI, o mais difícil é
determinar a responsabilidade penal individual, como o dolo e o nexo de
causalidade entre as ações e o resultado. Por outro lado, determinar a
responsabilidade do Estado, como a África do Sul está fazendo, é mais
fácil pelo número de provas que podem ser coletadas.
Netanyahu jamais conseguirá apagar o dano moral, político, diplomático e histórico sofrido na Corte internacional
Ninguém gosta de ser submetido a julgamento. Países, também não. E o Estado de Israel,
comandado por Benjamin Netanyahu, menos ainda. Mesmo que consiga
convencer a Corte Internacional de Justiça (CIJ) a arquivar a acusação
de genocídio apresentada pela África do Sul, ou mesmo que consiga evitar a petição por medidas provisórias urgentes, como a interrupção dos ataques a Gaza,
Netanyahu jamais conseguirá apagar o dano moral, político, diplomático e
histórico sofrido em Haia. A sentença final a ser decidida pelos 15
juízes da Corte pode demorar dias, semanas, meses, até anos, mas a mera
questão central — Israel cometeu genocídio? — é devastadora em si.
Relegada ao papel de cemitério do Direito Internacional, a Palestina
como um todo, e Gaza em especial, pouco espera da Justiça dos homens. Só
que a petição apresentada pela África do Sul pode ter desdobramentos
inesperados.
Como previsto, foi desconsiderada como frivolidade pelo
secretário de Estado americano, Antony Blinken.
Mas não por Netanyahu,
que optou por apresentar sua defesa perante a Corte.
Não é de hoje que
lideranças israelenses se preocupamcom uma eventual percepção mundial
de que a opressão sofrida pela Palestina ocupada é uma forma de
apartheid.
O espectro de isolamento internacional semelhante ao imposto
ao regime de minoria branca na África do Sul — que culminou na extinção
do apartheid nos anos 1990 — sempre existiu.Et pour cause.
Desde as décadas da descolonização, dos movimentos de libertação, dos
Não Alinhados e da Tricontinental, o partido de Nelson Mandela e a
militância palestina andaram lado a lado.— Nossa liberdade é incompleta sem a libertação dos palestinos — lembrou o líder negro em 1997.
Tinham em comum a revolta contra opressores que se ajudavam mutuamente.
O jornalista Tony Karon, nascido na África do Sul, sionista na
juventude e atual produtor na Al Jazeera, lembra seus tempos de
militância anti-apartheid na Cidade do Cabo.
Em artigo recente,
escreveu: “Muitos de nós ficamos horrorizados quando, em 1976, Israel
recebeu a visita oficial do primeiro-ministro sul-africano John Vorster,
nazista convicto que trabalhou numa organização paramilitar ligada à
Abwehr [serviço de inteligência militar de Hitler]”.
A venda de armas de
Israel para a África do Sul era segredo de polichinelo, assim como a
assistência israelense à Força de Defesa do regime bôer.
A descolonização, como se sabe, não seguiu propriamente o roteiro
sonhado pelo intelectual martinicano Aimé Césaire — restituir humanidade
tanto ao colonizado como ao colonizador, numa mesma comunidade de
pertencimento.
Fracassos se acumularam, e correções de curso continuam a
coalhar a caminhada com desgraças.
Contudo a cartada da África do Sul,
ao cobrar da Corte de Haia um posicionamento, tem o mérito de conseguir
nos envergonhar pela cumplicidade mundial diante de décadas de
desenraizamento e opressão de um povo.
Silenciadas, gerações e gerações
de palestinos tiveram existência apagada, nulificada. Gaza é apenas a
aberração mais gritante.
Para Netanyahu, a semana foi indigesta também no front interno.
O
conservador Yedioth Ahronoth, maior jornal do país, divulgou uma notícia
sombria: “Ao meio-dia do 7 de Outubro, as Forças de Defesa de Israel
(FDI) ordenaram a todas as unidades de combate em ação usar a Diretiva
Hannibal, sem menção explícita ao nome. A ordem era parar ‘a qualquer
custo’ toda tentativa de retorno a Gaza dos terroristas do Hamas,
apesar do temor de que levavam consigo reféns.(...) Estima-se em cerca
de mil os terroristas e infiltrados mortos entre o assentamento de Olaf e
a Faixa de Gaza. Não está claro quantos reféns foram mortos em
decorrência dessa ordem”.
