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sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Corte de Haia determina que Israel tome medidas contra 'atos de genocídio' em Gaza ... - O Globo

A Corte Internacional de Justiça (CIJ) declarou nesta sexta-feira que a operação militar de Israel contra Gaza representa um risco plausível de danos irreversíveis e imediatos à população palestina em Gaza, determinando que o Estado judeu tome todas as medidas em seu poder para evitar violações da Convenção das Nações Unidas sobre Genocídio, de 1948, e permita a entrada de ajuda humanitária no enclave palestino.

A determinação não é um reconhecimento da prática de crime de genocídio por Israel — o que poderá ou não ser determinado apenas ao fim do julgamento do mérito do processo, que pode levar anos — e não atende à principal medida cautelar solicitada pela África do Sul, que pedia o fim da operação militar contra Gaza. 
Apesar disso, as medidas provisórias, que incluem o pedido para que Israel informe a Corte em 30 dias sobre seus esforços para cumprir suas determinações, pareceram uma repreensão para os israelenses e uma vitória moral para os palestinos.

— O Estado de Israel deve, em acordo com suas obrigações sob a Convenção Sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio, em relação aos palestinos em Gaza, tomar todas as medidas em seu poder para prevenir o cometimento de todos os atos descritos no Artigo 2º da convenção — declarou a presidente da corte, a americana Joan Donoghue.

O artigo mencionado pela jurista na decisão define genocídio como os seguintes atos, desde que cometidos com a intenção de destruir "no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso": a) matar membros do grupo; b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo; c) submeter intencionalmente o grupo a condição de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial; d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio de grupo; e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo.

A corte também disse que estar "gravemente preocupada" com o bem-estar de mais de 200 pessoas feitas reféns pelo Hamas durante os ataques de 7 de outubro de 2023, que deixaram 1,2 mil mortos, e pediu sua imediata libertação. A resposta de retaliação de Israel em Gaza já deixou mais de 26 mil mortos, segundo o Ministério de Saúde de Gaza, território que é controlado pelo Hamas desde 2007.

Veja as medidas cautelares determinadas pelo CIJ a Israel:

  • Tomar todas as medidas em seu poder para prevenir o cometimento de todos os atos descritos no Artigo 2º da convenção;
  • garantir, imediatamente, que seus militares não cometam nenhum ato descrito como genocídio pela convenção;
  • tomar todas as medidas para prevenir e punir incitações diretas e públicas sobre cometimento de genocídio em relação aos palestinos em Gaza;
  • tomar medidas efetivas para prevenir a destruição e garantir a preservação de evidências relacionadas a atos de genocídio contra palestinos em Gaza.;
  • submeter um relatório à Corte, dentro de um mês, mostrando o que fez para garantir que as medidas cautelares estão sendo colocadas em prática.

Todas as medidas cautelares determinadas pela Corte foram alcançadas por ampla maioria entre os juízes (por 16 votos a favor e 1 contra ou 15 a favor e 2 contra).

'Baita símbolo'

Para muitos israelenses, o fato de um Estado fundado após um genocídio ser acusado de outro é um "baita símbolo", disse ao New York Times Alon Pinkas, um comentarista político israelense e ex-embaixador.— Só o fato de sermos mencionados na mesma frase em que o conceito de genocídio é citado, não mesmo atrocidade, força desproporcional, crime de guerra, mas genocídio, é extremamente desconfortável — disse Pinkas.

Para muitos palestinos, apesar de a intervenção da CIJ trazer pouco alívio prático, há um breve sentimento de validação à sua causa, especialmente considerando-se que, sob sua perspectiva, Israel raramente é obrigado a prestar contas de suas ações. — A matança e a destruição continuam — disse Hanan Ashrawi, uma ex-autoridade palestina. — [Mas a decisão reflete] uma séria transformação na forma de percepção e tratamento de Israel globalmente: está prestando contas pela primeira vez, e perante a mais alta corte e por uma decisão quase unânime.

Contudo, para muitos israelenses, o mundo impõe a Israel um padrão mais alto do que à maioria dos outros países, com as determinações da CIJ parecendo o exemplo mais recente de preconceito contra o país em um fórum internacional. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, reagiu à decisão classificando como "escandaloso" o caso de genocídio movido pela África do Sul. "A acusação de genocídio levantada contra Israel não é apenas falsa, é escandalosa, e pessoas decentes em todo o mundo deveriam rejeitá-la", disse em um vídeo.

