O
triste anticlímax na biografia de um mito nacional ganhou requintes de
crueldade na última hora
Lula comemorou
seu aniversário de 70 anos numa festa para 30 pessoas. Essa foi sua
escolha – não do que fazer na sua data,
mas do que fazer de sua vida. O primeiro presidente brasileiro saído da
pobreza poderia estar celebrando seus 70 anos num evento em que 30 fosse o
número de garçons – com a opulência que os esganados do PT tanto prezam.
Talvez 300 convidados do mundo inteiro, ou quem sabe
3 mil, numa festa popular no Ibirapuera. O triste
anticlímax na biografia de um dos maiores mitos nacionais – o “filho do Brasil” – ganhou requintes de crueldade na última hora, com o
avanço da Operação Zelotes: ao soprar a velinha
com o neto, Lula poderia estar desejando
ser eterno, mas a vida o
obrigou a desejar não ser preso.
Encontra-se, esperando por Lula, para muito breve, o
modelito de presidiário , modelo Giorgio Armani!
O
partido de Luiz Inácio da Silva ainda governa o Brasil porque o Brasil é uma
mãe. Ou, para
os heróis coitados, uma teta. A batida da Polícia
Federal no escritório da empresa de um dos filhos de Lula (ou de outro dos filhos de Lula) confirma, independentemente do que ficar provado, a revelação do
quarto cavaleiro do Apocalipse petista – o esquema de fraudes envolvendo
venda de favores na Receita Federal.
Não perca a conta: o primeiro
cavaleiro veio montado no mensalão; o segundo no petrolão; o terceiro veio
pedalando seu cavalo sobre as contas fiscais; e o quarto cavaleiro vem comprovar que o endereço do Apocalipse é o Palácio do
Planalto, já que os quatro megaescândalos têm suas
nascentes na sede do governo do PT.
Aparentemente isso não basta para o Brasil entender que foi
sequestrado por uma quadrilha e está há 13 anos pagando o resgate, sem
ser libertado. A atual representante legal (cada um tem a legalidade
que pode) do esquema é Dilma Rousseff,
que parte desse Brasil maternal ainda quer acreditar
ser apenas uma figura patética, uma estocadora de vento. Sem querer ofender
a compaixão do gigante, cumpre assinalar que, além de vento, Dilma estoca Erenice. Que tal? A companheira número um da presidente, que chegou a
ser preparada por ela para ser seu braço direito no governo, é também a investigada número um da Operação Zelotes, apontada como negociante de isenções
tributárias e outros mimos do Fisco.
Na verdade, essa é Erenice 2, a
missão. O filme
que os brasileiros já tinham visto (e
esquecido, claro) era a Erenice traficante de
influência na Casa Civil, acusada de distribuir bons negócios a parentes e
amigos dentro do principal ministério do governo. Ministério este onde era cria de Dilma, unha e carne com ela, inclusive
nas famosas (e também esquecidas,
claro) montagens de dossiês contra
adversários políticos. Erenice caiu em desgraça sem tirar um fio de cabelo
de Dilma do lugar. Mistérios desse Brasil brasileiro.
Também
está na mira da Polícia Federal outro amigo de fé da imaculada presidenta, o governador de Minas Gerais e consultor-fantasma Fernando
Pimentel. Estão sob investigação
fartos indícios de venda de favores pelo camarada de Dilma à indústria
automobilística, entre outras bondades revolucionárias. Pimentel também está na mira da Zelotes e teve de ser praticamente escondido pela amiga no
Ministério do Desenvolvimento, quando vieram à tona
suas consultorias milionárias e
invisíveis a clientes industriais.
Também está nessa
frente de investigação da PF Gilberto Carvalho, outro ex-membro do ministério de Dilma com sala no Palácio do Planalto. [sempre
que se investigar Carvalho, tem que ser lembrado o caso Celso Daniel, o
petista, cujo cadáver insepulto assombra a petralhada. Foi lá que tudo
começou.] Com a Receita Federal sendo esfolada por seus comandados,
com a Petrobras sendo pilhada por seus prepostos,
com o Tesouro sendo pedalado por seu governo, a presidenta mulher continua não sendo
sequer investigada. Contando, ninguém acredita. [é questão
de tempo as garras da PF caírem sobre Dilma – nem Janot ou Lewandowski livrará
a presidente.]
Os 70 anos de Lula são o retrato
do Brasil. Uma festa pobre e
melancólica onde poderia estar havendo um carnaval. Em sua ascensão
política, o ex-presidente conheceu o caminho da mediocridade fisiológica (a busca de cargos como meio de vida), mas
conheceu também a grandeza do espírito público – e em vários momentos se pautou
por essa grandeza, passando por cima do parasitismo petista. Mas, no que ficou grande, Lula passou
definitivamente a pensar pequeno – com medo de voltar a ser pequeno. Pôs o Brasil debaixo do
braço – a bola é minha.
Agora tem de jogar sozinho, e com
muita malícia, para correr atrás da bola e fugir da polícia.
Fonte: Guilherme Fiuza – Revista Época