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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Governo tem de começar a reconhecer a importância do agronegócio - Gazeta do Povo

Vozes - Alexandre Garcia

Seca no RS

Na manhã desta quinta está chegando a São Sebastião, no litoral de São Paulo, a nau capitânia da Marinha brasileira, o Atlântico. É um navio-aeródromo com e múltiplas tarefas: leva seis helicópteros e tem um hospital de campanha com 200 leitos. 
Os 150 fuzileiros navais a bordo vão chegar à praia com barcaças de desembarque para ajudar as pessoas.

Também na manhã de quinta está saindo de Brasília uma comitiva, enviada pelo presidente da República, para o interior do Rio Grande do Sul, que tem 371 municípios em emergência por causa da seca. São 371 de 497 municípios no estado. É muita seca: 90 dias sem chuva, principalmente na região sul do estado, exatamente para onde vai a comitiva, que pousa em Porto Alegre e segue via rodoviária até Bagé, onde vai anunciar medidas. Acho até que tem dois ministros nesse grupo que nunca foram ao Rio Grande do Sul: Wellington Dias, que foi governador do Piauí, e Waldez Góes, que foi governador do Amapá. Também vai o futuro presidente da Companhia Brasileira de Abastecimento (Conab). [a função mais importante de um ministro do governo Lula é fazer turismo por conta dos cofres públicos; o que tanta gente inútil vai fazer em terras gaúchas?]

O governo mostra disposição de reconhecer a importância do agronegócio.  
Um governo que foi eleito por muita gente que tem preconceito contra o agro, que detesta o agro, que apoia o MST, por exemplo.  
Mas é um sinal que o governo envia depois de ter cortado linhas de crédito do BNDES para o agronegócio. 
E quem pulou carnaval sabe que tudo dependeu do agro, não? 
Se tomou cerveja, tem cevada, lúpulo, malte. Se tomou refrigerante, tem açúcar, guaraná, laranja, limão. 
Se viu o carro alegórico passando, ele estava movido a biodiesel ou álcool. No combustível do carro tem álcool de qualquer maneira. 
Na fantasia tem o algodão. Comeu sanduíche? Estão lá o trigo, a linguiça, o ovo. Tudo veio do agro. 
Não tem como ignorar. É preciso parar com esse negativismo, é ridículo tentar negar a existência do agro brasileiro e sua importância nas nossas contas. O agro está precisando empregar muita gente também, está cheio de vaga, está precisando de gente. O agro brasileiro é um caso de sucesso.

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Reforma tributária não vai reduzir impostos

Reforma tributária para bancar governo inchado
O governo está anunciando reforma tributária em seis meses. Que pressa é essa? Por quê? Porque é preciso arrecadar mais. Porque subiu o gasto do governo com o próprio governo. Eram 22 ministérios e agora são 37, então a despesa aumenta, não é?  
Vejo gabinetes lotados de gente, como na Lei de Parkinson, que diz que o trabalho aumenta na medida em que houver gente disponível para fazê-lo. 
Então, inventam coisas para a pessoa fazer, coisas que não têm nenhuma produtividade, nada, zero. 
Para que serve o Estado, se não for para prestar serviço público? 
Não produz nada, não cria riqueza, só tira a riqueza de uns para aplicar, mas se aplicar no próprio Estado não adianta nada. 
Tem de aplicar em serviço público. Em outras palavras, duvido muito que uma reforma tributária seja para baixar os impostos. Só se eu fosse muito ingênuo para acreditar numa coisa dessas.

Senador Girão quer detalhes sobre prisões pós-8 de janeiro

O senador Eduardo Girão está oficiando para o ministro de Direitos Humanos, atrás de esclarecimentos sobre as cerca de 900 pessoas que estão presas, com dificuldades de saúde, de alimentação, de higiene, sem saber exatamente o porquê
 Essa é uma questão básica, que tem de ser considerada pelos deputados, senadores, nossos representantes. 
O Congresso vai se encolher ou vai investigar o fato político que teve repercussão mundial? Vai deixar que esse fato político, com essas dimensões, seja tratado apenas como uma ocorrência policial?

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


quinta-feira, 25 de agosto de 2022

DIA DO SOLDADO MENSAGEM DO COMANDANTE DO EXÉRCITO

Mensagem do comandante do Exército para o Dia do Soldado 2022

Texto assinado general Marco Antônio Freire Gomes relembra e comemora os feitos do "Exército de Caxias".


DIA DO SOLDADO – 25 DE AGOSTO

Caxias, o “Patrono do Exército”, Vive!

Na data em que reverenciamos o “Duque Imortal”, saudamos os Soldados da Força Terrestre de todas as épocas, por sua dedicação, seu profissionalismo e seu patriotismo. O juramento de “defesa da Pátria com o sacrifício da própria vida” é o maior compromisso que um cidadão pode assumir. Sinto-me honrado e gratificado em compartilhar com vocês os mesmos ideais e tradições que perpetuam, ao longo dos séculos, a nobreza do Exército de Caxias.

Caxias Vive! Vive mercê de seu irretocável histórico de vida castrense e civil demonstrado nas suas ações, no caráter íntegro, no desejo de servir, na coragem física e moral e na liderança nata do mais insigne dos Soldados Brasileiros.

Caxias Vive! Vive na simplicidade, na humanidade e no altruísmo, evidenciados nas invictas campanhas e profícuas negociações que o credenciaram ao título de “Pacificador do Brasil”. Sua firme atuação e constante presença em momentos decisivos, certamente foram esteio e amálgama na consolidação do espírito nacional, descortinando um futuro grandioso para a Nação Brasileira.