A liderança do Hamas classificou a decisão como "importante" e disse contribuir para "isolar Israel e expor seus crimes em Gaza". A Autoridade Nacional Palestina afirmou que a decisão da CIJ mostra que "nenhum Estado está acima da lei". Os Estados Unidos, por sua vez, reiteraram sua posição de que as alegações de genocídio são "infundadas".

A África do Sul saudou as medidas provisórias ordenadas pela CIJ chamando-as de "uma vitória decisiva para o Estado de Direito internacional e um marco significativo na busca de justiça para o povo palestino".

“Em uma decisão histórica, a Corte Internacional de Justiça determinou que as ações de Israel em Gaza são plausivelmente genocidas e indicou medidas provisórias com base nisso”, diz o comunicado. "A África do Sul continuará a agir no âmbito das instituições de governança global para proteger os direitos, incluindo o direito fundamental à vida, dos palestinos em Gaza — que continuam em risco urgente, incluindo devido ao ataque militar israelense, à fome e às doenças — e para obter a aplicação justa e igualitária do direito internacional a todos."

Contexto da acusação

A acusação de genocídio contra Israel foi apresentada pela África do Sul no ano passado e começou a ser avaliada pelo tribunal internacional há duas semanas. 
Pretória acusa o Estado judeu de violações à Convenção sobre Genocídio durante a operação militar em Gaza. 
Israel já classificou o caso publicamente como difamação, e líderes políticos, como Netanyahu, puseram em dúvida o cumprimento de uma eventual decisão desfavorável. — Ninguém vai nos parar, nem Haia [sede da CIJ], nem o Eixo do Mal [Irã e grupos e países aliados no Oriente Médio] nem ninguém — afirmou o primeiro-ministro israelense em 14 de janeiro, dois dias depois de a defesa do país apresentar seus argumentos na CIJ.

A equipe jurídica sul-africana apresentou a denúncia na sede do tribunal, em Haia, em 11 de janeiro. O cerne da acusação foi demonstrar que o governo israelense teria demonstrado "intenção genocida" ao lançar sua operação contra Gaza. Para isso, os juristas apresentaram imagens da destruição e do impacto civil provocado pelas forças de Israel em Gaza, além de declarações públicas de autoridades do país que, sob a tese sul-africana, comprovam que houve uma tentativa de desumanizar o povo palestino e de sinalizar sua eliminação.

A África do Sul solicitou que a corte declarasse a suspensão das operações militares israelenses "em" e "contra" Gaza; a garantia de que os militares israelenses (ou quaisquer forças relacionadas) parassem as operações ofensivas; o fim do assassinato e deslocamento do povo palestino; a normalização do acesso a alimentos, água, infraestrutura e saúde; e que Israel tomasse "todas as medidas razoáveis ao seu alcance" para prevenir um genocídio.

Israel rebateu as acusações um dia depois da apresentação do caso pela África do Sul. A defesa tentou descaracterizar o argumento da acusação de que houve tentativa deliberada de destruição do povo palestino, apresentando a tese jurídica de que os impactos provocados por uma ação militar a civis não é o mesmo que o crime de genocídio.

Na quinta-feira, o New York Times revelou que Israel, como parte de sua defesa, apresentou à CIJ mais de 30 ordens antes secretas dadas por líderes governamentais e militares que, diz, mostrariam os esforços do país para diminuir as mortes entre os civis no enclave palestino.

Além disso, a equipe israelense também exibiu imagens da violência cometida pelo Hamas durante os ataques de 7 de outubro a Israel e acusou a equipe sul-africana de apresentar uma visão "totalmente distorcida" e manipuladora sobre os fatos ocorridos na região.

A decisão desta sexta-feira é apenas a primeira dentro de um processo que deve se arrastar por anos. A CIJ ainda precisa julgar o conteúdo material da acusação, ou seja, a suposta responsabilidade do Estado de Israel em crime de genocídio, para além das medidas emergenciais pedidas pela África do Sul.