Perto de 70 veículos foram encontrados na
mesma área, atingidos por um helicóptero de combate ou mísseis
antitanque das FDI.
“Diretiva Hannibal” é o nome dado a um procedimento militar
oficialmente abandonado pelas FDI em 2016.
Visava a impedir a captura de
soldados israelenses por tropas inimigas. Sua versão mais genérica
ensinava: “A tomada de reféns precisa ser impedida por todos os meios,
mesmo ao preço de alvejarmos e causarmos danos a nossas próprias
forças”.
Sujeitas, portanto, a interpretação e aplicação elásticas.
No
mês passado, o diário liberal Haaretz já havia aventado a hipótese de a
Diretiva Hannibal ter sido usada no fatídico 7 de Outubro, quando 40
terroristas do Hamas foram alvejados por dois disparos de canhão numa
casa em Be’eri, assentamento israelense. Havia 14 reféns civis na casa.
Apenas uma saiu com vida do horror. Hadas Dagan, cujo marido foi uma das
vítimas, não culpa as equipes de socorro israelenses:
— Eles também deram a vida por nós.
Hoje é o centésimo dia de cativeiro para mais de 130 reféns ainda em mãos do Hamas. Quanta tragédia entrelaçada!
Ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, afirmou que o país quer manter o controle de segurança do território palestino
O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, revelou um plano na noite de quinta-feira 4 para o futuro da Faixa de Gaza após o fim da guerra contra o grupo terrorista palestino Hamas, que governa o território há quase vinte anos. A medida ocorre após pressão de seu principal aliado, os Estados Unidos, por propostas concretas para a região
Entre os principais pontos do plano divulgado por Gallant estão:
O controle de segurança de Gaza ficaria nas mãos de Israel após o Hamas ser derrotado, com a presença de soldados israelenses, mas não civis, no território;
Um órgão palestino, ainda indefinido, mas guiado por Israel, seria responsável por gerir a administração diária do enclave, com funcionários públicos locais ou líderes comunitários;
Os Estados Unidos, a União Europeia e outros parceiros regionais assumiriam a responsabilidade pela reconstrução do território, hoje praticamente reduzido a ruínas.
Além disso, o plano, que não é uma política oficial e ainda não foi aprovado por outros ministros, determina que a ofensiva de Israel em Gaza continuará até que os reféns, sequestrados em 7 de outubro, sejam libertados e as “capacidades militares e governativas” do Hamas, desmanteladas. Só depois começaria uma nova fase, durante a qual “o Hamas não controlará Gaza e não representará uma ameaça à segurança dos cidadãos de Israel”.
[Comentário: iniciamos destacando que não comentamos narrativas e sim fatos.
Ao nosso entendimento os fatos da presente matéria e outros, não deixam dúvidas que a matança contínua de civis palestinos, especialmente crianças e mulheres, somada ao radicalismo israelense, não deixam dúvidas que as Forças Armadas de Israel promovem um genocídio contra o povo palestino, o que mais fortalece sua posição contrária a criação de um Estado Palestino]
Pressão americana As propostas vieram a público logo antes de uma visita do secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, diplomata com duas missões no Oriente Médio:
- evitar que a guerra transborde para outros países,
- vire um conflito regional, e desenhar um futuro pós-guerra que inclua tanto os judeus quanto os palestinos.
O quadro delineado por Gallant difere totalmente das propostas dos Estados Unidos, que desejam ver uma Autoridade Palestina revitalizada – que governa a Cisjordânia,embora enfraquecida por crises de representatividade e de corrupção – no poder de Gaza.
Além disso, Washington pleiteia novas negociações para a criação de um Estado palestino ao lado de Israel.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, descartou a proposta dos Estados Unidos.