Caxias Vive! Vive no espírito de Guararapes quando, irmanados pelo inédito ideal de Pátria, numa conjunção de raças, homens e mulheres, liderados por nossos patriarcas Barreto de Menezes, Fernandes Vieira, Vidal de Negreiros, Felipe Camarão, Henrique Dias e Antonio Dias Cardoso, souberam impor nossa Soberania aos invasores estrangeiros, que, desde então, jamais foi ou será aviltada. Nessa ocasião, brotavam, nos corações de nossos primeiros soldados, o patriotismo, o espírito de corpo e o comprometimento, valores esses tão caros a nosso patrono. Ali já havia Caxias!

  Caxias Vive! Vive na Independência do Brasil, quando o jovem tenente Luiz Alves de Lima e Silva, servindo no Batalhão do Imperador, travaria seu primeiro combate, dando mostras de seu destemor. O futuro Duque já demonstrava assim sua pujante liderança e espírito combativo e, da mesma forma que Maria Quitéria, primeira mulher a assentar praça em uma unidade militar em terras brasileiras, participou ativamente nos eventos que consolidaram nossa emancipação.

Caxias Vive! Vive nas vitórias pacificadoras contra as revoltas regenciais e liberais que ameaçaram a integridade e a paz no Brasil Imperial, e no heroísmo dos que o acompanharam e lutaram na Guerra da Tríplice Aliança: Sampaio, Osorio, Mallet, Villagran Cabrita, Bitencourt, Severiano da Fonseca e Antônio João, os quais escreveram páginas de glórias e sacrifícios em nossa história militar. Dona Rosa da Fonseca, patrono da Família Militar, perdeu três de seus filhos nessa árdua campanha. Na bravura, no desprendimento e na altivez desses heróis ecoou a liderança inconteste de Caxias, o Grande Comandante.

Caxias Vive! Vive na Proclamação da República, por meio dos feitos e da carreira exemplar de outro ilustre herói, o Marechal Deodoro da Fonseca, que foi ferido três vezes nos combates de Itororó, alcançou o último posto da carreira e foi o proclamador da República. Deodoro certamente teve em Caxias os exemplos de coragem, fé na missão e integridade que o alçaram ao nobre cargo de 1º Presidente da República.

Caxias Vive! Vive na figura excelsa e humana do Marechal Rondon que, desbravando o oeste brasileiro no início do século passado, assegurou a proteção aos nossos irmãos indígenas e contribuiu, assim como Caxias, para a integração nacional.

Caxias Vive! Vive nos mais de 25 mil combatentes da Força Expedicionária Brasileira que deixaram a segurança e o conforto de seus lares; cruzaram as águas do desafiador Atlântico e, destemidos, lutaram bravamente libertando dezenas de cidades do Velho Continente, sempre em defesa da Democracia. É a chama do valor combativo de Caxias inflamando e iluminando os passos de heróis como os Marechais Mascarenhas de Moraes e Castelo Branco, líderes que, ombreados a Frei Orlando, à Major Elza Cansanção, ao Tenente Apollo Rezk, ao Aspirante Mega e ao Sargento Max Wolff, demonstraram ao mundo a fibra e o valor de nossos inesquecíveis Pracinhas. “A cobra fumou!”

Caxias Vive! Vive no exemplo de atuação de nossos “capacetes azuis” nas missões da ONU, promovendo a paz e contribuindo para amenizar o sofrimento de povos irmãos! Desde 1947 nos Balcãs, mais de 45 mil militares do Exército representaram nossa Nação em diversas operações, com destaque para a participação na Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti. Ali, como em todas as ocasiões, qualidades como o respeito à vida, a humildade, o zelo para com a dignidade humana e a magnanimidade, tão presentes em Caxias, afloraram espontaneamente, ressaltando a invejável nobreza de espírito e o profissionalismo de nossos Soldados.

Caxias Vive! Vive nas Operações de Garantia da Lei e da Ordem, de Segurança da Faixa de Fronteira, de Garantia da Votação e Apuração, de Distribuição de Água e Perfuração de Poços, de Construção de Estradas, Pontes e Ferrovias, de Preservação do Meio Ambiente, de Combate a Pandemias e de Apoio Emergencial em Desastres Naturais. É a dedicação diuturna na proteção do solo pátrio, aliada à solidariedade, à probidade e à consciência de servir à Nação e a seu povo. Virtudes que ressurgem como motivação, inspirada nos feitos de nosso glorioso Patrono. É a “Mão Amiga” de Caxias sempre estendida a seus compatriotas.

Caxias Vive! Vive na eficiência operacional, na dedicação à profissão das Armas, na abnegação, no comprometimento, na seriedade, na responsabilidade e na integridade do soldado brasileiro, que, presente em todos os rincões desse sagrado solo, diuturnamente guarnece as fronteiras preservando nosso patrimônio, cônscios da imensa responsabilidade de preservar o legado do “Duque de Ferro” e de todos os heróis da Pátria. É o “Braço Forte” de Caxias fazendo-se presente!

Soldado Brasileiro! Se, em algum momento, verdades transfiguradas, notícias infundadas e tendenciosas ou narrativas manipuladas tentarem manchar nossa honra, na vã esperança de desacreditar a grandeza de nossa nobre missão, lembrem-se de que a calúnia jamais maculou a glória de Caxias. O bravo Guerreiro demonstrou que seu coração de Pacificador era ainda maior que a formidável têmpera de sua espada invencível.

