Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador caixa de fósforos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador caixa de fósforos. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 16 de março de 2020

Coronavírus provoca encolhimento de Rodrigo Maia - Blog do Josias


Há um novo Rodrigo Maia na praça. É muito parecido com o anterior, só que bem menor e menos estridente. [é possível diminuir o que já é mínimo?] Deve-se a mutação à crise do coronavírus. É como se a biografia do presidente da Câmara tivesse sido infectada por um microorganismo que provoca o encolhimento. Até aqui, Maia parecia presidir a Câmara com clarins implantados na traqueia. Jactava-se de ter aprovado a reforma da Previdência a despeito de Jair Bolsonaro. 

Comportando-se como primeiro-ministro de um hipotético parlamentarismo branco, Maia prometeu tocar uma "agenda própria" de reformas econômicas e sociais. De repente, Maia abdicou do protagonismo. Em entrevista à Folha, soou como se já não priorizasse as reformas liberais. Não faz mais questão de ostentar liderança. "Hoje, o que me angustia e preocupa é, sob a liderança do Poder Executivo, mostrar à sociedade brasileira uma união para superar os próximos seis meses."

Maia já não fala em agendas próprias - nem na área econômica nem no setor social. Já não parece preocupado em alardear a independência do Legislativo. "Queremos que o governo construa as soluções que vão minimizar os efeitos na saúde pública e na crise na vida das pessoas na área econômica e área social. O governo precisa liderar isso." Antes, Maia ocupava espaços que a desarticulação do governo não conseguia preencher. Agora, queixa-se de Paulo Guedes por realçar o vazio legislativo. "Não posso imaginar que, numa crise desse tamanho, o ministro tenha encaminhado uma lista de 19 projetos para transferir a responsabilidade para nós." Até bem pouco, Maia estendia sua capacidade de articulação a todo o espectro ideológico —do petismo ao centrão. Subitamente...

Subitamente, revelou-se incapaz de evitar que os deputados se associassem aos senadores numa emboscada contra a responsabilidade fiscal. "Geramos uma despesa de R$ 20 bilhões", disse, resignado, sobre a decisão do Congresso de ampliar o acesso de velhos miseráveis a uma pensão do Estado. "A gente sabe que não tinha previsão Orçamentária", lamentou, antes de lavar as mãos: "Era uma votação da sessão do Congresso, que não sou eu que presido". Mantido o diapasão da entrevista, todo o poder que Rodrigo Maia acumulou desde a gestão de Michel Temer logo caberá numa caixa de fósforos.

Blog do Josias - Josias de Souza, jornalista - UOL



domingo, 13 de maio de 2018

Herança maldita que se perpetua



Faltam hoje cerca de 6,3 milhões de moradias, um problema que se eterniza e do qual o desabamento do prédio em São Paulo é um símbolo

Inevitável que a queda do Wilton Paes de Almeida com seus 24 andares tomados pelo fogo colocasse em lugar de destaque na agenda do país o renitente problema do déficit habitacional. Julgamentos importantes no Supremo, crise política, escândalos que rondam o Planalto, fase de preaquecimento da campanha eleitoral, tudo ficou em segundo plano diante das cenas geradas pela tragédia, seus mortos e desaparecidos. As características do desastre são especiais: famílias exploradas por um desses “movimentos” de sem-teto — no caso, o de “Luta Social por Moradia”, MLSM; beneficiário de pagamentos dos “inquilinos” em troca de condições insalubres e precárias, tanto que aconteceu o incêndio por um curto-circuito. As evidências de exploração da pobreza são abundantes.

O cenário do drama é a absoluta incapacidade de o poder público equacionar a questão da falta de moradia, principalmente nas cidades, para famílias de baixa renda. Trata-se de uma incompetência histórica. Já no começo do século XX o prefeito carioca Pereira Passos fez reformas modernizadoras na cidade inspiradas em Paris. Derrubou imóveis que eram focos de doença, arejou o centro do Rio, mas se esqueceu de planejar moradias adequadas para as famílias desalojadas pela reforma. A favelização ganhou impulso. Nem a toda-poderosa ditadura militar resolveu o problema. Criou o Banco Nacional da Habitação (BNH), as cooperativas habitacionais, estimulou a captação de poupança para financiar moradias, mas falhou, apesar dos avanços. O mecanismo da correção monetária com o tempo passou a realimentar a própria inflação, e a criação de subsídios terminou gerando um dos esqueletos bilionários no Tesouro, na conta do contribuinte.

Veio a redemocratização, a estabilização da economia, com o Plano Real, e o “déficit habitacional” continuou sendo um termo que se eterniza na lista de heranças malditas de décadas. A tragédia do Wilton Paes de Almeida deriva da mazela. Se o poder público e a sociedade houvessem conseguido ao menos conter o crescimento desta chaga, não haveria famílias prisioneiras de grupos organizados que usam a carência de moradias nas cidades para faturar dinheiro e/ou apoio político-eleitoral. Pois uma das moedas pagas por quem não tem onde morar, em troca de um abrigo, é comparecer a manifestações desses “movimentos”. E, em outubro, dar votos. A exploração é a mesma, muda a forma de pagamento.

 Hoje, é de pelo menos 6,3 milhões de moradias, em todo o país, concentradas nas cidades. Por óbvio, a tendência é a mesma nas maiores regiões metropolitanas do país, São Paulo e Rio. Apenas no Wilton Paes de Almeida, uma caixa de fósforos habitada, eram 146 famílias. Haveria no centro de São Paulo 70 dessas ocupações. Pelo jeito, um rentável negócio pecuniário e político. Sugestivo que a principal causa da falta de moradia seja o custo do aluguel. Quer dizer, no centro da questão continua a impossibilidade de se prover moradia a preços compatíveis com a renda das faixas de poder aquisitivo mais baixo. Com todos os subsídios. Os números sugerem também incompetência gerencial. 

Sem falar em corrupção. Mas não adianta apenas denunciar os “movimentos”. Eles não teriam a força que ostentam se não contassem com a ajuda da incompetência de governos, de todos os partidos. São Paulo, feudo do PSDB, não resolveu a questão; e o PT, 13 anos em Brasília, lançou o Minha Casa Minha Vida e cometeu o conhecido erro de fazer conjuntos habitacionais de má qualidade e longe de tudo. A herança maldita persiste. 

Editorial - O Globo