Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador bandido bom é bandido morto. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador bandido bom é bandido morto. Mostrar todas as postagens

domingo, 30 de julho de 2017

As chances de Bolsonaro e Lula

A fatura que a República tira de seus ismos - grupismo, mandonismo, caciquismo, nepotismo, individualismo, fisiologismo – cresce exponencialmente com o acirramento da crise política, propiciando especulações e versões sobre o campeonato eleitoral de 2018. Erigem-se espaços de protagonistas no pleito e, mais, com indicação de suas possibilidades de vitória, projeções que se fazem a partir do pesquisismo – essa mania desvairada de medir posições de pré-candidatos muito antes dos eventos eleitorais.

A essa altura, já há quem veja Jair Bolsonaro e Luiz Inácio na chegada ao pódio, quando ainda não se sabe se serão candidatos ou se as circunstâncias (jurídicas, políticas, econômicas e sociais) permitirão que o sejam.  Bolsonaro só será candidato em cenário de caos político, com expansão da insegurança coletiva e clamor social por ordem nas ruas, sob slogans do tipo: “bandido na cadeia”, “bandido bom é bandido morto”. [Bolsonaro será o candidato do restabelecimento da ORDEM no Brasil, a volta de valores esquecidos,  o que trará entre outros benefícios o progresso.]
Abandonaria alternativas mais viáveis de uma candidatura majoritária no Rio de Janeiro (governo ou senado) e mesmo a continuidade como representante na Câmara Federal por uma opção cheia de riscos?

Admitamos, porém, que entre na canoa presidencial ante a insistência da turba exigindo “basta à bandidagem”. Pela hipótese mais benevolente, sejamos realistas: tem chances mínimas de alcançar vitória. A não ser que se admita uma reviravolta nos padrões culturais e na formação do pensamento de nossas classes sociais.  A força das classes médias

Os contingentes de visão conservadora tendentes a perfilar ao lado de perfis populistas e identificados com o “poder da bala” estão na base da pirâmide social e, admitamos, em segmentos do próprio topo, particularmente dos extratos que ainda sonham com a volta dos militares ao poder. São pequenos enclaves radicais.  O ciclo da redemocratização oxigenou os pulmões sociais, gerando movimentos de toda a ordem – em defesa de categorias profissionais, de gêneros e minorias. [e estabelecendo a desordem, a bagunça, em todo o Brasil.]  Esses núcleos são comprometidos com os fundamentos democráticos tão bem pontuados na Constituição de 88. A imensa maioria eleva ao alto a bandeira da cidadania,  identificando-se com o ideário das liberdades.

O espaço habitado por imensos contingentes das classes médias (A, B e C), cuja forte expressão gera impactos para cima e para baixo, é o mais largo da pirâmide social. Sua influência equivale a da pedra jogada no meio da lagoa. Forma ondas que chegam até as margens.  O leque de profissionais liberais – médicos, advogados, empresários (dos meios rural e urbano) de médio e pequeno porte, comerciantes, profissionais da comunicação etc – se destaca por ser a maior tuba de ressonância do país.

Pois bem. Essa orquestra entoa o hino progressista. Pode, até, abrigar aqui e ali um ou outro nicho mais conservador, mas suas maiores fatias defendem os avanços civilizatórios e os valores democráticos. Essa é a interpretação que se extrai da fortaleza de onde sai o tiroteio que abate conservadores, demagogos e populistas. Não há hipótese de que esse poderoso grupamento seja atraído pela metralhadora que é Jair Bolsonaro.

As chances de Lula
Da mesma forma, o rolo compressor das classes médias vencerá o  bastião de Luiz Inácio, onde os exércitos militantes serão em menor número do que portaram estandartes vermelhos em 2002 e 2006. O lulismo está em decadência, seja porque seu artífice está imerso na lama do petrolão, após ter resistido ao maremoto do mensalão, seja porque o legado por ele deixado desmoronar, após a débâcle na economia perpetrada pela ex-presidente Rousseff. [Lula não tem chances pelo mais simples dos motivos: em 2018 estará encarcerado, com várias condenações em primeira instância e algumas ratificadas em segunda instância.
Criminoso condenado não pode ser presidente da República.]

Não se pode dizer, porém, que o ex-metalúrgico está nocauteado. Continuará a receber a votação da militância e de camadas das margens sociais, principalmente na região Nordeste, onde chega a obter hoje o índice de 45%. Lula é exímio na arte de mistificar. Nos fundões, é visto como o “Pai dos Pobres”.  Comporta-se como Salvador da Pátria e começa a prometer que recolocará o país no altar da grandeza, sem reconhecer o buraco aberto na economia pela era lulista. Resistirá até o último minuto da batalha judicial que tem pela frente, devendo usar os recursos jurídicos (infringentes e de declaração), caso venha a ser condenado na 2ª instância.

