Vêm aí consequências muito mais graves do que as provocadas pelas malcriações no Twitter do homem laranja do mal
A verdade é que a eleição no país mais livre do mundo e com as instituições mais sólidas do planeta se transformou em circo de horrores. No meio da pandemia histórica, os democratas usaram o pânico para recomendar que as pessoas ficassem em casa e votassem pelo correio — afinal, o partido que demonizou os eleitores de Trump durante quatro anos estava preocupado “com todos”. Para nós, brasileiros, acostumados com as urnas eletrônicas, a pergunta é: mas voto pelo correio em massa? O que pode dar errado? Quase tudo.
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ASSINE PREMIUM ENTRARAlém das evidências de que milhares de cédulas de pessoas mortas foram usadas, problemas em softwares que transferiram votos de Donald Trump para Joe Biden em 47 lugares, denúncias de funcionários do correio de que supervisores instruíram agentes da empresa a carimbar cédulas com data retroativa ao dia da eleição, há mais uma dezena de eventos no mínimo bizarros. E, na atual politização de absolutamente tudo que cruza nosso caminho nos dias de hoje, o Brasil não ficou atrás com sua dose de bizarrice, mesmo em uma eleição norte-americana.
Liberais (pero no mucho) comemoraram a possível eleição de Joe Biden com entusiasmo, alegria e esperança em um mundo melhor.
— Viva! Biden venceu!
— Mas você conhece a plataforma da chapa dele?
— Não, mas e daí? O amigo do Bolsonaro caiu, e é isso que importa!
— Mas você não é liberal, não preza as liberdades individuais, um Estado mínimo, enxuto? Reformas tributárias importantes, desregulações e menos intervencionismo no mercado?
— Sim. Mas o amigo do Bolsonaro perdeu, e isso é bom!
— Mas o homem laranja perdeu, é isso que importa!
— Você conhece a Kamala Harris, a vice do Joe Biden?
— A primeira mulher negra a ser vice? Empoderada, hein!
— Pode até ser. Mas você sabe o que ela defende? Suas ideias e suas plataformas?
— Não importa. Orange man bad.
Essa poderia ter sido uma conversar fictícia, mas não foi. Foi com uma amiga brasileira que mora aqui em Los Angeles e acredita ser liberal, já que o marido é um empreendedor, e que o voto em Joe Biden foi importante porque… bem, porque “orange man bad”. E, enquanto o “homem laranja do mal” continua sendo o protagonista das notícias ruins, a primeira mulher negra, empoderada e tudo de bom de acordo com as listas do politicamente correto segue como a estrela do circo. Mas quem é Kamala Harris?
A primeira coisa que muitos precisam saber, principalmente os liberais de Taubaté do Brasil, é que Kamala pode estar prestes a conduzir a nação mais poderosa do mundo e que de liberal ela não tem absolutamente nada. Todos aqui nos EUA já entenderam o plano, principalmente os doadores do Partido Democrata. Os grandes bancos que controlam Joe Biden há décadas, desde quando ele era senador, ficaram nervosos quando o candidato acenou ainda na campanha para outros nomes mais moderados para o posto de vice. Quando Biden escolheu Kamala, muitos doadores não conseguiram conter o entusiasmo, jogaram para o alto o velho pragmatismo norte-americano e foram às redes sociais celebrar.
Enquanto os gordos doadores e lobistas do partido comemoravam o nome politicamente correto de Harris, a verdade é que muitos eleitores nunca mostraram muito entusiasmo por ela. Na verdade, Kamala era tão notavelmente impopular que, nas primárias democratas, apesar da imensa torcida e dos empurrões da mídia, ela teve de desistir da corrida. E foi ainda durante um debate nas primárias que Kamala acusou Joe Biden de ser racista e segregacionista (talvez pelos antigos e profundos laços com senadores ligados à Ku Klux Klan, como Robert Byrn). Também durante as primárias, quando Biden se viu acusado de assédio sexual por sua antiga secretária, Tara Reade, Kamala foi uma das primeiras a dizer na TV: “Devemos acreditar na vítima! Eu acredito nela!”. Mas, em nome do amor à ascensão política, à glória e à cadeira atrás da Resolute Desk, Kamala nunca mais — nunca mais — tocou no assunto. Mexeu com uma… ah, deixa pra lá.
Mas esse não foi o primeiro episódio em que Kamala se apaixonou por poder e ascensão com uma certa, digamos, ética seletiva. Em meados da década de 1990, ela namorou Willie Brown, que foi investigado pelo FBI por conflitos de interesses quando era o presidente da Assembleia da Califórnia e o prefeito de São Francisco. Kamala teve um caso extraconjugal com Brown e se beneficiou de seu patrocínio político. Brown, um dos homens mais poderosos da Califórnia, nomeou Kamala duas vezes para cargos de destaque, que a lançaram na política. Quando ela anunciou sua candidatura presidencial, em janeiro de 2019, Brown escreveu um artigo para o San Francisco Chronicle intitulado: “Claro, namorei Kamala Harris, e daí?”. Num trecho, ele informa: “Sim, nós namoramos. Isso foi há mais de vinte anos. Sim, posso ter influenciado sua carreira ao indicá-la para postos estaduais importantes quando era o presidente da Assembleia da Califórnia”. Na época, Brown tinha 60 anos, e Kamala, 29.
(.............)Quando Kamala subiu ao posto de procuradora-geral da Califórnia, suas ações mostraram uma série de contradições. Ela pressionava por programas de auxílio a criminosos responsáveis por delitos considerados menos graves em vez de colocá-los na prisão. Ao mesmo tempo, mantinha milhares de pessoas trancafiadas mesmo depois de terem provado inocência. Ela se recusou a advogar a pena de morte contra um homem que matou um policial, mas defendeu a pena capital em tribunal.
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Durante os recentes protestos violentos nas grandes cidades norte-americanas do grupo marxista Black Lives Matter e do grupo terrorista Antifa, a vice de Biden não condenou uma única vez os saques e o vandalismo, e ainda acrescentou que essas vozes deveriam ser ouvidas e que não poderiam parar. Durante muitos protestos que acabaram em violência e prisões, Kamala mostrou suas verdadeiras cores. Ela apoiou o perigosíssimo movimento Defund the Police, que visa ao corte do orçamento das corporações policiais em todo o país. Foi além: divulgou na internet uma página que arrecadava doações para tirar da cadeia bandidos que estavam ateando fogo no país.
Revista Oeste - Ana Paula Henkel