A cela de Mônica Marília Pereira, de 32 anos, é aberta por uma
agente penitenciária para o banho de sol diário. A duração é de uma
hora. Depois, ela volta para a cela, onde fica trancafiada pelo resto do
dia. Não conversa com ninguém, além dos funcionários do presídio.
Condenada a quase 4 anos de prisão por tráfico de drogas, Mônica tem 15
tatuagens pelo corpo - na perna esquerda, uma caveira com as palavras
"puro ódio"; nas costas, um tridente com a frase "só os loucos
sobrevive!!! (sic)". Na sua ficha, está indicado a quem a administração
da unidade deve avisar em caso de acidente, doença grave ou morte:
ninguém.
Mônica, ou Band, como é conhecida no sistema
penitenciário, é uma das 12 mulheres que vivem isoladas na prisão de
segurança máxima de Presidente Bernardes, a mesma que abriga há um mês o
líder do Primeiro Comando da Capital (PCC), Marco Willians Herbas
Camacho, o Marcola. Em 2015, foi pega em flagrante por guardas
municipais ao tentar esconder 29 pedras de crack em uma Unidade Básica
de Saúde (UBS) de São José do Rio Preto. É acusada ainda de homicídio,
agressão, dano, violação de domicílio e incêndio. A advogada que a
representava foi presa em novembro, na Operação Ethos, por suspeita de
ligação com o PCC.
As mulheres vizinhas de Marcola vivem no RDD
(Regime Disciplinar Diferenciado), o chamado "cárcere duro". São as
primeiras presidiárias isoladas em uma unidade de segurança máxima no
País. Criado em 2002, o presídio de Presidente Bernardes só passou a
abrigar mulheres em 12 de setembro de 2015. As condenadas estão em uma
ala com 20 celas, separada das outras três, que abrigam alguns dos mais
perigosos bandidos de São Paulo. "Todas foram mandadas para lá
em razão de agressões contra funcionários", afirmou o secretário da
Administração Penitenciária, Lourival Gomes. As detentas têm entre 23 e
42 anos e apenas três são primárias. Quatro já fugiram ou tentaram sair
de prisões onde estavam antes. Tráfico de drogas é o crime em comum
entre todas elas.
Comando
Condenada a cinco
anos e meio de prisão, Ludicléia Rosa de Souza, a Lu, de 28 anos,
incitou atos de apologia ao PCC na Penitenciária Feminina de Tupi
Paulista, no interior, antes de ser enviada para o RDD. Vários registros
de desrespeito e agressões contra agentes penitenciárias constam de seu
histórico prisional. Em um dos episódios, chegou até a ameaçar acionar o
"comando", como represália às funcionárias do presídio. Na mão direita,
tatuou o símbolo da facção.
Não se sabe exatamente qual função
Ludicléia ocupa no PCC, mas o poder que exercia sobre as outras presas
era um sinal de que havia assumido a liderança na penitenciária. "A
rapidez com que as demais detentas responderam às suas instigações
demonstra, de forma efetiva, o grau de risco por ela representado à
segurança do sistema prisional", afirma a representação contra ela.
Nem todas as presas do RDD, no entanto, têm longa ficha criminal.
Letícia Kemili Modesto, de 23 anos, foi flagrada pela Polícia Rodoviária
em Cedral, na região de São José do Rio Preto, carregando um quilo de
maconha em um ônibus, no fim de 2013. Na delegacia, disse que havia
aceitado a oferta de uma mulher que lhe prometeu R$ 500 para transportar
a droga. Foi sua única prisão. Aos PMs, disse que estava desempregada.
"O dinheiro falou mais alto."
Fonte: UOL/Notícias
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domingo, 22 de janeiro de 2017
Detentas do "cárcere duro" têm 1h de banho de sol e não conversam com ninguém
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