Discípulos de Caxias! Mantenham a fé na missão de nossa Força! Continuem espelhando-se em nosso Patrono, o Marechal e glorioso Duque, sempre firmes e coesos, sob o sagrado manto da Hierarquia e da Disciplina, para que o Exército Brasileiro, perpétuo defensor dos interesses nacionais, permaneça servindo à Nação e seja reconhecido por seu patriotismo vibrante, pela busca da modernidade e pelo eficiente e permanente estado de prontidão na garantia de nossa Soberania! Que a Legalidade, a Legitimidade e a Estabilidade continuem como valores centrais, sempre em respeito ao Povo e a nossa amada Nação.

Lembremos que não há Liberdade sem Soberania, a qual para ser mantida, necessita de um Exército forte, capaz e respeitado.

Caxias Vive, hoje e sempre, na ALMA INQUEBRANTÁVEL do SOLDADO BRASILEIRO!
Sejam muito felizes!

BRASIL!
ACIMA DE TUDO!

Brasília – DF, 25 de agosto de 2022.

General de Exército MARCO ANTÔNIO FREIRE GOMES
Comandante do Exército


quinta-feira, 31 de março de 2022

MINISTÉRIO DA DEFESA - ORDEM DO DIA alusiva ao dia 31 de março

MINISTÉRIO DA DEFESA
ORDEM DO DIA alusiva ao dia 31 de março de 1964
Brasília, DF, 31 de março de 1964
 

Brasília (DF), 30/03/2022 - O Movimento de 31 de março de 1964 é um marco histórico da evolução política brasileira, pois refletiu os anseios e as aspirações da população da época.

Analisar e compreender um fato ocorrido há mais de meio século, com isenção e honestidade de propósito, requer o aprofundamento sobre o que a sociedade vivenciava naquele momento. A história não pode ser reescrita, em mero ato de revisionismo, sem a devida contextualização.

Neste ano, em que celebramos o Bicentenário da Independência, com o lema “Soberania é liberdade!”, somos convidados a recordar feitos e eventos importantes do processo de formação e de emancipação política do Brasil, que levou à afirmação da nossa soberania e à conformação das nossas fronteiras, assim como à posterior adoção do modelo republicano, que consolidou a nacionalidade brasileira.

O século XX foi marcado pelo avanço de ideologias totalitárias que passaram a constituir ameaças à democracia e à liberdade. A população brasileira rechaçou os ideais antidemocráticos da intentona comunista, em 1935, e as forças nazifascistas foram vencidas na Segunda Guerra Mundial, em 1945, com a relevante participação e o sacrifício de vidas de marinheiros, de soldados e de aviadores brasileiros nos campos de batalha do Atlântico e na Europa.

Ao final da guerra, a bipolarização global, que fez emergir a Guerra Fria, afetou todas as regiões do globo, o que trouxe ao Brasil um cenário de incertezas com grave instabilidade política, econômica e social, comprometendo a paz nacional.

Em março de 1964, as famílias, as igrejas, os empresários, os políticos, a imprensa, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), as Forças Armadas e a sociedade em geral aliaram-se, reagiram e mobilizaram-se nas ruas, para restabelecer a ordem e para impedir que um regime totalitário fosse implantado no Brasil, por grupos que propagavam promessas falaciosas, que, depois, fracassou em várias partes do mundo. Tudo isso pode ser comprovado pelos registros dos principais veículos de comunicação do período.

Nos anos seguintes ao dia 31 de março de 1964, a sociedade brasileira conduziu um período de estabilização, de segurança, de crescimento econômico e de amadurecimento político, que resultou no restabelecimento da paz no País, no fortalecimento da democracia, na ascensão do Brasil no concerto das nações e na aprovação da anistia ampla, geral e irrestrita pelo Congresso Nacional.

As instituições também se fortaleceram e as Forças Armadas acompanharam essa evolução, mantendo-se à altura da estatura geopolítica do País e observando, estritamente, o regramento constitucional, na defesa da Nação e no serviço ao seu verdadeiro soberano – o Povo brasileiro.

Cinquenta e oito anos passados, cabe-nos reconhecer o papel desempenhado por civis e por militares, que nos deixaram um legado de paz, de liberdade e de democracia, valores estes inegociáveis, cuja preservação demanda de todos os brasileiros o eterno compromisso com a lei, com a estabilidade institucional e com a vontade popular.

   


segunda-feira, 7 de março de 2022

Potássio para dar e vender - Revista Oeste

Artur Piva

Embora as reservas brasileiras sejam capazes de suprir o país por mais de 200 anos, o mineral ainda é importado

Não são apenas os ataques a usinas nucleares e alvos civis ou os milhões de refugiados que deixam a Ucrânia rumo a outras paragens da Europa o que preocupa o Brasil na guerra que acontece do lado de lá do Atlântico. O potássio, um mineral de cor marrom que, depois de processado, é transformado em pequenas porções que lembram ração de cachorro, é indispensável para a produção de fertilizantes usados nas lavouras brasileiras. E boa parte desse potássio é importada da Rússia


 Cloreto de potássio é um fertilizante mineral vermelho -  Foto: Andrei Dubadzel/Shutterstock
 
Apesar dessa dependência do mercado externo, o Brasil tem uma das maiores reservas de potássio do mundo. O mapa dessa mina é conhecido há mais de uma década. Localizada no Amazonas, a quantidade de minério depositada ali pode suprir a demanda nacional por mais de 200 anos.

Reinhold Stephanes, que comandou o Ministério da Agricultura no governo Lula entre 2007 e 2010, afirmou que o grupo canadense Falcon já havia comprado uma grande área na região quando ele estava à frente da pasta. “Eles me disseram que havia ali a perspectiva de existir a terceira maior reserva de potássio do mundo”, contou Stephanes.