De acordo com Sylvia Steiner, ex-juíza do Tribunal Penal Internacional (TPI), também em Haia, há diferentes desafios das cortes internacionais para determinar a responsabilidade em um caso de genocídio, em que a intenção de dizimar um grupo precisa ser evidente.— Aquilo que no começo do conflito a gente já dizia que se tratava de crimes de guerra, agora se alega que esses crimes de guerra têm um objetivo genocida — explicou ao GLOBO Steiner, única brasileira a já ter integrado o TPI. — Existem desafios de diferente natureza para provar o genocídio em uma corte internacional. No TPI, o mais difícil é determinar a responsabilidade penal individual, como o dolo e o nexo de causalidade entre as ações e o resultado. Por outro lado, determinar a responsabilidade do Estado, como a África do Sul está fazendo, é mais fácil pelo número de provas que podem ser coletadas.

Em Mundo - O Globo  - MATÉRIA COMPLETA

 

domingo, 14 de janeiro de 2024

Haia existe - O Globo

Ninguém gosta de ser submetido a julgamento. Países, também não. E o Estado de Israel, comandado por Benjamin Netanyahu, menos ainda. Mesmo que consiga convencer a Corte Internacional de Justiça (CIJ) a arquivar a acusação de genocídio apresentada pela África do Sul, ou mesmo que consiga evitar a petição por medidas provisórias urgentes, como a interrupção dos ataques a Gaza, Netanyahu jamais conseguirá apagar o dano moral, político, diplomático e histórico sofrido em Haia. A sentença final a ser decidida pelos 15 juízes da Corte pode demorar dias, semanas, meses, até anos, mas a mera questão central — Israel cometeu genocídio? é devastadora em si.

Relegada ao papel de cemitério do Direito Internacional, a Palestina como um todo, e Gaza em especial, pouco espera da Justiça dos homens. Só que a petição apresentada pela África do Sul pode ter desdobramentos inesperados. 
Como previsto, foi desconsiderada como frivolidade pelo secretário de Estado americano, Antony Blinken. 
Mas não por Netanyahu, que optou por apresentar sua defesa perante a Corte. 
Não é de hoje que lideranças israelenses se preocupam com uma eventual percepção mundial de que a opressão sofrida pela Palestina ocupada é uma forma de apartheid.  
O espectro de isolamento internacional semelhante ao imposto ao regime de minoria branca na África do Sul — que culminou na extinção do apartheid nos anos 1990 — sempre existiu. Et pour cause.

Desde as décadas da descolonização, dos movimentos de libertação, dos Não Alinhados e da Tricontinental, o partido de Nelson Mandela e a militância palestina andaram lado a lado.— Nossa liberdade é incompleta sem a libertação dos palestinos — lembrou o líder negro em 1997.

Tinham em comum a revolta contra opressores que se ajudavam mutuamente. O jornalista Tony Karon, nascido na África do Sul, sionista na juventude e atual produtor na Al Jazeera, lembra seus tempos de militância anti-apartheid na Cidade do Cabo. 
Em artigo recente, escreveu: “Muitos de nós ficamos horrorizados quando, em 1976, Israel recebeu a visita oficial do primeiro-ministro sul-africano John Vorster, nazista convicto que trabalhou numa organização paramilitar ligada à Abwehr [serviço de inteligência militar de Hitler]”. 
 A venda de armas de Israel para a África do Sul era segredo de polichinelo, assim como a assistência israelense à Força de Defesa do regime bôer. 
 
A descolonização, como se sabe, não seguiu propriamente o roteiro sonhado pelo intelectual martinicano Aimé Césaire — restituir humanidade tanto ao colonizado como ao colonizador, numa mesma comunidade de pertencimento. 
Fracassos se acumularam, e correções de curso continuam a coalhar a caminhada com desgraças. 
Contudo a cartada da África do Sul, ao cobrar da Corte de Haia um posicionamento, tem o mérito de conseguir nos envergonhar pela cumplicidade mundial diante de décadas de desenraizamento e opressão de um povo. 
Silenciadas, gerações e gerações de palestinos tiveram existência apagada, nulificada. Gaza é apenas a aberração mais gritante.
 
