Dilma deveria
renunciar. Seria um gesto delicado com o Brasil. Todos receberíamos a decisão
como um pedido de desculpas, ainda que silencioso. Não
é possível que ela não perceba que já não tem como fazer parte da solução. Tornou-se só um catalisador de problemas.
A
presidente precisa reler aquele seu Riobaldo de uma nota só: "O que ela [a vida] quer da gente é coragem", tomada a
frase como sinônimo de teimosia e resistência. Até porque o sentido original do
texto - vá lá ver, leitor, em
"Grande Sertão Veredas"– é outro. Minas lhe oferece uma saída
honrosa, com Drummond: "Há uma
hora em que os bares se fecham/ e todas as virtudes se negam".
Acabou.
Não é conspiração, não é golpe,
não é tramoia, não é sina, não é nem mesmo fraqueza. Memórias de um ex-jagunço
sentimental e sentencioso, em momentos assim, viram só mais uma pedra no meio
do caminho. É a realidade, a carnadura concreta da poética do poder, para
apelar um pouquinho a João Cabral, que impõe à petista o ato elegante. Dou de
barato que ela fez o possível, atendendo aos ditames de sua formação
intelectual e do partido em cujo altar teve de se ajoelhar. Temos aí "a
soma e o resto", para citar Henri Lefebvre, que rompeu com o Partido
Comunista quando a petista desta história tinha só... 11 anos!
Não é que tenha dado tudo errado
com o seu governo. Em certa
medida, deu tudo certíssimo, segundo, ao menos, a matemática entranhada nas
coisas. As
despesas cresciam sistematicamente acima da receita. Quando o binômio supervalorização das commodities/modelo ancorado no
consumo evidenciou que não era sustentável, a partir de meados de 2012, ela resolveu alimentá-lo com medidas
adicionais que... aumentaram as despesas e diminuíram a receita! As tarifas públicas foram represadas para conter a inflação,
estimulada pelos anabolizantes injetados na economia. E o país quebrou.
CQD. Como queríamos demonstrar.
Quantas vezes a
mandatária foi advertida para o que havia do lado de lá do sinal de igualdade
da equação petista?
Não
obstante, os críticos eram demonizados,
ridicularizados, tratados como inimigos do povo. Ainda hoje se procura
fazer deles uma caricatura, desqualificando-os como interlocutores do jogo
democrático – e a interlocução na democracia se faz é entre adversários, não
entre aliados. No fim das contas, vamos convir, nem a senhora, presidente, nem
seu partido entendem direito essa conversa de tensão virtuosa entre contrários.
O petismo atua é para eliminar os que
não se rendem.
Agora não há mais tempo. Algum entendimento terá de ser
feito para convencer a sociedade de sacrifícios adicionais, além daqueles que
já estão em curso. Ou é isso, ou vem por aí uma espiral
negativa de longuíssima duração. E a arena desse pensamento não é o
Ministério da Fazenda. A Joaquim Levy, ou a outro, entregar-se-á uma máquina de
calcular números. A realidade exige
alguém que seja bom no cálculo político. Ocorre que isso não se faz sem uma
relação de confiança, que não existe mais. É preciso saber identificar o
momento em que todos os bares se fecham e as virtudes se negam. Tá bom, presidente! Eu a deixo com o seu
Riobaldo. Mas com outro – aquele que cobra da
senhora é coragem.