A área faz parte de uma jazida que pode se estender até o Pará. Ao todo, estimam-se mais de 3 bilhões de toneladas de minério. Boa parte dele está localizada em Autazes (AM), município a pouco mais de 100 quilômetros de Manaus, encostado nos rios Madeira e Amazonas. A quantidade existente ali é estimada em quase 800 milhões de toneladas de silvinita (sais de potássio), segundo estudos realizados pela Potássio do Brasil Ltda., empresa que pretende explorar a área. 

O potássio na agricultura
Em 2020, as plantações brasileiras consumiram pouco mais de 10 milhões de toneladas de fertilizante à base de potássio. Cerca de 95% disso não foi produzido aqui, segundo os dados do Ministério de Minas e Energia. O problema é que todo o potencial encontrado no Norte do país ainda está longe de ser aproveitado.

O setor privado deseja começar a produzir esses fertilizantes no país desde 2010, quando a Potássio do Brasil anunciou a descoberta “de potássio no projeto de pesquisa na Bacia do Rio Amazonas”. Mas a burocracia brasileira emperra a operação há mais de uma década. Embora não esteja dentro de reservas indígenas, o fato de estar poucos quilômetros distante de algumas delas impede o início da mineração. [Ministério Público Federal, por favor, se não querem ajudar, pelo menos não atrapalhem.  
Esse negócio de reservas indígenas pode até ter prioridade, desde que não comprometa a segurança nacional, no caso também a segurança alimentar de milhões de brasileiros.
Se trata de assunto urgente e tem que ser tratado com URGÊNCIA E PRIORIDADE TOTAL. 
Igual quando alguém está infartando e chega no hospital - primeiro se socorre e depois se discute quem paga a conta.
O indígena é igual a qualquer outro brasileiro, nem mais nem menos. Se as reservas estivessem na propriedade de algum brasileiro, não índio, vocês desapropriariam,fazendo o que fosse preciso. Qual a razão de com o índio ser diferente?]

Sob o argumento dessa “proximidade”, o Ministério Público Federal pediu, em 2016, a suspensão das licenças que a Potássio do Brasil já tinha para fazer pesquisas no local e iniciar as obras do complexo de processamento. Elas haviam sido concedidas pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas, órgão estadual. A Justiça atendeu os procuradores, e tudo ficou parado.

O “Projeto Potássio da Amazônia”, nome dado à empreitada, inclui instalar uma fábrica, uma linha de transmissão de energia e um porto para escoar a produção. A estrutura aproveitará as barcaças que navegam pelo Rio Madeira carregadas com a produção agrícola do Centro-Oeste rumo à foz no Oceano Atlântico. No retorno, em vez de voltar vazias, seriam utilizadas para levar o insumo aos produtores.

A operação ainda traria ganhos ao meio ambiente, uma vez que muito menos cargas viriam do extremo norte do planeta. Atualmente, a maior parte do potássio aplicado nas lavouras brasileiras vem dessa faixa do globo. O Brasil importa o produto principalmente do Canadá, de Belarus e da Rússia. 

A invasão da Ucrânia
Nos últimos anos, essa dependência deixou o Brasil refém das mudanças de preço do dólar. Agora, com a invasão da Ucrânia pela Rússia, o problema se tornou ainda mais sensível. Tereza Cristina, ministra da Agricultura, trabalha para evitar que a guerra vire uma tragédia também para a agropecuária. O setor, vital para a economia brasileira, somou o Valor Bruto da Produção (VBP) de R$ 1 trilhão e faturou mais de US$ 100 bilhões com exportações em 2021.

Russos e bielorrussos passam por sanções econômicas em razão do conflito. A retirada deles do mercado impede os envios do minério para o Brasil. A ministra busca suprir a necessidade nacional com outros parceiros. Além do Canadá, entram na lista de possíveis fornecedores o Chile, Israel, alguns países árabes, como a Arábia Saudita e o Catar, além do Irã.

“O Brasil tomou um caminho equivocado de importar, e não produzir fertilizantes”

Tereza Cristina se reunirá com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) para buscar alternativas. A estratégia é mostrar ao órgão da ONU que fertilizantes e alimentos têm a mesma importância: sem adubo, não há comida. Portanto, os dois itens devem ser tratados da mesma forma: com uma política de zero sanções.

Ainda que funcione, ela avisa que o mercado deve passar por ajustes. “Os preços ficarão mais altos”, alertou, numa entrevista ao programa Os Pingos nos Is, da rádio Jovem Pan. “Essa é uma dificuldade, mas o produtor sabe que, nesse primeiro momento, teremos o aumento do preço desses insumos importantes para agricultura.” 
 
Menos produção e mais dependência
Segundo a ministra, “o Brasil tomou um caminho equivocado de importar, e não produzir fertilizantes”. “Nós ficamos cada vez mais dependentes”, lamentou. Tereza Cristina comentou os casos de Estados Unidos e China, outros grandes players do agronegócio mundial, que optaram pelo caminho oposto e hoje produzem 80% da necessidade local de fertilizantes. 

A “mina em Autazes”, de acordo com a ministra, é uma solução de longo prazo. “É tão grande que temos nela o suficiente para abastecer o país por 200 anos”, disse, lembrando do entrave burocrático que impede a exploração. Caso tudo corra bem, a jazida pode começar a suprir um quarto da necessidade nacional até 2025. Ou cinco vezes mais que a produção atual brasileira, que hoje está praticamente toda concentrada no complexo Taquari-Vassouras, em Sergipe.

