Folha de S. Paulo - O Globo
Bolsonaro abriga-se numa verdade só dele onde misturam-se crenças, manias e até mesmo visões
Presidente foi o único governante a minimizar o risco do coronavírus
‘Eu acho... Eu não sou médico, não sou infectologista. Do que eu vi até o momento, outras gripes mataram mais do que essa’.
Que Jair Bolsonaro não é médico, todo mundo sabia. Sendo presidente da República, podia ter acompanhado a serenidade de seu ministro da Saúde, do governador de São Paulo e de David Uip, que é infectologista, e há semanas lidam com o caso do coronavírus. Outras gripes mataram mais que essa, inclusive a espanhola, que em 1919 levou o presidente Rodrigues Alves. (Como Tancredo Neves, ele foi eleito mas não assumiu.)
[Cabe destacar que mesmo a resposta do presidente Bolsonaro não estando de acordo com a liturgia esperada do Presidente da República, tem procedência:
- a gripe espanhola matou quase 100.000.000 de pessoas - a justificar tão elevado número pode se apresentar o fato da inexistência, há cem anos, de medicamentos eficazes nem forma de detecção rápida do contágio.
Porém, a propagação da gripe era bem menor, devido a não globalização - consequência da dificuldade das viagens.
- graças a DEUS, até agora não ocorreu no território brasileiro nenhuma morte decorrente da Covid-19 - ao contrário, o primeiro paciente já teve alta hospitalar.]
Na sequência, deixou as fileiras do Exército Brasileiro para seguir a carreira política.] sabendo que ele passaria para a reserva. Essa história está contada e documentada no livro “O cadete e o capitão”, de Luiz Maklouf Carvalho.
Passou o tempo e Jair Bolsonaro elegeu-se presidente da República. Logo no início do seu mandato ele se viu assombrado pelas traficâncias de seu chevalier servant Fabrício Queiroz, protetor do miliciano Adriano da Nóbrega. Dele nada se ouviu, salvo que “sou um homem de negócios, eu faço dinheiro”. Em mais de um ano, todos os envolvidos nessa trama recorreram a uma constrangedora blindagem. Nos dois casos, a realidade paralela foi uma forma defesa.
Bolsonaro abriga-se numa realidade paralela onde misturam-se crenças, manias e até mesmo visões. Um exemplo. No início do ano, ele disse o seguinte: “Em fevereiro vou estar nos Estados Unidos, vou lá visitar empresários, que são militares... Vão me apresentar transmissão de energia elétrica sem meios físicos. Se for real, de acordo com a distância, que maravilha! Vamos resolver o problema de energia elétrica de Roraima passando por cima da floresta”. [já existe tecnologia que permite carregadores de celular wi-fi;
a dificuldade encontrada para suprir Rondônia de energia elétrica deve-se a que a rede elétrica tem que passar sobre uma reserva indígena - milhares de hectares para algumas dezenas de índios.
Os silvícolas dificultam a permissão para a rede elétrica sobre o latifúndio que ocupam, mesmo que isso prejudique milhares de cidadãos que moram em Rondônia.
Natural que a curto prazo usar tecnologia wi-fi para transmitir energia elétrica com tensão da ordem de milhares de volts e corrente de milhares de ampéres é inviável.]
Ele foi aos Estados Unidos e não visitou os empresários “que são militares”. (Abracadabra.) Era tudo fantasia, coisa que lhe foi contada por algum maluco. Nesse caso, a viagem de Bolsonaro pela realidade paralela não era contra ninguém. Se fosse coisa real, seria até a favor de Roraima. Eletricidade passando por cima da floresta era uma visão, semelhante à de que pode existir um “Posto Ipiranga” capaz de servir a um governante quando ele precisar de rumo para a economia do país.
História Nova [notória falta de inteligência]
O fundador dessa nova corrente pode ter sido o ministro Ricardo Lewandowski. Em fevereiro, durante uma sessão do Supremo Tribunal, ele disse o seguinte:
“Sabemos, aqueles especialmente que se dedicam ao estudo da História, quantas guerras mundiais foram deflagradas em razão do petróleo, da dominação das áreas petrolíferas, do gás, do xisto etc. A 1ª Guerra Mundial, a 2ª Guerra Mundial…”
Nenhuma das duas teve a ver com petróleo.
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FiocruzA pandemia do coronavírus poderia levar o ministro Luiz Henrique Mandetta a dar uma olhada no caso dos pesquisadores aprovados num concurso de 2016 para preencher vagas na Fiocruz.Eles foram aprovados, mas excederam as vagas disponíveis. Como a Fiocruz teve seu quadro de servidores drenado, bastaria preencher com esses profissionais as novas vagas.
No INSS acharam que preencher vagas era bobagem. Deu no que deu.
Matéria completa: Folha de S. Paulo - O Globo - Elio Gaspari, jornalista