Para Netanyahu, a semana foi indigesta também no front interno. 
O conservador Yedioth Ahronoth, maior jornal do país, divulgou uma notícia sombria: “Ao meio-dia do 7 de Outubro, as Forças de Defesa de Israel (FDI) ordenaram a todas as unidades de combate em ação usar a Diretiva Hannibal, sem menção explícita ao nome. A ordem era parar ‘a qualquer custo’ toda tentativa de retorno a Gaza dos terroristas do Hamas, apesar do temor de que levavam consigo reféns.(...) Estima-se em cerca de mil os terroristas e infiltrados mortos entre o assentamento de Olaf e a Faixa de Gaza. Não está claro quantos reféns foram mortos em decorrência dessa ordem”. 
Perto de 70 veículos foram encontrados na mesma área, atingidos por um helicóptero de combate ou mísseis antitanque das FDI. 
 
“Diretiva Hannibal” é o nome dado a um procedimento militar oficialmente abandonado pelas FDI em 2016. 
Visava a impedir a captura de soldados israelenses por tropas inimigas. Sua versão mais genérica ensinava: “A tomada de reféns precisa ser impedida por todos os meios, mesmo ao preço de alvejarmos e causarmos danos a nossas próprias forças”.  
Sujeitas, portanto, a interpretação e aplicação elásticas. 
No mês passado, o diário liberal Haaretz já havia aventado a hipótese de a Diretiva Hannibal ter sido usada no fatídico 7 de Outubro, quando 40 terroristas do Hamas foram alvejados por dois disparos de canhão numa casa em Be’eri, assentamento israelense. Havia 14 reféns civis na casa. Apenas uma saiu com vida do horror. Hadas Dagan, cujo marido foi uma das vítimas, não culpa as equipes de socorro israelenses:

— Eles também deram a vida por nós.

Hoje é o centésimo dia de cativeiro para mais de 130 reféns ainda em mãos do Hamas. Quanta tragédia entrelaçada!

Dorrit Harazim, colunista - O Globo

 

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Israel revela plano para futuro de Gaza após fim da guerra contra o Hamas

Ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, afirmou que o país quer manter o controle de segurança do território palestino

O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, revelou um plano na noite de quinta-feira 4 para o futuro da Faixa de Gaza após o fim da guerra contra o grupo terrorista palestino Hamas, que governa o território há quase vinte anos. A medida ocorre após pressão de seu principal aliado, os Estados Unidos, por propostas concretas para a região

Entre os principais pontos do plano divulgado por Gallant estão:

  1. O controle de segurança de Gaza ficaria nas mãos de Israel após o Hamas ser derrotado, com a presença de soldados israelenses, mas não civis, no território;
  2. Um órgão palestino, ainda indefinido, mas guiado por Israel, seria responsável por gerir a administração diária do enclave, com funcionários públicos locais ou líderes comunitários;
  3. Os Estados Unidos, a União Europeia e outros parceiros regionais assumiriam a responsabilidade pela reconstrução do território, hoje praticamente reduzido a ruínas.

Além disso, o plano, que não é uma política oficial e ainda não foi aprovado por outros ministros, determina que a ofensiva de Israel em Gaza continuará até que os reféns, sequestrados em 7 de outubro, sejam libertados e as “capacidades militares e governativas” do Hamas, desmanteladas. Só depois começaria uma nova fase, durante a qual “o Hamas não controlará Gaza e não representará uma ameaça à segurança dos cidadãos de Israel”.

[Comentário: iniciamos destacando que não comentamos narrativas e sim fatos.
Ao nosso entendimento os fatos da presente matéria e outros, não deixam dúvidas que a matança contínua de civis palestinos, especialmente crianças e mulheres, somada ao radicalismo israelense, não deixam   dúvidas que as Forças Armadas de Israel promovem um genocídio contra o povo palestino, o que mais fortalece sua posição contrária a criação de um Estado Palestino]
Pressão americana
As propostas vieram a público logo antes de uma visita do secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, diplomata com duas missões no Oriente Médio: 
- evitar que a guerra transborde para outros países, 
- vire um conflito regional, e desenhar um futuro pós-guerra que inclua tanto os judeus quanto os palestinos.
 
O quadro delineado por Gallant difere totalmente das propostas dos Estados Unidos, que desejam ver uma Autoridade Palestina revitalizada – que governa a Cisjordânia, embora enfraquecida por crises de representatividade e de corrupçãono poder de Gaza
Além disso, Washington pleiteia novas negociações para a criação de um Estado palestino ao lado de Israel.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, descartou a proposta dos Estados Unidos.
 