Antônio Cabrera, ministro da agricultura do governo Collor, resume o problema em três palavras: falta de liberdade. “Todo potencial que existe aqui não pode ser utilizado em razão da nossa burocracia, da nossa capacidade de não aproveitar os recursos naturais”, disse. Segundo Cabrera, falta aos governantes brasileiros uma percepção básica: “Mais liberdade significa menos pobreza e mais alimentos”.

Leia também “Pulverizando mitos”
 

Artur Piva, colunista - Revista Oeste


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Falar em garimpo é falar em descoberta de riquezas

Falar em garimpo, tão hostilizado por certos intelectuais da cidade, é falar em descoberta de riqueza, em soberania, em economia, em questão social

Antes de embarcar para Moscou, o presidente assinou decreto que instituiu um programa de apoio ao garimpo. No mesmo dia, recebi da região do Cripuri, que é um afluente do Tapajós, imagens de um helicóptero atacando com foguetes incendiários as instalações de um garimpo. Eram imagens que fazem lembrar napalm no Vietnã.

Isso no mesmo dia do anúncio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Mineração Artesanal e em Pequena Escala. Um nome comprido para não confundir com atividade mineradora industrial. O objetivo do programa é tirar o garimpo da ilegalidade e, com isso, controlar as áreas, fiscalizar de forma transparente o meio ambiente, legalizar o comércio do ouro, prestar assistência de saúde e educação às famílias de garimpeiros. O decreto regulamenta o que ficou fora da lei de 1989, que tratou do assunto.

Já andei em garimpo, onde só se chega de avião em pista improvisada. A vida por lá é duríssima, e arriscados os resultados. Os ambientalistas e as forças policiais vêm batendo nos garimpeiros. [a maior parte dos ambientalistas e suas ONGs defendem,servem a interesses estrangeiros - são uns vendidos.] 
No entanto, a História mostra que devemos a eles a expansão do nosso território. A eles, aos bandeirantes e às patas do boi. 
Os Estados Unidos se tornaram potência por chegarem à costa do Pacífico por causa da corrida do ouro, a ponto de tirar a Califórnia dos mexicanos. E ficaram com poder no Atlântico e no Pacífico
No Brasil, além do boi, foi o ouro das Minas Gerais, as esmeraldas de Goiás, os bandeirantes que entraram por São Paulo e para o Sul, até as Missões jesuíticas espanholas
Os garimpeiros brasileiros, há séculos, marcam a nossa soberania na Amazônia.
 
Falar em garimpo, tão hostilizado por certos intelectuais da cidade, é falar em descoberta de riqueza, em soberania, em economia, em questão social. Em geral, são nordestinos, para realizar sonhos. Gente boa, trabalhadora, cumpridora de palavra
Enquanto fechamos os olhos para uma realidade como alerta o vice -presidente Mourão —, índios vendem diamantes via Bolívia, por exemplo. O ex-ministro Aldo Rebelo, que já foi do PCdoB, afirma que algumas das maiores jazidas do mundo em diamantes estão nas margens do rio Roosevelt, reserva dos Cintas-Largas, em Rondônia
E o Brasil nada ganha com isso. Todo mundo sabe que os garimpeiros que estão em reservas já fizeram sociedade com os indígenas, mas legalizar depende de lei. Enquanto isso, as pedras brasileiras são lapidadas nos Países Baixos.

Ironicamente, enquanto era anunciado o decreto, no mesmo dia garimpeiros eram atacados pelo fogo vindo do céu, destruindo suas casas, máquinas e sonhos, como se o Brasil oficial estivesse em guerra contra eles. O ataque não foi sequer em área indígena, mas na região conhecida como Galdeano. Uma reedição do que aconteceu com 61 balsas queimadas no Rio Madeira, onde os garimpeiros moravam com suas famílias. Isso no dia do anúncio do programa de apoio ao garimpo, confirmando a Constituição, que no art. 174, §3º e 4º, determina favorecer a organização da atividade garimpeira em cooperativas. Ficou estranha a violenta ofensiva no mesmo dia do anúncio do programa. Seria para queimá-lo?

Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

A depredação da Igreja: Carta aberta a Polzonoff - Bruna Frascolla

Gazeta do Povo

Racialismo

Celebração da igualdade na Festa do Rosário.

Celebração da igualdade na Festa do Rosário. -  Foto: Lucilia Guimarães/ SMCS

Ficar trancado em casa lendo notícia faz mal para a cabeça. Já que eu não posso tirar o Sr. Polzonoff da casa dele e levá-lo para dar um passeio num local agradável, porque ele mora muito longe, talvez eu deva contar dos festejos que vi este domingo, na véspera do ataque de racialistas negros à Igreja de Nossa Senhora do Rosário em Curitiba. O texto dele sobre isto foi deprê demais.

Burrice com PhD
Vemos esse tipo de notícia e temos que aprender a ser burros para entendê-la. É preciso esquecer, por exemplo, que a Igreja tem santos negros desde antes da descoberta do Brasil. Que a Santa Ifigênia, princesa da Etiópia, é representada com a Igreja na mão, dada a sua importância nos primórdios do cristianismo. De novo, este país de formação católica está muito acostumado a reverenciar uma mulher negra antes de vir uma mana de cabelo rosa e argola de boi no nariz querendo nos ditar ordens. Se alegarem que Santa Ifigênia não é uma santa das mais populares, digo que este não é o caso de São Benedito, negro nascido na Sicília à época do descobrimento do Brasil. Sua devoção saiu da Europa, atravessou o Atlântico e encontrou aqui os africanos que fizeram a mesma travessia.

Mas os negros católicos nem sempre se organizavam levando em conta a cor do santo. A padroeira preferida foi justo a Nossa Senhora do Rosário. Em Salvador, Cachoeira, Rio de Janeiro e Olinda existem igrejas homônimas chamadas Igreja Nossa do Rosário dos Pretos. Em São Paulo e no Recife, há as homônimas Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.

