Em livro inédito, Dirceu destila veneno e diz que chorou ao ser demitido por Lula no mensalão
O choro e as
mágoas de José Dirceu
José
Dirceu chorou. O guerrilheiro baixou a guarda no terceiro andar do Planalto,
diante do chefe e de velhos companheiros. Era o dia 15 de junho de 2005.
Começava ali a derrocada do ministro mais poderoso do governo Lula. Acusado
de chefiar o mensalão, Dirceu seria demitido, condenado e preso. Treze anos
depois, ele diz ter sido abandonado pelo ex-presidente. A queixa está em “José
Dirceu — Memórias”(Geração Editorial), que chega às livrarias na semana que
vem.
O petista
expõe sua mágoa ao descrever o encontro final com Lula. “Não me pediu para
ficar, não me propôs nenhuma outra tarefa, simplesmente me demitiu”, conta.
“Foi melancólico e simbólico, como se tudo já tivesse decidido, poucas
palavras, monossílabas, uma cena um tanto derrotista e pequena”, dramatiza. “Eu
me emocionei e chorei”. Não foi
sua única desilusão. Em 27 de outubro de 2002, o presidente eleito escolheu
José Genoino, e não Dirceu, para discursar na festa da vitória. “Lula não falou
comigo e não me comunicou nada”, reclama o memorialista. “Fui simplesmente
excluído e comunicado disso por um mero assessor”. “Meu primeiro impulso foi de
me retirar, mas me controlei”, prossegue. Ele diz que a noite marcou sua
“primeira grande decepção com Lula”. “Foi duro, mas aceitei”, lamuria-se.
Em outra
passagem, Dirceu critica o ex-presidente por ter vetado uma aliança com o PMDB.
“Dormi com o acordo fechado e acordei com Lula me desautorizando. (...) Fiquei
desapontado e furioso”, desabafa. O autor
distribui estocadas em outros alvos. Diz que Tarso Genro “criou uma pequena
crise, exigindo ser ministro”. Acusa Dilma Rousseff de promover uma “caça às
bruxas” ao substitui-lo na Casa Civil.
Ele
também destila veneno contra ministros do Supremo nomeados pelo PT. Chama
Joaquim Barbosa de “autoritário”, Luís Roberto Barroso de “fraude” e Edson
Fachin de “engodo”. A maior bronca é com Luiz Fux, que já admitiu ter pedido
seu apoio para chegar à Corte. “Erramos e feio nas indicações, ao ponto de
sermos enganados por um charlatão togado”, escreve Dirceu.