A condição de vítima aumentará seu quinhão de votos, mas não a ponto de fazê-lo subir ao pódio. A rejeição ao seu nome subirá ao pico da montanha.  Portanto, toda prudência se faz necessária antes os cenários eleitorais do amanhã. É muito pouco viável o encontro dos extremos, Bolsonaro e Lula, na encruzilhada eleitoral de outubro de 2018. A crise certamente acirrará os ânimos. Mas não se pense que seus efeitos serão benéficos para candidatos localizados nas extremidades do arco ideológico.

A lógica aponta que perfis menos polêmicos, mais afeitos ao diálogo e, sobretudo, não flagrados em escândalos, devem ganhar a preferência do eleitorado. A questão é: quem? Há essa figura? O fato é que não existe, pelo menos ao alcance da vista, um perfil com tal identidade. Seria um empresário? Um profissional liberal de prestígio? Um juiz? Receberia apoio partidário? Difícil. [é nesse espaço que surgirá e se consolidará a candidatura de Ronaldo Caiado.]
 
Como se sabe, há uma regrinha básica nas eleições: o nome deve ganhar apoio de grandes partidos. Só assim a aritmética eleitoral é  arrumada. O tempo de mídia é mais longo, permitindo amplo conhecimento do candidato por todos os segmentos da população.
As estruturas partidárias tendem a escolher candidatos entre seus integrantes. Mas não há lideranças capazes de construir consensos. O que se vê é a formação de alas no PMDB, PSDB, PT e em siglas menores. O individualismo impera.

Algum consenso pode se dar na esfera de siglas como Rede Sustentabilidade e PDT. Mas os nomes que apresentam,  Marina Silva e Ciro Gomes, têm centímetros abaixo da estatura que se exige para uma candidatura com reais chances. Em suma, as águas que correrão em 2018 estão longe de desembocar no oceano. Gregos e troianos vão ter de esperar muito para saber que rumo tomará a pororoca.

 Fonte: Blog do Noblat - Gaudêncio Torquato É jornalista, professor titular da USP, consultor político e de comunicação Twitter @gaudtorquato

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

A matança em Alcaçuz

 Para chefe de polícia com sobrenomes de Lampião invertidos, massacre foi “um sucesso

José Nêumanne: A matança em Alcaçuz no país dos insensatos


No primeiro dia de 2017, um antigo e muito próximo espírito santo de orelha de Michel Miguel Elias Temer Lulia deu-lhe um conselho que ao chefe, então, pareceu promissor. Como não era de sua alçada, o massacre que resultou em 56 mortes no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus (AM), não deveria fazer parte de suas preocupações de chefe da Nação, até porque se dissolveria em urina em poucos dias. O presidente ficou quatro dias sem abrir o bico até que, pressionado pelas evidências de que tudo o que acontece neste país em crise lhe diz respeito, tentou safar-se aplicando o golpe do pai dos burros. A tragédia virou o eufemismo “acidente pavoroso” e todas as providências para enfrentá-la foram transferidas para seu factotum Alexandre de Moraes, o mais boquirroto dos ministros que ocuparam o Ministério da Justiça, a mais antiga e até pouco tempo atrás a mais venerável pasta da República.

No 11º dia, contudo, Sua Excelência fez seu gesto de contrição de hábito, promovendo eufemismo a contorcionismo retórico, comum em seu dialeto particular de apostos e mesóclises: “matança pavorosa”. Sua Excelência nem foi a Manaus, nem a Boa Vista, Roraima, onde a urina prevista pelo providencial conselheiro foi inundada pelo sangue de 32 vítimas da vingança “malígrina” do PCC. Antes que a primeira quinzena de janeiro passasse, entre notícias de fugas de presídios em Minas Gerais e no Paraná, mais mortandade foi perpetrada na Penitenciária Estadual de Alcaçuz e no Pavilhão Rogério Coutinho Madruga, usado como “cadeia pública” de Natal. O sangrento episódio ocorreu no município de Nísia Floresta, abreviação do pseudônimo Nísia Floresta Brasileira Augusta, pelo qual se conhece a potiguar Dionísia Gonçalves Pinto, educadora, poetisa e escritora, cuja obra mais conhecida é Opúsculo Humanitário, coletânea de textos em defesa do feminismo. 