Como os bem-nascidos da sociedade colonial não queriam se misturar a descendentes de escravos e a ex-escravos, a cor era uma barreira para o ingresso em ordens terceiras (leigas) e enterros privilegiados. Assim, em vez de chorar e pedir cota, esses negros bem-sucedidos criaram tais igrejas e irmandades. Justamente sob a padroeira Nossa Senhora do Rosário, atacada pelos camisas vermelhas.

É preciso uma burrice deliberada, estudada, falsificadora da realidade, para dizer que catolicismo é coisa de branco. Basta entrar numa igreja e olhar quem está lá dentro. Se a demografia do local não for atípica (como uma área de colonização ucraniana, por exemplo), a igreja estarecheada de pardos. 
A pessoa precisa dividir o mundo entre coisa de preto e coisa de branco, o que dá um trabalho danado. 
Curiosamente, porém, nenhum desses racialistas considera que a Universidade veio da Europa, de modo que só poderia ser branca.

E de fato, se você quiser repetir barbaridades racistas, é mais fácil granjear apoio de uma Fundação Ford (a este respeito, leia-se “Uma Gota de Sangue”, de Demétrio Magnoli), que vai bancar seus estudos num desses departamentos gringos de Black Studies, do que da senhorinha parda que está assistindo à missa, ou vendo o povo do terreiro ir entregar oferendas.

No lugar errado, segundo os cálculos
E aqui chegamos à necessidade de dar uma voltinha. Olhando-se de uma perspectiva calculista, eu poderia dizer que estou no pior lugar do mundo. O racismo negro avança, e eu sou uma branquela sozinha num dos lugares mais negros do Brasil. Para piorar, os racialistas botaram uma universidade aqui durante o petismo. A nova universidade atraiu ninguém menos que Kabengele Munanga para morar na cidade (tive a informação, mas nunca o vi pessoalmente). Para piorar mais ainda, vivo num estado governado pelo PT, que reserva uma área da administração para ser parquinho de racialistas. 

A Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) foi criada por Lula em 2003 e deixou de existir no plano federal. 
Na Bahia, temos uma Secretaria da Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), uma Seppir estadual (e eu sei que a expressão “igualdade racial” foi usada em oposição ao antirracismo porque um militante histórico assim me contou: ele queria vender ao governo uma campanha contra o racismo e a Seppir estava disposta a tratar consigo, desde que não usasse a palavra “racismo” e trocasse por “igualdade racial”. Como era um homem sério e um legítimo antirracista, recusou-se a abrir mão da palavra racismo).

A minha posição, em tese, deveria ser impossível. Se eu conduzisse a minha vida com base nas informações supracitadas, estaria desesperada, achando que preciso de um local muito bem policiado e de maioria branca para viver. Mas a minha posição serve, antes, para mostrar que essa gente não tem tanto poder quanto acha.

A rua lá fora

Estou na minha casa, lendo sob a janela, quando ouço chamarem o meu nome. É o pintor de paredes, um negro retinto que estava todo vestido com as cores da Etiópia – até a máscara. Avisa que virá fazer o serviço depois de terminar de pintar uma garagem e põe o papo em dia. Pergunto pelo dono do bar, que está meio sumido desde as cirurgias da vista. Ele especula que hoje o velho apareça, por causa da festa de Oxum que haveria entre uma, uma e meia, quando o rio enchesse. Aproveito para saber por que não houve nada no 2 de Fevereiro, contando que achei estranho não ter nada para Iemanjá. Ele responde muito enfático que 2 de Fevereiro é em Salvador, porque é Iemanjá e Iemanjá é água salgada. Como aqui é água doce, é Oxum.

Este é um conhecimento básico que eu já tinha. Por isso mesmo eu achei estranho, já que, desde a construção da barragem, a água do rio nesta altura é salobra. Deixei para averiguar in loco.  Calculei que, se ele dizia que ia ser uma, uma e meia, devia ser de duas em diante. Não foi difícil encontrar o ponto da festa: havia ramos de palmeiras decorando a descida para o ancoradouro e, mais adiante, na praça, uma estrutura coberta protegendo cestões cheios de flores. Eram as oferendas. Pergunto a alguns conhecidos para quem era a festa. A resposta já variou: Oxum e Iemanjá. Vi passando o atarefado ogã e fui perguntar a ele. A resposta foi: Oxum, Iemanjá e Nanã.

Um ogã está encarregado de permanecer sóbrio nos rituais, cuidando da ordem.
Este, em particular, prefere se dizer zelador, que, a acreditarmos nele, é a tradução do iorubá. E devo dizer também que este é um funcionário da Sepromi. No entanto, sua conduta não aponta indício nenhum de racismo ou racialismo. Sempre foi gentil e cordial comigo.

Eu não tenho dúvidas de que não faltariam negros ateus e universitários para ocupar o lugar dele no cargo. Mas, como eleição é algo que ainda importa, alguma autoridade deve ter preferido fazer uma média com terreiros em vez de botar um acadêmico chato que deixasse todo mundo com raiva. Eu não tenho dúvidas de que o projeto original da Sepromi era promover separatismo racial. Mas o resultado é um funcionário público religioso que fica cuidando da vida em comunidade e conhece as pessoas todas. Mutatis mutandis, é o Padroado.