'Todo
ser humano tem o direito de ser sepultado', diz pai de menino de 10
anos cujo corpo ficou quatro dias na casa vazia da família até ser
enterrado no quintal de um prédio vizinho; Mais de 22 mil palestinos
foram mortos por ataques israelenses desde outubro, de acordo com o
Ministério da Saúde do enclave
Durante quatro dias, o corpo de Kareem Sabawi, de 10 anos,ficou enrolado em um cobertor num apartamento frio e vazio na Faixa de Gaza. Nesse período, e em meio ao intenso conflito
no enclave, sua família se abrigou nas proximidades.
Kareem morreu,
contam seus pais, em um bombardeio israelense, e nos dias que se
seguiram era especialmente perigoso sair às ruas. Sem conseguir oferecer
um enterro digno ao filho, eles sepultaram o corpo do menino debaixo de
um pé de goiabeira, no prédio vizinho. Morrer dignamente em Gaza havia se tornado um privilégio.
Quando Kareem morreu, a família ligou para o Crescente Vermelho da Palestina em busca de ajuda. Mas a invasão terrestre de Israel
no norte da Faixa de Gaza acabara de começar.
As ruas estavam
bloqueadas por tanques e esvaziadas pelos tiros, impedindo os
socorristas de ajudar famílias como a de Kareem a cuidar dos muitos
mortos pelos bombardeios aéreos.
Todos os dias, o pai do menino, Hazem
Sabawi, sofria um duplo tormento: a imensa dor da perda e a incapacidade
de proporcionar ao filho a dignidade de um enterro adequado. — Depois do quarto dia, disse que ou eu seria enterrado com ele, ou não
o enterraria mais de jeito nenhum — disse ele, antes de detalhar como
acabou decidindo colocar o corpo de Kareem debaixo de uma goiabeira,
atrás do prédio de um vizinho. — Todo ser humano tem o direito de ser
sepultado.
Não tem sido assim em Gaza. Já se passaram treze semanas desde que a guerra começou, após o ataque a Israel pelo Hamas, que matou cerca de 1,2 mil pessoas,
segundo autoridades israelenses. Desde então, os que vivem no enclave
têm sido forçados a enterrar seus mortos às pressas, sem cerimônia ou
extrema-unção, para não arriscarem o mesmo destino dos entes queridos.
Ao todo,mais de 22 mil palestinos foram mortos por Israel desde 7 de outubro, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.
O conflito transformou Gaza em um “cemitério para milhares de crianças”,
de acordo com as Nações Unidas. Mohammad Abu Moussa, radiologista do
Hospital al-Nasr, no sul de Gaza, disse que “a situação chegou ao ponto
em que dizemos que sortudos são aqueles que têm alguém para (e os
conseguem) enterrar quando morrem”.
Tradicionalmente, os palestinos honram seus mortos com cortejos
fúnebres públicos de luto. Tendas são erguidas nas ruas por três dias
para receber os que desejam prestar condolências. Mas o que a guerra
enterrou foram os costumes. Muitos mortos são agora deixados em valas
comuns, nos pátios de hospitais ou, como Kareem, em jardins de quintal,
muitas vezes sem lápides, com nomes rabiscados em mortalhas brancas ou
em sacos para cadáveres. As orações — quando feitas — são realizadas
rapidamente, em hospitais ou fora dos necrotérios.
Hospitais de Gaza estão sobrecarregados, e médicos falam em 'situação catastrófica'
(...)
Serviços não tinham capacidade para atender população de 2,3 milhões de habitantes
Nebal Farsakh, porta-voz do Crescente Vermelho Palestino, disse que a
violência impossibilita as equipes de resgate de chegarem aos locais dos
ataques para recuperar os corpos. Algumas famílias ficam trancadas
dentro de suas casas durante dias com os cadáveres de seus entes
queridos, disse ela. Autoridades de saúde de Gaza estimam que cerca de 7
mil pessoas seguem desaparecidas no enclave, a maioria presumivelmente
morta devido à enorme destruição causada pelos ataques israelenses. Em
algumas residências, as pessoas pintaram com spray os nomes daqueles que
estariam enterrados sob os escombros.
Corpos inchados e em decomposição Quase dois milhões de civis foram deslocados e fizeram perigosas caminhadas a pé até o sul da Faixa de Gaza — encontrando pelo caminho forças israelenses com armas apontadas em sua direção.
