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terça-feira, 5 de setembro de 2017

Auto-grampo de Joesley abala segunda denúncia de Janot

Gravação é garantia que faltava de que Temer deve concluir tranquilamente seu mandato

O primeiro efeito colateral do auto-grampo de Joesley Batista é o esvaziamento completo da segunda denúncia que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, planeja apresentar contra o presidente Michel Temer.

O foco agora passa a ser nas irregularidades que, indicam as gravações, ocorreram durante as negociações que resultaram na imunidade total a Joesley e seus comparsas. O envolvimento do ex-procurador Marcelo Miller, quando ainda atuava do lado do balcão da PGR, deve levar a uma caçada a Janot, liderada por Temer e seus aliados: até que ponto o procurador-geral sabia, ou não, que um de seus auxiliares orientava o empresário a conseguir o máximo de benefícios?

A doze dias do final do mandato, Janot deve passar mais tempo respondendo a essas e outras perguntas do que preparando a segunda denúncia contra Temer. Mesmo que consiga finalizar um documento consistente, a chance de obter o aval do Câmara para que o caso prossiga ao Supremo Tribunal Federal é praticamente zero.  Se os deputados não autorizaram o prosseguimento da primeira denúncia, quando não havia dúvidas sobre o áudio, o que farão agora que há indícios de que houve uma armação na negociação?

Com uma dose de cinismo, é possível apontar como lado positivo que a fatura apresentada pelos deputados para enterrar o assunto vai ser menor do que antes. No final das contas, o governo terá de liberar menos verbas e cargos para obter um placar favorável. O auto-grampo de Joesley não apaga em nada os fatos revelados pela sua delação: Temer recebeu um criminoso confesso no porão do Palácio do Jaburu, ouviu uma série de crimes e aquiesceu. Também não anula o fato de que a empresa admitiu ter pago propina a mais de 1.800 políticos, tampouco os R$ 150 milhões relatados em contas de Lula e Dilma. [sempre bom lembrar que a maior parte do que foi narrado pelo delator não está suportado por provas e não merecem sequer ser chamados de fatos.]

No campo jurídico, haverá um longo embate sobre a validade ou não das delações, se o conteúdo foi ou não "contaminado" pelos problemas na negociação.   Mas, do ponto de vista político, o principal alvo da delação da JBS, Michel Temer, já pode comemorar. O auto-grampo de Joesley é a garantia que faltava que ele deve terminar tranquilamente seu mandato, até dezembro de 2018.

Fonte: Pedro Dias Leite é editor de País - O Globo



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