 A minha primeira saída serviu apenas para coletar informações. Avistei atabaques, que, pelo lugar onde estavam, eu ouviria de casa quando começasse. Os laçarotes amarrados nas árvores eram amarelos, sinal de que a festa deveria ser tradicionalmente para Oxum até a barragem (o pintor de paredes é velho e pegou esse temp). A homenagem a Iemanjá deve ser novidade pós-barragem e Nanã, olhando no Google, dá para descobrir que é dos pântanos. Tem pântano no rio.

Ouvindo os atabaques horas mais tarde, saio outra vez de casa. Vi na praça celebrações de candomblé que eu só tinha visto em aquarelas de Carybé. Creio que em Salvador essas festas não ocorram na rua, mas somente dentro de terreiros. Mulheres de saia rodada e turbante dançavam em círculo com homens de gorro, enquanto uma pequena orquestra de atabaques batucava e um homem cantava músicas religiosas em iorubá. Num dado momento, os dançarinos pegam os cestões e levam a um saveiro – tem que ser saveiro, uma embarcação arcaica, que navega sem motor.

O público era parecido com o de uma igreja católica, até porque é o mesmo. Há uma porção de velhinhas, inclusive a minha vizinha, que demorei a conhecer por causa da máscara com um santinho barroco impresso. A propósito, por aqui há muitas máscaras e camisas com fotos de esculturas de santos barrocos. Suponho que sejam distribuídos pela paróquia, e o público usava.

Num dado momento, a praça deu uma esvaziada por causa de outra procissão (ou cortejo, como chamam) que vinha trazer oferendas. O público ficava comparando os dois festejos e logo escolheu um ponto do qual dava para avistar ambos. Houve quem se preocupasse com a quantidade de cânticos por orixá, que poderia acabar só na vazante e impedir a entrega de oferendas. Ouvi também que os elogiados saveiros vinham de Coqueiros e Nagé. E ouvi até jovens confabulando sobre o ConectSUS, dizendo que a melhor vacina era a coronavac.

Apreciação da realidade
O burburinho e os comentários mostram que na rua há gente normal, até quando praticam uma religião tão diferente da da maioria dos leitores deste jornal. Os cânticos em iorubá mostram a força da espontaneidade cultural: não bonito uma língua ter se preservado em condições tão adversas?

Hoje eu poderia fazer um texto bastante ranzinza usando a cobertura que a Folha deu à invasão da igreja. Mas já sabemos que os jornalistas da Folha vivem numa bolha. A questão é se nós queremos viver. Se a aceitarmos, estamos perdidos. Não teremos sequer forças para cobrar a punição dos marginais que desrespeitaram o culto em Curitiba. O medo impede a apreciação da realidade. A realidade está ao nosso favor; não dos camisas vermelhas que acham que catolicismo é coisa de branco. Vá dar uma voltinha, sente numa praça, e duvido que não haja algo bonito para ver. Ficar em casa só lendo notícia é que não pode.

PS: Após escrever os primeiros parágrafos, vi o vídeo de ontem de Alexandre Garcia. Nele, descobri que a Igreja invadida é Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Eu poderia ter corrigido, mas Polzonoff gosta de PS.

Bruna Frascolla, jornalista - Gazeta do Povo - VOZES

 

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

A lenda da agropecuária como vilã da crise hídrica - Revista Oeste

Sabrina Nascimento 

Especialistas esclarecem que o baixo volume de água nos reservatórios brasileiros é consequência do ciclo natural da chuva 

Não é novidade que o Brasil passa por uma das piores crises hídricas dos últimos 91 anos e que o Serviço Nacional de Meteorologia emitiu um alerta de emergência hídrica para a Bacia do Paraná, que abrange as Regiões Sudeste e Centro-Oeste do país. Especialistas apontam o baixo volume de chuva dos últimos dez anos como o responsável por esse cenário. No entanto, ambientalistas a serviço da desinformação encontraram outro culpado: a produção agrícola no Cerrado.

Cenário das Cataratas do Iguaçu, em Foz do Iguaçu, no Paraná, no dia 16/6/2021 | Foto: Luis Moura/WPP/AE
Cenário das Cataratas do Iguaçu, em Foz do Iguaçu, no Paraná, no dia 16/6/2021 | Foto: Luis Moura/WPP/AE

Atualmente, o Cerrado é o segundo maior bioma do país, atrás apenas do bioma Amazônia, e tem cobertura de 2 milhões de quilômetros quadrados, o que corresponde a 204 milhões de hectares mais de 200 milhões de campos de futebol. O bioma inclui os Estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Maranhão, Piauí, Bahia, Minas Gerais, São Paulo e o Distrito Federal, mas também está presente em pequenas coberturas no Paraná e em Rondônia.

E, apesar de sua maior cobertura ficar na região central do país, nas últimas semanas parte da imprensa relacionou a produção agrícola e pecuária no bioma com o baixo volume de água nas Cataratas do Iguaçu, localizadas em Foz do Iguaçu, no Paraná.  Mas, afinal, as Cataratas do Iguaçu têm alguma relação com a produção agropecuária na Região Centro-Oeste do Brasil? “Nada!”, explica Luiz Carlos Baldicero Molion, professor e pesquisador aposentado da Universidade Federal de Alagoas. “Como o próprio nome diz, as cataratas são do Iguaçu, que divide o Paraná e Santa Catarina. Não tem nada a ver com o Centro-Oeste. É um argumento falso, que não sei se foi feito por ignorância ou de propósito.”

Molion explica que, para entender a atual situação, é preciso olhar o regime de chuvas. Desde o segundo semestre de 2020 até o começo de maio de 2021, a Região Sul ficou sob efeito do fenômeno La Niña, responsável por deixar o tempo mais seco e com pontos de estiagem em algumas localidades. O La Niña, ao contrário do El Niño outro fenômeno climático —, diminui a temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico tropical central e oriental, gerando uma série de mudanças nos padrões de precipitação (queda de água do céu) e também em relação à temperatura.