Dezenas de corpos, inchados e em decomposição, foram vistos pelos palestinos.
Eles contaram ao New York Times que os soldados israelenses não lhes permitiriam sequer cobrir, muito menos enterrar, os mortos. Os militares disseram que agiram desta forma “por razões operacionais”, e também para determinar se entre os mortos estava algum refém israelense sequestrado pelo Hamas.
No caso de Kareem, Sabawi conta que enterrá-lo era o mínimo que podia
fazer por um filho que fora "incapaz de proteger".
Ele e sua esposa
disseram que um ataque aéreo israelense ocorreu perto de sua casa no
início de novembro, quando a família preparava o almoço com a pouca
farinha e alimentos que tinham.
Sabawi foi atirado ao ar. Quando caiu no
chão, a porta da cozinha tombou sobre ele. Ao se levantar, percebeu que
a cabeça de Kareem estava sangrando.
Sabawi conta que o pegou no colo, apesar de seu braço estar ferido, e a
família correu para o apartamento de um vizinho. Kareem ainda
respirava. Seu pai, em pânico, administrava a reanimação cardiopulmonar.
Mas era tarde demais. Os vizinhos acolheram a família e trouxeram um
cobertor para envolver o corpo do menino. Ele esperou quatro dias,
temendo que eles pudessem ser mortos por um ataque aéreo ou por um
soldado israelense se saíssem para enterrá-lo.
Quando decidiu voltar à casa, Sabawi e um vizinho fizeram a proclamação
da fé muçulmana antes de sair com o corpo do filho do apartamento. No
jardim atrás do edifício, cavaram rapidamente uma cova rasa e nela
depositaram Kareem, cobrindo-o com terra. Voltaram correndo para dentro.
No dia seguinte, voltou correndo para colocar mais terra sobre a
sepultura. Na goiabeira, pendurou uma lápide improvisada e colocou um
tijolo no topo. E contou que, sempre que havia oportunidade, descia para
colocar mais terra, esperando que o local “virasse uma cova de
verdade”.
‘Não sei o que aconteceu com o corpo’ Ahmed Alhattab, pai de quatro filhos, disse que um foguete atingiu seu prédio na noite de 7 de novembro na cidade de Gaza.
Lá dentro estavam 32 familiares, 19 deles crianças.
A mídia palestina noticiou o ataque à época, estimando o número inicial de mortos em 10.
Alhattab e três de seus filhos escaparam dos escombros, mas um deles, Yahya, de 7 anos, teve uma fratura no crânio e estava sangrando, relembrou. O pai carregou o menino ferido até encontrar uma ambulância.
Na manhã seguinte, disse, voltou com vizinhos e parentes, e eles
desenterraram com as mãos quatro familiares mortos.
Entre eles, seu
sobrinho, com apenas 32 dias de vida.
Eles os enterraram em uma única
cova em um cemitério particular que pertencia a outra família.
Era muito
perigoso tentar chegar aos cemitérios públicos — alguns deles
destruídos de qualquer forma pelas forças israelenses.
O restante de sua
família, 24 parentes, permaneceu sob os escombros.
No mesmo período, disseram a ele ser improvável que seu filho
sobrevivesse. Enquanto os parentes se preparavam para fugir, contou, ele
tomou a dolorosa decisão de deixar Yahya para trás e levar seus outros
filhos para o sul, onde esperava que estivessem mais seguros. Quatro
dias depois, ele ouviu de um amigo que o menino havia morrido no
hospital, onde foi enterrado, ao lado de outros pacientes.— O enterro foi temporário. Não sei o que aconteceu com o corpo dele — disse Alhattab.
‘Ele queria enterrá-los’ Quando Fatima Alrayess, de 35 anos e que vive na Áustria, falou pela última vez com os dois irmãos mais novos, no dia 8 de novembro, eles disseram a ela que voltariam à casa da família. Muhammad, 31, e Muayid, 25, contaram que uma equipe da Defesa Civil estava a caminho do edifício de sete andares, que tinha sido derrubado por um ataque aéreo israelense três dias antes.
Eles relataram que o ataque vitimou oito membros da família, incluindo seus pais.— Ele queria enterrá-los — disse ela sobre Muayid.