Mundo - Revista VEJA


domingo, 7 de janeiro de 2024

Com milhares de mortos [ mais de 22 mil palestinos = a matança continua ] sepultamentos dignos são 'privilégio' em Gaza

Durante quatro dias, o corpo de Kareem Sabawi, de 10 anos, ficou enrolado em um cobertor num apartamento frio e vazio na Faixa de Gaza. Nesse período, e em meio ao intenso conflito no enclave, sua família se abrigou nas proximidades. 
Kareem morreu, contam seus pais, em um bombardeio israelense, e nos dias que se seguiram era especialmente perigoso sair às ruas. Sem conseguir oferecer um enterro digno ao filho, eles sepultaram o corpo do menino debaixo de um pé de goiabeira, no prédio vizinho. Morrer dignamente em Gaza havia se tornado um privilégio.
Quando Kareem morreu, a família ligou para o Crescente Vermelho da Palestina em busca de ajuda. Mas a invasão terrestre de Israel no norte da Faixa de Gaza acabara de começar
As ruas estavam bloqueadas por tanques e esvaziadas pelos tiros, impedindo os socorristas de ajudar famílias como a de Kareem a cuidar dos muitos mortos pelos bombardeios aéreos. 
Todos os dias, o pai do menino, Hazem Sabawi, sofria um duplo tormento: a imensa dor da perda e a incapacidade de proporcionar ao filho a dignidade de um enterro adequado. — Depois do quarto dia, disse que ou eu seria enterrado com ele, ou não o enterraria mais de jeito nenhum — disse ele, antes de detalhar como acabou decidindo colocar o corpo de Kareem debaixo de uma goiabeira, atrás do prédio de um vizinho. — Todo ser humano tem o direito de ser sepultado.
Não tem sido assim em Gaza. Já se passaram treze semanas desde que a guerra começou, após o ataque a Israel pelo Hamas, que matou cerca de 1,2 mil pessoas, segundo autoridades israelenses. Desde então, os que vivem no enclave têm sido forçados a enterrar seus mortos às pressas, sem cerimônia ou extrema-unção, para não arriscarem o mesmo destino dos entes queridos. 
Ao todo, mais de 22 mil palestinos foram mortos por Israel desde 7 de outubro, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.

O conflito transformou Gaza em umcemitério para milhares de crianças”, de acordo com as Nações Unidas. Mohammad Abu Moussa, radiologista do Hospital al-Nasr, no sul de Gaza, disse que “a situação chegou ao ponto em que dizemos que sortudos são aqueles que têm alguém para (e os conseguem) enterrar quando morrem”.

Tradicionalmente, os palestinos honram seus mortos com cortejos fúnebres públicos de luto. Tendas são erguidas nas ruas por três dias para receber os que desejam prestar condolências. Mas o que a guerra enterrou foram os costumes. Muitos mortos são agora deixados em valas comuns, nos pátios de hospitais ou, como Kareem, em jardins de quintal, muitas vezes sem lápides, com nomes rabiscados em mortalhas brancas ou em sacos para cadáveres. As orações — quando feitas — são realizadas rapidamente, em hospitais ou fora dos necrotérios.

Nebal Farsakh, porta-voz do Crescente Vermelho Palestino, disse que a violência impossibilita as equipes de resgate de chegarem aos locais dos ataques para recuperar os corpos. Algumas famílias ficam trancadas dentro de suas casas durante dias com os cadáveres de seus entes queridos, disse ela. Autoridades de saúde de Gaza estimam que cerca de 7 mil pessoas seguem desaparecidas no enclave, a maioria presumivelmente morta devido à enorme destruição causada pelos ataques israelenses. Em algumas residências, as pessoas pintaram com spray os nomes daqueles que estariam enterrados sob os escombros.

Corpos inchados e em decomposição
Quase dois milhões de civis foram deslocados e fizeram perigosas caminhadas a pé até o sul da Faixa de Gaza — encontrando pelo caminho forças israelenses com armas apontadas em sua direção. 
Dezenas de corpos, inchados e em decomposição, foram vistos pelos palestinos. 
Eles contaram ao New York Times que os soldados israelenses não lhes permitiriam sequer cobrir, muito menos enterrar, os mortos. Os militares disseram que agiram desta forma “por razões operacionais”, e também para determinar se entre os mortos estava algum refém israelense sequestrado pelo Hamas. 
 
