O capitão cristão fortaleceu-se na internet como oposição ao ‘sistema’
Após vencer a Guerra do Golfo, Bush era favorito absoluto para ganhar
as eleições de 1992 contra o desconhecido governador de Arkansas, Bill
Clinton. O marqueteiro de Clinton, James Carville, apostou que, com a
economia em recessão, Bush não era invencível e cunhou a frase que
explicou o resultado: “É a economia, estúpido!”.
Bolsonaro é um case de marketing. Candidato pelo então minúsculo PSL,
sem apoio dos partidos tradicionais, sem dinheiro, criticado de forma
contundente pela maioria dos acadêmicos, artistas e veículos de
comunicação (nacionais e internacionais), com acesso ínfimo ao horário
eleitoral e, ainda, em claro confronto com a “ordem” vigente
(ideológica, econômica e política), venceu com 57,8 milhões de votos. O sociólogo espanhol Manuel Castells, estudioso dos movimentos
sociais na era da internet, diz, há anos, que o modelo democrático
conservador está esgotado. A indignação começa nas redes sociais e
transborda para as ruas e urnas. De fato, em 2013, cerca de 1,3 milhão
de pessoas protestaram no asfalto externando a insatisfação popular que
já era evidente na internet. O reflexo nas urnas demorou, mas chegou…
À época, inúmeras raposas da política brasileira disseram que os
interesses eram difusos e que faltava uma “causa” aos manifestantes.
Ignoraram grande parte das infinitas razões do descontentamento.
Bolsonaro — até então um deputado inexpressivo, com posições e frases
polêmicas —, ao contrário, viajou pelo Brasil e pelo mundo virtual,
personificando a insatisfação social “contra tudo e contra todos”.
Conforme pesquisa da FGV, 78% dos brasileiros não confiavam nos
políticos e nos partidos. Por outro lado, a sociedade confiava nos
militares (45,8%) e na Igreja (61,5%). O capitão cristão fortaleceu-se
na internet como oposição ao “sistema” enquanto os políticos discutiam
como distribuir verbas dos fundos partidário e eleitoral, tempo de
televisão e palanques nos estados. Alguns ainda defenderam colegas
corruptos, que já estavam presos ou que deveriam estar.
A carcomida estrutura política brasileira desprezou a era digital: o
Facebook do maior partido brasileiro em número de filiados, o MDB, é
curtido por apenas 79.659 pessoas, enquanto o do Nas Ruas, criado pela
sociedade civil, tem 770.075 curtidas. O PSDB coligou-se com o Centrão
para tornar-se o “campeão” de minutos no horário eleitoral, mas morreu
longe da praia. O seu Facebook tem 1,3 milhão de curtidas, enquanto o do
movimento Vem Pra Rua Brasil possui mais de dois milhões. O PT,
recriminado pelo rapper Mano Brown por “não falar a língua do povo”,
também não se destaca na linguagem virtual. O seu Facebook tem 1,5
milhão de curtidas, praticamente a metade das 3,1 milhões do Movimento
Brasil Livre, que se insurgiu contra o aumento das passagens em São
Paulo. A título de comparação, o Facebook de Jair Bolsonaro é curtido
por 8,7 milhões de pessoas…
Nas outras redes, não é muito diferente. O Twitter de Bolsonaro tem
2,3 milhões de seguidores contra 1,1 milhão de Haddad. No Instagram, os
6,8 milhões de seguidores de Bolsonaro superam a soma dos que seguem
todos os outros recém-candidatos a presidente. Os dados são relevantes, pois, no ano passado, em pesquisa da FGV,
quase a metade dos entrevistados (49,5%) disse que se informa sobre
política no Facebook, Twitter, WhatsApp, blogs e sites.
Nas campanhas eleitorais, nada será como antes de 2018. O país possui
139 milhões de internautas e 120 milhões de contas de WhatsApp. Existem
220 milhões de smartphones para 209 milhões de habitantes. Na Grécia Antiga, a sociedade se reunia na Ágora, a praça do povo,
para debater com os arcontes, embaixadores e generais. A cidadania agora
é tratada nas redes sociais, às vezes à revelia do que desejam os
partidos políticos, seus dirigentes e muitos dos que pensavam ter
ingerência sobre o pensamento da sociedade brasileira.
Para os que ainda não entenderam como Bolsonaro venceu, sugiro
adaptarem a frase do marqueteiro de Clinton, James Carville. É a
sociedade digital, estúpido!
Gil Castello Branco, O Globo
Este espaço é primeiramente dedicado à DEUS, à PÁTRIA, à FAMÍLIA e à LIBERDADE. Vamos contar VERDADES e impedir que a esquerda, pela repetição exaustiva de uma mentira, transforme mentiras em VERDADES. Escrevemos para dois leitores: “Ninguém” e “Todo Mundo” * BRASIL Acima de todos! DEUS Acima de tudo!
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terça-feira, 6 de novembro de 2018
É a sociedade digital, estúpido!
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