Mas um cerco israelense a Gaza desde os primeiros dias da guerra levou à
escassez de combustível, entre outros bens essenciais, dificultando o
trabalho das equipes da Defesa.
Naquele dia, elas recuperaram os corpos
da mãe, do pai e de um sobrinho de 12 anos antes que escurecesse, soube
Alrayess depois pelos irmãos. No dia seguinte, os corpos foram
enterrados num cemitério.
Os irmãos encontraram os socorristas na
esperança de recuperar mais corpos. Duas irmãs ainda estavam
desaparecidas.
Quando as equipes de resgate começaram a vasculhar os escombros, outro
ataque aéreo israelense ocorreu, matando Muayid e Muhammad, bem como
vários socorristas, conta Alrayess. As consequências imediatas do ataque
foram captadas em vídeo por um fotógrafo local. Ele lamentou que os
irmãos tivessem seguido seus pais na morte. — Meus pais foram enterrados à tarde — disse Alrayess. — Muayid e Muhammad foram enterrados naquela noite no mesmo cemitério.
Cinco membros da família permanecem sob os escombros.
Israel intensificou nesta quinta-feira (28) os ataques no sul e centro
da Faixa de Gaza, onde a "fome e a desesperança"aumentam, segundo a
ONU, após mais de dois meses de conflito. [comentando um fato: hoje, 28 de dezembro, a Igreja Católica Romana, celebra o dia dos SANTOS INOCENTES- crianças inocentes, com idade inferior a 2 anos, inocentes executados há mais de 2.000 anos, em Belém e circunvizinhança, por ordem do Rei Herodes.
Herodes, então rei dos Judeus, temia que JESUS CRISTO, citado como 'rei dos judeus', então com idade inferior a 2 se tornasse um rei terreno, depondo o tirano, praticante do judaísmo.
Sem condições de identificar com exatidão o 'concorrente', Herodes ciente que Jesus tinha idade inferior àquela, determinou que todas as crianças até dois anos de idade fossem sumariamente eliminadas. (São Mateus, 2.)
Hoje, mais de dois mil anos após aquele nefasto evento, crianças inocentes são abatidas em bombardeios efetuados pela Força Aérea de Israel - morticínio que se estende aos civis palestinos confinados na Faixa de Gaza.]
Um correspondente da AFP observou disparos de artilharia
durante a noite em vários pontos de Gaza, como Khan Yunis, no sul do território
palestino, onde se concentra uma parte significativa dos 1,9 milhão de
deslocados de Gaza.
O Ministério da Saúde do Hamas anunciou na quarta-feira que
mais 21.100 pessoas, a maioria mulheres e menores de idade, morreram em Gaza
desde o início das operações militares israelenses.
Os combates aumentaram de intensidade nesta quinta-feira na Faixa de Gaza, enquanto a ONU alertou para um grave perigo para a população.
Israel prometeu manter a campanha para destruir o Hamas como
resposta ao ataque de 7 de outubro do movimento islamista, que deixou quase de
1.140 mortos em território israelense, a maioria civis, segundo um balanço da
AFP baseado em informações divulgadas pelas autoridades do país. O movimento palestino também sequestrou quase 250 pessoas,
das quais 129 continuam como reféns.
As Forças Armadas israelenses anunciaram nesta quinta-feira
que os bombardeios prosseguem em Khan Yunis, onde, segundo autoridades do país,
se concentram parte dos milicianos do Hamas. Também exibiram imagens dos soldados avançando nos túneis
cavados pela organização islamista palestina perto do hospital pediátrico Al
Rantisi, no oeste da cidade de Gaza.
O Ministério da Saúde do Hamas informou que bombardeios
durante a madrugada provocaram mortes em Nuseirat e Deir al Balah.
Netanyahu diz
que Hamas deve ser destruído para haver paz[não é uma tarefa dificil para Israel destruir Gaza, condição que aponta como necessária para uma paz duradoura - milhares e milhares de civis palestinos estão sendo eliminados pela Forças Armadas de Israel, situação que inevitavelmente levará a destruição de toda a vida humana naquela região.]