No caso de Kareem, Sabawi conta que enterrá-lo era o mínimo que podia fazer por um filho que fora "incapaz de proteger".  
Ele e sua esposa disseram que um ataque aéreo israelense ocorreu perto de sua casa no início de novembro, quando a família preparava o almoço com a pouca farinha e alimentos que tinham. 
Sabawi foi atirado ao ar. Quando caiu no chão, a porta da cozinha tombou sobre ele. Ao se levantar, percebeu que a cabeça de Kareem estava sangrando.
Uma vala comum contendo 111 corpos foi trazida do norte de Gaza em novembro para um cemitério em Khan Younis — Foto: Yousef Masoud / The New York Times
Uma vala comum contendo 111 corpos foi trazida do norte de Gaza em novembro para um cemitério em Khan Younis — Foto: Yousef Masoud / The New York Times

Sabawi conta que o pegou no colo, apesar de seu braço estar ferido, e a família correu para o apartamento de um vizinho. Kareem ainda respirava. Seu pai, em pânico, administrava a reanimação cardiopulmonar. Mas era tarde demais. Os vizinhos acolheram a família e trouxeram um cobertor para envolver o corpo do menino. Ele esperou quatro dias, temendo que eles pudessem ser mortos por um ataque aéreo ou por um soldado israelense se saíssem para enterrá-lo.

Quando decidiu voltar à casa, Sabawi e um vizinho fizeram a proclamação da fé muçulmana antes de sair com o corpo do filho do apartamento. No jardim atrás do edifício, cavaram rapidamente uma cova rasa e nela depositaram Kareem, cobrindo-o com terra. Voltaram correndo para dentro. No dia seguinte, voltou correndo para colocar mais terra sobre a sepultura. Na goiabeira, pendurou uma lápide improvisada e colocou um tijolo no topo. E contou que, sempre que havia oportunidade, descia para colocar mais terra, esperando que o local “virasse uma cova de verdade”.

‘Não sei o que aconteceu com o corpo’
Ahmed Alhattab, pai de quatro filhos, disse que um foguete atingiu seu prédio na noite de 7 de novembro na cidade de Gaza. 
Lá dentro estavam 32 familiares, 19 deles crianças. 
A mídia palestina noticiou o ataque à época, estimando o número inicial de mortos em 10. 
Alhattab e três de seus filhos escaparam dos escombros, mas um deles, Yahya, de 7 anos, teve uma fratura no crânio e estava sangrando, relembrou. O pai carregou o menino ferido até encontrar uma ambulância.
 
Na manhã seguinte, disse, voltou com vizinhos e parentes, e eles desenterraram com as mãos quatro familiares mortos. 
Entre eles, seu sobrinho, com apenas 32 dias de vida
Eles os enterraram em uma única cova em um cemitério particular que pertencia a outra família. 
Era muito perigoso tentar chegar aos cemitérios públicos — alguns deles destruídos de qualquer forma pelas forças israelenses
O restante de sua família, 24 parentes, permaneceu sob os escombros.
Um funeral para crianças em Khan Younis — Foto: Samar Abu Elouf / The New York Times
Um funeral para crianças em Khan Younis — Foto: Samar Abu Elouf / The New York Times

No mesmo período, disseram a ele ser improvável que seu filho sobrevivesse. Enquanto os parentes se preparavam para fugir, contou, ele tomou a dolorosa decisão de deixar Yahya para trás e levar seus outros filhos para o sul, onde esperava que estivessem mais seguros. Quatro dias depois, ele ouviu de um amigo que o menino havia morrido no hospital, onde foi enterrado, ao lado de outros pacientes.— O enterro foi temporário. Não sei o que aconteceu com o corpo dele — disse Alhattab.

‘Ele queria enterrá-los’
Quando Fatima Alrayess, de 35 anos e que vive na Áustria, falou pela última vez com os dois irmãos mais novos, no dia 8 de novembro, eles disseram a ela que voltariam à casa da família. Muhammad, 31, e Muayid, 25, contaram que uma equipe da Defesa Civil estava a caminho do edifício de sete andares, que tinha sido derrubado por um ataque aéreo israelense três dias antes. 
Eles relataram que o ataque vitimou oito membros da família, incluindo seus pais.— Ele queria enterrá-los — disse ela sobre Muayid. 
 