Os presídios, a 35 quilômetros da capital do Estado, ficam no mesmo território municipal que Búzios, conjunto de praias paradisíacas, destino turístico da zelite branca, que Lula abomina.
Metáforas opostas – Inferno de Dante e Paraíso de Milton – ali têm muita proximidade. Se há poucas praias lindas como as de Nísia Floresta, seus presídios são a mais completa tradução do inferno presidiário nacional, que Temer insiste em desconhecer. Mesmo comparada com o caos nacional, a situação local é ainda mais insegura e deplorável. É o que a ocorrência delata na precariedade do lugar que abriga condenados a penas leves e membros das 27 facções do crime organizado, relatadas em excepcional reportagem que serviu de manchete ao Estadão no sábado passado. 


Basta seguir o relato deste jornal: seis membros do PCC, egressos do Pavilhão, invadiram o depósito de armas, pularam o muro de Alcaçuz e lá mataram e degolaram os inimigos do Sindicato RN, que nele viviam e dos quais eram mantidos isolados. À falta de semoventes adequados, vários corpos, todos decapitados e alguns esquartejados, foram transportados em caminhonetes abertas e o governo teve de alugar uma câmara frigorífica para acomodá-los. Não há um Instituto Médico Legal no Rio Grande do Norte. Os exames foram, então, assumidos pelo diretor do Instituto Técnico de Perícia (Itep), na zona portuária de Natal, cidade usada como base pelas tropas americanas para atravessar o Atlântico na 2ª Guerra Mundial. Foram solicitados peritos do vizinho Estado da Paraíba.

O governador potiguar também tomou emprestado dos vizinhos paraibanos o secretário estadual de Segurança Pública, Walber Virgolino da Silva Ferreira, cujo nome próprio invoca o mais célebre facínora do banditismo nordestino, Virgolino Ferreira da Silva, Lampião, o Rei do Cangaço. O delegado de carreira da Polícia Civil do Estado vizinho, contudo, jamais se perderá pelo segundo prenome e pelos dois sobrenomes invertidos. Suas declarações sobre o morticínio justificam essa assertiva.


A seu ver, a ação policial de reação ao massacre foi “um sucesso”, de vez que as populações das redondezas não foram perturbadas pela fuga de nenhum presidiário. Antes que alguém o acusasse de ter deixado o “pau comer”, como diz a gíria da região, dentro do presídio, fiel àquele ditado de que “bandido bom é bandido morto”, ele logo esclareceu que o total de mortos poderia ter sido muito maior. Diante da evidência de que o controle das duas prisões pelos presos durou 14 horas (entre a tarde de sábado 14 e a manhã de domingo 15), o delegado nos ensinou que “é muito difícil evitar” a morte de detentos em presídios. O policial recusa-se ainda a declinar as denominações das facções, embora admita que o incidente fora causado pela guerra entre elas. Não esclareceu se faz isso por intuição, superstição ou por convicção, acreditando que tornando seus nomes notórios “estaria dando-lhes cartaz”, ensinamento aprendido do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e seguido à risca pelo atual ministro da Justiça.


Desta vez, Michel Temer pronunciou-se assim que soube do recente “acidente”. Não falou à Nação, não viajou para Natal, não saiu de casa, mas pontificou – como, a exemplo de Donald Trump, tem feito em seu perfil pessoal no Twitter, tardia manifestação de adolescência aos 76 – que acompanha a situação do presídio de Alcaçuz. E também que encarregou seu ministro pra toda obra, Alexandre de Moraes, a prestar “todo o auxílio necessário ao governo do Estado”, sem declinar a qual se referia entre os 27 existentes.


Moraes atendeu ao pedido do governador, autorizando que parte dos R$ 13 milhões do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen), liberados em 29 de dezembro de 2016 “para modernização e aquisição de equipamentos, seja utilizada em construções que reforcem a segurança no presídio”. O ministro da Justiça também agradeceu, em nome de Temer, “o empenho das forças policiais que atuaram em defesa da sociedade, evitando fugas e controlando a situação”. Em nota oficial, este contou também que falou com o governador Robinson Faria, que agradeceu o apoio da Força Nacional (FN) que está no Estado desde o ano passado, e autorizou que esta fique mais 60 dias em território potiguar. Esqueceu-se de contar pra quê. Afinal, a FN estava lá e sua presença não evitou que o inferno avisasse que fica bem perto do paraíso tropical da praia de Búzios.  A matança em Alcaçuz esclareceu ao distinto público pagante deste país dos insensatos que o inferno fica ao lado do verão ao mar e que tudo o que pode ser feito é exatamente o que não foi feito e de nada adiantou.


Publicado no Blog do Nêumanne