- "Cessar-fogo duradouro" -
A pressão por uma trégua aumentou na quarta-feira, quando o
presidente francês Emmanuel Macron insistiu, em uma conversa telefônica com o
primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, na "necessidade de
trabalhar para alcançar um cessar-fogo duradouro".
Ele também expressou uma"profunda preocupação"
com o número de civis mortos em Gaza, informou seu gabinete em um comunicado. Desde que Israel impôs o cerco ao território no início da
guerra, os moradores de Gaza enfrentam a escassez de comida, água, combustível
e medicamentos.
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS),
Tedros Adhanom Ghebreyesus, também pediu uma trégua e afirmou que a comunidade
internacional deve "adotar passos urgentes para aliviar o grave perigo que
a população de Gaza enfrenta, que coloca em risco a capacidade dos
trabalhadores humanitários de ajudar as pessoas com ferimentos graves, fome e
que estão expostas a doenças".
Em um comunicado, a OMS afirmou que seus funcionários
relataram que "pessoas com fome novamente interromperam nossos comboios
com a esperança de encontrar comida".
"A fome e a desesperança aumentam no território palestino",
lamentou.
- Quadrigêmeos em Gaza -
Uma das moradoras de Gaza, Iman al-Masry, deu à luz
recentemente a quadrigêmeos em um hospital no sul de Gaza, depois de fugir da
casa da família no norte do território, uma área devastada pela guerra. A viagem "afetou minha gravidez",
declarou a mulher de 28 anos, que teve dois meninos e duas meninas em um parto cesárea.
Ela precisou desocupar rapidamente o leito no hospital para
dar espaço a outros pacientes, mas deixou um dos filhos no hospital porque ele
estava com a saúde muito frágil para receber alta. "Estão muito magros", afirmou sobre os filhos em um abrigo
improvisado em Deir al Balah. "Com a falta de leite em pó para bebês, tento
amamentá-los, mas não há nada nutritivo que eu possa comer para amamentar três
bebês", lamentou.
No campo de refugiados de Al Maghazi, uma escola da ONU
transformada em abrigo foi atingida por um bombardeio."Eles dizem que existem zonas verdes e zonas com outras
cores. São apenas boatos, não há zonas seguras em Gaza", declarou à AFP um
homem no território que não revelou seu nome.
"A situação também é crítica em Rafah, no sul do território,
onde vivem quase 1,5 milhão meio de habitantes", explicou Nedal Abu
Shbeka, proprietário de uma loja de colchões."Pessoas estão nas escolas, campos e outros
lugares",disse, em referência ao número elevado de deslocados.
- "Ação direta" -
A guerra aumentou o temor de um conflito regional, com
agressões frequentes entre Israel e o Hezbollah na fronteira com o Líbano,
assim como os ataques dos rebeldes huthis do Iêmen contra navios no Mar
Vermelho, em solidariedade com o Hamas.
Todos estes grupos são apoiados pelo Irã.
O porta-voz militar israelense, Daniel Hagari, sugeriu uma
possível "expansão dos combates ao norte", na fronteira com o Líbano,
cenário de trocas de tiros constantes entre as forças de Israel e o movimento
islamista Hezbollah desde o início da guerra. A Guarda Revolucionária do Irã advertiu Israel que Teerã e
seus aliados adotarão uma"ação direta" para vingar a morte do
comandante Razi Moussavi, que ocorreu na segunda-feira em um ataque com mísseis
na Síria atribuído às forças israelenses, que negam qualquer envolvimento.
Milhares de pessoas compareceram nesta quinta-feira ao funeral de
Moussavi em Teerã. Ele era comandante da Força Qods, setor de operações no
exterior e unidade de elite da Guarda Revolucionária, o exército ideológico do
Irã. A violência também explodiu na Cisjordânia ocupada, com mais
de 310 palestinos mortospor soldados ou colonos israelenses desde 7 de
outubro, segundo o Ministério palestino da Saúde. Um palestino morreu na madrugada desta quinta-feira durante
uma incursão do Exército israelense em Ramallah, depois que seis faleceram em
circunstâncias similares na quarta-feira em outro ponto do território. A ONU pediu a Israel o "fim dos homicídios
ilegais" na Cisjordânia ocupada.