Mas um cerco israelense a Gaza desde os primeiros dias da guerra levou à escassez de combustível, entre outros bens essenciais, dificultando o trabalho das equipes da Defesa. 
Naquele dia, elas recuperaram os corpos da mãe, do pai e de um sobrinho de 12 anos antes que escurecesse, soube Alrayess depois pelos irmãos. No dia seguinte, os corpos foram enterrados num cemitério. 
Os irmãos encontraram os socorristas na esperança de recuperar mais corpos. Duas irmãs ainda estavam desaparecidas.

Quando as equipes de resgate começaram a vasculhar os escombros, outro ataque aéreo israelense ocorreu, matando Muayid e Muhammad, bem como vários socorristas, conta Alrayess. As consequências imediatas do ataque foram captadas em vídeo por um fotógrafo local. Ele lamentou que os irmãos tivessem seguido seus pais na morte. — Meus pais foram enterrados à tarde — disse Alrayess. — Muayid e Muhammad foram enterrados naquela noite no mesmo cemitério.

Cinco membros da família permanecem sob os escombros.

Por

Em The New York Times — Gaza

 

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Israel intensifica ataques no centro e sul de Gaza - UOL

Israel intensificou nesta quinta-feira (28) os ataques no sul e centro da Faixa de Gaza, onde a "fome e a desesperança" aumentam, segundo a ONU, após mais de dois meses de conflito. [comentando um fato: hoje, 28 de dezembro,  a Igreja Católica Romana, celebra o dia dos SANTOS INOCENTES - crianças inocentes, com idade inferior a 2 anos,  inocentes executados há mais de 2.000 anos, em Belém e circunvizinhança,  por ordem do Rei Herodes. 
Herodes, então rei dos Judeus, temia que JESUS CRISTO, citado como 'rei dos judeus', então com idade inferior a 2 se tornasse um rei terreno, depondo o tirano, praticante do judaísmo. 
Sem condições de identificar com exatidão o 'concorrente', Herodes ciente  que Jesus tinha idade inferior àquela, determinou que todas as crianças até dois anos de idade fossem sumariamente eliminadas. (São Mateus, 2.)
Hoje, mais de dois mil anos após aquele nefasto evento, crianças inocentes são abatidas em bombardeios efetuados pela Força Aérea de Israel - morticínio que se estende aos civis palestinos confinados na Faixa de Gaza.]

Um correspondente da AFP observou disparos de artilharia durante a noite em vários pontos de Gaza, como Khan Yunis, no sul do território palestino, onde se concentra uma parte significativa dos 1,9 milhão de deslocados de Gaza.

O Ministério da Saúde do Hamas anunciou na quarta-feira que mais 21.100 pessoas, a maioria mulheres e menores de idade, morreram em Gaza desde o início das operações militares israelenses.

 

 Os combates aumentaram de intensidade nesta quinta-feira na Faixa de Gaza, enquanto a ONU alertou para um grave perigo para a população.

Israel prometeu manter a campanha para destruir o Hamas como resposta ao ataque de 7 de outubro do movimento islamista, que deixou quase de 1.140 mortos em território israelense, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em informações divulgadas pelas autoridades do país.  O movimento palestino também sequestrou quase 250 pessoas, das quais 129 continuam como reféns.

As Forças Armadas israelenses anunciaram nesta quinta-feira que os bombardeios prosseguem em Khan Yunis, onde, segundo autoridades do país, se concentram parte dos milicianos do Hamas.  Também exibiram imagens dos soldados avançando nos túneis cavados pela organização islamista palestina perto do hospital pediátrico Al Rantisi, no oeste da cidade de Gaza.

O Ministério da Saúde do Hamas informou que bombardeios durante a madrugada provocaram mortes em Nuseirat e Deir al Balah.

Soldados israelenses 'pisam, humilham e cospem' em palestinos, denuncia ONU

Ataques de Israel em Gaza matam 240 palestinos em 24h, diz Hamas

Netanyahu diz que Hamas deve ser destruído para haver paz  [não é uma tarefa dificil para Israel destruir Gaza, condição que aponta como necessária para uma paz duradoura - milhares e milhares de civis palestinos estão sendo eliminados pela Forças Armadas de Israel, situação que inevitavelmente levará a destruição de toda a vida humana naquela região.]