Quando esse fenômeno está vigente, o que acontece é uma mudança no padrão de ventos, que se tornam mais ou menos intensos, o que muda a chegada das frentes frias. Como efeito, há redução no volume de chuvas na Região Sul, enquanto no Norte e no Nordeste há aumento.  Mas esses baixos volumes de chuva na principal estação úmida não foram registrados somente nos últimos meses. “Se fosse só um ano, aí, tudo bem, é uma crise passageira, mas como é o acumulado dos últimos dez anos, o problema fica um pouco mais grave”, esclarece o pesquisador, que fez uma análise nacional da precipitação no período 2011-2020, comparada com o ciclo de 1981-2010 (média usada pela Organização Meteorológica Mundial):

No mapa, é possível ver o efeito ao longo do país. O leste (cor verde-abacate), por exemplo, apresentou reduções de até 30 milímetros de chuva por mês, em média. Isso resulta em uma baixa anual da precipitação de 360 milímetros. “Como houve uma tendência entre 2010-2021 de a pressão atmosférica aumentar nessa região entre Bahia, Centro-Oeste, na Bacia do São Francisco, na costa leste brasileira como um todo — e isso vai desde São Paulo, norte do Paraná até lá no Rio Grande do Norte, Maranhão, Piauí —, por toda essa faixa leste o país apresentou nos últimos dez anos uma redução de chuva”, diz Molion. “A problemática é exatamente essa: a chuva. As Cataratas do Iguaçu não têm nada a ver com a agricultura.”

Brasil mais seco?
Recentemente, algumas pesquisas mostraram que regiões brasileiras estariam perdendo água da superfície, com destaque para o Pantanal, conhecido pelas enchentes causadas pela alta do nível dos rios durante o trimestre chuvoso (entre novembro e janeiro). Isso, de fato, é verdade, pois houve uma “redução de chuva na ordem de 10% no país desde 2010”, destaca Molion. Porém, não é a expansão de áreas destinadas à produção agropecuária no Cerrado ou o desmatamento da Amazônia que provocam esse efeito. “A floresta existe porque chove, e não o contrário”, ressalta. “Uma árvore não é uma ‘máquina’ de produzir água, apenas recicla a água da chuva que caiu anteriormente e que estava armazenada no solo.”

A agricultura irrigada também tem sido alvo de críticas nesse momento de baixo volume de água nos reservatórios

Vale lembrar que, em anos anteriores, o país já passou por quadros hídricos semelhantes ao atual. Em 1926, por exemplo, quando nem se falava em desmatamento da Amazônia e o Brasil não era um grande exportador de alimentos, a população vivenciou um período de seca causado pelo fenômeno climático El Niño. Já em 1964, foi o Oceano Atlântico tropical norte mais quente que provocou a deficiência de chuva. Essa última “variabilidade natural” é o agente causador da seca de 2021. “Portanto, o desmatamento não afeta as chuvas no restante do país.

Como se trata de um ciclo que se repete ao longo dos anos, a irregularidade climática tem um início e um fim. Os mais pessimistas acreditam que uma regularidade só será vista a partir de 2040. Entretanto, Molion estima que “entre 2030 e 2035 já poderemos ver uma normalidade”, sem eventos excepcionais, como secas extremas. O último longo período de precipitação baixa foi entre 1946 e 1975.

Uso da água para irrigação
A agricultura irrigada também tem sido alvo de críticas nesse momento de baixo volume de água nos reservatórios. A categoria corresponde a menos de 20% da área total plantada no Brasil e produz mais de 40% dos alimentos, de acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Atualmente, os pivôs centrais (estrutura de irrigação suspensa com motor e rodas para que haja o deslocamento na lavoura) são o principal sistema de irrigação brasileiro, superando o método de inundação adotado para o cultivo do arroz na Região Sul.

Originalmente, os pivôs centrais começaram a ser usados para o cultivo de grandes culturas, como soja e milho. Porém, já são encontrados em plantações de batata, cenoura, café nas áreas de Cerrado, cebola, alho e cana-de-açúcar. “Esses equipamentos são também indutores do cultivo das culturas de inverno, como o trigo e a cevada na região do Cerrado”, comenta Daniel Pereira Guimarães, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo. “Sob condições irrigadas, o trigo tem apresentado alta produtividade, inclusive no semiárido brasileiro, indicando o potencial da irrigação para a redução das importações desse cereal.”

Apesar dessa contribuição, o aumento da rigidez na gestão de distribuição da água por parte de governos estaduais volta seu olhar para os agricultores que utilizam a técnica. Há um receio por parte do poder público e de ONGs do uso excessivo de recursos hídricos com os pivôs. No entanto, eles se esquecem de que muitos produtores rurais têm açudes (tanques) em suas propriedades para armazenamento de água no período de abundância. Além disso, “sistemas eficientes de irrigação podem inclusive contribuir para a mitigação da deficiência hídrica nos períodos de estiagem”, explica o pesquisador.

Diante desses fatores, ao que tudo indica, o único setor que registrou crescimento econômico em 2020, mesmo durante uma pandemia global, continuará a ter pela frente inúmeros desafios, não só climáticos, que atingirão diretamente a produção no campo. Apesar de seu protagonismo mundial na produção de alimentos — ou justamente por isso —, terá de lidar com críticas de ambientalistas que atribuem ao setor a responsabilidade pelo desmatamento e pela falta de chuva no país

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Sabrina Nascimento, jornalista - Revista Oeste