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sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Dirceu, de 'ex-guerrilheiro de festim' a serpente

Em livro inédito, Dirceu destila veneno e diz que chorou ao ser demitido por Lula no mensalão 

O choro e as mágoas de José Dirceu

José Dirceu chorou. O guerrilheiro baixou a guarda no terceiro andar do Planalto, diante do chefe e de velhos companheiros. Era o dia 15 de junho de 2005. Começava ali a derrocada do ministro mais poderoso do governo Lula. Acusado de chefiar o mensalão, Dirceu seria demitido, condenado e preso. Treze anos depois, ele diz ter sido abandonado pelo ex-presidente. A queixa está em “José Dirceu — Memórias(Geração Editorial), que chega às livrarias na semana que vem.

O petista expõe sua mágoa ao descrever o encontro final com Lula. “Não me pediu para ficar, não me propôs nenhuma outra tarefa, simplesmente me demitiu”, conta. “Foi melancólico e simbólico, como se tudo já tivesse decidido, poucas palavras, monossílabas, uma cena um tanto derrotista e pequena”, dramatiza. “Eu me emocionei e chorei”.  Não foi sua única desilusão. Em 27 de outubro de 2002, o presidente eleito escolheu José Genoino, e não Dirceu, para discursar na festa da vitória. “Lula não falou comigo e não me comunicou nada”, reclama o memorialista. “Fui simplesmente excluído e comunicado disso por um mero assessor”. “Meu primeiro impulso foi de me retirar, mas me controlei”, prossegue. Ele diz que a noite marcou sua “primeira grande decepção com Lula”. “Foi duro, mas aceitei”, lamuria-se.

Em outra passagem, Dirceu critica o ex-presidente por ter vetado uma aliança com o PMDB. “Dormi com o acordo fechado e acordei com Lula me desautorizando. (...) Fiquei desapontado e furioso”, desabafa.  O autor distribui estocadas em outros alvos. Diz que Tarso Genro “criou uma pequena crise, exigindo ser ministro”. Acusa Dilma Rousseff de promover uma “caça às bruxas” ao substitui-lo na Casa Civil.

Ele também destila veneno contra ministros do Supremo nomeados pelo PT. Chama Joaquim Barbosa de “autoritário”, Luís Roberto Barroso de “fraude” e Edson Fachin de “engodo”. A maior bronca é com Luiz Fux, que já admitiu ter pedido seu apoio para chegar à Corte. “Erramos e feio nas indicações, ao ponto de sermos enganados por um charlatão togado”, escreve Dirceu.

Bernardo Mello Franco - O Globo