- "Cessar-fogo duradouro" -

A pressão por uma trégua aumentou na quarta-feira, quando o presidente francês Emmanuel Macron insistiu, em uma conversa telefônica com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, na "necessidade de trabalhar para alcançar um cessar-fogo duradouro".

Ele também expressou uma "profunda preocupação" com o número de civis mortos em Gaza, informou seu gabinete em um comunicado. Desde que Israel impôs o cerco ao território no início da guerra, os moradores de Gaza enfrentam a escassez de comida, água, combustível e medicamentos.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, também pediu uma trégua e afirmou que a comunidade internacional deve "adotar passos urgentes para aliviar o grave perigo que a população de Gaza enfrenta, que coloca em risco a capacidade dos trabalhadores humanitários de ajudar as pessoas com ferimentos graves, fome e que estão expostas a doenças".

Em um comunicado, a OMS afirmou que seus funcionários relataram que "pessoas com fome novamente interromperam nossos comboios com a esperança de encontrar comida".

"A fome e a desesperança aumentam no território palestino", lamentou.

- Quadrigêmeos em Gaza -

Uma das moradoras de Gaza, Iman al-Masry, deu à luz recentemente a quadrigêmeos em um hospital no sul de Gaza, depois de fugir da casa da família no norte do território, uma área devastada pela guerra.  A viagem "afetou minha gravidez", declarou a mulher de 28 anos, que teve dois meninos e duas meninas em um parto cesárea.

Ela precisou desocupar rapidamente o leito no hospital para dar espaço a outros pacientes, mas deixou um dos filhos no hospital porque ele estava com a saúde muito frágil para receber alta. "Estão muito magros", afirmou sobre os filhos em um abrigo improvisado em Deir al Balah.  "Com a falta de leite em pó para bebês, tento amamentá-los, mas não há nada nutritivo que eu possa comer para amamentar três bebês", lamentou.

No campo de refugiados de Al Maghazi, uma escola da ONU transformada em abrigo foi atingida por um bombardeio. "Eles dizem que existem zonas verdes e zonas com outras cores. São apenas boatos, não há zonas seguras em Gaza", declarou à AFP um homem no território que não revelou seu nome.

"A situação também é crítica em Rafah, no sul do território, onde vivem quase 1,5 milhão meio de habitantes", explicou Nedal Abu Shbeka, proprietário de uma loja de colchões. "Pessoas estão nas escolas, campos e outros lugares", disse, em referência ao número elevado de deslocados.

- "Ação direta" -

A guerra aumentou o temor de um conflito regional, com agressões frequentes entre Israel e o Hezbollah na fronteira com o Líbano, assim como os ataques dos rebeldes huthis do Iêmen contra navios no Mar Vermelho, em solidariedade com o Hamas.

Todos estes grupos são apoiados pelo Irã.

O porta-voz militar israelense, Daniel Hagari, sugeriu uma possível "expansão dos combates ao norte", na fronteira com o Líbano, cenário de trocas de tiros constantes entre as forças de Israel e o movimento islamista Hezbollah desde o início da guerra. A Guarda Revolucionária do Irã advertiu Israel que Teerã e seus aliados adotarão uma "ação direta" para vingar a morte do comandante Razi Moussavi, que ocorreu na segunda-feira em um ataque com mísseis na Síria atribuído às forças israelenses, que negam qualquer envolvimento.

Milhares de pessoas compareceram nesta quinta-feira ao funeral de Moussavi em Teerã. Ele era comandante da Força Qods, setor de operações no exterior e unidade de elite da Guarda Revolucionária, o exército ideológico do Irã. A violência também explodiu na Cisjordânia ocupada, com mais de 310 palestinos mortos por soldados ou colonos israelenses desde 7 de outubro, segundo o Ministério palestino da Saúde. Um palestino morreu na madrugada desta quinta-feira durante uma incursão do Exército israelense em Ramallah, depois que seis faleceram em circunstâncias similares na quarta-feira em outro ponto do território. A ONU pediu a Israel o "fim dos homicídios ilegais" na Cisjordânia ocupada.

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